Filósofo e cientista político Aleksandr Dugin
Guru de
Putin, Aleksandr Dugin tem seguidores no Brasil e é fã de bossa nova
Cientista político visto como
ideólogo do presidente russo na guerra na Ucrânia já veio ao país e fala
português
02 de março de 2022
| 17:08
Um dos principais teóricos que inspiram o presidente
Vladimir Putin a expandir a presença russa em países vizinhos, o filósofo e
cientista político Aleksandr Dugin, 60, tem uma legião de seguidores no Brasil
e diversos laços com o país.
Chamado
por muitos de "ideólogo de Putin" e comparado em influência ao
brasileiro Olavo de Carvalho, Dugin já veio duas vezes ao Brasil, fala
português, fundou um centro de estudos em São Paulo e é admirador de MPB, bossa
nova e literatura brasileira. Gosta de Ariano Suassuna, Darcy Ribeiro e
Vinicius de Moraes.
O russo é criador da Quarta Teoria Política, em que defende uma
alternativa às três ideologias que dominaram o século 20: liberalismo,
comunismo e fascismo.
Segundo sua proposta, formulada em um livro de 2009, o sujeito
principal da história seria o povo, e não o indivíduo ou o Estado. No contexto
europeu, ela se reflete no "eurasianismo", a expansão da presença de
Moscou para todas as regiões de influência histórica do povo russo –não importa
se pertencentes a outros países soberanos, como a Ucrânia.
Em
uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em 2014, Dugin afirmou que a Ucrânia
é um "Estado falido criado artificialmente". Naquele ano, ele veio ao
Brasil para um seminário sobre as ideias do filósofo Julius Evola (1898-1974),
considerado um dos teóricos do neofascismo italiano.
Na época, o russo já tinha admiradores no Brasil. Com uma
seguidora, a filósofa Flávia Virgínia, criou o Centro de Estudos da
Multipolaridade, um think tank para difundir a ideia de que é preciso haver
polos alternativos de poder no mundo para além do Ocidente.
Filha do cantor Djavan, Virginia tocou o centro, atualmente
desativado, com a participação de alguns acadêmicos da USP em eventos.
Procurada, ela não quis dar entrevista.
Os
discípulos do russo não chegam nem perto da massa crítica de seguidores de
Olavo de Carvalho, mas existe um incipiente duguinismo no Brasil. Uma das
principais organizações é a Nova Resistência (NR), criada em 2015 no Rio de
Janeiro e que reúne cerca de 250 militantes em células espalhadas por 20
estados. Dedica-se à propagação das ideias de Dugin e da sua Quarta Teoria.
Um dos fundadores da entidade, o jornalista Lucas Leiroz afirma
que não é correto caracterizar Dugin como extremista. "Para alguém falar
isso ou é porque não conhece a obra dele ou conhece e quer difamá-lo. Tem gente
que o acusa de ser de extrema esquerda, outros dizem que é de extrema direita.
É um pensador amplo, que não se encaixa em nenhuma teoria."
Mesmo o conservadorismo de Dugin, segundo ele, é mais uma
decorrência de sua defesa do conceito de povo, que por definição deve manter
suas tradições.
Mas
ele renunciou a isso, afirma. "Conservador ele é, isso é inegável, mas é
um cara importante, que já debateu com [Francis] Fukuyama, [Bernard]
Henri-Lévy, entre outros."
Sobre a guerra, Araújo reforça a avaliação de que a Rússia está
reagindo a uma cadeia de eventos. "Ninguém quer justificar nem aplaudir
uma escalada de violência, mas há um contexto. A Ucrânia vinha se recusando a
implementar os Acordos de Minsk e uma semana antes [da invasão] bombardeou a
região do Donbass [leste]. Mas ninguém fala isso, é um não fato", diz.
Um ponto que une duguinistas e olavistas é a rejeição à
comparação feita entre ambos. Embora na forma e no conservadorismo possa haver
semelhanças, ambos tiveram discussões ásperas, que até viraram um livro. Olavo,
morto em janeiro, era radicalmente pró-ocidental, anticomunista e anti-China,
ao contrário de Dugin, que consegue encaixar Pequim na sua visão eurasiana.
Além disso, diversos
seguidores de Dugin se colocam como opositores de Bolsonaro, embora também
partilhem com ele ideias conservadoras. "Militamos intensamente contra
Jair Bolsonaro em todas as frentes", diz Reis, para quem o atual
presidente é uma "expressão do esgoto da sociedade brasileira, onde
vicejam milicianos que são herança dos porões do regime civil-militar".
Fonte: https://www.otempo.com.br/mundo/guru-de-putin-aleksandr-dugin-tem-seguidores-no-brasil-e-e-fa-de-bossa-nova-1.2624588
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