UM TEMPLO,UM SANTO,UM ARREPENDIMENTO - SANAT KUMARA

04 I (história - Karma e Reencarnação) Um Templo, um Santo, um Arrependimento (982)

Um Templo, um Santo, um Arrependimento

Sanat Kumara(Excerto do Padma Purana)

Três elementos simples mudam por inteiro o destino de um homem.

Muito tempo atrás, na era de Krita, viveu um caçador chamado Gulika, que estava sempre ocupado em fazer planos para roubar mulheres e riquezas alheias. Como líder de um grupo de ladrões e sequestradores, obtinha prazer em torturar todo tipo de criaturas, e matara milhares de vacas e brahmanas.
Certa vez, Gulika foi à capital de Sauvira, uma cidade repleta de grandes riquezas e inumeráveis mulheres atrativas. Assemelhava-se, desta maneira, a uma cidade dos semideuses. No meio de um parque, havia um templo do Senhor Vishnu, o qual tinha muitos domos feitos de ouro. Isso muito agradou o caçador, que parecia o deus da morte e tinha um desejo ardente por roubar.
Finalmente, depois de decidir-se definitivamente a roubar tanto ouro quanto possível, Gulika entrou no templo. Ali, viu o brahmana, Utanka, ocupado em prestar serviço à Deidade no altar. O elevado brahmana estava sozinho e prestes a se sentar para meditar no Senhor, apesar do que Gulika o viu como um obstáculo em seu objetivo de roubar ouro. Desejoso de matar Utanka, Gulika sacou sua espada e derrubou o brahmana, pressionando, então, o peito do santo com seu pé.
Compreendendo que o caçador pretendia matá-lo, Utanka disse: “É absolutamente fútil tua tentativa de matar minha pessoa, que sou impoluto. De que modo eu te ofendi? Neste mundo, personalidades poderosas castigam os perversos a fim de educá-los, mas raramente os matam, pois esperam reformá-los suscitando o que há de bom dentro deles. Homens grandiosos são tolerantes, mesmo quando atormentados, e tal comportamento é do agrado do Senhor Vishnu. Até mesmo quando prestes a serem mortas, pessoas nobres pensam no bem-estar alheio, perdoando as ofensas de seus agressores. Mesmo quando cortada, a árvore de sândalo perfuma o machado”.
“Este mundo é um lugar tão miserável”, continuou, “que até mesmo quem vive sem apegos é por vezes molestado por sujeitos perversos. Peixes, aves e animais terrestres são mortos por pescadores e caçadores, e, de igual modo, pessoas boas são frequentemente atacadas por invejosos. Maya é muito forte. Ela ilude todos os homens, fazendo-os sofrerem por causa de filhos, amigos e mulheres”.
O brahmana disse ainda: “Roubando, mantiveste tua esposa e outros, mas, no fim, serás forçado a deixá-los e a rumar sozinho para algum destino. Julgamos: ‘Esta é minha mãe, este é meu pai, esta é minha esposa e estes são meus filhos’. Esse senso de posse e relação causa dores desnecessárias, como o desinteresse dos parentes em tempos de pobreza. Depois da morte, são apenas as reações de nossas atividades piedosas e pecaminosas que nos acompanham”.
Conclusivamente, falou: “A ganância daqueles ocupados em atividades ímpias cresce dia após dia, mas a ganância de quem se dedica a atos meritórios é reduzida. As pessoas estão sempre em ansiedade quanto à obtenção de dinheiro. Se alguém compreende que o que está destinado a acontecer certamente se dará e que o que está destinado a não acontecer jamais se dará, esse alguém se livra de toda ansiedade”.
Enquanto ouvia o discurso do sábio, Gulika ficou temeroso. Soltando Uttanka, Gulika juntou as palmas de suas mãos e implorou por perdão. Porque estava no templo do Senhor e na companhia de uma grande alma, livrara-se de todos os seus pecados.
Envolto por grande arrependimento, disse: “Ó brahmana, cometi muitíssimos pecados. Como minha redenção seria possível? Em quem posso refugiar-me? Nasci como caçador como resultado dos pecados de minhas vidas anteriores. Em razão dos pecados cometidos nesta vida, não sei qual será meu destino após a morte. Por mais quantas vidas terei que prosseguir cometendo pecados?”.
Censurando a si mesmo dessa maneira, o caçador foi tomado de tamanha emoção que morreu subitamente. Sendo amável por natureza, o sábio Uttanka espirrou sobre o corpo de Gulika um pouco da água que lavara os pés de lótus do Senhor Vishnu. Imediatamente, Gulika, liberto de todos os pecados, foi visto próximo a uma quadriga celestial.
“Ó sábio”, disse Gulika, “és meu preceptor e sou eternamente grato a ti por ter libertado minha pessoa da vida pecaminosa”. Depois dessas palavras, Gulika derramou flores sobre Uttanka. Finalmente, após o circum-ambular por três vezes e oferecer suas reverências, Gulika embarcou na quadriga espiritual e ascendeu à morada do Senhor.
Muito contente pelo que testemunhara, o sábio Uttanka ofereceu orações ao Senhor: “Ó oceano de misericórdia, por favor, protegei-me. Caí nesta miserável existência material. Sou avaro e iludido, e estou preso por centenas de relacionamentos egoístas. Sou sempre crítico, ingrato, impuro e irado, e constantemente me dedico a atividades impiedosas. Também sinto muito medo. Busco refúgio em Vós – por favor, salvai-me!”.
O Senhor da Deusa da Fortuna, então, apareceu diante do sábio. Com um semblante muito refulgente, o sábio lavou os pés de lótus do Senhor com suas lágrimas. Erguendo Uttanka, o Senhor abraçou-o e pediu-lhe que aceitasse uma bênção. O sábio Uttanka curvou-se e disse: “Ó Senhor, por que tentais iludir-me? Que valor pode ter alguma bênção para mim? Peço apenas que minha devoção a Vós seja firme e indesviável em todos os meus nascimentos”. “Que assim se dê”, o Senhor disse, tocando Uttanka com a ponta de seu búzio e, deste modo, outorgando-lhe conhecimento transcendental. Tocando, em seguida, a cabeça de Uttanka com Sua mão, o Senhor disse: “Ó brahmana, agora, ruma-te para a morada de Nara e Narayana. Lá, obterás a perfeição”.
Depois de dizer isso, o Senhor Vishnu desapareceu. Uttanka foi para a morada dos rishis Nara e Narayana, onde adorou continuamente o Senhor. Tendo se purificado de todos os pecados, ele, ao fim de sua vida, alcançou também a morada suprema do Senhor.
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Fonte:http://voltaaosupremo.com/artigos/historias/um-templo-um-santo-um-arrependimento/

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