Os exorcismos mais impressionantes autorizados pelo Vaticano
É necessário um relatório médico a confirmar que a ciência não explica os sintomas. Há pessoas que têm de ser amarradas e os casos graves são levados ao Papa. O Patriarcado fez um documento a reconhecer que os pedidos de exorcismo estão a aumentar.
Por Patrícia Silva Alves
A cerimônia começou pouco depois das 10h30. O padre estendeu a mão direita sobre a cara de Marta sem lhe tocar. Fechou os olhos e sussurrou preces ininteligíveis.
Então surgiu um som intenso, que veio do centro da sala, onde a espanhola de 20 anos estava deitada num colchão. Marta estava possuída.
Ao lado tinha o padre católico José Antonio Fortea. Tudo aconteceu em 2002 numa igreja em Alcalá de Henares, a 30 quilômetros de Madrid.
Na capela havia ainda um altar enorme com uma toalha branca onde estavam pousadas seis velas. Atrás, uma grande cruz iluminada por luzes de halogêneo.
O local não tinha janelas, nem saídas. Antes de tudo começar, o padre fechou a porta à chave, por dentro.
– Hic est dies [hoje é o dia] – disse o padre em latim com o crucifixo na mão.
– Não – respondeu uma voz rouca de homem que saiu da garganta de Marta.
– Exi nunc [sai agora], Zabulón.
– Não.
– Porque não queres sair?
– Para servir de testemunho.
– De quê?
– De que Satanás existe.
Esta descrição é de José Manuel Vidal, editor da seção de religião do 'El Mundo' e um dos vaticanistas espanhóis mais respeitados, que foi convidado a assistir ao exorcismo.
O artigo que relata a experiência foi publicado com o título 'O exorcismo que presenciei em Madrid'. O nome Marta e o da mãe, que a acompanhou na sessão, são fictícios. O do padre não é.
José Antonio Fortea, agora com 45 anos, é um dos principais exorcistas católicos espanhóis. A sua formação começou com uma tese de licenciatura sobre exorcismos que foi orientada pelo porta-voz da Conferência Episcopal espanhola, o bispo Juan Antonio Camino.
Foi por causa dela que aprendeu a fazer exorcismos – assistiu a 13. Há três anos que não exerce. Agora está em Roma a preparar a tese de doutoramento sobre o mesmo tema.
Gabriele Amorth terminou um exorcismo feito por João Paulo II no ano 2000
De acordo com o jornalista, no dia em que Marta foi exorcizada por Fortea, a espanhola parecia uma rapariga normal.
Gabriele Amorth terminou um exorcismo feito por João Paulo II no ano 2000
De acordo com o jornalista, no dia em que Marta foi exorcizada por Fortea, a espanhola parecia uma rapariga normal.
Vestia uma blusa azul-celeste de manga curta com gola alta e calças de ganga. Fora levada até ao exorcista pela mãe depois de consultarem dois psiquiatras que não encontraram explicação para as suas persistentes dores de cabeça.
Estava saudável, diziam. No entanto, as fortes dores continuavam e Maria, a mãe, recorreu a Fortea. O diagnóstico foi peremptório: Marta estava possuída por sete demônios há cinco anos. Ao longo de 16 exorcismos, Fortea conseguiu expulsar seis. A descrição feita pelo jornal corresponde à 17.ª sessão, para expulsar o demônio que resistia.
O que o jornalista ouviu não correspondia ao tom de voz de Marta. Era um som rouco e masculino que ia aumentando à medida que o padre continuava a rezar.
Os movimentos também. A dada altura, o corpo de Marta começou a agitar-se fortemente e a contorcer-se, enquanto a cabeça rodava de um lado para outro. Primeiro lentamente, depois com uma súbita rapidez. A sessão prolongou-se por quase três horas.
Num determinado momento, “a jovem gritou, bufou, colocou os olhos totalmente em branco, arqueou o corpo e levantou-se toda a um palmo do chão”. Tudo acabou sem que a possessão terminasse.
De repente, Marta voltou-se para os presentes, levantou-se e colocou os brincos que tinha retirado para a sessão. Não se lembrava de nada.
O debate sobre os exorcismos na Igreja Católica reacendeu-se desde que a 19 de Maio, domingo de Pentecostes, em que se celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, o Papa Francisco colocou as mãos sobre a cabeça de Ángel V., um mexicano de 43 anos, na Praça de São Pedro, em Roma.
Manteve-as assim durante 13 segundos (mais sete do que a pessoa anterior a quem abençoou) em que Ángel se encolheu.
O homem, que estava sentado numa cadeira de rodas, diz-se possuído desde 1999. Rapidamente surgiram notícias de que o gesto do Papa tinha sido um exorcismo, o que foi negado pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. Mas há quem conteste a versão oficial.
“O que o Papa fez foi um exorcismo e se o padre Lombardi diz o contrário é porque não percebeu nada do que se passou”, disse, por exemplo, ao vivo na rádio Rai 2, Gabriele Amorth, um dos mais reconhecidos padres exorcistas do mundo.
José Antonio Fortea é exorcista católico
“O que o Papa fez foi um exorcismo e se o padre Lombardi diz o contrário é porque não percebeu nada do que se passou”, disse, por exemplo, ao vivo na rádio Rai 2, Gabriele Amorth, um dos mais reconhecidos padres exorcistas do mundo.
O italiano, hoje com 85 anos, pertence à Sociedade de São Vicente de Paulo e foi nomeado exorcista de Roma em 1986 pelo cardeal Ugo Poletti, que durante 18 anos foi vigário-geral da diocese.
O Papa Francisco não nega a existência do Diabo. Por exemplo, na sua primeira homilia, a 14 de Março de 2013, disse aos cardeais reunidos na Capela Sistina: “Aquele que não reza a Deus reza ao Demônio.” Aliás, o Vaticano reconhece que João Paulo II fez três exorcismos durante o seu pontificado.
O primeiro aconteceu a 27 de Março de 1982. Uma italiana chamada Francesca Fabrizi, então com 22 anos, chegou até ao Papa através de Ottorino Alberto, na altura bispo de Espoleto. A reação dela foi imediata.
“Ao vê-lo, começou a gritar e a rebolar-se pelo chão, não se preocupando que o Papa ordenasse ao Diabo que saísse dela”, descreveu Gabriele Amorth, no livro 'O Último Exorcista', lançado em Portugal em 2012 pela Paulinas Editora.
No entanto, de repente, tudo mudou quando João Paulo II disse a Francesca: “Amanhã, direi a missa por ti.” Nesse momento, a italiana acalmou-se.
Um ano depois, visitou o Papa. Nunca mais tinha tido ataques, estava casada e grávida. Na altura, João Paulo II comentou com o cardeal Jacques-Paul Martin, antigo prefeito da Casa Pontifícia: “Nunca tinha visto uma coisa assim. Uma verdadeira cena bíblica.”
O mais famoso exorcismo de João Paulo II aconteceu, porém, a 6 de Setembro de 2000. Foram precisas 10 pessoas para segurar Sabrina, que, mal viu o Papa a entrar na Praça de São Pedro, começou a gritar palavrões e a contorcer-se.
Apesar de a praça estar cheia, João Paulo II notou a presença da rapariga de 19 anos e pediu ao seu secretário, o então bispo Stanislaw Dziwisz, que lha levasse.
No domingo de Pentecostes, o Papa abençoou Ángel V., mexicano de 43 anos que se diz possuído desde 1999
O Papa e Sabrina encontraram-se numa sala privada ao lado da Basílica de São Pedro. A mulher, que fora arrastada até lá pelos pais, estava em transe.
“Os seus olhos eram duas órbitas brancas. Babava-se e tinha a cabeça pendente para trás. Logo que foi levada até junto do Papa começou a gritar e a tremer”, conta Gabriele Amorth. “O Papa fez-lhe um exorcismo nesse lugar. Abençoou-a várias vezes. E, depois, deixou-a ir-se embora.”
O processo demorou 30 minutos, durante os quais João Paulo II realizou o chamado exorcismo menor, que não implica a leitura de textos bíblicos. Deu-lhe uma bênção, abraçou-a e Sabrina acalmou-se.
A possessão da italiana era intensa e resistente. Nessa tarde, Gabriele Amorth, que estava a acompanhá-la no processo semanal de exorcismos, teve de continuar.
“O Diabo estava enfurecido por causa do encontro com o Papa e, ao mesmo tempo, sentia-se forte, porque o exorcismo não tinha conseguido expulsá-lo”, explica o padre. O que viu a seguir deixou-o sem palavras.
“Sabrina levantou-se da cadeira em que estava sentada. Dirigiu-se a mim. Passou ao meu lado sem me olhar. Foi direita à parede atrás de mim e começou a caminhar horizontalmente pela parede em direção ao teto, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Depois, desceu como se não fosse nada”, descreve Amorth em 'O Último Exorcista'.
Mal um possuído viu Bento XVI na Praça de São Pedro, começou a tremer e a bater os dentes
Sabrina, que não se lembrava de nada após o exorcismo, continuou a ser acompanhada pelo padre durante anos até se libertar por completo.
O texto-base que orienta o ritual do exorcismo foi escrito em 1614 e permaneceu inalterado por 385 anos: em 1999, o Vaticano atualizou o documento 'De Exorcismis et Supplicationibus Quibusdam' (Sobre exorcismos e certas súplicas) – uma prova da importância do tema durante o pontificado de João Paulo II. Não que Bento XVI fosse alheio às questões ligadas a Satanás.
O texto-base que orienta o ritual do exorcismo foi escrito em 1614 e permaneceu inalterado por 385 anos: em 1999, o Vaticano atualizou o documento 'De Exorcismis et Supplicationibus Quibusdam' (Sobre exorcismos e certas súplicas) – uma prova da importância do tema durante o pontificado de João Paulo II. Não que Bento XVI fosse alheio às questões ligadas a Satanás.
De acordo com Gabriele Amorth, o Papa Emérito também ajudou a exorcizar dois homens, numa quarta-feira de Maio de 2009.
De novo, o caso aconteceu na Praça de São Pedro. Entre a multidão de fiéis que o saudava estavam dois homens possuídos, Giovanni e Marco, guiados por duas mulheres, assistentes de Amorth. A passagem de Bento XVI no seu jipe branco teve um efeito visível em Giovanni, que começou a tremer e a bater os dentes.
“O jipe percorreu toda a praça. Os dois dobraram-se e bateram com a cabeça no chão”, relata o padre em 'O Último Exorcista'. A reação intensificou-se à medida que o Papa se aproximou.
Quando Bento XVI desceu do carro, os dois homens começaram a gritar estendidos no chão. Alertado pela voz de uma das assistentes do padre exorcista, o Papa olhou para o grupo e abençoou os quatro. O movimento suscitou a reação imediata dos dois homens.
“Caíram três metros para trás. Estavam exaustos e já não gritavam, mas choravam. Gemeram durante toda a audiência. Depois, quando o Papa se foi embora, voltaram a si. Tornaram-se eles próprios.” Segundo a versão oficial do Vaticano, Bento XVI não fez qualquer exorcismo nesta ocasião.
O tema é polêmico dentro da Igreja Católica. Há poucas semanas, o cardeal Rouco Varela, arcebispo de Madrid e presidente da Conferência Episcopal espanhola, nomeou de emergência oito novos exorcistas. De acordo com a publicação online especializada em temas religiosos 'Religión en Libertad', isso deveu-se à “enorme avalanche de pedidos de ajuda relacionados com influências maléficas”.
Os exorcistas vão trabalhar em colaboração com um grupo de psiquiatras que ajudarão os padres a perceber se há ou não possessão.
João Paulo II fez três exorcismos, reconhece o Vaticano
Em Espanha, 26% das dioceses têm padres exorcistas autorizados. Em Portugal não há números oficiais dos padres nomeados por bispos diocesanos – uma exigência para que possam celebrar um exorcismo.
Em resposta à SÁBADO, fonte oficial da Conferência Episcopal apontou o nome de Duarte Sousa Lara, padre da diocese de Lamego e filho do antigo subsecretário de Estado de Cavaco Silva, Antônio Sousa Lara. O pároco é o único exorcista reconhecido pelo Vaticano que dá a cara em Portugal.
Nomeado a 20 de Março de 2008 pelo bispo de Lamego, Sousa Lara assistiu a vários exorcismos de Gabriele Amorth, que, a 23 de Fevereiro de 2007, escreveu uma carta em que o considerou “idôneo para o ministério de exorcista”.
A julgar por um documento emitido por D. José Policarpo e pelo Patriarcado de Lisboa em Fevereiro de 2012, o seu trabalho será cada vez mais requisitado.
“Tem vindo a aumentar o número de pessoas que, por se considerarem atormentadas pelos poderes do Mal, recorrem à Igreja procurando auxílio espiritual”, lê-se no texto que acompanhou a publicação das 'Normas Pastorais', um conjunto de regras que os padres devem seguir na celebração de bênçãos, funerais e exorcismos.
No entanto, quando contactada pela SÁBADO para atualizar a informação sobre a procura de exorcistas na diocese de Lisboa, fonte oficial não avançou com dados concretos.
Nas Normas Pastorais está uma espécie de guia prático para os párocos portugueses lidarem com casos em que há suspeitas de possessão.
Primeiro, é preciso discrição. “Todos os meios de comunicação social estão excluídos” antes, durante e depois dos exorcismos, aconselha o Patriarcado de Lisboa. Depois, é preciso precaução.
Os padres têm de “distinguir corretamente entre os casos de ataque do Diabo e aquela credulidade com que algumas pessoas, mesmo fiéis, pensam ser objetos do malefício”.
É ainda preciso descartar dúvidas. O documento aconselha os religiosos a certificarem-se de que “as pessoas atormentadas não tenham passado, sobretudo na infância, por situações traumáticas, como abusos físicos, psicológicos ou sexuais”, pois é muito provável que nessas situações “se trate de sugestão ou auto-sugestão de doenças do foro psicossomático”.
Aldina Cardeal foi exorcizada – não conseguia sair de casa
Finalmente, é preciso uma certeza científica. Um padre exorcista não deve avançar “sem antes consultar peritos em ciência médica e psiquiátrica, que tenham a sensibilidade das realidades espirituais”.
Aliás, o Patriarcado aconselha que se consultem dois especialistas. E há casos de médicos que assumem tê-lo feito. Victor Amorim Rodrigues, psiquiatra e professor de Psicopatologia do ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada, é um deles.
Há alguns anos, quando uma paciente com cerca de 40 anos lhe pediu um relatório para entregar a um exorcista, o especialista aceitou fazê-lo mesmo sendo cético.
“Se não tinha resposta, se ela já tinha passado por vários técnicos que também não tinham a resposta e se, objetivamente, não estava a conseguir melhorá-la, não me pareceu correto impedi-la, quanto mais não fosse pelo efeito da sugestão. A ciência está muito longe de saber tudo”, diz à SÁBADO Victor Rodrigues.
A paciente, uma enfermeira, estava numa situação de “grande apatia”. “Tinha algumas características da depressão, mas não a tristeza e o desânimo”, diz o especialista.
Isso tinha efeitos no seu dia-a-dia. Como estava a ficar cada vez mais lenta, quer a nível motor quer intelectual, começou a ter problemas no emprego.
“Estava tão apática que a própria chefe lhe dizia que não estava em condições de trabalhar”, explica o médico. Victor Rodrigues nunca mais soube da enfermeira, que não voltou ao consultório.
Este foi o único caso em que o especialista escreveu um relatório para um exorcista – um documento no qual incluiu, por iniciativa própria, a sua vinheta de médico. Acompanhou outros casos de pessoas que se diziam possuídas pelo demônio, mas eram casos de doenças psiquiátricas.
De acordo com o documento emitido pelo Patriarcado de Lisboa, o exorcismo tem por objetivo “expulsar os demônios ou libertar da influência diabólica”.
E para isso há um conjunto de sintomas que podem, e devem, manifestar-se para que alguém seja exorcizado. Um deles é a aversão às imagens e símbolos considerados sagrados pelos católicos. Por vezes, essa confirmação é feita de forma propositadamente dissimulada.
Duarte Sousa Lara é o único padre português exorcista que se identifica como tal
Sabendo que a reação à água benta é um dos sinais de quem está possuído, o padre Gabriele Amorth costumava misturá-la com a comida que dava ao possível possuído para saber se estava realmente influenciado. Em caso positivo, a pessoa cuspia-a.
Durante os exorcismos costumam acontecer reações violentas, porque uma das formas de saber se alguém está possuído é ver também se a pessoa manifesta “forças acima da sua idade e condição natural”, diz o Patriarcado de Lisboa.
Por causa disto, o padre Gabriele Amorth tratava os casos mais graves numa igreja em Roma, na via Emanuele Filiberto, pois era um local recatado. Lá tinha tudo o que precisava, como uma cama pequena e cordas para amarrar as pessoas mais agitadas.
Aos 33 anos, Aldina Cardeal era um desses casos. A professora do Porto foi exorcizada durante um ano em várias sessões por um padre português nomeado para esse efeito por um bispo.
“Houve alturas em que me tentavam segurar e só o conseguiam com alguma dificuldade. Por exemplo, lembro-me de um tio que me acompanhou ter comentado que era impossível eu ter tanta força”, diz Aldina Cardeal à SÁBADO.
Noutras situações, a professora, hoje com 35 anos, percebia que falava com uma voz diferente. “Num instante falava eu e no outro era o Demônio que falava. Isso só me acontecia quando tinha ataques mais fortes”, afirma.
Aldina diz ter agora uma vida muito diferente da que tinha antes de ser exorcizada. Por exemplo, deixou de ter dores físicas fortes. “O meu corpo ficava dolorido num espaço de poucos minutos. Era como se de repente tivesse corrido várias horas”, descreve.
Resultado: nos primeiros meses em que começou a sentir ataques mais fortes, ainda antes do exorcismo, quase não conseguia sair de casa. Preocupados, os familiares levaram-na ao psiquiatra.
“O médico diagnosticou-me esquizofrenia. Até hoje não toquei nos medicamentos. Embora pudesse estar enganada, tinha a certeza de que o meu problema era espiritual”, diz.
“Cada caso é único, o meu obrigou a vários exorcismos, mas entre uma sessão e outra ia melhorando. Aos poucos fui tendo uma vida normal. Comecei a trabalhar, a conviver com os amigos. Nunca mais necessitei de exorcismos. Os medos também terminaram. Tenho uma vida normal”.
Com Jaime Martins Alberto
Fonte:http://arquivosdoinsolito.blogspot.com.br/2013/06/os-exorcismos-mais-impressionantes.html
"O demônio toma todo o corpo da pessoa. Ela muda de voz, fala línguas que nunca estudou e começa a saber coisas ocultas. Uma das técnicas que a gente faz, quando quer saber se a pessoa está possuída, é esconder alguma coisa dentro do bolso e perguntar ao demônio o que é", explicou o padre. "Se ela realmente tiver o demônio, ela vai dizer. Se for só a pessoa, ela nunca vai saber."
Antes de o exorcista atender o paciente, o religioso explica que há uma análise do caso, por parte de membros da igreja e de uma equipe formada por psiquiatras, psicólogos e neurocirurgiões. Após a comprovação da possessão do demônio, o padre está autorizado a fazer o ritual.
Durante o ritual, que não tem tempo estimado de duração, o padre se veste com uma estola e usa crucifixo, água benta, óleo e sal exorcizados. É necessário que o paciente aceite participar. "A família pode até trazer, mas para ter a libertação, é necessário que a pessoa queira", diz o padre.
"Na Itália, existe um programa de televisão, no qual o exorcista fala sobre o assunto e explica como funciona. No Brasil, falar de exorcismo é um tabu. Tudo aquilo que você não conhece direito se torna nebuloso", explicou.
No dia 25 de junho, após a operação do Bope, membros de ONGs que atuam na Maré revelaram que há menos de um mês a PM realizou uma reunião com representantes de todas as associações de moradores do complexo.
"Eu exorcizaria tudo o que está de errado na cidade do Rio de Janeiro. Essa briga entre o bem e o mal é muito grande. Em determinados momentos, o mal consegue um espaço para fazer o que ele quer", afirma.
Único padre exorcista do RJ explica técnicas do ritual: "não é mágica"
Marco Antonio Cavalcanti/UOL
"O exorcismo não é mágica. Ele é um processo de conversão, de mudança de vida. É um tratamento que pode durar um mês ou muitos anos", explica padre Geovane Ferreira, 35, o único religioso do Estado do Rio de Janeiro autorizado pelo arcebispo Dom Orani João Tempesta a praticar o exorcismo.
Há onze anos, o padre comanda a Paróquia Sagrada Família, na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, zona norte da capital fluminense. Segundo ele, existem duas formas de se fazer o exorcismo: uma em menor escala, na qual é possível alcançar a cura com orações de libertação, e outra maior, em que é necessário um ritual.
A primeira ocorre para casos de opressão, quando "aquela voz [interior] fica te levando a pensar e agir mal", e de obsessão, no qual as pessoas são obsessas "por dinheiro ou por prazer". Já o exorcismo maior é feito por conta de possessão do demônio.
"O demônio toma todo o corpo da pessoa. Ela muda de voz, fala línguas que nunca estudou e começa a saber coisas ocultas. Uma das técnicas que a gente faz, quando quer saber se a pessoa está possuída, é esconder alguma coisa dentro do bolso e perguntar ao demônio o que é", explicou o padre. "Se ela realmente tiver o demônio, ela vai dizer. Se for só a pessoa, ela nunca vai saber."
Antes de o exorcista atender o paciente, o religioso explica que há uma análise do caso, por parte de membros da igreja e de uma equipe formada por psiquiatras, psicólogos e neurocirurgiões. Após a comprovação da possessão do demônio, o padre está autorizado a fazer o ritual.
"A sessão é feita em lugares reservados, por um exorcista, com a ajuda de pelo menos um psicólogo e um neurocirurgião ou profissional médico para analisar o que está acontecendo. O corpo pode passar mal, ter algum distúrbio de pressão alta, de desmaio. Às vezes é necessário que alguém segure a pessoa para que ela não se machuque", disse. "Há casos em que a pessoa começa a bater a cabeça na parede, no chão."
Durante o ritual, que não tem tempo estimado de duração, o padre se veste com uma estola e usa crucifixo, água benta, óleo e sal exorcizados. É necessário que o paciente aceite participar. "A família pode até trazer, mas para ter a libertação, é necessário que a pessoa queira", diz o padre.
"Toda possessão [pelo demônio] tem que ter o querer da pessoa. Em algum momento, ela tem que dizer: "Eu quero". Deus nos fez livres", explica o religioso. "O demônio só pode nos tomar essa liberdade se a gente deixa. Pode ser por um pecado, por um desejo pessoal, por um pacto com o demônio. Muitas pessoas pedem que o demônio dê dinheiro."
Nos anos 60, houve uma atualização do manual com o que havia de novo na ciência, segundo padre Geovane, que trabalha com exorcismo desde 2005. Há dois anos, ele estudou o tema em um curso de duas semanas que fez em uma universidade católica, em Roma.
"Comecei acompanhando padre Nelson [Rabelo, 92, antigo exorcista do Rio de Janeiro], em 2005. Rezava, ficava ao lado só para estar junto. Quando ele ficou doente, há quatro anos, eu comecei a atender oficiosamente", explicou o padre Geovane.
"O bispo viu que era um dom de Deus e me chamou para ser exorcista. Fui para Roma fazer o curso e voltei pertencendo ao Conselho Internacional dos Exorcistas e exercendo o exorcismo oficialmente."
Na Itália, o religioso participou de um ritual de exorcismo como ajudante. No Rio de Janeiro, o religioso conta que não tratou de nenhum paciente. Ainda.
Ele espera, para as próximas semanas, o laudo final da equipe de psicólogos, psiquiatras e neurocirurgiões que vai dizer se um homem que frequenta a paróquia tem esquizofrenia ou possessão pelo demônio.
Os profissionais que trabalham com o padre não são fixos. Eles são conhecidos que o ajudam quando chega um caso. "Um deles não é nem católico", afirma.
Em São Paulo, padre Geovane foi chamado há alguns anos para tratar de um homem. "Atendi, durante um mês, um caso em São José do Rio Preto [SP]. O rapaz era satanista e comia vísceras de bebês mortos. Não sei onde e nem como ele comprava, mas ele fez um pacto com o diabo, comeu vísceras, fez oferenda de vários animais e disse que queria pertencer ao demônio", lembra o padre.
"Ele tinha uma força muito grande, 20 homens não conseguiam contê-lo. Ele conseguia falar alemão, francês e italiano, sem nunca ter aprendido. Não falava português direito. Ele sabia de coisas escondidas, de pecados de várias pessoas que estavam presentes e que ninguém sabia. Hoje ele dá testemunho e está totalmente liberto."
Conselho Nacional dos Exorcistas
Nas últimas semanas, além dos trabalhos na comunidade da Maré, ele também está envolvido com a preparação da Jornada Mundial da Juventude. Cerca de 68 pessoas que trabalham como voluntárias durante o evento, provenientes de vários Estados do Brasil, estão hospedadas na paróquia.
Assim que a Jornada acabar, Padre Geovane conta que continuará a fazer um trabalho que parou por conta do evento. Junto a mais quatro padres do Brasil, ele está procurando outros exorcistas em cada diocese do país. Segundo ele, há mais de 300 dioceses no Brasil, e a dificuldade de se contactar com elas é imensa, pois muitas não têm sequer telefone.
O objetivo do grupo é achar todos os padres que praticam o exorcismo no país, reuni-los e formar um Conselho Nacional dos Exorcistas.
"Na Itália, existe um programa de televisão, no qual o exorcista fala sobre o assunto e explica como funciona. No Brasil, falar de exorcismo é um tabu. Tudo aquilo que você não conhece direito se torna nebuloso", explicou.
"Durante muito tempo, se pensou na não existência do demônio, não na existência do mal. A sociedade da América Latina quis responder a muitos problemas apenas com a psiquiatria e a psicologia. O demônio ficou muito mal pensado."
Rio: briga entre bem e mal
Durante os últimos 11 anos trabalhando dentro do Complexo da Maré e às margens da Linha Vermelha, uma das vias expressas mais importantes para quem chega à capital fluminense, o padre conta que nunca teve problemas com o tráfico de drogas do local. "Eles nos respeitam muito, nunca fizeram nada contra a gente."
Formado por 15 comunidades com 130 mil moradores, o Complexo da Maré é dominado por duas facções de traficantes de drogas e uma milícia.
Cortado pelas três principais vias expressas do Rio (avenida Brasil e Linhas Vermelha e Amarela), o conjunto de favelas é rota obrigatória para quem chega ao Rio pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, e precisa se deslocar para o centro, a zona sul ou à Barra da Tijuca, na zona oeste.
No dia 25 de junho, após a operação do Bope, membros de ONGs que atuam na Maré revelaram que há menos de um mês a PM realizou uma reunião com representantes de todas as associações de moradores do complexo.
O encontro foi em uma universidade particular, no Centro do Rio. Na ocasião, foi dito que a Maré começará a ser ocupada pelas forças de segurança em agosto, logo depois da Jornada Mundial da Juventude.
"Eu exorcizaria tudo o que está de errado na cidade do Rio de Janeiro. Essa briga entre o bem e o mal é muito grande. Em determinados momentos, o mal consegue um espaço para fazer o que ele quer", afirma.
" Foi muito bonito o povo sair para reivindicar, mas é muito triste ver que nosso povo perdeu a noção do que estava fazendo e começou a quebrar tudo", diz o religioso sobre as recentes manifestações na cidade.
Bênção, e não exorcismo
Em maio deste ano, o canal "TV2000", da CEI (Conferência Episcopal Italiana), divulgou que o papa Francisco havia realizado "uma prece de libertação do demônio ou um autêntico exorcismo" em uma criança doente que assistiu à missa de Pentecostes na Praça de São Pedro do Vaticano.
Dias depois, o Vaticano declarou que o papa Francisco não havia realizado qualquer exorcismo: "simplesmente rezou por uma pessoa doente que foi apresentada a ele". "Ali não houve exorcismo, apenas uma bênção. O ritual é feito de maneira reservada e não em público", afirmou padre Geovane ao ser questionado sobre o assunto.
Fonte: UOL
Padre exorcista pede que mais sacerdotes católicos sejam treinados pelo Vaticano para expulsar demônios
Afirmando já ter enviado de volta para o inferno mais de 160 mil demônios, o padre católico Gabriele Amorth, de 88 anos, quer que o Vaticano dê mais liberdade para que seus sacerdotes realizem rituais de exorcismo, e também que mais padres sejam treinados para tal tarefa.
De acordo com o The Christian Post, o religioso afirma que fará um pedido ao papa Francisco para que ele autorize todos os padres a realizarem exorcismos sem a pré-aprovação da igreja, de forma a lidar com um aumento da demanda do ritual que ele afirma existir entre os fiéis.
- Vou pedir ao papa para dar aos padres o poder de realizar exorcismos, e garantir que padres sejam treinados corretamente para os rituais durante o seminário. Existe uma grande demanda – afirma Amorth.
O padre afirmou que fará seu pedido ao papa inspirado num suposto exorcismo que Francisco realizou em plena Praça São Pedro.
- O papa também é o bispo de Roma, e como todo bispo ele também é um exorcista. E aquilo foi um exorcismo verdadeiro. Se o Vaticano nega isso, é sinal de que eles não sabem de nada – declarou, segundo o The Sunday Times, declarando ainda que o suposto exorcismo realizado pelo papa ajudaria a balancear um mundo no qual as pessoas não acreditam no diabo.
- Vivemos em uma era na qual Deus foi esquecido. E sempre que Deus não está presente, o diabo lidera – explica.
- Atualmente, infelizmente, os bispos não nomeiam tantos exorcistas. Precisamos de muitos mais. Espero que Roma mande nossas diretivas aos bispos espalhados pelo mundo para que eles nomeiem mais exorcistas – completa.
A Igreja Católica possui um documento datado de 1614 onde estipula as maneiras como os sacerdotes treinados para rituais de exorcismo devem operar.
As diretrizes estabelecidas pela igreja orientam que os padres devem seguir um ritual conhecido como “De exorcismis et supplicationibus quibusdam”, ou, em português “Exorcismos e determinadas súplicas”.
Segundo o The Christian Post, o padre defende que o aumento do número de padres treinados para realizar tais rituais, afirmando especialmente que “há agora, mais do que nunca, necessidade de combater pessoas possuídas por ‘magos’ e ‘satanistas’”.
- O diabo está sempre escondido e a coisa que ele mais quer é que as pessoas acreditem que ele não existe. Ele estuda cada um de nós e nossos gostos e tendências sejam para o bem, sejam para o mal para nos tentar – conclui o religioso.
Fonte: GNoticias















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