O LOBO DA ESTEPE - HERMANN HESSE : TRECHO DO LIVRO CLÁSSICO FANTÁSTICO E COMENTÁRIOS

O Lobo da Estepe

 

O lobo da estepe

 
 
Sinopse:
Temos a história de Harry Haller, um outsider, um misantropo de cinqüenta anos, alcoólatra e intelectualizado, angustiado e que não vê saída para sua tormentosa condição, autodenominando-se “lobo da estepe”. Mas alguns incidentes inesperados e fantásticos o conduzem lenta porém decisivamente ao despertar de seu longo sono: conhece Hermínia, Maria e o músico Pablo. E então a história se desenvolve, guiando-nos num êxtase febril ao seu surpreendente desenlace final.

O lobo da estepe
Hermann Hesse
Editora: Record
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Harry Haller é um homem de 50 anos que acredita que sua integridade depende da vida solitária que leva em meio às palavras de Goethe e as partituras de Mozart; um intelectual tentando equilibrar-se à beira do abismo dos problemas sociais e individuais, ante os quais a sua personalidade se torna cada vez mais ambivalente e, por fim, estilhaçada. A primeira parte do livro é o pesadelo do lobo Haller, sua depressão e sua incapacidade de se comunicar que está na base da crueldade e da autodestruição. Na segunda o lobo se humaniza, através da entrada em cena de Hermínia, que tenta reaproximá-lo do mundo, no caso uma comunidade simplória, com salas de baile poeirentas e bares pobres. (fonte)

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Essa foi a minha primeira experiência com Hermann Hesse e, definitivamente, não será a última. Fiquei encantada. "O lobo da estepe" não é um livro fácil de ler. É denso, cheio de referências à música, à Filosofia e à Psicologia, e também contem metáforas e um tom crítico. Daqueles textos que te levam à reflexão. E te convidam a voltar a ele dali a alguns anos, como se te exigissem maturidade obtida através das vivências do seu mundo interno e da realidade objetiva.

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Harry é um cinquentão intelectual que autodenomina-se "lobo da estepe". Pensa em si de maneira dual, como se constantemente confrontasse sua racionalidade com seus instintos. Como se seu objetivo frustrado fosse tornar-se uno e o homem ou o lobo devessem vencer a batalha pela posse do seu corpo. Uma contradição constante e repleta de angústia e frustração.

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Porém suas reflexões, sempre atreladas à crítica da sociedade burguesa do início de século XX, acabam por mostrar o quanto ele, de certa forma, ainda é ligado aos valores burgueses e de que maneira seu posicionamento pode ser entendido como parte dos fatores que fazem a manutenção dessa sociedade a qual ele tanto critica.

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Sua autoanálise o leva a perceber não uma dualidade em seu ser, mas uma multiplicidade de "eus" que o compõem e permitem diversas experiências no mundo. Seus fragmentos decompostos associados aos "duplos" que encontra pelo caminho (Hermínia, Hermann, etc) e à compreensão de sua realidade, ampliam seu modo de olhar pra vida, enriquecendo a percepção que tem sobre si mesmo.

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Enfim, um livro que vale pela reflexão que provoca e pela sensação de que há nele muito mais do que você apreendeu ao final da leitura.

.http://devaneiosemetamorfoses.blogspot.com.br/2011/03/livro-o-lobo-da-estepe-de-hermann-hesse.html

Segue um trechinho:

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" - Você trazia no íntimo uma imagem da vida, uma fé, uma exigência; estava disposto a feitos, a sofrimentos e sacrifícios, e logo aos poucos notou que o mundo não lhe pedia nenhuma ação, nenhum sacrifício nem algo semelhante; que a vida não é nenhum poema épico, com rasgos de heróis e coisas parecidas, mas um salão burguês, no qual se vive inteiramente feliz com a comida e a bebida, o café e o tricô, o jogo de cartas e a música de rádio. E quem aspira a outra coisa e traz em si o heróico e o belo, a veneração pelos grandes poetas ou a veneração pelos santos, não passa de um louco ou de um Quixote. Pois bem, meu amigo, comigo também foi assim! Eu era uma jovem bem-dotada, com vocação para viver dentro de um elevado padrão, para esperar muito de mim mesma e para realizar grandes feitos. Poderia ter um belo futuro, ser a esposa de um rei, a amante de um revolucionário, a irmã de um gênio, a mãe de um mártir. E a vida só me permitiu ser uma cortesã de mediano bom gosto, o que já se vai tornando bastante difícil para mim! Foi isso o que me aconteceu. Fiquei algum tempo desconsolada e procurei com afinco a culpa em mim mesma. A vida, pensava eu, sempre acaba tendo razão, e se a vida se ria dos meus belos sonhos, pensava, era porque meus sonhos tinham sido estúpidos e irracionais. Mas isso não me valeu de nada. Mas como tivesse bons olhos e ouvidos, e, além disso, fosse curiosa, examinei a vida com certa atenção, observei meus vizinhos e conhecidos, mais de cinquenta pessoas e destinos, e percebi então, Harry, que meus sonhos estavam certos, estavam mil vezes certos, assim como os seus. Mas a vida, a realidade, não tinha razão. O fato de uma mulher da minha classe não ter alternativas senão envelhecer de uma maneira insensata e pobremente junto a uma máquina de escrever a serviço de um capitalista, ou casar-se com ele por seu dinheiro ou converter-se numa espécie de meretriz, era tão injusto quanto o de um homem como você, solitário, tímido e desesperado, ter de recorrer à navalha de barbear. Talvez a miséria em mim fosse mais material e moral, e em você mais espiritual; mas o caminho era o mesmo. Pensa que eu não pude reconhecer a sua angústia diante do foxtrote, sua repugnância pelos bares e pelos dancings, sua hostilidade para com a música de jazz e tudo o mais? Compreendia e muito bem, como compreendia seu horror pela política, sua tristeza pelo palavreado vão e a conduta irresponsável dos partidos e da imprensa; seu desespero diante da guerra, as passadas e as futuras; pela maneira como hoje se pensa, se lê, se edifica, se compõe música, se celebram as festas e se educa! Você tem razão, Lobo da Estepe, mil vezes razão, e contudo terá de perecer. Vive demasiadamente faminto e cheio de desejos para um mundo tão singelo, tão cômodo, que se contenta com tão pouco; para o mundo de hoje em dia, que lhe cospe em cima, você tem uma dimensão a mais. Quem quiser hoje viver e satisfazer-se com a vida, não pode ser uma pessoa assim como você e eu. Quem quiser música em vez de balbúrdia, alegria em vez de prazer, alma em vez de dinheiro, verdadeiro trabalho em vez de exploração, verdadeira paixão em vez de jogo, não encontrará guarida neste belo mundo...
Olhou para baixo, meditando."

(O lobo da estepe, Hermann Hesse)
Fonte:http://cadernocriativo.blogspot.com.br/2013/01/o-lobo-da-estepe.html

 


-Terminei de ler, é fantástico, vou escrever sobre ele...
-Tia, ce você fizer um post spoiller eu juro que te dou uma porrada!

Mais ou menos nesse pé que eu comecei a pensar no que escrever sobre esse livro. Trata-se de um clássico, isso é óbvio. Eu quis ler esse livro, depois de assistir uma entrevista do Fernando Anitelli, idealizador do “
Teatro Mágico” onde ele diz que o nome da trupe surgiu desse livro. Me apaixonei! Comecei lendo em e-book, mas ao passar por uma feira de livros não me detive e comprei o livro para não depender do computador para ler.
Mastiguei, comi, engoli e digeri cada palavra com uma fome que não sei nem descrever!
Me apaixonei!

Hermann Hesse é um importante escritor alemão, um dos prediletos de leitores brasileiros. O que mais me intriga nesse livro, é saber que foi escrito há tantos anos, 1927, e continua tão atual e nos tornar tão identificáveis com seus personagens! Cativa e prende o leitor do começo ao fim!

O Lobo da Estepe é tido como a obra mais importante de Hermann Hesse, onde conta a história de Harry Haller, é um solitário, um misantropo de cinqüenta anos, alcoólatra, intelecutal, pensador, em constante busca pela sua verdade, que escolheu ser solitário mas que não consegue suportar viver isolado de todos. Harry parece um animal, selvagem, um lobo da estepe e pesa o equilíbrio de sua parte humana e sua parte animal. Harry não vê solução para sua vida, vive angustiado, na corda bamba entra a lâmina de uma navalha e a covardia de dar um fim a sua medíocre existência.
Um dia conhece uma jovem que milagrosamente consegue compreender-lhe e o conduz a um despertar interior, a um mundo novo e mágico que ele achava não ser possível.

"Seria necessário que o homem e o lobo se conhecessem mutuamente sem falsas máscaras sentimentais, que se fitassem nos olhos em toda a sua nudez"

Não é um livro fácil de se ler, principalmente quando você se reconhece no Harry e se vê descrito em algumas partes do Tratado do Lobo doa Estepe. Algumas vezes parece bem simples, noutras, complexo! Várias vezes pausei, refleti e voltei a leitura em grande parte. Algumas coisas creio ter compreendido, outras não. Acreditem no aviso preventivo, este livro é “Só para Loucos”.

Harry se sente incompreendido pelo mundo, ao questionar os valores fúteis da guerra e ao desprezar a vulgarização da vida e dos valores feita pela massa burguesa. Harry julga que não se encaixa na sociedade e se vê obrigado a viver nela!
Suas indagações, suas reclamações, seu pesar... tudo nos parece assustadoramente atuais.
Trata-se de um mergulho em si mesmo, um tratado sobre o ser humano e em tantos quantos podemos ser. Eu gosto de livros que nos levam a pensar assim, que nos obrigam a questionar-nos, que nos mergulham em nós mesmos!

A solução para Harry? Está no Teatro Mágico!
E eu deixo a cargo de quem for ler o livro, compreender tudo o que se passou nesse cenário lúdico e inebriante. Por vezes, julguei que teria medo de estar lá, mas agora, ao final do livro, eu digo que se passar pela rua e vir uma placa dizendo “Teatro Mágico, Só para Loucos, Entrada ao preço da razão” eu corro para lá!
http://expressopradois.blogspot.com.br/2007/07/o-lobo-da-estepe-hermann-hesse.html



Só para loucos(publicado em 13/05/2000)

BERNARDO CARVALHO
colunista da Folha


Em meados dos anos 60, "O Lobo da Estepe" (1927), de Hermann Hesse (1877-1962), começou a ser lido como uma espécie de "O Pequeno Príncipe" por toda uma geração influenciada primeiro pela psicanálise e em seguida pelos ecos do movimento hippie.

Hesse virou moda. Seus livros foram devorados com um espírito de culto. Se você passou a infância naqueles anos psicodélicos, deve ter tropeçado pelo menos uma vez em algum dos romances do autor (Prêmio Nobel de 46), esquecidos na borda de uma piscina ou ao lado de uma cadeira de praia e discutidos pelos adultos como alegorias da procura espiritual do eu pelo viés do inconsciente psicanalítico ("Demian") ou do misticismo orientalista ("Sidarta").

É muito provável que a "literatura de mensagem" de Hesse, que tanto marcou os leitores nos anos 60/70, também esteja ironicamente na origem dos livros de Paulo Coelho, em seu aspecto massificado de "pérolas de sabedoria".

Ironicamente, porque, ao contrário do que pode parecer, "O Lobo da Estepe" não é um romance fácil. Ainda mais num mercado que é o avesso dos valores que o livro propõe, um mundo em que a idéia de autoconhecimento foi invertida e transformada em impostura e lugar-comum, vulgarizada como estratégia de marketing e vendas.

"O que chamamos cultura, o que chamamos espírito, alma, o que temos por belo, formoso e santo, seria simplesmente um fantasma, já morto há muito, e considerado vivo e verdadeiro só por meia dúzia de loucos como nós?", pergunta o protagonista.

Com a distância do tempo, a atual reedição (a 26ª) de "O Lobo da Estepe" prova que, a despeito de seu lado "filosófico", que o tornava aparentemente mais acessível nos anos 60, o romance de Hesse é, do ponto de vista literário, extremamente complexo, imaginativo e inovador para a época em que foi escrito. Um texto que oscila entre o simbolismo e o surrealismo, criando um mundo onírico que lembra os pesadelos das novelas de Schnitzler e dos contos de Hoffmann.

A misantropia, o solipsismo e a inadequação de seu protagonista ao mundo, descontadas as eventuais referências à ânsia de um "encontro com Deus", também estão de alguma forma na origem dos personagens de Thomas Bernhard: "O Lobo da Estepe, o sem pátria e solitário odiador do mundo burguês. (...) Não se devem considerar suicidas apenas aqueles que se matam. (...) Essa classe de homens se caracteriza na trajetória de seu destino porque para eles o suicídio é a forma de morte mais verossímil (...). Não estou satisfeito em ser feliz. (...) A infelicidade de que necessito (...) me permitiria sofrer com ânsia e morrer com prazer. (...) Anseio por uma dor que me prepare e me faça desejar a morte", diz o narrador do romance de Hesse.

Bernhard chegou a declarar numa entrevista à TV austríaca: "Quando descrevo este gênero de situações centrífugas encaminhadas na direção do suicídio, trata-se certamente da descrição de estados em que eu próprio me encontro e em que, por outro lado, talvez me sinta bem enquanto escrevo, justamente porque não me suicidei, porque escapei disso".

Assim também, ao final de "O Lobo da Estepe", o protagonista entra num teatro mágico, que lhe abre, como uma droga, as portas da percepção para o interior do seu inconsciente e se depara com um letreiro que lembra bastante a literatura de Bernhard: "Delicioso suicídio! Você se arrebenta de rir!".

Todo o problema do personagem do livro de Hesse é um permanente mal-estar cuja fonte é a inadequação do seu espírito à sociedade, à massa, à média e à vulgarização burguesa da vida e dos valores. É por isso que ele se define como "lobo da estepe".

Aos 48 anos, aluga um quarto mobiliado na casa de uma senhora onde passa a viver isolado do mundo. É um intelectual misantropo. Suas andanças são ao mesmo tempo um mergulho simbólico dentro de si mesmo e uma redescoberta sensorial dos prazeres físicos.

Quando sai para a rua, as coisas se sucedem como se ele estivesse sonhando ou alucinando e como se tudo dissesse respeito a si mesmo. Um mundo bem mais imaginário e simbólico do que real.

A certa altura, recebe de um propagandista ambulante um panfleto que é a espantosa análise de sua própria personalidade. Encontra uma mulher que é, ao mesmo tempo, a lembrança de um amigo de infância e seu duplo. É levado a um teatro mágico, "só para loucos", cujo efeito é semelhante ao de uma droga de autoconhecimento.

A duplicação de si se estende por todo o romance e culmina no jogo de espelhos desse teatro mágico, em que o protagonista descobre que o eu é múltiplo. O autor se duplica em narrador e este, em elementos de sua própria narrativa: "Assim como a loucura, em seu mais alto sentido, é o princípio de toda sabedoria, assim a esquizofrenia é o princípio de toda arte, de toda fantasia". Ao que só lhe resta, como em Thomas Bernhard, "viver e aprender a rir".

Livro: O Lobo da Estepe
Ótimo
Autor: Hermann Hesse
Tradutor: Ivo Barroso
Editora: Record
Preço: R$ 27 (240 págs.)


Fonte:http://biblioteca.folha.com.br/1/16/2000051301.html


Ficheiro:Hermann Hesse Der Steppenwolf 1927.jpg

O Lobo da Estepe (no original, Der Steppenwolf) é um livro de Hermann Hesse, publicado em 1927. É considerado o melhor dos livros de Hesse, e um dos romances mais representativos do século XX.[1] No Brasil foi traduzido por Ivo Barroso e publicado pela Editora Record em 1993.

Enredo

O livro conta a história de Harry Haller, um outsider, um misantropo de cinqüenta anos, alcoólatra e intelectualizado, angustiado e que não vê saída para sua tormentosa condição, autodenominando-se “lobo da estepe”. Mas alguns incidentes inesperados e fantásticos o conduzem lenta porém decisivamente ao despertar de seu longo sono: conhece Hermínia, Maria e o músico Pablo. E então a história se desenvolve de forma surpreendente.

Referências

  1. CARVALHO, Bernardo (13/05/2000). Biblioteca Folha - Só para loucos. Página visitada em 10/01/2009.
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Lobo_da_Estepe



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