AS TRES DIMENSÕES DO HOMEM SEGUNDO A LOGOTERAPIA



A imagem do homem apresentada pela Logoterapia de Viktor Frankl é uma imagem “tridimensional”. Assim como qualquer corpo físico apresenta as três dimensões do espaço - comprimento, largura e altura -, assim também ocorre com o ser humano: ele possui as dimensões somática, psíquica e espiritual, que se interpenetram mutuamente de forma perfeita.
A dimensão somática do homem envolve todos os fenômenos corporais: os fenômenos orgânicos das células, as funções biológicas e fisiológicas, com seus respectivos processos químicos e físicos.
A dimensão psíquica é a esfera das sensações, dos estados de ânimo, dos sentimentos instintivos, dos instintos, desejos, afetos. A estes se acrescentam os dotes intelectuais do homem, os padrões de comportamento adquiridos, as marcas provenientes da sociedade. Em suma, as cognições e emoções.
Sobrará ainda alguma coisa para o plano espiritual? Sobra, sim, muito, infinitamente muito. Sobra aquilo que constitui o “primordialmente humano”: o tomar posição livremente perante a condição corporal e os sentimentos; as decisões autônomas da vontade, o interesse objetivo e artístico, a criação estética, a religiosidade, o sentimento ético (a “consciência”), a apreensão dos valores, o amor. Todas essas coisas se localizam na espiritualidade do homem.
Se quisermos classificar os seres vivos de acordo com sua participação nas diferentes dimensões do ser, chegaremos ao seguinte quadro:
Plantas, animais, homens à dim. somática
Animais, homens à dim. somática e psíquica
Homens à dim. somática, psíquica e espiritual

Vemos que o plano espiritual (não confundir com inteligência ou razão) é a dimensão “especificamente humana”. Na Logoterapia ela é chamada a “dimensão noética” [palavra derivada do grego: nous (espírito)]. Os outros dois planos são por vezes designados como o “psicofísico”, ou como as “dimensões subnoéticas”.
A Logoterapia se localiza predominantemente na dimensão noética do homem. É uma psicoterapia que parte do espiritual e está voltada para o espiritual. Com isto ela se diferencia das outras escolas psicoterápicas, voltadas antes de tudo para a dimensão psíquica do homem, ocupadas em esclarecer o inconsciente instintivo, ou o histórico da aprendizagem e do desenvolvimento do homem.
Os resultados obtidos por essas outras escolas, sobretudo quando comprovados experimentalmente, não são de forma alguma contestados pela Logoterapia, mas eles estão localizados em um nível bidimensional. A realização de Frankl consistiu em haver integrado os aspectos específicos do ser humano na psicoterapia tradicional, que antes dele era, literalmente, uma psicoterapia “sem espírito”.
Do fato de o homem ser tridimensional resulta que o especificamente humano só transparece quando é incluída a dimensão espiritual. O homem só se manifesta como homem quando esta “terceira” dimensão está incluída. Só então é que nós conseguimos perceber o homem como tal. A vida vegetativa ainda pode ser facilmente explicada dentro da dimensão corporal, e a vida animal dentro da dimensão psíquica, Mas a existência humana, como tal, não se esgota nessas duas dimensões, ela não cabe dentro desse “plano” meramente psicossomático.
A psicoterapia tradicional (freudiana), ao negar a dimensão espiritual, ou projetá-la sobre a dimensão psíquica, provoca muitas confusões e contradições. O que no homem é mais autenticamente humano, como a estrutura de valores, ou o anseio inato por sentido, não pode perder-se em meio ao matagal das interpretações psicológicas. A Logoterapia evita este erro, quando considera o espiritual como a dimensão própria do homem, e quando procura esclarecer se a influência do espiritual sobre as duas outras dimensões pode ser utilizada com o fim de levar à cura. Ela não negligencia o psíquico nem o corporal, mas procura descobrir quando e onde as forças espirituais no homem podem ser mobilizadas:
- para eliminar as frustrações espirituais,
- para corrigir as perturbações psíquicas,
- para minorar os sofrimentos (psico-)somáticos.
A Logoterapia tem a seu favor quase um século de pesquisas, com resultados muito importantes. Onde a psicologia tradicional julga ver “dependências psíquicas”, a Logoterapia aponta “independências espirituais”. E onde a psicoterapia tradicional fala de “arranjos neuróticos”, a Logoterapia descobre um “engajamento existencial”. Isto significa um avanço, um enriquecimento sem paralelo, que só tem possibilidade de ser alcançado pela cura de almas pastoral. Mas esta só pode ser atingida por uma classe de pessoas que estejam ligadas entre si por uma fé ou por uma confissão religiosa.
É evidente que o paciente deve ser ajudado no plano em que a perturbação esteja localizada. Por isso, no plano somático, são empregados medicamentos, ou mesmo métodos mais fortes; e no plano psíquico sessões de catarse, exercícios comportamentais ou estratégias cognitivas de solução de problemas; ou ainda “métodos mistos”, quando o problema se localiza na região limítrofe somatopsíquica. Mas para obtermos todas as vantagens que o tratamento consegue oferecer, nós precisamos de métodos que cheguem até à dimensão noética do homem. Tudo isto sem falar das excelentes possibilidades de combinação “no mesmo plano” que a cura de almas pastoral, ou as várias formas de arte (terapia artística) e de incentivo à formação.

Saiu o semeador a semear sua semente. E ao semear, uma parte caiu à beira do caminho. Foi pisoteada e as aves do céu a comeram. Outra caiu sobre pedras, e tendo nascido, secou por falta de umidade.Outra caiu em meio aos espinhos, e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram. Outra caiu em terra boa, e nascendo deu fruto cem por um. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça.
Evangelho de Lucas 8,5-8

Fonte:Carlos Almeida Pereira, Campina Grande/Pb;Elisabeth Lukas, Lehrbuch der Logotherapie
http://blogdaafa.blogspot.com/



   Logoterapia
 
 
A Logoterapia foi criada por Viktor Emil Frankl, que foi o primeiro psicólogo a viver num campo de concentração e a sobreviver. A Logoterapia nasce em meio ao seu trabalho num campo de concentração em benefício dos aprisionados e mediante a vivência do seu criador, o qual viu morrer seu pai, sua mãe e irmãos e Tilly, sua esposa, com a qual só pôde viver poucos meses.
A Logoterapia é a psicoterapia que se concebe através da busca do sentido vital (Logos é sentido e terapia é cura). Ela não é a procura de “um”, mas a procura “do” sentido, porque não se trata de inventar um sentido. Ele já existe e nossa tarefa é encontrá-lo. Segundo a Logoterapia, essa busca é uma vocação, um apelo, uma espécie de chamamento que nasce do íntimo de cada ser humano, porque é na intimidade de cada um que ele está plantado.
É uma ciência que acredita que o homem, por ser consciente é livre, é incondicionado, contrariamente à crença dos comportamentalistas, que acreditam no homem como fruto do meio. Crê que o homem é um ser espiritual (bio-psico-sócio-espiritual) e a pessoa humana tem vocação para a liberdade e que, por ter consciência de sua responsabilidade para com a vida, deve ser tratada como capaz de ser livre, de pilotar seu destino nas condições mais adversas.  
A Logoterapia inova por trazer a dimensão noética ou espiritual humana para a compreensão do homem e se utiliza de três elementos disciplinares essenciais: “liberdade da vontade”, “vontade de sentido” e o “sentido da vida”. Busca auxiliar as respostas para questionamentos como: O que você está fazendo de sua vida? Falta concluir alguma coisa? O que está fazendo para concluí-la? Será que o tempo será suficiente?  
A Logoterapia, como psicoterapia existencial, busca compreender, junto ao homem que foi atirado no mundo, o conflito existencial perante as suas preocupações básicas: a morte, a liberdade, o isola­mento e a falta de um sentido para a vida. A Logoterapia é a única forma de análise existencial que, além de ter uma filosofia humanista, utiliza algumas técnicas clínicas para atuação prática que são: intenção paradoxal, derreflexão, apelação, diálogo socrático e denominador comum.

Fonte:http://www.portaldelphos.com.br/

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