VENEZUELA ACUSA EUA DE 'EXTORSÃO' NA ONU; RÚSSIA E CHINA APOIAM E CRITICAM 'INTIMIDAÇÃO' E 'COMPORTAMENTO CAUBÓI'
Samuel Reinaldo Moncada Acosta, representante permanente da Venezuela junto às Nações Unidas — Foto: REUTERS/Eduardo Munoz
Venezuela acusa EUA de 'extorsão' na ONU; Rússia e
China apoiam e criticam 'intimidação' e 'comportamento de caubói'
Conselho de
Segurança das Nações Unidas se reuniu nesta terça-feira (24) para debater as
queixas do governo venezuelano sobre a pressão crescente de Washington.
Por Redação
g1
23/12/2025 19h51 Atualizado há 2 dias
A Venezuela acusou os Estados Unidos de estar submetendo o país à "maior
extorsão" de sua história, em declaração dada na ONU nesta terça-feira (23).
A fala foi do
embaixador do governo de Nicolás Maduro nas
Nações Unidas, Samuel Moncada, que apresentou as queixas do país em relação à
pressão exercida pelo governo americano ao Conselho de Segurança, que se reuniu
para debater o tema.
"Estamos diante de uma
potência que atua à margem do direito internacional, exigindo que nós
venezuelanos abandonemos nosso país e o entreguemos [...] Trata-se da maior
extorsão de que se tem notícia em nossa história", afirmou.
A Venezuela anunciou que iria
apresentar uma denúncia formal à ONU no sábado (20), depois
que os EUA interceptaram o segundo
navio com petróleo venezuelano no Mar do Caribe.
O governo de
Nicolás Maduro descreveu a ação como um grave ato de pirataria internacional e garantiu em um
comunicado: "Esses atos não ficarão impunes".
Na reunião do
conselho nesta terça, Rússia e China, que vem demonstrando apoio constante a Maduro em meio à pressão
americana, reafirmaram suas críticas a Washington.
"A China se opõe a todos
os atos de unilateralismo e intimidação, e apoia todos os países na defesa da
sua soberania e da dignidade nacional", declarou o representante chinês,
Sun Lei.
O governo russo,
que há uma semana afirmou que as "tensões na Venezuela podem ter consequências imprevisíveis para o
Ocidente", descreveu a pressão feita pelo governo Trump
como "comportamento de caubói".
"Os atos cometidos pelos
Estados Unidos violam todas as normas fundamentais do direito internacional. A
responsabilidade de Washington também se evidencia nas consequências
catastróficas dessa atitude de caubói", apontou o embaixador russo na ONU,
Vassily Nebenzia, que descreveu o bloqueio como "uma agressão
flagrante".
EUA falou em
sanções para tirar Maduro do poder
Os Estados
Unidos informaram ao Conselho de Segurança da ONU, nesta terça-feira ,
que imporão e farão cumprir sanções contra a Venezuela e seu presidente,
Nicolás Maduro, na máxima extensão permitida.
Segundo o
embaixador dos EUA nas Nações Unidas, Mike Waltz, o objetivo de Washington é
privar o governo venezuelano de recursos financeiros, vindos do lucro do
petróleo, que estariam permitindo que Maduro siga em sua "apropriação
fraudulenta do poder e suas atividades narcoterrorismo".
“A capacidade de Maduro de
vender o petróleo da Venezuela permite sua reivindicação fraudulenta de poder e
suas atividades narcoterroristas. O povo da Venezuela, francamente, merece algo
melhor, afirmou.
O embaixador dos Estados
Unidos nas Nações Unidas, Mike Waltz — Foto: REUTERS/Eduardo Munoz
Nicolás Maduro é acusado pelos EUA de ser o líder do Cartel de los Soles,
descrito como um grupo ligado ao tráfico de drogas, e oferece uma recompensa de US$ 50 milhões - o equivalente a R$ 277 milhões - por
informações que levem à sua captura.
A sessão do
Conselho de Segurança desta terça tinha como objetivo debater as queixas feitas pela Venezuela à ONU sobre os ataques que os EUA vêm realizando no Caribe, além do cerco ao país anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
que tem levado à apreensão de petroleiros.
Parlamentares
da Venezuela aprovaram lei contra ações dos EUA
A Venezuela
aprovou nesta terça-feira (23) uma lei que prevê penas de prisão de até 20 anos para quem promover ou
financiar o que descreve como pirataria ou bloqueios.
A proposta,
nomeada como projeto "Para Garantir a Liberdade de Navegação e Comércio
contra a Pirataria, Bloqueios e Outros Atos Ilícitos Internacionais", foi
votada na Assembleia Nacional da Venezuela, controlada pelo partido do governo
Nicolás Maduro, e aprovada por unanimidade.
Agora, ela será
encaminhada ao Executivo para aprovação e entrará em vigor assim que for
publicada no Diário Oficial.
A lei, que
inclui "outros crimes internacionais", surge em meio às operações
realizadas pelos Estados Unidos contra carregamentos de petróleo venezuelano.
No dia 10 deste
mês, o governo americano apreendeu o
primeiro petroleiro. A segunda interceptação confirmada por
Washington ocorreu no dia 20, dias depois do presidente Donald Trump anunciar
um bloqueio total a embarcações
que estivessem saindo de portos da Venezuela.
Nas duas ocasiões, o governo
venezuelano acusou os EUA de "pirataria". Na segunda,
afirmou que vai tomar "todas as medidas cabíveis", incluindo buscar o
Conselho de Segurança da ONU para prestar uma queixa.
Durante a sessão
desta terça, o presidente da Assembleia, Jorge Rodríguez, que é aliado de
Maduro, também fez duras críticas à oposição. Acusou María Corina Machado e seus
aliados, que vem dando declarações de apoio às ações do governo Trump,
de promover sanções contra a Venezuela e disse:
"Eles
roubaram, saquearam e se curvaram ao imperialismo americano. Estão satisfeitos
com as ações agressivas que estão ocorrendo atualmente no Mar do Caribe".
O presidente da Assembleia
Nacional da Venezuela , Jorge Rodríguez — Foto: REUTERS/Leonardo Fernandez
Viloria
Troca de farpas
entre Trump e Maduro
Nesta
segunda-feira (22), Donald Trump e Nicolás Maduro
voltaram a trocar farpas.
Trump, que anunciou uma nova classe de
navios de guerra batizada em homenagem a ele mesmo em um
evento na Casa Branca, disse que a coisa "mais inteligente" que o
venezuelano poderia fazer é renunciar. Questionado se seu governo quer
tirar Maduro do poder, afirmou:
"Isso depende dele, do
que ele queira fazer. Acho que seria inteligente de sua parte fazer isso
[renunciar]. Se ele quiser bancar o durão, será a última vez".
Já Maduro, durante uma feira de produtores venezuelanos, alfinetou o
presidente americano e disse que ele "estaria melhor" se focasse mais
em seu país, e não na Venezuela.
"Penso que o presidente
Trump poderia fazer melhor em seu país e no mundo. Ele estaria melhor no mundo
se focasse nos problemas do seu próprio país. Não é possível que 70% dos seus
discursos e declarações sejam [sobre] a Venezuela. E os Estados Unidos?",
questionou ele.
Maduro e Trump em fotos de arquivo — Foto: Reuters
A declaração de
Trump ocorreu horas depois de sua secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, afirmar que Maduro
"tem que sair" do poder em uma entrevista à
emissora americana Fox News.
Ao ser
questionada sobre os petroleiros vindos do país que
vem sendo interceptados pelos EUA, Noem afirmou:
"Não estamos apenas
interceptando navios, mas também enviando uma mensagem ao mundo de que a
atividade ilegal da qual Maduro participa não pode ser tolerada; ele tem que
sair".
Kristi Noem, secretária de
Segurança Interna dos EUA — Foto: Reprodução
Oficialmente, o
governo Trump nunca confirmou que sua ofensiva militar na Venezuela tenha como
objetivo uma mudança de regime. Desde agosto, quando começou a ofensiva militar
no Caribe, o presidente Donald Trump e seus aliados afirmam que o foco é o combate ao
narcotráfico e à entrada de drogas em território americano.
Em entrevista
recente à revista "Vanity Fair", Susie Wiles, chefe de Gabinete
da Casa Branca, já havia sugerido que o verdadeiro objetivo de Trump é tirar
Maduro do poder.
Ainda nesta
segunda, as operações americanas foram alvo de críticas da Rússia e da China.
O governo chinês
afirmou que a "apreensão
arbitrária" de navios de outros países pelos Estados Unidos constitui uma
grave violação do direito internacional. Segundo o porta-voz do
Ministério das Relações Exteriores, o país se opõe a todas as "sanções
unilaterais e ilegais" dos EUA.
O governo russo, que já havia
expressado anteriormente seu apoio a Maduro, também reafirmou seu “total apoio” à
Venezuela.
As Forças
Armadas dos Estados Unidos também já realizaram uma série de ataques contra
embarcações que supostamente eram usadas para o tráfico de drogas no
Mar do Caribe e no Pacífico oriental. Destruíram cerca de 30 embarcações, e
pelo menos 104 pessoas morreram nos ataques.
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