Termômetro do
planeta: novo estudo revela mudanças abruptas e irreversíveis na Antártida
Cientistas alertam que derretimento do
gelo e aquecimento do Oceano Antártico ameaçam cidades costeiras, ecossistemas
e espécies icônicas como o pinguim-imperador
Por O Globo —
Londres
23/08/2025 04h01 Atualizado há 3 dias
A Antártida, o continente mais frio e remoto do planeta, enfrenta um cenário crítico que pode ter consequências globais irreversíveis, segundo um estudo internacional publicado nesta quarta-feira (20) na revista Nature. A pesquisa alerta para mudanças abruptas nos ecossistemas do gelo e do Oceano Antártico, impulsionadas pelo aquecimento global, que já apresentam sinais de aceleração.
Coordenado pela Universidade Nacional Australiana, o relatório reuniu cientistas da França, Alemanha, África do Sul, Suíça, Reino Unido e centros australianos. Os especialistas destacam que a Antártida não está isolada: suas transformações afetam o clima mundial, a fauna e até a segurança das cidades costeiras.
Entre os riscos mais alarmantes está o colapso da camada de gelo da Antártida Ocidental. Segundo a Dra. Nerilie Abram, cientista-chefe da Divisão Antártica Australiana e principal autora do estudo, tal evento poderia elevar o nível do mar em mais de três metros, ameaçando milhões de pessoas ao redor do mundo.
Para a Austrália, os impactos seriam duplos: aumento do nível do mar nas regiões costeiras e alterações no Oceano Antártico, com menor capacidade de absorver dióxido de carbono e aquecimento mais intenso, conforme explica o professor Matthew England, da Universidade de Nova Gales do Sul.
O estudo também chama atenção para o efeito sobre a fauna local. O aquecimento e a perda de gelo marinho ameaçam diretamente espécies como o pinguim-imperador, cujos filhotes dependem de plataformas de gelo estáveis para se desenvolver. A sobrevivência do krill, de outros pinguins, focas e fitoplâncton está igualmente comprometida, afetando toda a cadeia alimentar antártica.
Além disso, a diminuição do gelo marinho altera a circulação oceânica, deixando nutrientes vitais presos no fundo do mar e enfraquecendo ecossistemas da superfície. Essa mudança pode intensificar o aquecimento regional e acelerar o derretimento do gelo.
Segundo Abram, embora existam medidas internacionais de proteção, como as estabelecidas pelo Sistema do Tratado da Antártida, elas não são suficientes para conter os efeitos das mudanças climáticas que já estão em curso.
A pesquisa, realizada em parceria com o Centro Australiano de Excelência em Ciência Antártica (ACEAS) e outras instituições, reforça que apenas uma redução rápida e contínua das emissões de gases de efeito estufa pode evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5°C e impeça mudanças irreversíveis no continente.
O alerta é claro: a Antártida não é apenas um território distante e gelado. É um termômetro do futuro do planeta, e sua preservação é crucial para as próximas gerações.
Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2025/08/23/termometro-do-planeta-novo-estudo-revela-mudancas-abruptas-e-irreversiveis-na-antartida.ghtml
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