Futuro da luz
noturna? Cientistas chineses criam suculentas que brilham no escuro
Pesquisadores da Universidade Agrícola
do Sul da China desenvolvem plantas biônicas que emitem luz após exposição à
luz
Por The New
York Times — Pequim, China
29/08/2025 03h00 Atualizado há um dia
As plantas já nos ajudam de inúmeras maneiras — alimentando-nos, vestindo-nos e fornecendo o ar que respiramos. Agora, elas podem, um dia, até nos guiar pelo caminho do banheiro à noite.
Em artigo publicado nesta quarta-feira (27) na revista Matter, pesquisadores da Universidade Agrícola do Sul da China detalham a criação de plantas que brilham no escuro. O feito foi possível ao injetar materiais sintéticos nos tecidos de suculentas vivas. Essas “plantas biônicas” podem emitir luz em diversas cores e se “recarregar” com exposição à luz. No entanto, ainda não estão prontas para uso doméstico.
Uma lâmpada vegetal viva
O brilho das suculentas foi desenvolvido no Laboratório Principal de Materiais e Energia de Origem Biológica da universidade. Pesquisadores do laboratório já exploravam combinações de tecnologias e plantas, como demonstrado em um artigo de 2018 sobre o uso de nanopartículas de carbono para aumentar a eficiência da fotossíntese. “Nosso objetivo era criar uma lâmpada vegetal viva e carregada de luz”, disse Shuting Liu, membro do laboratório e primeira autora do artigo.
Embora plantas luminosas tenham feito sucesso em mundos de ficção científica, elas só começaram a surgir na realidade na década de 1980, quando pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, incorporaram um gene de vaga-lume a plantas de tabaco. Mais recentemente, outras plantas luminescentes foram desenvolvidas, incluindo petúnias comercialmente disponíveis, usando genes de bactérias e fungos bioluminescentes.
Do fosforescente ao verde-esmeralda
Em vez de usar genes de outros seres vivos, Liu e sua equipe trabalharam com aluminato de estrôncio, material encontrado em estrelas que brilham no escuro. Diferente da bioluminescência, que depende de reações químicas contínuas, o aluminato de estrôncio absorve energia da luz externa e a libera lentamente — efeito conhecido como fosforescência.
Embora o material já tenha sido usado antes em plantas, Liu buscava um brilho mais intenso e duradouro usando partículas do tamanho aproximado de glóbulos vermelhos. Após várias tentativas em acelga chinesa e pothos, as partículas não se distribuíam de forma uniforme. O sucesso veio com a suculenta Echeveria Mebina, cujos canais intercelulares permitiram um brilho homogêneo. “Em apenas alguns segundos, uma folha inteira estava brilhando. Fiquei impressionada com a beleza, quase como esmeraldas”, afirmou Liu.
Após exposição à luz, as plantas brilham com intensidade similar à de uma vela e mantêm um brilho residual por pelo menos duas horas. Diferentes materiais permitiram criar cores variadas, incluindo vermelho, laranja, multicolorido e o clássico verde-claro.
“As imagens luminescentes são lindas, e a abordagem funciona”, afirmou Scott Lenaghan, diretor do Centro de Biologia Sintética Agrícola da Universidade do Tennessee, que não participou do estudo.
Porém, ele alerta que as aplicações práticas ainda são limitadas. “Uma lâmpada vegetal funcional exigiria prolongar significativamente a luminescência, o que é um grande desafio.” Além disso, a técnica compromete a promessa ecológica de plantas autoiluminadas, já que elas contêm materiais sintéticos cujo impacto ambiental é desconhecido. “O que acontece com as micropartículas quando a planta morre? Isso deve ser uma preocupação central”, destacou Lenaghan.
Liu reconhece que há desafios a superar, especialmente em relação ao impacto ambiental, e espera que outros pesquisadores colaborem. “Nesta fase, nossa prioridade era provar o conceito”, disse ela.
Ela ainda sonha com uma luz noturna de plantas: “Uma pequena suculenta sob uma redoma de vidro, brilhando silenciosamente à noite. Acredito que isso se tornará realidade.”
Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/clima-e-ciencia/noticia/2025/08/29/futuro-da-luz-noturna-cientistas-chineses-criam-suculentas-que-brilham-no-escuro.ghtml
Comentários
Postar um comentário