FÓSSIL DE CROCODILO TERRESTRE DE 66 MILHÕES DE ANOS REVELA PREDADOR QUE DESAFIAVA DINOSSAUROS NA PATAGÔNIA
Fóssil de
crocodilo terrestre de 66 milhões de anos revela predador que desafiava
dinossauros na Patagônia
Pesquisadores argentinos anunciam
descoberta do Kostensuchus, um animal de 3,5 metros que viveu milhões de anos
antes do fim do Cretáceo
Por The New
York Times — Washington, EUA
29/08/2025 03h20 Atualizado há 2 dias
Um predador de topo rondava as florestas da Patagônia milhões de anos antes do fim da era dos dinossauros. Tão grande quanto um tigre siberiano, ele se movia sobre quatro patas, com mandíbulas poderosas e dentes em formato de facas de carne.
Mas este caçador não era um dinossauro. Em um artigo publicado nesta quarta-feira (27) na revista PLOS One, pesquisadores anunciaram a descoberta do Kostensuchus, um grande crocodilo terrestre. A descoberta indica que os dinossauros predadores da América do Sul enfrentavam forte competição de seus primos crocodilianos até os últimos dias de seu reinado.
"Eles não eram apenas abundantes", disse Fernando Novas, paleontólogo do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia e um dos autores do estudo. "Também eram grandes o suficiente para lutar contra dinossauros como megaraptores e dromeossauros por presas."
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Os restos do feroz crocodilo foram encontrados em março de 2020, na província de Santa Cruz, na Argentina. As rochas frias e varridas pelo vento se formaram seis milhões de anos antes do fim do período Cretáceo, explicou Novas. Ele e sua equipe já haviam encontrado vestígios de dinossauros de pescoço longo e predadores com braços longos e garras em forma de gancho. Enquanto caminhavam pelas planícies, notaram um bloco de rocha pesado que continha indícios de um crânio de crocodilo.
Um crocodilo terrestre surpreendentemente completo
Os fósseis pertenciam a uma linhagem de crocodilos terrestres conhecidos como pierosaurídeos, cujos restos tendem a ser extremamente incompletos, disse Cecily Nicholl, especialista em crocodilos terrestres da University College London, que não participou do estudo. Mas, meses depois, quando o espécime foi totalmente preparado, estava surpreendentemente bem preservado, com crânio articulado à coluna vertebral, ombros e quadris intactos.
Com base em comparações com crocodilos vivos, a equipe estimou que o Kostensuchus tinha cerca de 3,5 metros de comprimento e pesava 259 quilos. Embora menor do que os maiores crocodilos contemporâneos, suas mandíbulas largas e poderosas e dentes longos, planos e serrilhados eram comparáveis aos de grandes dinossauros predadores ou de dragões-de-komodo modernos, tornando-o um caçador habilidoso, inclusive de dinossauros de médio porte.
Enquanto América do Norte e Ásia tinham crocodilos do Cretáceo em sua maioria semiaquáticos, na América do Sul e na África os crocodilos seguiram trajetória diferente. Muitas famílias caminhavam com os membros sob o corpo — como mamíferos e dinossauros — em vez da postura esparramada dos primos aquáticos.
A análise dos quadris do Kostensuchus sugeriu que ele mantinha as pernas um pouco mais abertas do que alguns crocodilos terrestres relacionados. Isso indica que, embora fosse um predador terrestre, ele e outros pierosaurídeos poderiam se sentir relativamente confortáveis na água.
“Diferentes famílias de crocodilianos podem ter evoluído independentemente para estilos de vida mais aquáticos diversas vezes”, afirmou Novas.
A anatomia esquelética por si só não permite dizer se o Kostensuchus passava muito tempo na água ou se era um terrestre de uma linhagem com tendências aquáticas, disse Jeremy Martin, paleontólogo da Universidade de Lyon, na França, que não participou do estudo. Segundo ele, análises de isótopos estáveis nos ossos poderiam revelar mais sobre a dieta e o ambiente do crocodilo recém-descoberto.
Martin também alertou que o comprimento do animal pode ter sido superestimado, já que as proporções sugeridas podem não se aplicar a outros espécimes mais fragmentados.
Um predador que rivalizava com dinossauros
Ainda assim, o Kostensuchus era maior do que muitos outros pierosaurídeos e, como o membro mais meridional e recente conhecido do grupo, preenche uma lacuna importante em sua árvore genealógica, disse Novas.
A descoberta demonstra que crocodilos terrestres de diferentes linhagens se tornaram regularmente grandes o suficiente para desafiar grandes dinossauros predadores em toda a América do Sul, dinâmica que se manteve mesmo após a extinção do Cretáceo. Há apenas 20 milhões de anos, enormes crocodilos terrestres ainda competiam com grandes aves-terroristas nas planícies sul-americanas.
“Em um mundo de crocodilos corredores de todos os tamanhos”, disse Novas, “o Kostensuchus e seus primos posteriores eram equivalentes a leões.”
Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2025/08/29/fossil-de-crocodilo-terrestre-de-66-milhoes-de-anos-revela-predador-que-desafiava-dinossauros-na-patagonia.ghtml
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