80 com cérebro de 60? O segredo pode estar na força
das atividades coletivas
Pesquisadores americanos estudam os
superidosos, octogenários que têm capacidade cognitiva equivalente à de pessoas
até 30 anos mais jovens, e fazem uma descoberta: a diferença está nos
relacionamentos sociais
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14/08/2025 06h01 Atualizado agora
Exceto quando pratiquei futebol feminino nos primeiros anos em São Paulo, nunca fui uma pessoa de atividades coletivas. Coral? Nunca cantei. Teatro? Meu lugar é na plateia. Esportes? Pratico corrida e caminhada, atividades solitárias por natureza.
Apesar desse histórico, outro dia me peguei dizendo ao meu marido que, quando reduzirmos nosso ritmo de trabalho — hoje, infelizmente, isso não cabe na agenda — vamos precisar escolher uma atividade coletiva para praticar.
O motivo é um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, com pessoas de 80 anos ou mais que têm memória igual à de alguém 20 ou 30 anos mais jovem. O segredo? Os “super-agers”, ou superidosos, como estão sendo chamados, valorizam os relacionamentos sociais.
O declínio gradual da memória e da massa cerebral é considerado “normal” conforme envelhecemos. Mas em 2000, os cientistas decidiram investigar se existiam idosos resistentes à perda de volume do cérebro relacionada à idade. Em 2012, saíram os primeiros resultados: sim, eles existem e parecem ser imunes ao comprometimento da memória relacionado à idade.
Para descobrir como isso era possível, foram analisadas imagens de ressonância magnética para identificar alterações na anatomia cerebral de dois grupos: pessoas de 50 a 65 anos e idosos acima de 80 anos.
A morfometria cortical mostrou, entre outros achados, que “o córtex cerebral dos super-agers era significativamente mais espesso do que o de seus pares saudáveis da mesma idade e não apresentava atrofia em comparação com o grupo saudável de 50 a 65 anos”, relatam os pesquisadores em artigo científico. Ou seja, o cérebro deles, para usar uma linguagem leiga, não diminui de tamanho com a idade.
No começo deste mês, os cientistas publicaram um novo estudo no qual fazem um balanço das descobertas feitas nos 25 anos de pesquisas com os superidosos. Uma delas me chamou a atenção por estar relacionada à memória, um problema crônico para mim.
Sabe aquele teste de recordação tardia de palavras, no qual é dada uma lista de palavras e a gente precisa lembrar o maior número possível delas? Os octogenários “normais” costumam lembrar cinco de quinze palavras, a metade do que pessoas entre 56 e 66 anos lembram. Já os superidosos respondem igual ao grupo mais jovem, o que mostra um desempenho cognitivo muito melhor do que seus pares da mesma idade.
O que os superidosos têm em comum que os faz manter o cérebro 30 anos mais jovem? Segundo Sandra Weintraub, professora de psiquiatria e ciências comportamentais na Faculdade de Medicina Northwestern Feinberg, o que os une é “a forma como veem a importância dos relacionamentos sociais”, disse ela em entrevista ao jornal The New York Times.
Weintraub, que participa da pesquisa desde o início, completou: “E, em termos de personalidade, eles tendem a ser extrovertidos.” Em outras palavras, são indivíduos gregários, que gostam ou têm tendência a viver em grupos, comunidades ou associações.
No sentido prático da descoberta, preferem estar em bando a estarem sozinhos, o oposto do meu comportamento. Conclusão: ou reajo ou vai ser difícil chegar aos 80 com alguma memória sobrando.
Fonte:https://epocanegocios.globo.com/colunas/50-vida-e-trabalho/coluna/2025/08/80-com-cerebro-de-60-o-segredo-pode-estar-na-forca-das-atividades-coletivas.ghtml
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