EUA: A ERA DA OLIGARQUIA - O IMPERADOR E SUA CORTE DE MAGNATAS

 

Arte: Tim O’Brie/ Mother Jones

EUA: A era da Oligarquia

Abastados como nunca, porém impotentes para enfrentar o declínio de seu país, bilionários já governam sem intermediação. Ao fazê-lo, expõem a miséria e o beco sem saída do capitalismo rentista. Falta saber como decapitá-lo

Por John Bellamy Foster, no Monthly Review | Tradução: Marcos Montenegro

O capitalismo norte-americano, ao longo do último século, teve, sem dúvida, a classe dominante mais poderosa e com maior consciência de classe da história mundial, abrangendo tanto a economia quanto o Estado, e projetando sua hegemonia tanto doméstica quanto globalmente. No centro de seu domínio está um aparato ideológico que insiste que o imenso poder econômico da classe capitalista não se traduz em governança política e que, não importa quão polarizada a sociedade norte-americana se torne em termos econômicos, suas reivindicações democráticas permanecem intactas. De acordo com a ideologia dominante, os interesses dos ultra-ricos que governam o mercado não governam o Estado — uma separação crucial para a ideia de democracia liberal. Essa ideologia reinante, no entanto, está agora se desintegrando diante da crise estrutural do capitalismo norte-americano e mundial e do declínio do próprio Estado liberal-democrático, levando a profundas divisões na classe dominante e a uma nova dominação do Estado pela direita, abertamente capitalista.

Em seu discurso de despedida à nação, dias antes de Donald Trump retornar triunfalmente à Casa Branca, o ex-presidente Joe Biden indicou que uma “oligarquia” baseada no setor de alta tecnologia e que depende de “dinheiro obscuro” na política estava ameaçando a democracia americana. O senador Bernie Sanders, por sua vez, alertou para os efeitos da concentração de riqueza e poder em uma nova hegemonia da “classe dominante” e o abandono de qualquer vestígio de apoio à classe trabalhadora em qualquer um dos principais partidos.1

A ascensão de Trump à Casa Branca pela segunda vez não significa que a oligarquia capitalista tenha subitamente se tornado uma influência dominante na política dos EUA, uma vez que esta é de fato uma realidade de longa data. No entanto, todo o meio político nos últimos anos, particularmente desde a crise financeira de 2008, tem se movido para a direita, enquanto a oligarquia exerce influência mais direta sobre o Estado. Um setor da classe capitalista dos EUA está agora abertamente no controle do aparato ideológico do Estado em um governo neofascista no qual o antigo establishment neoliberal é um parceiro minoritário. O objetivo dessa mudança é uma reestruturação regressiva dos Estados Unidos em uma postura de guerra permanente, resultante do declínio da hegemonia dos EUA e da instabilidade do capitalismo dos EUA, além da necessidade de uma classe capitalista mais concentrada para garantir um controle mais centralizado do Estado.

* * *

Nos anos da Guerra Fria que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, os guardiões da ordem liberal-democrática dentro da academia e da mídia procuraram minimizar o papel primordial, na economia dos EUA, dos proprietários da indústria e das finanças, que foram supostamente deslocados pela “revolução gerencial” ou limitados pelo “poder compensatório”. Nessa visão, proprietários e gerentes, capital e trabalho, cada um restringia o outro. Mais tarde, em uma versão um pouco mais refinada dessa perspectiva geral, o conceito de uma classe capitalista hegemônica sob o capitalismo monopolista foi dissolvido na categoria mais amorfa dos “ricos corporativos”.2

A democracia dos EUA, alegou-se, era o produto da interação de grupos pluralistas ou, em alguns casos, mediada por uma elite de poder. Não havia classe dominante hegemônica funcional nos domínios econômico e político. Mesmo que se pudesse argumentar que havia uma classe capitalista dominante na economia, ela supostamente não governava o Estado, que era independente. Isso foi transmitido de várias maneiras por todas as obras arquetípicas da tradição pluralista, desde A revolução gerencial (1941), de James Burnham, a Capitalismo, socialismo e democracia (1942), de Joseph A. Schumpeter, a Quem governa? (1961), de Robert Dahl), a O Novo Estado Industrial (1967), de John Kenneth Galbraith, estendendo-se do extremo conservador ao extremo liberal do espectro.3 Todas essas obras foram elaboradas para sugerir que o pluralismo ou uma elite gerencial / tecnocrática prevalecia na política dos EUA — não uma classe capitalista governando os sistemas econômico e político. Na visão pluralista da democracia realmente existente, introduzida pela primeira vez por Schumpeter, os políticos eram simplesmente empreendedores políticos competindo por votos, assim como os empreendedores econômicos no chamado mercado livre, produzindo um sistema de “liderança competitiva”.4

Na promoção da ficção de que os Estados Unidos, apesar do vasto poder da classe capitalista, continuavam sendo uma democracia autêntica, a ideologia recebida foi refinada e reforçada por análises da esquerda que buscavam trazer a dimensão do poder de volta à teoria do Estado, substituindo as visões pluralistas então dominantes de figuras como Dahl, e ao mesmo tempo rejeitando a noção de uma classe dominante. O trabalho mais importante que representa essa mudança foi The Power Elite (1956), de C. Wright Mills, que argumentou que a concepção de “classe dominante”, associada em particular ao marxismo, deveria ser substituída pela noção de uma “elite de poder”, tripartite, na qual a estrutura de poder dos EUA era vista como dominada por elites vindas dos ricos corporativos, o alto escalão militar e políticos eleitos. Mills se referiu à noção de classe dominante como uma “teoria de atalho” que simplesmente assumia que dominação econômica significava dominação política. Desafiando diretamente o conceito de Karl Marx sobre a classe dominante, Mills afirmou: “O governo americano não é, nem de forma simples nem como um fato estrutural, um comitê da ‘classe dominante’. É uma rede de ‘comitês’, e outros homens de outras hierarquias além dos ricos corporativos sentam-se nesses comitês”.5

A visão de Mills sobre a classe dominante e a elite do poder foi desafiada por teóricos radicais, particularmente por Paul M. Sweezy na Monthly Review e inicialmente pelo trabalho de G. William Domhoff na primeira edição de seu Who Rules America? (1967). Mas acabou ganhando considerável influência na esquerda ampla.6 Como Domhoff argumentaria em 1968, em C. Wright Mills e “The Power Elite“,o conceito de elite do poder era comumente visto como “a ponte entre as posições marxista e pluralista … É um conceito necessário porque nem todos os líderes nacionais são membros da classe alta. Nesse sentido, é uma modificação e extensão do conceito de ‘classe dominante'”.7

A questão da classe dominante e do Estado esteve no centro do debate entre os teóricos marxistas Ralph Miliband, autor de O Estado na Sociedade Capitalista (1969), e Nicos Poulantzas, autor de Poder Político e Classes Sociais (1968), representando as chamadas abordagens “instrumentalista” e “estruturalista” do Estado na sociedade capitalista. O debate girou em torno da “autonomia relativa” do Estado em relação à classe dominante capitalista, uma questão crucial para as perspectivas de tomada do Estado por um movimento social-democrata.8

O debate tomou uma forma extrema nos Estados Unidos com o aparecimento do influente ensaio de Fred Block “A classe dominante não governa” em Revolução Socialista em 1977, no qual Block chegou a argumentar que a classe capitalista não tinha a consciência de classe necessária para traduzir seu poder econômico no domínio do Estado.9 Tal visão, argumentou ele, era necessária para tornar viável a política social-democrata. Após a derrota de Trump por Biden nas eleições de 2020, o artigo original de Block foi reimpresso na Jacobin com um novo epílogo de Block argumentando que, dado que a classe dominante não governava, Biden tinha a liberdade de instituir uma política amigável à classe trabalhadora nos moldes do New Deal, o que impediria a reeleição de uma figura de direita – uma “com muito mais habilidade e crueldade” do que Trump – em 2024.10

Dadas as contradições do governo Biden e a segunda vinda de Trump, com treze bilionários agora em seu gabinete, todo o longo debate sobre a classe dominante e o Estado precisa ser reexaminado.11

A classe dominante e o Estado

Na história da teoria política, desde a antiguidade até o presente, o Estado tem sido classicamente entendido em relação à classe. Na sociedade antiga e sob o feudalismo, diferentemente da sociedade capitalista moderna, não existia uma distinção clara entre a sociedade civil (ou a economia) e o Estado. Como Marx escreveu em sua Crítica da Doutrina do Estado de Hegel em 1843, “a abstração do Estado como tal não nasceu até o mundo moderno porque a abstração da vida privada não foi criada até os tempos modernos. A abstração do Estado político é um produto moderno”, realizado plenamente apenas sob o domínio da burguesia.12 Isso foi posteriormente reafirmado por Karl Polanyi em termos da natureza embutida da economia na antiga polis e seu caráter desembutido sob o capitalismo, manifestado na separação da esfera pública do Estado e da esfera privada do mercado.13 Na antiguidade grega, em que as condições sociais ainda não haviam gerado tais abstrações, não havia dúvida de que a classe dominante governava a polis e criava suas leis. Aristóteles em sua Política, como Ernest Barker escreveu em O Pensamento Político de Platão e Aristóteles, assumiu a posição de que o domínio de classe explicava a polis: “Diga-me a classe que é predominante, pode-se dizer, e eu lhe direi a Constituição”.14

Sob o regime do capital, em contraste, o Estado é concebido como separado da sociedade civil/economia. Assim, surge a questão de saber se a classe que governa a economia – ou seja, a classe capitalista – também governa o Estado.

As próprias visões de Marx sobre isso eram complexas, nunca se desviando da noção de que o Estado na sociedade capitalista era governado pela classe capitalista, embora reconhecesse condições históricas variadas que modificaram isso. Por um lado, ele argumentou (junto com Frederick Engels) em O Manifesto Comunista que “O executivo do Estado moderno é apenas um comitê para administrar os assuntos comuns de toda a burguesia”.15 Isso sugeria que o Estado, ou seu poder executivo, tinha uma autonomia relativa que ia além dos interesses capitalistas individuais, mas era, no entanto, responsável por administrar os interesses gerais da classe. Isso poderia, como Marx indicou em outro lugar, resultar em grandes reformas, como a aprovação da legislação da jornada de trabalho de dez horas em seu tempo, que, embora parecesse ser uma concessão à classe trabalhadora e oposta aos interesses capitalistas, era necessária para garantir o futuro da própria acumulação de capital, regulando a força de trabalho e garantindo a reprodução contínua da força de trabalho.16 Por outro lado, em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx apontou para situações bastante diferentes em que a classe capitalista não governava o Estado diretamente, dando lugar a um governo semi-autônomo, desde que isso não interferisse em seus fins econômicos e em seu comando do Estado em última instância.17 Ele também reconheceu que o Estado pode ser dominado por uma fração do capital sobre outra. Em todos esses aspectos, Marx enfatizou a relativa autonomia do Estado em relação aos interesses capitalistas, que tem sido crucial para todas as teorias marxistas do Estado na sociedade capitalista.

Há muito se entende que a classe capitalista tem vários meios de funcionar como classe dominante por meio do Estado, mesmo no caso de uma ordem democrática liberal. Por um lado, isso assume a forma de investidura bastante direta no aparato político por meio de vários mecanismos, como o controle econômico e político das máquinas partidárias políticas e a ocupação direta, pelos capitalistas e seus representantes, de postos-chave na estrutura de comando político. Os interesses capitalistas nos Estados Unidos hoje têm o poder de afetar decisivamente as eleições. Além disso, o poder capitalista sobre o Estado se estende muito além das eleições. O controle do banco central e, portanto, da oferta monetária, das taxas de juros e da regulamentação do sistema financeiro, é essencialmente entregue aos próprios bancos. Por outro lado, a classe capitalista controla o Estado indiretamente por meio de seu vasto poder econômico de classe externo, incluindo pressões financeiras diretas, lobby, financiamento de grupos de pressão e think tanks, a porta giratória entre os principais atores do governo e das empresas e o controle do aparato cultural e de comunicação. Nenhum regime político em um sistema capitalista pode sobreviver a menos que sirva aos interesses do lucro e da acumulação de capital, uma realidade sempre presente que todos os atores políticos enfrentam.

A complexidade e a ambigüidade da abordagem marxista da classe dominante e do Estado foram transmitidas por Karl Kautsky em 1902, quando declarou que “a classe capitalista domina, mas não governa”; logo depois, acrescentando que “se contenta em dominar o governo”.18 Como observado, foi precisamente essa questão da relativa autonomia do Estado em relação à classe capitalista que governou o famoso debate entre o que veio a ser conhecido como as teorias instrumentalistas versus estruturalistas do Estado, representadas respectivamente por Miliband na Grã-Bretanha e Poulantzas na França. As opiniões de Miliband foram muito determinadas pelo desaparecimento do Partido Trabalhista britânico como um partido socialista genuíno no final dos anos 1950, conforme descrito em seu Socialismo Parlamentar.19 Isso o forçou a enfrentar o enorme poder da classe capitalista como classe dominante. Isso foi posteriormente retomado em seu O Estado na Sociedade Capitalista em 1969, no qual ele escreveu que “se é … apropriado falar de uma ‘classe dominante’ é um dos principais temas deste estudo. De fato, “a mais importante de todas as questões levantadas pela existência dessa classe dominante é se ela também constitui uma ‘classe governante'”. A classe capitalista, ele procurou demonstrar, embora “não seja, propriamente falando, uma ‘classe governante'” no mesmo sentido que a aristocracia havia sido, ela de fato governava a sociedade capitalista de forma bastante direta (assim como indireta). Ela traduziu seu poder econômico de várias maneiras em poder político, a tal ponto que, para a classe trabalhadora desafiar a classe dominante efetivamente, ela teria que se opor à estrutura do próprio Estado capitalista.20

Foi aqui que Poulantzas, que publicou seu Poder Político e Classes Sociais em 1968, entrou em conflito com Miliband. Poulantzas enfatizou ainda mais a relativa autonomia do Estado, vendo a abordagem de Miliband ao Estado como assumindo um governo muito direto da classe capitalista, mesmo que estivesse em conformidade com a maioria das obras de Marx sobre o assunto. Poulantzas enfatizou que o domínio capitalista do Estado era mais indireto e estrutural do que direto e instrumental, permitindo espaço para uma maior variação de governos em termos de classe, incluindo não apenas frações específicas da classe capitalista, mas também representantes da própria classe trabalhadora. “A participação direta dos membros da classe capitalista no aparato estatal e no governo, mesmo onde existe”, escreveu ele, “não é o lado importante da questão. A relação entre a classe burguesa e o Estado é uma relação objetiva … A participação direta de membros da classe dominante no aparato estatal não é a causa, mas o efeito. dessa coincidência objetiva”.21 Embora tal declaração possa ter parecido bastante razoável nos termos qualificados em que foi expressa, ela tendia a remover o papel da classe dominante como sujeito com consciência de classe. Escrevendo durante o auge do eurocomunismo no continente, o estruturalismo de Poulantzas, com sua ênfase no bonapartismo apontando para um alto grau de autonomia relativa do Estado, parecia abrir o caminho para uma concepção do Estado como uma entidade na qual a classe capitalista não governava, mesmo que o Estado estivesse sujeito a forças objetivas decorrentes do capitalismo.

Tal visão, rebateu Miliband, apontava para uma visão “superdeterminista” ou economicista do Estado característica do “desvio-ultra-esquerdista” ou de um “desvio à direita” na forma de social-democracia, que normalmente negava a existência de uma classe abertamente dominante.22 Em ambos os casos, a realidade da classe dominante capitalista e os vários processos pelos quais ela exerceu seu domínio, segundo o que a pesquisa empírica de Miliband e outros haviam demonstrado amplamente, pareciam estar em curto-circuito, não mais parte do desenvolvimento de uma estratégia de luta de classes a partir de baixo. Uma década depois, em sua obra de 1978 Estado, Poder, Socialismo, Poulantzas mudou sua ênfase para defender o socialismo parlamentar e a social-democracia (ou “socialismo democrático”), insistindo na necessidade de manter grande parte do aparato estatal existente em qualquer transição para o socialismo. Isso contradizia diretamente as ênfases de Marx em A Guerra Civil na França e V. I. Lenin em O Estado e a Revolução sobre a necessidade de substituir o Estado capitalista da classe dominante por uma nova estrutura de comando político que emanasse de baixo.23

Influenciado pelos artigos de Sweezy sobre “A Classe Dominante Americana” e “Elite do Poder ou Classe Dominante?” na Monthly Review e por The Power Elite de Mills, na primeira edição de seu livro, Quem governa a América? em 1967, Domhoff promoveu uma análise explícita baseada em classe, mas, no entanto, indicou que preferia a “classe governante” mais neutra à “classe dominante” com base no fato de que “a noção de classe dominante” sugeria uma “visão marxista da história”.24 No entanto, na época em que escreveu Os poderes constituídos: processos de dominação da classe dominante na América, Domhoff, em 1978, influenciado pela atmosfera radical da época, passou a argumentar que “uma classe dominante é uma classe social privilegiada que é capaz de manter sua posição de topo na estrutura social”. A elite do poder foi redefinida como o “braço de liderança” da classe dominante.25 No entanto, essa integração explícita da classe dominante na análise de Domhoff durou pouco. Nas edições subsequentes de Quem governa a América?, até a oitava edição em 2022, ele se curvou à praticidade liberal e abandonou completamente o conceito de classe dominante. Em vez disso, seguiu Mills ao agrupar proprietários (“a classe social alta”) e gerentes na categoria de “ricos corporativos”.26 A elite do poder era vista como CEOs, diretores e conselhos de administração, sobrepondo-se em um diagrama de Venn com a classe social alta (que também consistia em socialites e jet setters), a comunidade corporativa e a rede de planejamento de políticas. Isso constituiu uma perspectiva conhecida como pesquisa de estrutura de poder. As noções de classe capitalista e classe dominante não eram mais encontradas.

Um trabalho empírico e teórico mais significativo do que o oferecido por Domhoff, e em muitos aspectos mais pertinente hoje, foi escrito em 1962-1963 pelo economista soviético Stanislav Menshikov e traduzido para o inglês em 1969 sob o título Milionários e gerentes. Menshikov fez parte de um intercâmbio educacional de cientistas entre a União Soviética e os Estados Unidos em 1962. Ele visitou “o presidente do conselho, presidente e vice-presidentes de dezenas de corporações e de 13 dos 25 bancos comerciais” que tinham ativos de um bilhão de dólares ou mais. Ele se encontrou com Henry Ford II, Henry S. Morgan e David Rockefeller, entre outros.27 O tratamento empírico detalhado de Menshikov do controle financeiro das corporações nos Estados Unidos e do grupo ou classe dominante forneceu uma avaliação sólida do domínio contínuo dos capitalistas financeiros entre os muito ricos. Por meio de sua hegemonia sobre vários grupos financeiros, a oligarquia financeira se diferenciou dos meros gerentes de alto nível (diretores executivos) das burocracias financeiras corporativas. Embora houvesse o que poderia ser chamado de “bloco milionário-gerente” no sentido dos “ricos corporativos” de Mills e uma divisão do trabalho dentro da “própria classe dominante”, a “oligarquia financeira, isto é, o grupo de pessoas cujo poder econômico se baseia na disposição de massas colossais de capital fictício … [e] que é a base de todos os principais grupos financeiros”, e não os executivos corporativos como tal, tinham todo o controle. Além disso, o poder relativo da oligarquia financeira continuou a crescer, em vez de diminuir.28 Como na análise de Sweezy de “Grupos de Interesse na Economia Americana”, escrita para a Estrutura da Economia Americana do Comitê Nacional de Recursos durante o New Deal, a análise detalhada de Menshikov sobre os grupos corporativos na economia dos EUA capturou a base dinástica familiar contínua de grande parte da riqueza dos EUA.29

A oligarquia financeira dos EUA constituía uma classe dominante, mas que geralmente não governava diretamente ou livre de interferências. A “dominação econômica da oligarquia financeira”, escreveu Menshikov,

“não equivale à sua dominação política. Mas a última sem a primeira pode não ser suficientemente forte, enquanto a primeira sem a última mostra que a coalescência dos monopólios e da máquina estatal não foi suficientemente longe. Mas mesmo nos Estados Unidos, onde esses dois pré-requisitos estão disponíveis, onde a máquina do governo serviu aos monopólios por décadas e o domínio destes últimos na economia está fora de dúvida, o poder político da oligarquia financeira é constantemente ameaçado por restrições por parte de outras classes da sociedade e, às vezes, é realmente limitado. Mas a tendência geral é que o poder econômico da oligarquia financeira seja gradualmente transformado em poder político.”30

A oligarquia financeira, argumentou Menshikov, tinha como seus aliados menores em seu domínio político do Estado: gerentes corporativos; o alto escalão das forças armadas; políticos profissionais, que internalizaram as necessidades internas do sistema capitalista; e a elite branca que dominava o sistema de segregação racial no sul.31 Mas a própria oligarquia financeira era a força cada vez mais dominante. “A luta da oligarquia financeira pela administração direta do Estado é uma das tendências mais características do imperialismo americano nas últimas décadas”, resultante de seu crescente poder econômico e das necessidades que isso gerou. No entanto, este não foi um processo tranquilo. Os capitalistas financeiros nos Estados Unidos não agem “unidos” e estão divididos em facções concorrentes, enquanto são impedidos em suas tentativas de controlar o Estado pelas próprias complexidades do sistema político dos EUA, no qual diversos atores desempenham um papel.32 “Parece”, escreveu Menshikov,

“que agora o poder político da oligarquia financeira está totalmente garantido, mas não é o caso. A máquina de um Estado capitalista contemporâneo é grande e pesada. A captura de posições em uma parte não garante o controle sobre todo o mecanismo. A oligarquia financeira é dona da máquina de propaganda, é capaz de subornar políticos e funcionários do governo no centro e na periferia [do país], mas não pode subornar o povo que, apesar de todas as restrições da “democracia” burguesa, elege a legislatura. O povo não tem muita escolha, mas sem abolir formalmente os procedimentos democráticos, a oligarquia financeira não pode se garantir totalmente contra “acidentes” indesejáveis.”33

No entanto, o extraordinário trabalho de Menshikov, Milionários e Gerentes, publicado na União Soviética, não teve influência na discussão da classe dominante nos Estados Unidos. A tendência geral, refletida nas mudanças de Domhoff (e na Europa pelas mudanças de Poulantzas), minimizou toda a ideia de uma classe dominante e até mesmo uma classe capitalista, substituída pelos conceitos de riqueza corporativa e elite do poder, produzindo o que era essencialmente uma forma de teoria da elite.

A rejeição do conceito de classe dominante (ou mesmo de uma classe governante) no trabalho posterior de Domhoff coincidiu com a publicação de “The Ruling Class Does Not Rule”, de Block, que desempenhou um papel significativo no pensamento radical nos Estados Unidos. Escrevendo em uma época em que a eleição de Jimmy Carter como presidente parecia aos liberais e social-democratas apresentar a imagem de uma liderança distintamente mais moral e progressista em caráter, Block argumentou que não existia uma classe dominante com poder decisivo sobre a esfera política nos Estados Unidos e no capitalismo em geral. Ele atribuiu isso ao fato de que não apenas a classe capitalista, mas também “frações” separadas da classe capitalista (aqui se opondo a Poulantzas) careciam de consciência de classe e, portanto, eram incapazes de agir em seus próprios interesses na esfera política, muito menos governar o corpo político. Em vez disso, ele adotou uma abordagem “estruturalista” baseada na noção de racionalização de Max Weber, na qual o Estado racionalizou os papéis de três atores concorrentes: (1) capitalistas, (2) gerentes (gestores?) estatais e (3) a classe trabalhadora. A autonomia relativa do Estado na sociedade capitalista era uma função de seu papel como árbitro neutro, no qual várias forças interferiam, mas nenhuma governava.34

Atacando aqueles que argumentavam que a classe capitalista tinha um papel dominante dentro do Estado, Block escreveu: “a maneira de formular uma crítica do instrumentalismo que não entra em colapso é rejeitar a ideia de uma classe dominante com consciência de classe”, uma vez que uma classe capitalista com consciência de classe se esforçaria para governar. Embora ele tenha notado que Marx utilizou a noção de uma classe dominante com consciência de classe, isso foi descartado como apenas uma “abreviação política” para determinações estruturais.

Block deixou claro que quando radicais como ele optam por criticar a noção de uma classe dominante, eles “geralmente o fazem para justificar a política socialista reformista”. Nesse espírito, ele insistiu que a classe capitalista não governava intencionalmente, de maneira consciente, o Estado por meios internos ou externos. Em vez disso, a limitação estrutural da “confiança empresarial”, exemplificada pelos altos e baixos do mercado de ações, garantiu que o sistema político permanecesse em equilíbrio com a economia, exigindo que os atores políticos adotassem meios racionais para garantir a estabilidade econômica. A racionalização do capitalismo pelo Estado, na visão “estruturalista” de Block, abriu assim o caminho para uma política social-democrata do Estado.35

O que está claro é que, no final da década de 1970, os pensadores marxistas ocidentais abandonaram quase inteiramente a noção de uma classe dominante, concebendo o Estado não apenas como relativamente autônomo, mas de fato amplamente autônomo do poder de classe do capital. Isso fazia parte de um “recuo de classe” geral.36 Na Grã-Bretanha, Geoff Hodgson escreveu em seu The Democratic Economy: A New Look at Planning, Markets and Power em 1984, que “a própria ideia de uma ‘decisão’ de classe deve ser desafiada. No máximo, é uma metáfora fraca e enganosa. É possível falar de uma classe dominante em uma sociedade, mas apenas em virtude do domínio de um tipo particular de estrutura econômica. Dizer que uma classe ‘governa’ é dizer muito mais. É implicar que está de alguma forma implantada no aparato do governo. Era crucial, afirmou ele, abandonar a noção marxista que associava “diferentes modos de produção a diferentes ‘classes dominantes'”.37 Como os posteriores Poulantzas e Block, Hodgson adotou uma posição social-democrata que não via nenhuma contradição final entre a democracia parlamentar como ela havia surgido dentro do capitalismo e a transição para o socialismo.

[Continua… Leia a segunda e última parte]


Notas

  1. ↩ “Full Transcript of President Biden’s Farewell Address, New York Times, January 15, 2025; Bernie Sanders, “The US Has a Ruling Class—And Americans Must Stand Up to It,” Guardian, September 2, 2022.
  2. ↩ James Burnham, The Managerial Revolution (London: Putnam and Co., 1941); John Kenneth Galbraith, American Capitalism: The Concept of Countervailing Power (Cambridge, Massachusetts: Riverside Press, 1952); C. Wright Mills, The Power Elite (Oxford: Oxford University Press, 1956), 147–70.
  3. ↩ Joseph A. Schumpeter, Capitalism, Socialism and Democracy (New York: Harper Brothers, 1942), 269–88; Robert Dahl, Who Governs?: Democracy and Power in an American City (New Haven: Yale, 1961); John Kenneth Galbraith, The New Industrial State (New York: New American Library, 1967, 1971).
  4. ↩ C. B. Macpherson, The Life and Times of Liberal Democracy (Oxford: Oxford University Press, 1977), 77–92.
  5. ↩ Mills, The Power Elite, 170, 277.
  6. ↩ Paul M. Sweezy, Modern Capitalism and Other Essays (New York: Monthly Review Press, 1972), 92–109; G. William Domhoff, Who Rules America? (Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, 1st edition, 1967), 7–8, 141–42.
  7. ↩ G. William Domhoff, “The Power Elite and Its Critics,” in C. Wright Mills and The Power Elite, eds. G. William Domhoff and Hoyt B. Ballard (Boston: Beacon Press, 1968), 276.
  8. ↩ Nicos Poulantzas, Political Power and Social Classes (London: Verso, 1975); Ralph Miliband, The State in Capitalist Society (London: Quartet Books, 1969).
  9. ↩ Fred Block, “The Ruling Class Does Not Rule: Notes on the Marxist Theory of the State,” Socialist Revolution, no. 33 (May–June 1977): 6–28. In 1978, the year after the publication of Block’s article, the title of Socialist Revolution was changed to Socialist Review, reflecting the journal’s explicit shift to a social-democratic political view.
  10. ↩ Fred Block, “The Ruling Class Does Not Rule,” 2020 reprint with epilogue, Jacobin, April 24, 2020.
  11. ↩ Peter Charalambous, Laura Romeo, and Soo Rin Kim, “Trump Has Tapped an Unprecedented 13 Billionaires for His Administration. Here’s Who They Are,” ABC News, December 17, 2024.
  12. ↩ Karl Marx, Early Writings (London: Penguin, 1974), 90.
  13. ↩ Karl Polanyi, “Aristotle Discovers the Economy,” in Trade and Market in the Early Empires: Economies in History and Theory, eds. Karl Polanyi, Conrad M. Arensberg, and Harry W. Pearson (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1957), 64–96.
  14. ↩ Ernest Barker, The Political Thought of Plato and Aristotle (New York: Russell and Russell, 1959), 317; John Hoffman, “The Problem of the Ruling Class in Classical Marxist Theory,” Science and Society 50, no. 3 (Fall 1986): 342–63.
  15. ↩ Karl Marx and Friedrich Engels, The Communist Manifesto (New York: Monthly Review Press, 1964), 5.
  16. ↩ Karl Marx, Capital, vol. 1 (London: Penguin, 1976), 333–38, 393–98.
  17. ↩ Karl Marx, The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte (New York: International Publishers, 1963).
  18. ↩ Karl Kautsky quoted in Miliband, The State in Capitalist Society, 51.
  19. ↩ Ralph Miliband, Parliamentary Socialism: A Study in the Politics of Labor (New York: Monthly Review Press, 1961).
  20. ↩ Miliband, The State in Capitalist Society, 16, 29, 45, 51–52, 55.
  21. ↩ Nicos Poulantzas, “The Problem of the Capitalist State,” in Ideology in Social Science: Readings in Critical Social Theory, ed. Robin Blackburn (New York: Vintage, 1973), 245.
  22. ↩ Ralph Miliband, “Reply to Nicos Poulantzas,” in Ideology in Social Science, ed. Blackburn, 259–60.
  23. ↩ Nicos Poulantzas, State, Power, Socialism (London: New Left Books, 1978); Karl Marx and Frederick Engels, Writings on the Paris Commune (New York: Monthly Review Press, 1971); V. I. Lenin, Collected Works (Moscow: Progress Publishers, n.d.), vol. 25, 345–539. On Poulantzas’s shift to social democracy, see Ellen Meiksins Wood, The Retreat from Class (London: Verso, 1998), 43–46.
  24. ↩ Domhoff, Who Rules America? (1967 edition), 1–2, 3; Paul M. Sweezy, The Present as History (New York: Monthly Review Press, 1953), 120–38.
  25. ↩ G. William Domhoff, The Powers That Be: Processes of Ruling-Class Domination in America (New York: Vintage, 1978), 14.
  26. ↩ G. William Domhoff, Who Rules America? (London: Routledge, 8th edition, 2022), 85–87. In the 1967 edition of his book, Domhoff had critically remarked on Mills’s lumping of the very rich (the owners) and the managers together in the category of the corporate rich, thereby erasing crucial questions. Domhoff, Who Rules America? (1967 edition), 141. On the concept of liberal practicality see C. Wright Mills, The Sociological Imagination” (New York: Oxford, 1959), 85–86; John Bellamy Foster, “Liberal Practicality and the U.S. Left,” in Socialist Register 1990: The Retreat of the Intellectuals, eds. Ralph Miliband, Leo Panitch, and John Saville (London: Merlin Press, 1990), 265–89.
  27. ↩ Stanislav Menshikov, Millionaires and Managers (Moscow: Progress Publishers, 1969), 5–6.
  28. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 7, 321.
  29. ↩ Sweezy, The Present as History, 158–88.
  30. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 322.
  31. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 324–25.
  32. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 325, 327.
  33. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 323–24.
  34. ↩ Block, “The Ruling Class Does Not Rule,” 6–8, 10, 15, 23; Max Weber, Economy and Society, vol. 2 (Berkeley: University of California Press, 1978), 1375–80.
  35. ↩ Block, “The Ruling Class Does Not Rule,” 9–10, 28.
  36. ↩ Wood, The Retreat from Class.
  37. ↩ Geoff Hodgson, The Democratic Economy: A New Look at Planning, Markets and Power (London: Penguin, 1984), 196.
Fonte:https://outraspalavras.net/estadoemdisputa/eua-a-era-da-oligarquia/

O imperador e sua corte de magnatas

Uma aliança nefasta foi forjada. Os bilionários, que antes viam Trump com desconfiança, adentraram a Casa Branca, governam sem intermediários e dão retaguarda para delírios imperiais do presidente. Como chegaram lá? Quais seus planos? Que fazer para enfrentá-los?

Imagem: frame da cobertura em vídeo da Euronews do Carnaval de Viareggio

Por John Bellamy Foster, no Monthly Review | Tradução: Marcos Montenegro

Esta é a segunda e última parte do texto de John Bellamy Foster sobre as oligarquias dos EUA. Leia a primeira aqui.

Neoliberalismo e a classe dominante dos EUA

Se houve um amplo abandono da noção de classe dominante no marxismo ocidental no final dos anos 1960 e 70, nem todos os pensadores se alinharam. Sweezy continuou a argumentar na Monthly Review que os Estados Unidos eram dominados por uma classe capitalista dominante. Assim, Paul A. Baran e Sweezy explicaram em Capital Monopolista em 1966 que “uma pequena oligarquia apoiada em vasto poder econômico” está “no controle total do aparato político e cultural da sociedade”, tornando a noção dos Estados Unidos como uma democracia autêntica, na melhor das hipóteses, enganosa.38

“Exceto em tempos de crise, o sistema político normal do capitalismo, seja competitivo ou monopolista, é a democracia burguesa. Os votos são a fonte nominal do poder político, e o dinheiro é a fonte real: o sistema, em outras palavras, é democrático na forma e plutocrático no conteúdo. Isso agora é tão bem reconhecido que dificilmente parece necessário discutir o caso. Basta dizer que todas as atividades e funções políticas que podem ser consideradas as características essenciais do sistema – doutrinar e fazer propaganda para o público votante, organizar e manter partidos políticos, realizar campanhas eleitorais – só podem ser realizadas por meio de dinheiro, muito dinheiro. E como no capitalismo monopolista as grandes corporações são a fonte do grande dinheiro, elas também são as principais fontes de poder político.”39

Para Baran e Sweezy, escrevendo no que foi chamado de “a era de ouro do capitalismo”, o poder da dominação da classe dominante sobre o Estado foi demonstrado pelos limites impostos à expansão dos gastos civis do governo (geralmente opostos pelo capital como interferindo na acumulação privada), permitindo gastos militares gigantescos e vastos subsídios às grandes empresas.40 Longe de exibir características da racionalidade weberiana, o “sistema irracional” do capitalismo monopolista, argumentaram eles, foi assolado por problemas de superacumulação manifestados na incapacidade de absorver capital excedente, que não conseguia mais encontrar saídas de investimento lucrativas, apontando para a estagnação econômica como o “estado normal” do capitalismo monopolista.41

Poucos anos após a publicação de Monopoly Capital, no início e meados da década de 1970, a economia dos EUA entrou em uma profunda estagnação da qual não conseguiu se recuperar totalmente no meio século que se seguiu, com as taxas de crescimento econômico caindo década após década. Isso constituiu uma crise estrutural do capital como um todo – uma contradição presente em todos os países capitalistas centrais. Essa crise de longo prazo da acumulação de capital resultou na reestruturação neoliberal de cima para baixo da economia e do Estado em todos os níveis, instituindo políticas regressivas destinadas a estabilizar o domínio capitalista, o que acabou levando à desindustrialização e dessindicalização no núcleo capitalista e à globalização e financeirização da economia mundial.42

Em agosto de 1971, Lewis F. Powell, apenas alguns meses antes de aceitar a nomeação do presidente Richard Nixon para a Suprema Corte dos EUA, escreveu seu notório memorando à Câmara de Comércio dos EUA com o objetivo de organizar os Estados Unidos em uma cruzada neoliberal contra os trabalhadores e a esquerda, atribuindo-lhes o enfraquecimento do sistema de “livre iniciativa” dos EUA.43 Assim, ao mesmo tempo em que a esquerda estava abandonando a noção de uma classe dominante dos EUA com consciência de classe, a oligarquia dos EUA estava reafirmando seu poder sobre o Estado, levando a uma reestruturação político-econômica sob o neoliberalismo que abrangia os partidos Republicano e Democrata. Isso foi marcado na década de 1980 pela instituição da economia do lado da oferta ou Reaganomics, coloquialmente conhecida como “Robin Hood ao contrário”.44

Escrevendo em The Affluent Society em 1958, Galbraith declarou: “Os abastados americanos há muito são curiosamente sensíveis ao medo da expropriação – um medo que pode estar relacionado à tendência de até mesmo as medidas reformistas mais brandas serem vistas, na sabedoria convencional conservadora, como presságios da revolução. A depressão e especialmente o New Deal deram aos ricos americanos um sério susto.”45 A era neoliberal e o ressurgimento da estagnação econômica, acompanhados pela ressurreição de tais medos no topo, levaram a uma afirmação mais forte do poder da classe dominante sobre o Estado em todos os níveis, com o objetivo de reverter os avanços da classe trabalhadora feitos durante o New Deal e a Grande Sociedade, que foram erroneamente responsabilizados pela crise estrutural do capital.

Com o aprofundamento da estagnação do investimento e da economia como um todo e com os gastos militares não mais suficientes para tirar o sistema de seu marasmo como na chamada “idade de ouro”, que havia sido pontuada por duas grandes guerras regionais na Ásia, o capital precisava encontrar saídas adicionais para seu enorme excedente. Sob a nova fase do capital financeiro monopolista, esse excedente fluiu para o setor financeiro, ou FIRE (finanças, seguros e imóveis), e para a acumulação de ativos possibilitada pela desregulamentação governamental das finanças, a redução das taxas de juros (o famoso “Greenspan put”) e a redução de impostos sobre os ricos e as corporações. Isso levou à criação de uma nova superestrutura financeira no topo da economia produtiva, com as finanças crescendo rapidamente junto com a estagnação da produção. Isso foi possível em parte pela expropriação dos fluxos de renda em toda a economia por meio de aumentos na dívida das famílias, nos custos de seguro e nos custos de saúde, juntamente com reduções nas aposentadorias – tudo às custas das classes inferiores.46

Enquanto isso, houve uma enorme mudança corporativa de produção para o Sul Global em busca de custos unitários de mão de obra mais baixos em um processo conhecido como arbitragem global de mão de obra. Isso foi possível graças às novas tecnologias de comunicação e transporte e à abertura da globalização de novos setores da economia mundial. O resultado foi a desindustrialização da economia dos EUA.47 Tudo isso coincidiu na década de 1990 com o vasto crescimento do capital de alta tecnologia que acompanhou a digitalização da economia e a geração de novos monopólios de alta tecnologia. O efeito cumulativo desses desenvolvimentos foi um grande aumento na concentração e centralização de capital, finanças e riqueza. Mesmo quando a economia estava cada vez mais caracterizada por um crescimento lento, as fortunas dos ricos se expandiram aos trancos e barrancos: os ricos ficaram mais ricos e os pobres ficaram mais pobres, enquanto a economia dos EUA estagnou no século XXI assolada por contradições. A profundidade da crise estrutural do capital foi disfarçada temporariamente pela globalização, financeirização e o breve surgimento de um mundo unipolar, tudo isso atravessado pela Grande Crise Financeira de 2007-2009.48

À medida que a economia capitalista monopolista no núcleo capitalista se tornava cada vez mais dependente da expansão financeira, inflando as reivindicações financeiras de riqueza no contexto da produção estagnada, o sistema tornou-se não apenas mais desigual, mas também mais frágil. Os mercados financeiros são inerentemente instáveis, dependentes das vicissitudes do ciclo de crédito. Além disso, à medida que o setor financeiro passou a diminuir a produção, que continuou a estagnar, a economia ficou sujeita a níveis cada vez maiores de risco. Isso foi compensado pelo aumento da sangria da população como um todo e injeções financeiras maciças do Estado no capital, frequentemente organizadas pelos bancos centrais.49

Não há saída visível para esse ciclo dentro do sistema capitalista monopolista. Quanto mais a superestrutura financeira cresce em relação ao sistema de produção subjacente (ou à economia real) e quanto mais longos períodos de oscilações ascendentes no ciclo financeiro-empresarial, mais devastadoras serão as crises que se seguem. No século XXI, os Estados Unidos passaram por três períodos de colapso/recessão financeira, com o colapso do boom tecnológico em 2000, a Grande Crise Financeira/Grande Recessão decorrente do estouro da bolha hipotecária doméstica em 2007-2009 e a profunda recessão desencadeada pela pandemia covid-19 em 2020.

A virada neofascista

A Grande Crise Financeira teve efeitos duradouros na oligarquia financeira dos EUA e em todo o corpo político, levando a transformações significativas nas matrizes de poder da sociedade. A velocidade com que o sistema financeiro parecia estar caminhando para um “colapso nuclear”, após o colapso do Lehman Brothers em setembro de 2008, deixou a oligarquia capitalista e grande parte da sociedade em estado de choque, com a crise se espalhando rapidamente pelo mundo. O colapso do Lehman Brothers, que foi o evento mais dramático em uma crise financeira que já vinha se desenvolvendo há um ano, foi provocado pela recusa do governo como credor de última instância em resgatar o que era então o quarto maior banco de investimento dos EUA. Isso se deveu à preocupação do governo George W. Bush com o que os conservadores chamaram de “risco moral” que poderia resultar se grandes corporações assumissem investimentos altamente arriscados com a expectativa de serem socorridas por resgates do governo. No entanto, com todo o sistema financeiro oscilando após o colapso do Lehman Brothers, uma tentativa de resgate massivo e sem precedentes do governo para proteger os ativos de capital foi organizada principalmente pelo Federal Reserve Board. Isso incluiu a instituição de “flexibilização quantitativa”, ou o que era efetivamente a impressão de dinheiro para estabilizar o capital financeiro, resultando em trilhões de dólares sendo injetados no setor corporativo.

Na economia estabelecida, o reconhecimento explícito de décadas de estagnação secular, que há muito era analisado à esquerda pelos economistas marxistas (e editores da Monthly Review) Harry Magdoff e Sweezy, finalmente veio à tona no mainstream, junto com o reconhecimento da teoria da crise da instabilidade financeira de Hyman Minsky. As fracas perspectivas para a economia dos EUA, apontando para a contínua estagnação e financeirização, foram reconhecidas por analistas econômicos ortodoxos e radicais.50

O mais assustador de tudo para a classe capitalista dos EUA durante a Grande Crise Financeira foi o fato de que, enquanto a economia dos EUA e as economias da Europa e do Japão haviam caído em uma recessão profunda, a economia chinesa mal havia estagnado e depois se fortaleceu novamente para um crescimento de quase dois dígitos. O prognóstico desfavorável ficou claro a partir daí: a hegemonia econômica dos EUA na economia mundial estava desaparecendo rapidamente em linha com o avanço aparentemente imparável da China, ameaçando a hegemonia do dólar e o poder imperial do capital financeiro monopolista dos EUA.51

A Grande Recessão, embora tenha levado à eleição do democrata Barack Obama como presidente, viu a súbita erupção de um movimento político na direita radical baseado principalmente na classe média baixa que se opunha ao resgate de hipotecas residenciais, vendo isso como beneficiando a classe média alta acima e a classe trabalhadora abaixo. O rádio conservador, atendendo ao público branco de classe média baixa, desde o início se opôs a todos os resgates do governo na crise.52 No entanto, o que veio a ser conhecido como o movimento Tea Party de direita radical desencadeou-se em 19 de fevereiro de 2009, quando Rick Santelli, comentarista da rede de negócios CNBC, fez um discurso defendendo que o plano do governo Obama para resgates de hipotecas residenciais era um plano socialista (que ele comparou ao governo cubano) para forçar as pessoas a pagar pelas compras de casas ruins e casas de luxo de seus vizinhos, violando os princípios do livre mercado. Em seu discurso, Santelli mencionou o Boston Tea Party e, em poucos dias, grupos do Tea Party estavam sendo organizados em diferentes partes do país.53

O Tea Party inicialmente representou uma tendência libertária que foi financiada pelo grande capital, particularmente os grandes interesses do petróleo representados pelos irmãos David e Charles Koch – ambos entre os dez maiores bilionários dos Estados Unidos – junto com o que é conhecido como a rede Koch de indivíduos ricos amplamente associados ao private equity. A decisão da Suprema Corte dos EUA de 2010 Citizens United v. Federal Election Commission removeu a maioria das restrições ao financiamento de candidatos políticos pelos ricos e corporações, permitindo que o dinheiro obscuro dominasse a política dos EUA como nunca antes. Oitenta e sete membros republicanos do Tea Party foram levados para a Câmara dos Representantes dos EUA, principalmente por distritos manipulados onde os democratas estavam virtualmente ausentes. Marco Rubio, um favorito do Tea Party, foi eleito para o Senado dos EUA pela Flórida. Logo ficou claro que o papel do Tea Party não era iniciar novos programas, mas impedir que o governo federal funcionasse. Sua maior conquista foi a Lei de Controle Orçamentário de 2011, que introduziu limites e sequestros destinados a evitar aumentos nos gastos federais que beneficiam a população como um todo (em oposição a subsídios aos gastos militares e de capital em apoio ao império), e que produziu a paralisação do governo em grande parte simbólica em 2013. O Tea Party também introduziu a teoria da conspiração racista (conhecida como birtherism) de que Obama era um muçulmano nascido no exterior.54

O Tea Party, que era menos um movimento de base do que uma manipulação conservadora baseada na mídia, no entanto, demonstrou que havia surgido um momento histórico em que era possível para os setores do capital financeiro monopolista mobilizar a classe média baixa esmagadoramente branca, que havia sofrido sob o neoliberalismo e era o estrato mais nacionalista, racista, sexista e revanchista da população dos EUA com base em sua própria ideologia inata. Esse estrato era o que Mills chamava de “retaguardas” do sistema.55 Consistindo de gerentes de nível inferior, proprietários de pequenas empresas, pequenos proprietários rurais, cristãos evangélicos brancos e similares, a classe / estrato médio-baixo na sociedade capitalista ocupa uma posição de classe contraditória.56 Com rendas geralmente bem acima do nível mediano da sociedade, a classe média baixa está acima da maioria da classe trabalhadora e geralmente abaixo da classe média alta ou estrato profissional-gerencial, com níveis mais baixos de educação e muitas vezes se identificando com representantes do grande capital. É caracterizado pelo “medo de cair” na classe trabalhadora.57Historicamente, os regimes fascistas surgem quando a classe capitalista se sente particularmente ameaçada e quando a democracia liberal é incapaz de lidar com as contradições político-econômicas e imperiais fundamentais da sociedade. Esses movimentos contam com a mobilização da classe dominante da classe média baixa (ou da pequena burguesia) junto com alguns dos setores mais privilegiados da classe trabalhadora.58

Em 2013, o Tea Party estava diminuindo, mas continuou a manter um poder considerável em Washington na forma do House Freedom Caucus estabelecido em 2015.59 Mas, em 2016, ele se metamorfoseou no movimento Make America Great Again (MAGA) de Trump como uma formação política neofascista de pleno direito baseada em uma estreita aliança entre setores da classe dominante dos EUA e uma classe média baixa mobilizada, resultando nas vitórias de Trump nas eleições de 2016 e 2024. Trump escolheu o membro do Tea Party e político de direita radical apoiado por Koch, Mike Pence, de Indiana, como seu companheiro de chapa em 2016.60 Em 2025, Trump faria do herói do Tea Party, Rubio, Secretário de Estado. Falando do Tea Party, Trump declarou: “Essas pessoas ainda estão lá. Eles não mudaram seus pontos de vista. O Tea Party ainda existe – exceto que agora se chama Make America Great Again.61

O bloco político MAGA de Trump não pregava mais o conservadorismo fiscal, que para a direita era um mero meio de minar a democracia liberal. No entanto, o movimento MAGA manteve sua ideologia revanchista, racista e misógina voltada para a classe média baixa, juntamente com uma política externa nacionalista e militarista extrema semelhante à dos democratas. O inimigo singular que definiu a política externa de Trump foi uma China em ascensão. O neofascismo MAGA viu o ressurgimento do princípio do líder, no qual as ações do líder são consideradas invioláveis. Isso foi combinado com o aumento do controle da classe dominante, por meio de suas facções mais reacionárias, sobre o governo. No fascismo clássico na Itália e na Alemanha, a privatização das instituições governamentais (uma noção desenvolvida sob os nazistas) foi associada a um aumento nas funções coercitivas do Estado e a uma intensificação do militarismo e do imperialismo.62 De acordo com essa lógica geral, o neoliberalismo formou a base para o surgimento do neofascismo, e uma espécie de cooperação se seguiu, à maneira de “irmãos em guerra”, levando no final a uma aliança neofascista-neoliberal incômoda dominando o Estado e a mídia, enraizada nos mais altos escalões da classe capitalista monopolista.63

Hoje, o governo direto de um poderoso setor da classe dominante nos Estados Unidos não pode mais ser negado. A base dinástica familiar da riqueza nos países capitalistas avançados, apesar dos novos participantes do clube dos bilionários, foi demonstrada em análises econômicas recentes, notadamente em O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty.64 Aqueles que argumentaram que o sistema era administrado por uma elite gerencial ou por um amálgama de ricos corporativos, no qual aqueles que acumulavam as grandes fortunas, suas famílias e redes permaneciam em segundo plano e a classe capitalista não tinha e não podia ter um forte controle sobre o Estado, se mostraram todos errados. A realidade hoje é menos de luta de classes do que de guerra de classes. Como afirmou o bilionário Warren Buffett: “Há guerra de classes, tudo bem, mas é a minha classe, a classe rica, que está fazendo a guerra, e estamos vencendo”.65

A centralização do excedente global na classe capitalista monopolista dos EUA criou agora uma oligarquia financeira como nenhuma outra, e os oligarcas precisam do Estado. Isso é verdade acima de tudo para o setor de alta tecnologia, que é profundamente dependente dos gastos militares dos EUA e da tecnologia militar, tanto para seus lucros quanto para sua própria ascensão tecnológica. O apoio de Trump veio principalmente de bilionários que apostaram no privado (não baseando sua riqueza em empresas públicas listadas na bolsa de valores e sujeitas à regulamentação governamental) e por private equity em geral.66 Entre os maiores banqueiros conhecidos de sua campanha de 2024 estavam Tim Mellon (neto de Andrew Mellon e herdeiro da fortuna bancária Mellon); Ike Perlmutter, ex-presidente da Marvel Entertainment; o bilionário Peter Thiel, cofundador do PayPal e proprietário da Palantir, uma empresa de vigilância e mineração de dados apoiada pela CIA (o vice-presidente dos EUA, JD Vance, é um protegido de Thiel); Marc Andreessen e Ben Horowitz, duas das principais figuras das finanças do Vale do Silício; Miriam Adelson, esposa do falecido bilionário de cassinos Sheldon Adelson; o magnata da navegação Richard Uihlein, herdeiro da fortuna da cerveja Uihlein – cerveja Schlitz; e Elon Musk, o homem mais rico do mundo, dono da Tesla, X e SpaceX, que forneceu mais de um quarto de bilhão de dólares para a campanha de Trump. O domínio do dinheiro obscuro, excedendo todas as eleições anteriores, torna impossível rastrear a lista completa de bilionários que apoiam Trump. No entanto, está claro que os oligarcas da tecnologia estavam no centro de seu apoio.67

Aqui é importante notar que o apoio de Trump na classe capitalista e entre os oligarcas financeiros de tecnologia não veio principalmente dos seis grandes monopólios de tecnologia originais – Apple, Amazon, Alphabet (Google), Meta (Facebook), Microsoft e (mais recentemente) a líder em tecnologia de IA Nvidia. Em vez disso, ele foi principalmente o beneficiário da alta tecnologia do Vale do Silício, do private equity e das grandes petrolíferas. Embora bilionário, Trump é um mero agente da transformação político-econômica no governo da classe dominante que ocorre por trás do véu de um movimento de base nacional-populista. Como escreveu o jornalista e economista escocês e ex-membro do Parlamento pelo Partido Nacional Escocês, George Kerevan, Trump é um “demagogo, mas ainda apenas uma cifra para as forças de classe reais”.68

O governo Biden representou principalmente os interesses de setores neoliberais da classe capitalista, mesmo fazendo algumas concessões temporárias à classe trabalhadora e aos pobres. Antes de sua eleição, ele havia prometido a Wall Street que “nada mudaria fundamentalmente” se ele se tornasse presidente.69 Portanto, foi profundamente irônico que Biden tenha alertado em seu discurso de despedida ao país em janeiro de 2025: “Hoje, está se formando na América uma oligarquia de extrema riqueza, poder e influência que literalmente ameaça toda a nossa democracia, nossos direitos e liberdades básicos e uma chance justa para todos avançarem. “Essa “oligarquia”, declarou Biden, estava enraizada não apenas na “concentração de poder e riqueza”, mas na “ascensão potencial de um complexo tecno-industrial “. As bases desse potencial complexo tecno-industrial que alimenta a nova oligarquia, afirmou ele, foram o surgimento do “dinheiro obscuro” e da IA descontrolada. Reconhecendo que a Suprema Corte dos EUA havia se tornado um reduto do controle oligárquico, Biden propôs um limite de mandato de dezoito anos para os juízes da Suprema Corte dos EUA. Nenhum presidente dos EUA em exercício desde Franklin D. Roosevelt levantou tão fortemente a questão do controle direto da classe dominante sobre o governo dos EUA – mas no caso de Biden, isso ocorreu no momento de sua saída da Casa Branca.70

Os comentários de Biden, embora talvez fáceis de descartar com base no fato de que o controle oligárquico do estado não é novo nos Estados Unidos, foram sem dúvida induzidos por uma sensação de uma grande mudança ocorrendo no estado dos EUA com uma tomada de controle neofascista. A vice-presidente Kamala Harris descreveu abertamente Trump como um “fascista” durante sua campanha para presidente.71 Aqui estava em jogo mais do que manobras políticas e a porta giratória usual entre os partidos Democrata e Republicano no duopólio político dos EUA. Em 2021, a revista Forbes estimou os ativos líquidos dos membros do gabinete de Biden em US$ 118 milhões.72Em contraste, os principais funcionários de Trump incluem treze bilionários, com um patrimônio líquido total, de acordo com o Public Citizen, de até US$ 460 bilhões, incluindo Elon Musk com uma fortuna de US$ 400 bilhões. Mesmo sem Musk, o gabinete bilionário de Trump tem dezenas de bilhões de dólares em ativos, em comparação com os US$ 3,2 bilhões em ativos de seu governo anterior.73

Em 2016, como observou Doug Henwood, os principais capitalistas dos EUA viam Trump com alguma suspeita; em 2025, o governo Trump é um regime de bilionários. A política de direita radical de Trump levou à ocupação direta de cargos no governo por figuras dos 400 americanos mais ricos da Forbes, com o objetivo de reformar todo o sistema político dos EUA. Os três homens mais ricos do mundo ficaram no palanque lotado com Trump durante sua posse em 2025. Em vez de representar uma liderança mais eficaz por parte da classe dominante, Henwood vê tais desenvolvimentos como um sinal de sua “podridão” interna.74

No adendo que Block escreveu ao seu artigo “A classe dominante não governa” quando foi reimpresso pela Jacobin em 2020, ele retratou Biden como um agente político amplamente autônomo no sistema dos EUA. Block afirmou que, a menos que Biden instituísse uma política social-democrata destinada a beneficiar a classe trabalhadora – algo que Biden já havia prometido a Wall Street que não faria – alguém pior do que Trump sairia vitorioso nas eleições de 2024.75 No entanto, os políticos não são agentes livres em uma sociedade capitalista. Nem são responsáveis principalmente perante os eleitores. Como diz o ditado, “quem paga banda escolhe a música”. Impedidos por seus grandes doadores de se moverem um pouco para a esquerda na eleição, os democratas, apresentando a vice-presidente de Biden, Harris, como sua candidata presidencial, perderam quando milhões de eleitores da classe trabalhadora que votaram em Biden na eleição anterior e foram abandonados por seu governo por sua vez abandonaram os democratas. Em vez de apoiar Trump, os ex-eleitores democratas optaram principalmente por se juntar ao maior partido político dos Estados Unidos: o Partido dos Não Votantes.76

O que emergiu é algo realmente pior do que a mera repetição do mandato anterior de Trump como presidente. O regime demagógico MAGA de Trump agora se tornou um caso amplamente indisfarçável de governo político da classe dominante apoiado pela mobilização de um movimento revanchista principalmente de classe média baixa, formando um estado neofascista de direita com um líder que provou que pode agir com impunidade e que se mostrou capaz de cruzar barreiras constitucionais anteriores: uma verdadeira presidência imperial. Trump e Vance têm fortes laços com a Heritage Foundation e seu reacionário Projeto 2025, que faz parte da nova agenda MAGA.77 A questão agora é até onde essa transformação política à direita pode ir, e se ela será institucionalizada na ordem atual, tudo dependendo da aliança classe dominante/MAGA, por um lado, e da luta gramsciana pela hegemonia a partir de baixo, por outro.

O marxismo ocidental e a esquerda ocidental em geral há muito abandonaram a noção de uma classe dominante, acreditando que soava muito “dogmática” ou constituía um “atalho” para a análise da elite do poder. Tais pontos de vista, embora em conformidade com intelectuais de fino trato característicos do mundo acadêmico dominante, inculcaram uma falta de realismo que foi debilitante em termos de compreensão das necessidades da luta em uma época de crise estrutural do capital.

Em um artigo de 2022 intitulado “Os EUA têm uma classe dominante e os americanos devem enfrentá-la”, Sanders apontou que,

“As questões econômicas e políticas mais importantes que este país enfrenta são os níveis extraordinários de desigualdade de renda e riqueza, a crescente concentração de propriedade … e a evolução deste país em uma oligarquia…

Agora temos mais desigualdade de renda e riqueza do que em qualquer momento nos últimos cem anos. No ano de 2022, três multibilionários possuem mais riqueza do que a metade inferior da sociedade americana – 160 milhões de americanos. Hoje, 45% de toda a nova renda vai para o 1% mais rico, e os CEOs de grandes corporações ganham um recorde de 350 vezes o que seus trabalhadores ganham.

Em termos de poder político, a situação é a mesma. Um pequeno número de bilionários e CEOs, por meio de seus Super Pacs, dinheiro obscuro e contribuições de campanha, desempenham um papel importante na determinação de quem é eleito e quem é derrotado. Há agora um número crescente de campanhas em que os Super Pacs realmente gastam mais dinheiro em campanhas do que os candidatos, que se tornam os fantoches de seus grandes marionetistas. Nas primárias democratas de 2022, os bilionários gastaram dezenas de milhões tentando derrotar candidatos progressistas que defendiam as famílias trabalhadoras.”78

Em resposta à eleição presidencial de 2024, Sanders argumentou que um aparato do Partido Democrata que gastou bilhões para perpetrar “uma guerra total contra todo o povo palestino” enquanto abandonava a classe trabalhadora dos EUA viu a classe trabalhadora rejeitá-lo em favor do Partido dos Não-Eleitores. Cento e cinquenta famílias bilionárias, relatou ele, gastaram quase US$ 2 bilhões para influenciar as eleições de 2024 nos EUA. Isso colocou abertamente uma oligarquia da classe dominante no poder no governo federal que nem mesmo finge mais representar os interesses de todos. Ao lutar contra essas tendências, Sanders afirmou: “O desespero não é uma opção. Não estamos lutando apenas por nós mesmos. Estamos lutando por nossos filhos e gerações futuras e pelo bem-estar do planeta.”79

Mas como lutar? Diante da realidade de uma aristocracia operária entre os trabalhadores mais privilegiados nos estados capitalistas monopolistas centrais que se alinhavam com o imperialismo, a solução de Lenin foi ir mais fundo na classe trabalhadora e, ao mesmo tempo, ir mais longe, baseando a luta naqueles em todos os países do mundo que não têm nada a perder além de suas correntes e que se opõem ao atual monopólio imperialista.80 Em última análise, o eleitorado do estado neofascista da classe dominante de Trump é apenas 0,0001%, constituindo aquela parte do corpo político dos EUA que seu gabinete bilionário pode razoavelmente representar.81

Notas

  1. ↩ “Full Transcript of President Biden’s Farewell Address, New York Times, January 15, 2025; Bernie Sanders, “The US Has a Ruling Class—And Americans Must Stand Up to It,” Guardian, September 2, 2022.
  2. ↩ James Burnham, The Managerial Revolution (London: Putnam and Co., 1941); John Kenneth Galbraith, American Capitalism: The Concept of Countervailing Power (Cambridge, Massachusetts: Riverside Press, 1952); C. Wright Mills, The Power Elite (Oxford: Oxford University Press, 1956), 147–70.
  3. ↩ Joseph A. Schumpeter, Capitalism, Socialism and Democracy (New York: Harper Brothers, 1942), 269–88; Robert Dahl, Who Governs?: Democracy and Power in an American City (New Haven: Yale, 1961); John Kenneth Galbraith, The New Industrial State (New York: New American Library, 1967, 1971).
  4. ↩ C. B. Macpherson, The Life and Times of Liberal Democracy (Oxford: Oxford University Press, 1977), 77–92.
  5. ↩ Mills, The Power Elite, 170, 277.
  6. ↩ Paul M. Sweezy, Modern Capitalism and Other Essays (New York: Monthly Review Press, 1972), 92–109; G. William Domhoff, Who Rules America? (Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, 1st edition, 1967), 7–8, 141–42.
  7. ↩ G. William Domhoff, “The Power Elite and Its Critics,” in C. Wright Mills and The Power Elite, eds. G. William Domhoff and Hoyt B. Ballard (Boston: Beacon Press, 1968), 276.
  8. ↩ Nicos Poulantzas, Political Power and Social Classes (London: Verso, 1975); Ralph Miliband, The State in Capitalist Society (London: Quartet Books, 1969).
  9. ↩ Fred Block, “The Ruling Class Does Not Rule: Notes on the Marxist Theory of the State,” Socialist Revolution, no. 33 (May–June 1977): 6–28. In 1978, the year after the publication of Block’s article, the title of Socialist Revolution was changed to Socialist Review, reflecting the journal’s explicit shift to a social-democratic political view.
  10. ↩ Fred Block, “The Ruling Class Does Not Rule,” 2020 reprint with epilogue, Jacobin, April 24, 2020.
  11. ↩ Peter Charalambous, Laura Romeo, and Soo Rin Kim, “Trump Has Tapped an Unprecedented 13 Billionaires for His Administration. Here’s Who They Are,” ABC News, December 17, 2024.
  12. ↩ Karl Marx, Early Writings (London: Penguin, 1974), 90.
  13. ↩ Karl Polanyi, “Aristotle Discovers the Economy,” in Trade and Market in the Early Empires: Economies in History and Theory, eds. Karl Polanyi, Conrad M. Arensberg, and Harry W. Pearson (Glencoe, Illinois: The Free Press, 1957), 64–96.
  14. ↩ Ernest Barker, The Political Thought of Plato and Aristotle (New York: Russell and Russell, 1959), 317; John Hoffman, “The Problem of the Ruling Class in Classical Marxist Theory,” Science and Society 50, no. 3 (Fall 1986): 342–63.
  15. ↩ Karl Marx and Friedrich Engels, The Communist Manifesto (New York: Monthly Review Press, 1964), 5.
  16. ↩ Karl Marx, Capital, vol. 1 (London: Penguin, 1976), 333–38, 393–98.
  17. ↩ Karl Marx, The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte (New York: International Publishers, 1963).
  18. ↩ Karl Kautsky quoted in Miliband, The State in Capitalist Society, 51.
  19. ↩ Ralph Miliband, Parliamentary Socialism: A Study in the Politics of Labor (New York: Monthly Review Press, 1961).
  20. ↩ Miliband, The State in Capitalist Society, 16, 29, 45, 51–52, 55.
  21. ↩ Nicos Poulantzas, “The Problem of the Capitalist State,” in Ideology in Social Science: Readings in Critical Social Theory, ed. Robin Blackburn (New York: Vintage, 1973), 245.
  22. ↩ Ralph Miliband, “Reply to Nicos Poulantzas,” in Ideology in Social Science, ed. Blackburn, 259–60.
  23. ↩ Nicos Poulantzas, State, Power, Socialism (London: New Left Books, 1978); Karl Marx and Frederick Engels, Writings on the Paris Commune (New York: Monthly Review Press, 1971); V. I. Lenin, Collected Works (Moscow: Progress Publishers, n.d.), vol. 25, 345–539. On Poulantzas’s shift to social democracy, see Ellen Meiksins Wood, The Retreat from Class (London: Verso, 1998), 43–46.
  24. ↩ Domhoff, Who Rules America? (1967 edition), 1–2, 3; Paul M. Sweezy, The Present as History (New York: Monthly Review Press, 1953), 120–38.
  25. ↩ G. William Domhoff, The Powers That Be: Processes of Ruling-Class Domination in America (New York: Vintage, 1978), 14.
  26. ↩ G. William Domhoff, Who Rules America? (London: Routledge, 8th edition, 2022), 85–87. In the 1967 edition of his book, Domhoff had critically remarked on Mills’s lumping of the very rich (the owners) and the managers together in the category of the corporate rich, thereby erasing crucial questions. Domhoff, Who Rules America? (1967 edition), 141. On the concept of liberal practicality see C. Wright Mills, The Sociological Imagination” (New York: Oxford, 1959), 85–86; John Bellamy Foster, “Liberal Practicality and the U.S. Left,” in Socialist Register 1990: The Retreat of the Intellectuals, eds. Ralph Miliband, Leo Panitch, and John Saville (London: Merlin Press, 1990), 265–89.
  27. ↩ Stanislav Menshikov, Millionaires and Managers (Moscow: Progress Publishers, 1969), 5–6.
  28. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 7, 321.
  29. ↩ Sweezy, The Present as History, 158–88.
  30. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 322.
  31. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 324–25.
  32. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 325, 327.
  33. ↩ Menshikov, Millionaires and Managers, 323–24.
  34. ↩ Block, “The Ruling Class Does Not Rule,” 6–8, 10, 15, 23; Max Weber, Economy and Society, vol. 2 (Berkeley: University of California Press, 1978), 1375–80.
  35. ↩ Block, “The Ruling Class Does Not Rule,” 9–10, 28.
  36. ↩ Wood, The Retreat from Class.
  37. ↩ Geoff Hodgson, The Democratic Economy: A New Look at Planning, Markets and Power (London: Penguin, 1984), 196.
  38. ↩ Paul A. Baran and Paul M. Sweezy, Monopoly Capital (New York: Monthly Review Press, 1966), 339.
  39. ↩ Baran and Sweezy, Monopoly Capital, 155.
  40. ↩ On the golden age of capitalism, see Eric Hobsbawm, The Age of Extremes (New York: Vintage, 1996), 257–86; Michael Perelman, Railroading Economics: The Creation of the Free Market Mythology (New York: Monthly Review Press, 2006), 175–98.
  41. ↩ Baran and Sweezy, Monopoly Capital, 108, 336.
  42. ↩ On economic stagnation, financialization, and restructuring, see Harry Magdoff and Paul M. Sweezy, Stagnation and the Financial Explosion (New York: Monthly Review Press, 1986); Joyce Kolko, Restructuring World Economy (New York: Pantheon, 1988); John Bellamy Foster and Robert W. McChesney, The Endless Crisis (New York: Monthly Review Press, 2012).
  43. ↩ Lewis F. Powell, “Confidential Memorandum: Attack on the American Free Enterprise System,” August 23, 1971, Greenpeace, greenpeace.org; John Nichols and Robert W. McChesney, Dollarocracy: How the Money and Media Election Complex Is Destroying America (New York: Nation Books, 2013), 68–84.
  44. ↩ Robert Frank, “‘Robin Hood in Reverse’: The History of a Phrase,” CNBC, August 7, 2012.
  45. ↩ John Kenneth Galbraith, The Affluent Society (New York: New American Library, 1958), 78–79.
  46. ↩ See Fred Magdoff and John Bellamy Foster, The Great Financial Crisis (New York: Monthly Review Press, 2009).
  47. ↩ John Smith, Imperialism in the Twenty-First Century (New York: Monthly Review Press, 2016); Intan Suwandi, Value Chains: The New Economic Imperialism (New York: Monthly Review Press, 2019). The application of financialized criteria to corporations fed the merger waves of the 1980s and ’90s, with all sorts of hostile takeovers of “underperforming” or “undervalued” companies frequently leading to the company being cannibalized and their parts sold to the highest bidder. See Perelman, Railroading Economics, 187–96.
  48. ↩ István Mészáros, The Structural Crisis of Capital (New York: Monthly Review Press, 2010).
  49. ↩ See Fred Magdoff and John Bellamy Foster, “Grand Theft Capital: The Increasing Exploitation and Robbery of the U.S. Working Class,” Monthly Review 75, no. 1 (May 2023): 1–22.
  50. ↩ See John Cassidy, How Markets Fail: The Logic of Economic Calamities (New York: Farrar, Straus, and Giroux, 2009); James K. Galbraith, The End of Normal (New York: Simon and Schuster, 2015); Foster and McChesney, The Endless Crisis; Hans G. Despain, “Secular Stagnation: Mainstream Versus Marxian Traditions,” Monthly Review 67, no. 4 (September 2015): 39–55.
  51. ↩ John Bellamy Foster and Brett Clark, “Imperialism in the Indo-Pacific,” Monthly Review 76, no. 3 (July–August 2024): 6–13.
  52. ↩ Matthew Bigg, “Conservative Talk Radio Rails against Bailout,” Reuters, September 26, 2008.
  53. ↩ Geoff Kabaservice, “The Forever Grievance: Conservatives Have Traded Periodic Revolts for a Permanent Revolution,” Washington Post, December 4, 2020; Michael Ray, “The Tea Party Movement,” Encyclopedia Britannica, January 16, 2025, britannica.com; Anthony DiMaggio, The Rise of the Tea Party: Political Discontent and Corporate Media in the Age of Obama (New York: Monthly Review Press, 2011).
  54. ↩ Kabaservice, “The Forever Grievance”; Suzanne Goldenberg, “Tea Party Movement: Billionaire Koch Brothers Who Helped It Grow,” Guardian, October 13, 2010; Doug Henwood, “Take Me to Your Leader: The Rot of the American Ruling Class,” Jacobin, April 27, 2021.
  55. ↩ C. Wright Mills, White Collar (New York: Oxford University Press, 1953), 353–54.
  56. ↩ On the concept of contradictory class locations, see Erik Olin Wright, Class, Crisis and the State (London: Verso, 1978), 74–97.
  57. ↩ Barbara Ehrenreich, Fear of Falling: The Inner Life of the Middle Class (New York: HarperCollins, 1990); Nate Silver, “The Mythology of Trump’s ‘Working Class’ Support,” ABC News, May 3, 2016; Thomas Ogorzalek, Spencer Piston, and Luisa Godinez Puig, “White Trump Voters Are Richer than They Appear,” Washington Post, November 12, 2019.
  58. ↩ The analysis here is based on John Bellamy Foster, Trump in the White House (New York: Monthly Review Press, 2017).
  59. ↩ Kabaservice, “The Forever Grievance.”
  60. ↩ Liza Featherstone, “It’s a Little Late for Mike Pence to Pose as a Brave Dissenter to Donald Trump,” Jacobin, January 8, 2021.
  61. ↩ Trump quoted in Kabaservice, “The Forever Grievance.”
  62. ↩ Foster, Trump in the White House, 26–27.
  63. ↩ Karl Marx, Herr Vogt: A Spy in the Worker’s Movement (London: New Park Publications, 1982), 70.
  64. ↩ Thomas Piketty, Capital in the Twenty-First Century (Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2014), 391–92.
  65. ↩ Warren Buffett quoted in Nichols and McChesney, Dollarocracy, 31.
  66. ↩ On the growing role of private equity in the economy, see Allison Heeren Lee, “Going Dark: The Growth of Private Markets and the Impact on Investors and the Economy,” U.S. Securities and Exchange Commission, October 12, 2021, sec.gov; Brendan Ballou, Plunder: Private Equity’s Plan to Pillage America (New York: Public Affairs, 2023); Gretchen Morgenson and Joshua Rosner, These Are the Plunderers: How Private Equity Runs—and Wrecks—America (New York: Simon and Schuster, 2023).
  67. ↩ George Kerevan, “The American Ruling Class Is Shifting Towards Trump,” Brave New Europe, July 19, 2024, braveneweurope.com; Anna Massoglia, “Outside Spending on 2024 Elections Shatters Records, Fueled by Billion-Dollar ‘Dark Money’ Infusion,” Open Secrets, November 5, 2024, opensecrets.org.
  68. ↩ Kerevan, “The American Ruling Class Is Shifting Towards Trump.”
  69. ↩ Igor Derysh, “Joe Biden to Rich Donors: ‘Nothing Would Fundamentally Change’ If He’s Elected,” Salon, June 19, 2019.
  70. ↩ Biden, “Full Transcript of President Biden’s Farewell Address.”
  71. ↩ Will Weissert and Laurie Kellman, “What is Fascism? And Why Does Harris Say Trump is a Fascist?,” Associated Press, October 24, 2024.
  72. ↩ Dan Alexander and Michela Tindera, “The Net Worth of Joe Biden’s Cabinet,” Forbes, June 29, 2021.
  73. ↩ Rick Claypool, “Trump’s Billionaire Cabinet Represents the Top 0.0001%,” Public Citizen, January 14, 2025, citizen.org; Peter Charalambous, Laura Romero, and Soo Rin Kim, “Trump Has Trapped and Uprecedented 13 Billionaires for his Administration. Here’s Who They Are,” ABC News, December 17, 2024.
  74. ↩ Adriana Gomez Licon and Alex Connor, “Billionaires, Tech Titans, Presidents: A Guide to Who Stood Where at Trump’s Inauguration,” Associated Press, January 21, 2025; Doug Henwood, “Take Me to Your Leader: The Rot of the American Ruling Class,” Jacobin, April 27, 2021.
  75. ↩ Block, “The Ruling Class Does Not Rule” (2020 reprint with epilogue).
  76. ↩ Domenico Montanaro, “Trump Falls Just Below 50% in Popular Vote, But Gets More Than in Past Election,” National Public Radio, December 3, 2024, npr.org; Editors, “Notes from the Editors,” Monthly Review 76, no. 8 (January 2025). On the historical and theoretical significance of the Party of Nonvoters, see Walter Dean Burnham, The Current Crisis in American Politics (Oxford: Oxford University Press, 1983).
  77. ↩ Kerevan, “The American Ruling Class Is Shifting Towards Trump”; Alice McManus, Robert Benson, and Sandana Mandala, “Dangers of Project 2025: Global Lessons in Authoritarianism,” Center for American Progress, October 9, 2024.
  78. ↩ Bernie Sanders, “The US Has a Ruling Class—And Americans Must Stand Up to It.”
  79. ↩ Bernie Sanders, “Bernie’s Statement about the Election,” Occupy San Francisco, November 7, 2024, occupysf.net; Jake Johnson, “Sanders Lays Out Plan to Fight Oligarchy as Wealth of Top Billionaires Passes $10 Trillion,” Common Dreams, December 31, 2024.
  80. ↩ V. I. Lenin, Collected Works, vol. 23 (Moscow: Progress Publishers, n.d.), 120.
  81. ↩ Claypool, “Trump’s Billionaire Cabinet Represents the Top 0.0001%.”

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