Publicado 08/10/2024 às 19:15
Balanço do genocídio, um
ano depois
Israel despejou em Gaza o equivalente a quatro
bombas de Hiroshima. Seriam, em proporção, 12 milhões de mortos, no Brasil.
Todas as universidades estão reduzidas a pó. Mais de 800 crianças foram presas.
Há outro nome, além de Holocausto?
Por Mustafa Barghouti | Tradução: Glauco Faria
Neste 7 de outubro, completou-se um ano da guerra israelense contra Gaza, que Israel expandiu para incluir o Líbano, a Síria, o Iêmen e o Irã. Essa guerra regional poderia ter sido facilmente evitada se o governo israelense tivesse aceitado um acordo de cessar-fogo com Gaza, que incluiria a libertação de todos os prisioneiros israelenses e a libertação de muitos prisioneiros palestinos, além do fim do ataque militar israelense a Gaza.
Durante o ano passado, Israel realizou três crimes de guerra paralelamente contra o povo palestino ocupado: o crime de guerra de genocídio, o da limpeza étnica e da punição coletiva.
Durante o intenso bombardeio militar de Gaza, o exército israelense lançou nada menos que 84 mil toneladas de explosivos, mais de quatro vezes o poder explosivo de cada uma das bombas nucleares usadas contra o Japão na Segunda Guerra Mundial. Isso equivale a 32 quilos de explosivos para cada homem, mulher e criança em Gaza.
Os resultados foram devastadores: 41.850 palestinos mortos, além de cerca de 10 mil outros ainda desaparecidos sob os escombros.
70% dos palestinos mortos eram crianças, mulheres ou idosos.
Pelo menos 16.756 crianças palestinas foram mortas, incluindo 115 que nasceram e foram mortas durante a guerra. Algumas, como os filhos gêmeos de Muhamad Abu Elqumsan, foram mortos com a mãe pelo bombardeio israelense três dias depois de nascerem.
Além disso, cerca de 96.910 palestinos ficaram feridos, dos quais 12.000 morrerão se não forem transferidos para fora de Gaza para tratamento. Israel não está permitindo isso. Entre os feridos, 4.050 sofreram amputações, incluindo 1.300 crianças que perderam um ou mais de seus membros.
60.000 mulheres grávidas não puderam dar à luz em condições seguras e sanitárias. Muitas perderam seus bebês e a taxa de mortalidade materna disparou.
O número de palestinos mortos e feridos em Gaza no ano passado equivale a 6,5% da população de Gaza. Se isso tivesse acontecido nos EUA, proporcionalmente, o número seria de 20 milhões de norte-americanos mortos ou feridos em um ano.
Durante a guerra de genocídio, o exército israelense cometeu 3.568 massacres, destruindo quase 80% de todas as casas e instituições, incluindo todas as universidades, 330 escolas, 814 mesquitas, todas as três igrejas, 162 instituições de saúde, 34 dos 36 hospitais, 131 ambulâncias e todas as redes de eletricidade, comunicações, água e esgoto. Além disso, 67,7% dos campos agrícolas e fazendas foram destruídos e 700 poços foram bombardeados. Todos os 34 estádios esportivos foram destruídos.
No decorrer da reocupação de Gaza, o exército israelense destruiu a maior parte da cidade e do distrito de Rafah. Entre os palestinos mortos estavam 11.500 estudantes, 750 professores, 115 cientistas e professores universitários.
As equipes médicas foram um alvo em especial do exército israelense e 885 médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde foram mortos.
Durante todo o ano, Israel não permitiu que jornalistas estrangeiros entrassem em Gaza. Essa foi a primeira guerra dos tempos modernos não coberta por correspondentes militares estrangeiros.
Por outro lado, o exército israelense atacou propositalmente jornalistas palestinos locais e suas famílias. 175 jornalistas palestinos foram mortos por bombardeios e tiros israelenses e muitos jornalistas foram presos. 87 instituições de mídia também foram destruídas.
Todos os 2,3 milhões de habitantes de Gaza foram submetidos a repetidos deslocamentos. Alguns foram deslocados 10 vezes. Neste momento, mais de 1,6 milhões de pessoas estão presas numa pequena faixa na área de Mawasy, que não tem mais de 22 quilômetros quadrados, onde são bombardeadas.
No decorrer do ano passado, o exército israelense submeteu centenas de milhares de palestinos a punições coletivas, inclusive à fome. Os palestinos em Gaza foram privados de alimentos, água potável, abrigos, instalações sanitárias, atendimento médico e medicamentos. Como resultado, 1.737.524 pessoas sofreram de infecções, incluindo 112.000 que contraíram hepatite infecciosa, muitas tiveram meningite e centenas de crianças tiveram infecções de pele. Um caso de poliomielite foi confirmado e outros 6 casos são suspeitos. A poliomielite foi erradicada em Gaza há 30 anos, mas voltou a crescer devido às condições sanitárias precárias e à falta de água potável.
Todos os esforços para chegar a um cessar-fogo foram prejudicados pelo primeiro-ministro de Israel, Netanyahu, e seu governo extremista. O genocídio israelense de Gaza continua e, em média, 60 a 90 palestinos são mortos e mais de 150 são feridos diariamente pelos bombardeios israelenses.
Por outro lado, o exército israelense e as gangues terroristas de colonos ilegais realizaram e continuam a realizar muitos ataques contra a população palestina da Cisjordânia.
Desde 7 de outubro do ano passado, 641 palestinos, a maioria civis, foram mortos pelo exército israelense e por colonos na Cisjordânia, incluindo 163 crianças. 6250 ficaram feridos.
Nada menos que 11.000 novos prisioneiros palestinos foram presos na Cisjordânia, incluindo mais de 800 crianças. Milhares de pessoas são mantidas em prisões sob a chamada detenção administrativa, o que significa que são presas sem nenhuma acusação ou processo legal devido. 5 mil palestinos em Gaza também foram sequestrados e são mantidos em prisões ou em horríveis campos de concentração, como a prisão de Sde Timan.
Os prisioneiros palestinos são submetidos à tortura, incluindo fome, espancamento, humilhação repetida e, em alguns casos, assédio sexual. As autoridades israelenses admitiram pelo menos um caso de estupro de um prisioneiro palestino por soldados israelenses.
57 prisioneiros morreram ou foram mortos nas prisões israelenses na Cisjordânia durante o ano passado. Centenas de habitantes de Gaza foram mortos e várias testemunhas relataram ter presenciado execuções em campo de prisioneiros palestinos por soldados israelenses.
No Líbano, os ataques israelenses mataram 2.036 libaneses, incluindo 50 médicos, e feriram 9.653 desde 7 de outubro.
Israel não teria sido capaz de continuar essa terrível guerra e os crimes de guerra associados a ela se não fosse pelo fracasso internacional e pelo apoio e incentivo de muitos governos ocidentais que continuam a fornecer armas, explosivos, ajuda financeira ilimitada e apoio político a Israel.
A maior ironia são as repetidas declarações de muitos governos ocidentais sobre o direito de Israel de se defender, sem mencionar uma única vez o direito do povo palestino ocupado e oprimido de se defender.
Não aceitar os palestinos como seres humanos iguais aos israelenses e a outros seres humanos significa que os palestinos estão, na verdade, enfrentando não apenas crimes de guerra — a mais longa limpeza étnica e ocupação e o pior Apartheid da história moderna — mas também racismo desumano.
Depois de um ano inteiro de atrocidades e horror, é hora de parar a guerra e os crimes de guerra contra o povo palestino e abrir o caminho para acabar com a ocupação e alcançar uma paz justa.
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