Tantra e Neotantra: variações e banalizações do
tantrismo
As
práticas, sexuais e não sexuais, do Tantra visam a expansão da consciência. No
entanto, é preciso cuidado: banalizações e distorções do tantrismo podem ter
consequências sérias.
É bem verdade que a prática do Tantra é muito variada. É tão
diversificada quanto o tamanho de sua história que contabiliza já mais de cinco
mil anos. Mas, em meio a tantas variações, há também um sem número de
adaptações e banalizações que pouco nada tem de tântricas. Assim, entre a
essência do Tantra e o Neotantra que se popularizou, há algumas abordagens
bastante perigosas.
O Tantra tem base filosófica, é pagão e anterior ao surgimento das
religiões. Para sua prática, deve-se estudar a anatomia dos Chakras,
entender e meditar sobre a sua natureza matriarcal postulada sob o conceito
de Shakti e
conhecer uma série de preceitos filosóficos que visam expandir a
consciência do aspirante. A partir de uma base de conhecimento, é possível a
auto-iniciação na prática do Sexo Tântrico – ou do Maithuna, para utilizar a
nomenclatura original em Sânscrito.
Via Destra versus Via Sinistra
As práticas do Sexo Tântrico também variam em função de diversos
aspectos, especialmente em relação a sua abordagem nas diferentes correntes do
Tantra. No Dakshina Marga, o denominado Caminho da Mão Direita, o sexo é
secundário e tem caráter devocional. Seguidores mais radicais desse caminho
podem, por exemplo, optar por suprimir o orgasmo ou até seguir um caminho
celibatário. E ainda assim praticarem Tantra. Já no Caminho da Mão Esquerda, ou
Vama Marga em sânscrito, o orgasmo não somente é desejado como potencializado,
já que o prazer é visto como meio para expansão da consciência. Nele, o orgasmo
é sinônimo do que os franceses chamam de “Petit Mort”, ou “Pequena Morte” na
tradução livre ao português, e pode abrir o caminho para estados alterados de
percepção sobre a realidade. Praticantes radicais da via sinistra buscam o
desenvolvimento da capacidade multiorgástica para trabalhar técnicas como a
exaustão por meio do orgasmo.
Entretanto, a repressão da sexualidade que vivenciamos especialmente
nesses últimos 2 mil anos deu origem a uma série de adaptações que muito pouco
ou nada mantém da essência tântrica. Autores populares como Osho e seus seguidores criaram
o que se chama de Neotantra, prática que não se enquadra em nenhuma das
correntes do Tantra da Antiguidade. Aliás, quem assistiu ao documentário Wild Wild Country,
disponível desde 2018 no catálogo da Netflix, teve uma amostra do quão tóxica
pode ser esse tipo de abordagem.
O perigo das distorções
Do Neotantra surgiu a tão famosa “massagem tântrica” e um conjunto de
textos de autoajuda que nada falam da filosofia tântrica. Praticantes da
“massagem tântrica” insistem em reafirmar que seus serviços não são sexuais, já
que não incluem intercurso sexual, mas englobam em muitos casos manipulações
genitais em busca do orgasmo. E clientes desse tipo de serviço pouco ou nada
sabem das bases filosóficas do Tantra. Seria esse um caminho mesmo viável para
expansão da consciência ou mero e banal hedonismo capitalista?
Enquanto isso, o Maithuna virou tabu. Falar de sexo e espiritualidade é
ponto de desconfiança. Falar de sexo e misticismo, resgatando a essência do
Tantra em práticas sexuais de fato, ainda é assunto encoberto por
desinformação. Daí vemos muitos praticantes sérios do Tantra que evitam falar
das técnicas sexuais, já que elas representam apenas 7% do conteúdo das
escrituras dos Tantras. E tal conteúdo segue sob o desconhecimento da sociedade
e do publico em geral.
Vamos então mudar essa realidade, quebrar tabus e falar seriamente
do sexo para expansão da consciência? Tantra não é só sexo, mas sua
filosofia está fortemente embasada na sexualidade e na canalização da energia
sexual. E difundir as bases filosóficas entre iniciantes não é assim tão
dificil. Pois precisamos acreditar que há muito mais pessoas interessadas em
expandir a autoconsciência e lidar melhor com a própria sexualidade, sem
terceiros, vivendo o sexo tântrico na intimidade, sozinho ou com o parceiro.
Fonte:https://virginiagaia.com.br/o-tantra-e-neotantra-variacoes-e-banalizacoes-do-tantrismo/
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