PODER DAS 'BIG TECHS' PÕE EM RISCO O NOVO SALTO DA TECNOLOGIA

 Amy Webb: “O que está acontecendo vai afetar cada setor da economia”

Poder das ‘big techs’ põe em risco o novo salto da tecnologia

O mundo está vivendo um superciclo tecnológico que envolve avanços em IA generativa, biotecnologia e ecossistemas de dispositivos conectados

Por 

Daniela Braun

 — Austin (EUA)

11/03/2024 13h20  Atualizado há 4 horas

A inteligência artificial está entre nós e vai avançar cada vez mais rapidamente. O que fazer a respeito e quem está no controle desse avanço são questões frequentes que circulam entre as palestras e as filas para ouvir os especialistas do South by Southwest (SXSW), evento que começou na sexta-feira e vai até 16 de março em Austin (EUA).


Na concorrida apresentação da futurista Amy Webb, neste domingo, imagens de executivos-chefes de grandes empresas de tecnologia vestidos de santos, com auréolas nas cabeças, ilustraram a crescente preocupação com o poder e a influência das “big techs”, que podem afetar o novo “superciclo tecnológico” que estamos vivendo.


“O que está acontecendo é tão universal que vai afetar cada setor da economia”, disse Webb, executiva-chefe (CEO) do Future Institute, a uma plateia lotada, especialmente por brasileiros. O Brasil forma a maior delegação estrangeira do evento de inovação, entre os mais de 300 mil participantes que circulam pelo SXSW neste ano.

No terceiro trimestre de 2023, a equipe do Future Institute, consultoria de projeções estratégicas, identificou o “superciclo tecnológico”, um salto de inovação baseado não somente em uma, mas em três tecnologias: inteligência artificial (IA) generativa, biotecnologia e ecossistemas de dispositivos conectados.

Embora tenha soado menos pessimista com a IA, em relação ao ano passado, a carismática Webb fez uma crítica direta ao papel das “big techs” no ponto de transição para o novo superciclo de avanço tecnológico.

“Nós ouvimos há décadas que a tecnologia não é ruim, mas sim a forma como a utilizamos. Mas e quanto às pessoas que estão criando a tecnologia, que estão financiando a tecnologia e suas empresas e o controle que vêm aumentando sobre nossas vidas?”, questionou Webb. “E isso me traz de volta a esses caras”, disse Amy exibindo dois slides com imagens, geradas por IA, de CEOs das empresas Apple, Meta, Microsoft, X (ex-Twitter) e OpenAI, com auréolas e trajes religiosos.

Webb alertou que o “superciclo tecnológico” está concentrado, atualmente, “em um perigoso pequeno número de pessoas que têm poder significativo e influência na sociedade, em governos, na política e em nossas economias” porque controlam nossos recursos tecnológicos e como comunicamos nossas ideias.

“Muito em breve, os ‘profetas da tecnologia’ vão dizer que estão nos salvando com o superciclo da tecnologia. Mas o que chamam de altruísmo efetivo ou otimismo técnico, do lado de fora, me parece muito mais com autoritarismo técnico do livre mercado”, criticou Webb. “Nós não precisamos de alguém que nos salve. Precisamos somente de um planejamento melhor para o futuro”.

Do lado das “big techs”, John Maeda, vice-presidente de design e IA da Microsoft, buscou inspirar a plateia, na sexta-feira, com exemplos de avanços da IA generativa, incluindo uma ferramenta que simulou sua voz no painel e robôs que saltam e fazem musculação. Mas ao comparar o gerador de cenas em vídeo Sora, da Open AI, a uma animação que conta a história de um samurai com bonecos de madeira, Maeda reforçou o recado de que a IA não deve ser humanizada ou substituir o pensamento crítico humano, tanto para quem desenvolve como para quem usa a IA de olho nos lucros.

“O pensamento crítico é incrível porque nós, humanos, somos bons nisso. E talvez seja a habilidade na qual tenhamos que ser melhores, especialmente neste momento”, disse Maeda no primeiro dia da conferência.

A preocupação de Amy com a privacidade de dados, em um mundo de “profetas” da tecnologia, foi ilustrada nos dispositivos de realidade mista (realidades virtual e aumentada) como os óculos Apple Vision Pro. O avanço do que Webb chamou de “computação facial” é acompanhado de um risco envolvendo a leitura da reação ocular do usuário, que revela suas intenções. “Isso significa que seu computador facial vai saber o que você está prestes a pensar, antes que o faça”, observou.

De Valor Econômico.


Fonte:https://oglobo.globo.com/economia/sxsw/noticia/2024/03/11/poder-das-big-techs-poe-em-risco-o-novo-salto-da-tecnologia.ghtml

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