Assim como pessoas com Alzheimer, cães com demência
têm sono menos profundo
Método inédito de avaliação em
cachorros revelou que cães idosos com disfunção cognitiva canina (CCDS) têm
dificuldade para atingir estágio mais profundo do sono
Por Redação Galileu
29/04/2023 11h04 Atualizado há 7 meses
O sono é extremamente necessário para que as funções cognitivas se mantenham em pleno funcionamento, já que algumas de suas tarefas mais relevantes são a consolidação da memória e o processamento da aprendizagem. Porém, para pessoas com Alzheimer a alteração no sono é o primeiro sintoma a aparecer e um processo semelhante foi observado em cães com disfunção cognitiva canina (CCDS).
Ao dormir, é comum que adultos passem por diversas fases do ciclo do sono até chegar de fato ao estágio do sono profundo, chamado movimento rápido dos olhos (REM, sigla em inglês). É nessa fase que o corpo realmente consegue relaxar e os sonhos acontecem. Os estágios anteriores a ele são chamados de não-REM. O sono REM é de extrema importância para a saúde, pois essa fase é caracterizada por uma intensa atividade cerebral.
Os pacientes com Alzheimer tendem a gastar menos tempo tanto no sono REM, quanto no sono não REM (NREM). Mas eles mostram a maior redução no chamado sono de ondas lentas — um estágio de sono profundo sem sonhos, caracterizado por ondas cerebrais "delta" lentas — quando as memórias diurnas são consolidadas. Essa mesma redução no tempo de sono e nas ondas cerebrais delta ocorre em cães com demência. Esses animais, portanto, dormem cada vez menos profundamente.
O artigo que detalha essa observação teve como base a análise polissonográfica de 28 cachorros idosos e foi publicado no periódico Frontiers in Veterinary Science na sexta-feira (28). O estudo avaliou a porcentagem de tempo gasto em vigília, sonolência, sono NREM e REM, bem como a latência para os três estados de sono.
"Nosso estudo é o primeiro a avaliar a associação entre comprometimento cognitivo e sono usando polissonografia em cães idosos", disse Natasha Olby, professora de neurologia veterinária e neurocirurgia da Universidade Estadual da Carolina do Norte, em comunicado.
Sono canino
Tanto fêmeas quanto machos participaram do teste e todos os animais avaliados já eram considerados idosos com idades entre 10 e 16 anos. Seus tutores foram solicitados a preencher um questionário sobre seus companheiros caninos, para avaliar a gravidade dos sintomas de CCDS, como desorientação, interações sociais ruins e sujeira na casa. Os pesquisadores também examinaram os cães em busca de possíveis comorbidades ortopédicas, neurológicas, bioquímicas e fisiológicas.
Os resultados classificaram oito cães (28,5%) como normais, enquanto outros grupos de oito, quatro e oito apresentaram CCDS leve, moderada e grave, respectivamente. Após essa primeira fase, outros testes vieram. Dessa vez os cientistas examinaram sua atenção, memória de trabalho e controle.
Por exemplo, na "tarefa de desvio", um cão teve que recuperar uma guloseima de um cilindro transparente horizontal acessando-o por qualquer uma das extremidades - essa tarefa é dificultada pelo bloqueio do lado preferido dele, para que eles tenham que mostrar habilidades cognitivas e flexibilidade para desviar para a outra extremidade do cilindro.
Por fim veio a polissonografia, em que Alejandra Mondino, bolsista de pós-doutorado no grupo de pesquisa de Olby, e seus colegas criaram uma clínica do sono para os cães em uma sala silenciosa com luz fraca e ruído branco. Nesse local, os pesquisadores deixaram que os cães tirassem um cochilo de aproximadamente duas horas, enquanto eletrodos mediam suas ondas cerebrais, a atividade elétrica dos músculos e do coração, e os movimentos dos olhos.
Do total, 26 cães entraram em sonolência, 24 seguiram para o sono NREM, enquanto apenas 15 atingiram o estágio REM. Cães com pontuações mais altas de demência e com pior desempenho na tarefa de desvio ficaram pouco tempo em sono NREM e REM. Esses registros sugerem que cães com CCDS apresentaram alterações no ciclo sono-vigília, característica que se assemelha às alterações encontradas em pessoas com Alzheimer.
Contudo ainda não se sabe se essas mudanças também ocorrem quando os cães dormem à noite, e não à tarde. “Nosso próximo passo será acompanhar os cães ao longo do tempo durante seus anos adultos e idosos para determinar se há algum marcador precoce em seus padrões de sono-vigília ou na atividade elétrica de seu cérebro durante o sono, que possa prever o desenvolvimento futuro de disfunção cognitiva", conclui Olby.
Fonte:https://revistagalileu.globo.com/ciencia/biologia/noticia/2023/04/assim-como-pessoas-com-alzheimer-caes-com-demencia-tem-sono-menos-profundo.ghtml
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