A DOR SILENCIOSA: COMO ATUAR NA PREVENÇÃO AO SUICÍDIO

 Segundo a OMS, uma em cada 100 mortes ocorre por suicídio

A dor silenciosa: como atuar na prevenção ao suicídio

Promover um ambiente em que as pessoas se sintam seguras para falar sobre saúde mental é fundamental

Por 

Ludhmila Hajjar

20/10/2023 04h30  Atualizado há um mês

Quando a tristeza se torna insuportável e a esperança se esvai, para alguns, o suicídio pode parecer a única saída. E assim, essa epidemia silenciosa continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo. Mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que devido a HIV, malária, câncer de mama, guerras e homicídios. São quase 800 mil mortes anuais, o que significa uma a cada 40 segundos.

Mais homens morrem assim do que mulheres. As taxas de suicídio caíram nos 20 anos entre 2000 e 2019, em todo o mundo, com exceção nas Américas, que registram aumento de 17%. O Brasil está entre os países com taxas moderadas a altas. Devemos redobrar ainda mais a atenção pelo agravamento de sua ocorrência no contexto da Covid-19, com a queda do status socioeconômico, o aumento de doenças mentais como depressão, ansiedade, e esquizofrenia, e o incremento do uso de medicamentos psicotrópicos e de drogas ilícitas.

Embora alguns países tenham colocado a prevenção ao suicídio em sua agenda prioritária, apenas 38 nações são conhecidas por terem uma estratégia nacional de prevenção. É necessária uma aceleração significativa na redução para cumprir a meta dos objetivos do desenvolvimento sustentável de uma redução de um terço na taxa global de suicídio até 2030. O Brasil vive hoje uma escassez de políticas públicas relacionadas ao tema.

Um dos relatos mais antigos de suicídio vem das antigas epopeias e textos religiosos. Por exemplo, no Antigo Testamento, o rei Saul comete suicídio após ser gravemente ferido em batalha para evitar ser capturado pelos filisteus. Em textos greco-romanos, temos várias referências a suicídios. Um dos mais famosos é o de Ájax, um herói da Ilíada de Homero, que se mata por desonra.

O suicídio representa a tragédia do sofrimento humano, frequentemente eclipsado pelo estigma e pela incompreensão. A compreensão sobre o suicídio vai além do reconhecimento da dor; trata-se de vislumbrar os gritos silenciosos de desespero que são muitas vezes mascarados por sorrisos aparentemente serenos e garantias de que “tudo está bem”. É imperativo, portanto, desmistificar os véus que circundam essa questão e fomentar uma sociedade que acolha e apoie, ao invés de julgar e estigmatizar. A narrativa predominante muitas vezes relaciona o suicídio a um momento específico de crise, negligenciando os processos subjugados que levam à sua contemplação. Nessa perspectiva, é vital a disseminação de informações que visam à educação da sociedade, que precisa estar apta a identificar sinais de alerta e oferecer um suporte inicial, direcionando ao auxílio profissional quando necessário. Em contrapartida, os sistemas de saúde devem estar preparados para acolher esses indivíduos em situações críticas.

Além de propor uma sociedade mais empática e consciente, uma revolução também se faz necessária nas escolas. Deve-se combater a cultura do revanchismo, da competição, e buscar a saúde mental, em sua concepção mais ampla. O individualismo exacerbado e a busca exagerada por reconhecimento são questões que impedem o bem-estar em comunhão consigo mesmo. Deve-se incluir no plano de desenvolvimento da sociedade a filosofia, a educação, a arte, a cultura, a comunicação e a criação de políticas de estado. Promover um ambiente em que as pessoas se sintam seguras para falar sobre saúde mental é fundamental. Podemos todos contribuir para um ambiente livre de julgamentos e aberto à conversa.

O suicídio é prevenível e todos nós temos um papel a desempenhar. Ao encorajarmos a abertura, ao ouvirmos com empatia e ao nos educarmos sobre saúde mental, podemos construir uma comunidade onde o apoio está prontamente disponível para aqueles que enfrentam a escuridão da desesperança. Podemos ser farol potencial de esperança na vida de alguém.


Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/receita-de-medico/post/2023/10/a-dor-silenciosa-como-atuar-na-prevencao-ao-suicidio.ghtml

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