TRANSAR É PRECISO: A VIDA SEXUAL FEMININA DEPOIS DOS 50 E A IMPORTÂNCIA DO USO DO LUBRIFICANTE

 

Muito prazer: a personagem de Gillian Anderson na série Sex Education, reconhecer o corpo depois dos 50 anos é fundamental para uma vida sexual satisfatória (Foto: Reprodução)

Muito prazer: a personagem de Gillian Anderson na série Sex Education, reconhecer o corpo depois dos 50 anos é fundamental para uma vida sexual satisfatória (Foto: Reprodução)

Transar é preciso: a vida sexual feminina depois dos 50

Todas as perguntas que você adoraria fazer para uma sexóloga. Porque o sexo pós menopausa não pode ser um tabu para quem iniciou a vida sexual nos libertários anos 70 e 80…

  • ADRI COELHO SILVA (@VIVAACOROA)
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Tem um ditado que diz que é melhor fazer sexo do que falar de sexo. Não discordo. Contudo, é preciso falar de sexo para fazer sexo com ainda mais qualidade. Você deve saber que mais da metade da população mundial feminina, segundo pesquisas, diz que jamais experimentou um orgasmo. Frigidez? Acho que tabu é a resposta. E digo isso porque mesmo sendo 50 + (e com amigas que descobriram o sexo em plenos anos 70/80) percebo que há muitas dúvidas no ar ( ou melhor, na cama) , especialmente depois dos 50 anos.

Menopausa você deve ter pensado. E está certa. Mas será mesmo que o decréscimo hormonal representa o fim dos desejos? Fui conversar com a terapeuta sexual Ana Canosa para saber mais. Psicóloga, diretora de publicações da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana , ela diz "É importante deixar claro que a menopausa não é uma patologia. Dito isso, a redução de estrógeno reduz a sensibilidade das terminações nervosas (…) a resposta sexual tende a ficar mais lenta. Por isso, o desejo sexual espontâneo, aquele que não precisa de motivação e que nasce no corpo (…) pode ser mais raro”.

Muito prazer: a personagem de Gillian Anderson na série Sex Education, reconhecer o corpo depois dos 50 anos é fundamental para uma vida sexual satisfatória (Foto: Reprodução)

Muito prazer: a personagem de Gillian Anderson na série Sex Education, reconhecer o corpo depois dos 50 anos é fundamental para uma vida sexual satisfatória (Foto: Reprodução)

Ana completa: " A mulher 50+ precisa de mais estímulo para a sua resposta sexual. Por outro lado, as que tiveram boa experiência sexual ao longo da vida e exploraram mais o corpo têm um conhecimento maior de como chegar ao prazer. E isso equilibra a lentidão da resposta sexual”. Viva a maturidade. Mas… e se esse não é o caso? Bom, já sabemos que nunca é tarde para aprender. E Ana Canosa segue: "Na terceira idade, a mulher precisa saber muito mais do corpo e explorar…não dá para esperar o desejo espontâneo surgir”.

Segundo ela (leia entrevista completa abaixo) a dica é explorar o corpo e se adequar à nova fase com todos os recursos que existem, como cremes, pílulas, fisioterapia pélvica, vibradores e, tome nota, fantasia somada à informação. “Temos que conhecer nosso corpo e nossa sexualidade. O clitóris tem a única finalidade de nos dá prazer”, Ana diz.

Isso me fez lembrar do quinto episódio da temporada 2 da série “Sex Education” (NETFLIX), em que a personagem da maravilhosa Gillian Anderson, uma terapeuta sexual, está dando aulas de sexualidade para as mulheres maduras da cidade. Uma delas (sem spoiler, prometo) tem a vida transformada após o aprendizado com o próprio corpo. Transar é preciso. Faz bem para a pele, aumenta imunidade, relaxa…siga para saber mais e tudo sobre desejo e orgasmo feminino 50+.

"O clitóris é um organismo bastante grande, com terminações nervosas que seguem por todos canal vaginal, passando pelo colo do útero, chegando à medula até o cérebro.”"

Ana Canosa, sexóloga

As mulheres 50+ eram jovens nos libertadores anos 70 e 80. Ainda assim, sexo parece ser um tabu para muitas mulheres dessa faixa etária. Faz pouco tempo que começamos a falar sobre o orgasmo e a sexualidade da mulher, distinguindo a reposta sexual feminina da masculina, abordando a anatomia genital, o papel do clitóris e do erotismo para o  prazer feminino.

Questionar a influência do patriarcado no comportamento sexual da mulher foi extremamente importante e necessário para maior liberdade e desenvolvimento da capacidade e do direito da mulher ser desejante no mundo e também na dimensão sexual.  Hoje falamos do clitóris, de sua estrutura interna, hoje se produz clitóris em impressora 3D para criar chaveiros orgulhosamente ostentados pelas mulheres.

A estrutura anatômica do clitóris é conhecida desde o século XVIII, mas é curioso como no século XIX , ele foi  excluído dos principais livros de anatomia, retornando um século depois. De maneira geral as culturas reprimiram o prazer sexual feminino, ou o colocavam como uma EXTENSÃO do prazer masculino. Faz muito pouco tempo que essa cena está mudando. Por isso é preciso falar sobre o corpo, o desejo, a sexualidade e o orgasmo feminino. Por isso o tabu.

Muito prazer: a personagem de Gillian Anderson na série Sex Education, reconhecer o corpo depois dos 50 anos é fundamental para uma vida sexual satisfatória (Foto: Reprodução)

Muito prazer: a personagem de Gillian Anderson na série Sex Education, reconhecer o corpo depois dos 50 anos é fundamental para uma vida sexual satisfatória (Foto: Reprodução)

O que poderia nos dizer sobre a moralização do corpo? Como pode se relacionar com o prazer? Quais caminhos para solucionar essa questão?

Muitas mulheres não valorizam o próprio prazer, não conhecem o próprio corpo, não entendem sua resposta sexual, tem vergonha de falar sobre prazer e orgasmo com seus parceiros/as. E se não sentem desejo espontâneo, vontade de transar, acham que não têm desejo. Isso não é verdade. Elas podem ser mais responsivas , ou seja, podem sentir desejo ao responder a estímulos. A resposta sexual feminina é circular. A masculina é ascendente. Então, a mulher tem que entender seu corpo, valorizar sua sexualidade para entender sua resposta sexual, promover o desejo responsivo. Esse é o caminho.

"A masturbação com vibrador é uma boa solução, mas não sem o incremento da fantasia .. porque a resposta sexual é genital e cerebral, então quanto mais fantasia e motivação, melhor será"

Ana Canosa

Muitas mulheres relatam queda de libido após a menopausa devido às variações de hormônio. Há como reacender a libido? Quais dicas poderia compartilhar?

É importante deixar claro que a menopausa não é uma patologia. Que a ideia de que a mulher perde o desejo (por tudo) depois da menopausa não condiz com a realidade atual e que esse olhar impacta negativamente no psiquismo feminino. A menopausa tem sido vista como um processo de perdas. Os impactos do corpo mais  os aspectos interiorizados vindo da cultura fazem algumas mulheres viverem essa fase e os sintomas de uma maneira muito drástica. Temos que ressignificar essa fase da vida para mudar socialmente a imagem da mulher de 50 e a vida dessas mulheres. Dito isso, vamos aos hormônios. A redução de estrógeno reduz a sensibilidade das terminações nervosas. Na literatura acadêmica, pesquisas mostram que 52% das mulheres referem impacto negativo na função sexual pós menopausa.

Com o decréscimo hormonal da menopausa a resposta sexual tende a ficar mais lenta. Por isso, o desejo sexual espontâneo, aquele que não precisa de motivação e que nasce no corpo, o desejo não responsivo, pode ser mais raro. A mulher 50+ precisa de mais estímulo para a sua resposta sexual. Por outro lado, as mulheres 50 + que tiveram boa experiência sexual ao logo da vida e exploraram mais o corpo têm um conhecimento maior de como chegar ao prazer. E isso equilibra a lentidão da resposta sexual. Na terceira idade, a mulher precisa saber muito mais do corpo e explorar…não dá para meramente esperar o desejo espontâneo surgir.

A dica é explorar o corpo, avaliar e pensar bem na reposição hormonal e nos seus riscos, se adequar a nova fase com todos os recursos que existem. A masturbação com vibrador é uma boa solução, mas não sem o incremento da fantasia .. porque a resposta sexual é genital e cerebral, então quanto mais fantasia e motivação, melhor será. Mas há evidências também que, mulheres que valorizam o sexo, tendem a buscar soluções, seja na reposição hormonal, seja no uso de recursos da medicina natural e essa motivação para manter a sexualidade ativa é extremamente benéfica.

Os cremes de testosterona funcionam?

Depende muito. Para algumas sim, para outras não. O melhor é consultar a sua médica/médico. Quando estiver perto do ápice, você também pode respirar fundo, prender a respiração, contrair a vagina forte. Isso estimula as terminações nervosas e pode levar ao orgasmo. 

Pesquisas no mundo todo  mostram que só cerca de 65% das mulheres experimentam orgasmos nas relações. Algumas jamais experimentaram. Salvo as particularidades de cada mulher... há exercícios, hábitos ou dicas para “chegar lá” ?

desejo sexual e a excitação são muito importantes para o orgasmo—e o orgasmo nem é o fator mais importante, mas o caminho que o faz chegar. Você pode, por exemplo, ter um orgasmo com vibrador e ser meio OK. Ou seja, você terá resposta do corpo, produção de dopamina, mas é bem diferente de ter um caminho de excitação que faz conectar o corpo todo. Cerca de 85%  das mulheres têm o orgasmo por estímulo clitoriano e 25 % tem orgasmo apenas com o estímulo da penetração.

orgasmo é um fenômeno único, a maneira de estimulá-lo é que pode ser diferente. Há mulheres que chegam ao orgasmo através da penetração vaginal, anal; da estimulação do clitóris e, embora controverso, do contato da glande com o colo do útero, o chamado orgasmo de cervical. No entanto, a comunidade científica entende que na verdade é a estrutura interna do clitóris que favorece o orgasmo em qualquer dos casos. 

clitóris, tem única finalidade: dar prazer para mulheres. Estimular o clitóris durante a relação ou na masturbação (faça você mesmo) é um hábito cada vez mais comum entre as mulheres (e de bons resultados). Quando estiver perto do ápice, você também pode respirar fundo, prender a respiração, contrair a vagina forte. Isso estimula as terminações nervosas e pode levar ao orgasmo. E, como disse, orgasmo é fisico e mental, portanto, fantasie, relaxe. E, claro, conheça e explore o seu corpo e sexualidade.

Exercícios pélvicos podem ajudar na excitação a relação no prazer sexual da mulher 50+?

Sim, ajudam bastante a vida sexual. A fisioterapia pélvica é muito indicada para fortalecer o assoalho pélvico e para a mulher ter controle da musculatura pélvica durante a relação sexual. Aumenta a irrigação sangüínea local, o que é ótimo e , além disso, é excelente para a incontinência urinária. 

"Interessante: há mulheres que se sentem ativas e focadas, com vontade de sair fazendo coisas, depois do orgasmo. Isso porque a fase de resolução da mulher é mais longa. O homem tem vontade de dormir, porque a resposta é mais curta e a prolactina entra mais rápido em ação”, Ana Canosa

Momento nerd: o que acontece no organismo, no corpo, na mente, nas emoções, durante o orgasmo?

orgasmo é uma fase da resposta sexual. É o ápice da excitação e resulta em uma descarga da tensão sexual com a liberação de alguns hormônios como a dopamina, que dá uma sensação de relaxamento e bem estar total. Mentalmente há quem descreva a sensação como a “ausência de tempo e espaço”, mas dura alguns segundos. A dopamina é responsável pela motivação, pelo foco. Interessante: há mulheres que se sentem ativas e focadas, com vontade de sair fazendo coisas, depois do orgasmo. Isso porque a fase de resolução da mulher é mais longa. O homem tem vontade de dormir, porque a resposta é mais curta e a prolactina entra mais rápido em ação.

Clitoris. Conte mais, por favor…

Existe só para o prazer feminino. O que a gente vê na genital feminina é só o capuz do clitoris, mas internamente  é um organismo bastante grande, com terminações nervosas que seguem por todos canal vaginal, passando pelo colo do útero, chegando à medula até o cérebro. Toda a região da genitália feminina pode ser bastante explorada. Aproveite!

Fonte:https://vogue.globo.com/semidade/Viva-a-Coroa/noticia/2020/09/transar-e-preciso-vida-sexual-feminina-depois-dos-50.html

Lubrificante: o convidado de honra

A secura vaginal é um dos sintomas mais comuns – e mais chatos – da menopausa. Às interessadas no tema, a gente pergunta: você sabia que não é só secura?

  • MIRIAM DE PAOLI
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Lubrificante: o convidado de honra  (Foto: Reprodução)

Lubrificante: o convidado de honra (Foto: Reprodução)

Com os anos, o nosso corpo vai se transformando e algumas mudanças são mais difíceis de controlar que outras. O envelhecimento da vulva e da vagina é um deles.

Mesmo que o espelho nos mostre uma imagem jovem, a vulva têm a idade do nosso RG. E, com os anos - e graças à queda no estrogênio -, a vagina fica menos lubrificada e nossa vulva menos “gordinha”. Ela vai perdendo a elasticidade, os lábios internos e externos se afinam. Eles ficam menores, se compararmos com a época na qual o estrogênio “reinava” em nosso corpo.

Então, como é que a gente faz pra que essas mudanças não afetem nossa vida
sexual? Uma das melhores soluções: traz o lubrificante para cama!

Se você ainda não o usa – afinal não é preciso ter secura vaginal para usá-lo – vale a pena experimentar.

Existem de todas as cores, sabores e efeitos que você pode imaginar. Mas atenção: quando o assunto é lubrificante, a embalagem importa. E muito.

E não estamos falando da estética, e sim da funcionalidade da embalagem e dos ingredientes. Você imagina um lubrificante com uma embalagem difícil de abrir ou que se esparrama inteiro? O que deveria ser sexy pode acabar sendo cômico se a gente não olhar como a embalagem se abre (e se é fácil de manipular tanto sentada como deitada).

E em relação aos ingredientes então, o cuidado deve ser dobrado. Deve dizer claramente “apto para uso interno” e que seja compatível com o uso de preservativos (a gente pode não engravidar, mas as doenças sexualmente transmissíveis continuam por aí).

Existem óleos corporais que são aptos para uso interno e para ser usados com preservativos. Se a embalagem diz isso, pode usar tranquila. A gente sempre recomenda comprar produtos eróticos (vibradores, lubrificantes, bolas chinesas e tudo mais que você achar legal) em lugares confiáveis. Vale a pena conferir as reviews se for comprar online. E, se for a primeira vez que vai a uma loja, melhor dar uma googleada antes. Não custa nada e pode evitar muitos inconvenientes. Afinal é o nosso corpo!

Se você optar só por lubrificantes, eles vêm desde os mais tradicionais (o famoso KY que a gente encontra em todas as farmácias) até os mais sofisticados com sabores e sensações.
E quando a gente fala de sensações, os mais conhecidos são:

- Calor: é sutil e um dos que faz mais sucesso. Não gera caloooor  (nada parecido a um fogacho…), é só um plus térmico.
- Frio: tem um efeito mentolado e pode ser bastante estimulante. Se a
relação sexual é com um homem, pode ajudar (um pouquinho) a retardar a ejaculação.
- Lubrificantes anais: ATENÇÃO! Só deve ser usado para relações anais. O pH da vagina é diferente do ânus e, em geral, esses lubrificantes têm propriedades relaxantes. A gente não recomenda os que têm xilocaína, já que adormecem o ânus e você pode se machucar sem se dar conta (mas a gente garante que quando o efeito passar a sensação pode não ser nada prazeirosa).

Os lubrificantes podem ser muito divertidos e não tem por que ser um tabu. São simplesmente uma ajuda externa para complementar a nossa sexualidade, facilitar a penetração e aumentar o prazer (especialmente agora, já que muitas vezes a lubrificação está mais escassa).

Uma última dica: encontre uma maneira de tornar o sexo prazeroso para você nessa nova etapa (pode até ser muito diferente do que você sempre gostou).
Como sempre dizemos no No Pausa, a menopausa traz mudanças, sim, mas essas mudanças não anulam a nossa sexualidade, simplesmente a modificam. E vamos aproveitar! Afinal, apesar de a sociedade patriarcal querer que a gente acredite que não é assim, somos seres sexuais até o último dia de nossas vidas. E agora que conhecemos melhor o nosso corpo e que o fantasma da “gravidez não desejada” deixou de existir... é hora de gozar!

Fonte:https://vogue.globo.com/semidade/No-Pausa/noticia/2020/04/lubrificante-o-convidado-de-honra.html

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