CASTRAÇÃO, SACRIFÍCIO OU EXÍLIO: COLÔMBIA ANUNCIA PLANO PARA ACABAR COM 'HIPOPÓTAMOS DA COCAÍNA' IMPORTADOS POR PABLO ESCOBAR

 Um dos descendentes dos hipopótamos importados pelo narcotraficante Pablo Escobar para a Colômbia

Castração, sacrifício ou exílio: Colômbia anuncia plano para acabar com 'hipopótamos da cocaína' de Pablo Escobar

Sem predadores naturais, animais se multiplicaram sem controle e se tornaram uma praga no país desde a morte do narcotraficante, que os importou para sua fazenda

 

Por 

Michael Levenson 

Em The New York Times

25/11/2023 04h31  Atualizado há 7 horas

 


Quando o chefão do narcotráfico colombiano Pablo Escobar foi morto em 1993, a maioria dos animais que ele havia importado — zebras, girafas, cangurus e rinocerontes — morreu ou foi transferida para zoológicos. Mas não seus quatro hipopótamos. Eles prosperaram. Talvez um pouco demais.

Autoridades estimam que cerca de 170 hipopótamos, descendentes do rebanho original de Escobar, agora vagam pela Colômbia. A população pode chegar a mil animais até 2035, representando uma séria ameaça ao ecossistema do país.

Este mês, após anos de debate sobre o que fazer com os vorazes herbívoros, a Colômbia anunciou um plano para esterilizar, abater ou exilar os animais para outros países. Na sexta-feira, uma autoridade disse que quatro hipopótamos — duas fêmeas adultas e dois machos jovens — já haviam sido esterilizados cirurgicamente.

"Estamos em uma corrida contra o tempo em termos de impactos ambientais e ecossistêmicos permanentes", disse Susana Muhamad, ministra do Meio Ambiente da Colômbia, em um comunicado.

As autoridades colombianas descrevem os hipopótamos como uma espécie agressiva e invasiva, sem predadores naturais. Escobar levou os quatro primeiros para sua luxuosa propriedade, a Fazenda Nápoles, na década de 1980, como parte de uma coleção de animais selvagens que ele usava para entreter os convidados.

O filho do narcotraficante, Juan Pablo Escobar, escreveu em um livro, "Pablo Escobar: My Father", que seu pai viajou no início da década de 1980 para um centro de criação de animais selvagens em Dallas, nos EUA, onde negociou um acordo para que os animais fossem levados para sua propriedade. A Fazenda Nápoles também tinha uma pista de pouso, piscinas e uma arena para touradas com mil lugares.

Depois que Escobar foi morto em um tiroteio no telhado com as forças de segurança em Medellín, em 1993, seus hipopótamos ficaram sozinhos. Eles entraram em um lago artificial e se reproduziram, atraindo afeição e ira à medida que se multiplicavam.

Os animais, para o bem ou para o mal, tornaram-se mascotes reconhecíveis na Colômbia, homenageados em esculturas, incluindo a de um hipopótamo rosa gigante chamado Vanesa, que recebe os visitantes da antiga propriedade de Escobar, transformada em um parque temático.

Nos Estados Unidos, a imprensa costuma se referir aos animais como "hipopótamos da cocaína".

Em 2009, um grupo de caçadores que incluía soldados colombianos — na esperança de impedir que os hipopótamos se espalhassem para além da propriedade de Escobar — atirou e matou um chamado Pepe. A caçada provocou protestos, alimentado pela publicação de uma foto dos soldados posando com o hipopótamo morto. Posteriormente, um juiz de Medellín suspendeu a caça à companheira de Pepe e seus descendentes.

A ministra do Meio Ambiente colombiana culpou 30 anos de inação do governo por permitir que os hipopótamos se multiplicassem longe de seu habitat nativo, na África subsaariana. Ela disse que de 130 a 150 animais vivem no rio Magdalena, o principal rio da Colômbia.

A meta do governo é esterilizar 40 hipopótamos por ano. Mas esterilizar um hipopótamo não é como esterilizar ou castrar um gato.

Os hipopótamos podem pesar mais de três toneladas e passam a maior parte do dia chafurdando na água, por isso são mais fáceis de capturar à noite. Especialistas disseram que eles geralmente são tranquilizados com um dardo e submetidos à cirurgia onde quer que aterrissem. Se eles correrem para a água depois de serem atingidos por um dardo, podem se afogar, disseram os especialistas.

"Esse procedimento é muito perigoso, pois o veterinário precisa ser muito habilidoso para esterilizá-lo no menor tempo possível, antes que ele acorde", disse Germán Jiménez, biólogo da Pontifícia Universidade Javeriana, na Colômbia.

Os hipopótamos também poderiam ser atraídos para um cercado com iscas de vegetais, onde seria mais fácil operá-los, disse Jonathan Shurin, ecologista da Universidade da Califórnia, em San Diego, que pesquisou os efeitos dos hipopótamos na qualidade da água na Colômbia.

— Colocá-los sedados em uma posição em que se possa trabalhar neles é a parte mais difícil — disse o Dr. Shurin, acrescentando que o empreendimento "não é para amadores".

As autoridades colombianas dizem que cada esterilização custará cerca de 40 milhões de pesos (R$ 49 mil), e exigirá uma equipe de oito pessoas, incluindo veterinários, técnicos e pessoal de apoio.

Muhamad disse que o governo também estava desenvolvendo um "protocolo de eutanásia ética", mas não disse quantos hipopótamos poderiam ser alvos ou por qual método.

Andrea Padilla, senadora colombiana e ativista dos direitos dos animais, disse que apoiava o plano, desde que ele não exigisse a morte de hipopótamos saudáveis. A eutanásia deve ser o último recurso, disse ela, "principalmente em casos de animais doentes cujo sofrimento o justifique".

Para o Dr. Shurin, seria "muito mais eficaz e humano" controlar a população quando ela é pequena do que quando ela é grande e pode exigir caça extensiva.

— O assunto gerou muitas emoções fortes e temperamentais de ambos os lados — disse ele. — Acho que o plano que eles elaboraram é muito razoável e sensato, e você poderá ver se ele funciona se não vir hipopótamos bebês por aí.

Os pesquisadores alertaram que os hipopótamos, se não forem controlados, podem deslocar outros mamíferos, como peixes-boi e capivaras, e que a grande quantidade de resíduos que eles produzem pode alterar os ecossistemas aquáticos, levando à proliferação de algas nocivas. À medida que os hipopótamos se espalham, eles também podem entrar em contato mais frequente com as pessoas.

Em abril, Aníbal Gaviria Correa, governador da região colombiana de Antioquia, publicou uma foto na mídia social de um hipopótamo morto em uma estrada após ter sido atropelado por um carro. Ele implorou à Muhamad e ao presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que agilizassem a realocação do que ele chamou de "animais majestosos".

Muhamad disse que o governo estava em negociações para que alguns dos hipopótamos fossem realocados para santuários no México, na Índia e nas Filipinas.

Dr. Jiménez expressou preocupação com os planos delineados até agora, dizendo que eles "não são suficientes para controlar" a explosão da população de hipopótamos. Se os hipopótamos não forem totalmente eliminados, disse ele, a Colômbia deve considerar "viver com essa espécie permanentemente".


Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/11/25/castracao-sacrificio-ou-exilio-colombia-anuncia-plano-para-acabar-com-hipopotamos-da-cocaina-de-pablo-escobar.ghtml


Importados por Pablo Escobar, população de ‘hipopótamos da cocaína’ na Colômbia é maior que a estimada; entenda

Perigo para a fauna local, animais viraram atração turística, mas quantidade elevada e reprodução acelerada preocupam especialistas

Por O Globo — Colômbia

16/06/2023 04h00  Atualizado há 5 meses

 


Três décadas após a morte do narcotraficante Pablo Escobar (1949-1993), os colombianos ainda precisam lidar com uma das heranças deixadas por ele: a população invasora de hipopótamos. Perigo para a fauna local, eles viraram atração turística – mas, segundo dados divulgados pela revista científica Nature neste mês, a quantidade destes animais na região é motivo de preocupação.

Há alguns anos, uma projeção feita por pesquisadores indicou que, em 2020, seriam 98 hipopótamos no local. O novo estudo divulgado, porém, contou os animais pessoalmente e por meio de drones chegou a uma estimativa mais alarmante. O número seria, na verdade, entre 180 e 215. Para especialistas, é preciso que a Colômbia adote medidas drásticas para a redução desta população.

— O argumento que usavam para não termos de lidar com os hipopótamos era que nossa informação seria limitada, mas conseguimos descartar isso. O novo estudo mostra que este é um problema real e que o Estado precisa agir urgentemente — disse o ecologista Rafael Moreno, que participou do estudo como membro do Instituto de Pesquisa e Recursos Biológicos Alexander von Humbolt, à Nature.

‘Hipopótamos da cocaína’

Conhecidos no país como “hipopótamos da cocaína”, os animais da região são todos descendentes das três fêmeas e um macho que foram importados ilegalmente para a Colômbia pelo traficante Pablo Escobar. Após sua morte, em 1993, eles fugiram do parque privado onde viviam e se instalaram ao longo do Rio Magdalena.

Sem predadores naturais na região ou períodos de seca como os da África, eles se reproduzem rapidamente – a ponto de serem, hoje, a maior população da espécie fora do continente africano. Agora, autoridades colombianas têm dificuldade para lidar com os animais. Em 2009, o governo chegou a autorizar o abate de um macho, mas a foto dos soldados posando ao lado do animal morto gerou polêmica no país.

Tamanho do problema

O censo dos hipopótamos foi encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente da Colômbia com objetivo de formular uma ideia mais precisa do tamanho do problema, além de buscar soluções para lidar com a situação. Mas concluir a tarefa não foi simples: embora os animais sejam grandes, não são facilmente encontrados, já que possuem hábitos noturnos e passam até 16 horas diárias submersos na água.

As viagens à região foram realizadas em 2021 e 2022 de carro, barco e a pé. Os responsáveis pela contagem foram os cientistas do Instituto Humboldt, da Universidade Nacional da Colômbia e da Corporação Autônoma Regional das Bacias dos Rios Negro e Nare (Cornare), instituição ambiental que administra a área onde os animais vivem.

Os drones foram usados pelos pesquisadores em locais em que eles não teriam segurança. Ao todo, o trabalho indicou que 37% desses animais são jovens, indicativo de que a reprodução continua ocorrendo com rapidez. Uma hipótese para isso é a de que eles têm atingido a idade reprodutiva antes do que ocorre na África por conta das condições climáticas mais favoráveis e da redução de conflitos.

Segundo o material formulado pelos pesquisadores, os hipopótamos têm impactado o ecossistema local. Exemplo disso é a erosão nas margens e os longos caminhos de lama que estão dividindo a floresta – provocados pela entrada e saída desses animais dos rios. Outra consequência é o “roubo” do habitat e dos recursos alimentícios de outras espécies nativas, como peixes, lontras e capivaras.


Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2023/06/importados-por-pablo-escobar-populacao-de-hipopotamos-da-cocaina-na-colombia-e-maior-que-a-estimada-entenda.ghtm



'Cocaine hippos': Colômbia quer extraditar hipopótamos de Pablo Escobar, que já inspiraram filme; entenda

Os cerca de 70 animais, segundo o jornal El Tiempo, devem ser enviados para México e Índia por questões ambientais

 

Por AFP — Rio de Janeiro

03/03/2023 11h17  Atualizado há 8 meses

Setenta hipopótamos que pertenceram ao traficante Pablo Escobar, morto em 1992, devem ser extraditados para México e Índia pelo governo da Colômbia. A informação é do jornal El Tiempo. Os animais, que foram batizados de "cocaine hippos" e já inspiraram até filme, vivem na cidade de Puerto Triunfo, na região de Antioquia, e são considerados uma ameaça ao meio ambiente. Segundo a reportagem, o governo colombiano espera que o traslado comece em dois meses. Países como Equador, Filipinas e Botswana demonstraram interesse em receber alguns dos animais.

Mas por que a Colômbia quer despachar os hipopótamos de Pablo Escobar?

Os animais são descendentes de quatro importados da África para a Colômbia por Escobar em 1993. Atualmente, com uma procriação desenfreada, já são mais de 80. O problema se arrasta há anos. Neste período, o governo colombiano decidiu por esterilizar e sacrificar alguns deles, acusados de devastarem o ecossistema no departamento de Antioquia.

Em janeiro de 2021, Em janeiro, um estudo publicado na revista Biological Conservation apontou que o abate dos animais seria a única forma de mitigar seu impacto ambiental. Na época, a bióloga colombiana Nataly Castelblanco, uma das autoras do estudo disse à BBC que "todos sentimos pena desses animais, mas, como cientistas, precisamos ser honestos".

— Os hipopótamos são uma espécie invasora na Colômbia e se não matarmos uma parte de sua população agora, a situação pode ficar fora de controle em apenas 10 ou 20 anos.

Alguns meses depois, autoridades da Colômbia desistiram da esterilização cirúrgica, por defenderam que o método é muito perigoso e não haveria recursos para realizá-lo em dezenas de animais. Onze integrantes do grupo chegaram a passar pela cirurgia. No mesmo mês, o governo divulgou que decidiu controlar a população com um novo método: dardos carregados com o anticoncepcional GonaCon. Ao todo, 24 hipopótamos foram tratados dessa forma.

Em novembro do mesmo ano, os hipopótamos foram reconhecidos como "pessoas" ou "pessoas interessadas" com direitos legais nos Estados Unidos. A decisão de um tribunal federal do distrito de Ohio foi a primeira do tipo para não-humanos.

A medida gerou polêmica e dividiu a população local. Em julho, um advogado colombiano, Luiz Maldonado, interpôs uma ação na justiça do país em nome dos animais para impedir a morte deles, alegando que a esterilização seria uma melhor solução.

Espécie agressiva pode chegar a pesar 3 toneladas

Escobar deixou um zoológico em sua extravagante Fazenda Nápoles. Lá viviam os animais, contrabandeados da África na década de 1980. A espécie é considerada agressiva e pode chegar a 3 toneladas. A reprodução descontrolada deles aconteceu após a morte do traficante, a partir de quando a fazenda ficou abandonada.

Em 2014, foi lançado o filme "A vida privada dos hipopótamos", da dupla de diretores Maíra Bühler e Matias Mariani. O documentário mostra a história de Christopher Kirk, um técnico de informática americano que se muda para Colômbia após ter lido um artigo sobre os hipopótamos de Pablo Escobar.


Fonte:https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2023/03/colombia-quer-extraditar-hipopotamos-de-pablo-escobar-que-ja-inspiraram-filme-entenda.ghtml



Remover 70 dos hipopótamos de Pablo Escobar custará R$ 17 milhões à Colômbia

Dez animais serão destinados ao Santuário de Ostok, no norte do México, e 60 destinados a uma instalação ainda sem nome na Índia

Por O Globo Com Agências Internacionais

30/03/2023 05h53  Atualizado há 7 meses

A Colômbia disse que o custo da transferência de 70 hipopótamos que pertenciam ao traficante Pablo Escobar para santuários no exterior será de US$ 3,5 milhões, o equivalente a R$ 17 milhões.

Segundo o jornal britânico The Guardian, as autoridades disseram que planejam capturar e mover quase metade dos hipopótamos nos próximos meses, com 10 destinados ao Santuário de Ostok, no norte do México, e 60 destinados a uma instalação ainda sem nome na Índia.

“Toda a operação deve custar cerca de US$ 3,5 milhões”, disse Ernesto Zazueta, proprietário do Santuário de Ostok.

Local onde animais se concentram tem alerta sobre perigo pela presença das espécies — Foto: Arcrebiano Araujo / AFP
Local onde animais se concentram tem alerta sobre perigo pela presença das espécies — Foto: Arcrebiano Araujo / AFP

Ele e o governador local da região colombiana que abriga os hipopótamos dizem que pretendem atrair os animais com iscas para os cercados, onde ficarão confinados antes de serem colocados em caixotes especiais para a transferência.

Após a morte dele, assassinado em uma operação policial em 1993, esses mamíferos foram deixados à própria sorte. Gradualmente, eles povoaram a região de Magdalena Medio, uma savana de clima quente e alimentos abundantes atravessada por rios, pântanos e brejos. Com cenário favorável, agora, eles são considerados o maior rebanho da espécie fora da África.

Os cerca de 150 espécimes que habitam a região estão se reproduzindo de maneira “incontrolável”. O rebanho, porém, chegou com modestos dois animais (um macho e uma fêmea) à região no final dos anos 1980 por encomenda do narcotraficante

Os animais chegam a pesar duas ou três toneladas, e a autoridade ambiental da área que eles habitam, chamada Cornare, registrou dois ataques contra moradores em 2021.

Em 2022, após um malsucedido programa de esterilização, o governo declarou os hipopótamos "espécie invasora" e abriu as portas para a caça. Tanto a Cornare quanto especialistas concordaram que essa era uma "medida necessária", dada a ameaça que os animais representam para a população e fauna locais.


Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2023/03/remover-70-dos-hipopotamos-de-pablo-escobar-custara-r-17-milhoes-a-colombia.ghtml



Comentários