EXPLOSÃO DO CONSUMO DE OPIÓIDES NOS EUA, NOVA ONDA DE OVERDOES MATA 300 PESSOAS POR DIA: ENTENDA COMO FUNCIONA O FENTAMIL NO CÉREBRO
Explosão do consumo de opioides nos EUA: entenda como funciona o Fentanil no cérebro
A maior guerra enfrentada pelos
Estados Unidos neste momento é silenciosa. Uma crise de saúde pública que
começou no final dos anos 1990, com a venda de remédios à base de opioides. As
pílulas produziram uma nação de viciados em drogas - agora mais potentes e
ilegais.
Por Fantástico
17/10/2022 22h03 Atualizado 1
Os repórteres Felipe Santana e Lucas Louis viajaram os Estados Unidos - de comunidades rurais a grandes cidades - e mostraram como uma nova epidemia tem tomado conta das ruas do país. Uma tragédia que, segundo os especialistas, começou dentro dos consultórios médicos.
A epidemia, agora, é o Fentanil. E dois miligramas são capazes de matar.
Fantástico:
Dr. Albert, como é que funciona o Fentanil no cérebro?
Albert: A molécula do Fentanil se acopla exatamente no receptor, tanto da dor quanto da respiração. Fantástico: E aí, o que que ela faz?
Albert: E aí, quando o receptor da dor é acoplado, na maioria dos casos, a dor some.
Fantástico: Depois que essa substância se acoplou a esses receptores da respiração, o sinal vai até o pulmão e o pulmão passa a funcionar mais devagar.
Albert: Bem mais devagar, até o que a gente chama de depressão respiratória e uma parada respiratória.
Fantástico: A pessoa para de respirar...
Albert: Para de respirar, parar de irrigar o coração, e o coração, já sem oxigênio, vai parar.
Fonte:https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/10/17/explosao-do-consumo-de-opioides-nos-eua-entenda-como-funciona-o-fentanil-no-cerebro.ghtml
Cada vez mais americanos morrem por overdose de fentanil, à medida que uma nova onda da epidemia de opioides começa a se espalhar pelas comunidades dos quatro cantos do país.
Há seis anos, Sean morreu de uma overdose acidental por fentanil em Burlington, no Estado de Vermont. Ele tinha 27 anos.
Neste ano, os Estados Unidos testemunharam um marco sombrio: pela primeira vez, as overdoses mataram mais de 100 mil pessoas em todo o país num único ano.
Dessas mortes, mais de 66% estavam ligadas ao fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais poderoso que a heroína.
O fentanil é um produto farmacêutico que pode ser prescrito por médicos para tratar dores intensas.
‘As pessoas param de respirar antes que se deem conta’: o que o fentanil faz com o cérebro
Mas a droga também é fabricada e vendida por traficantes. A maior parte do fentanil ilegal encontrado nos EUA é traficado a partir do México e usa produtos químicos provenientes da China, de acordo com o Drug Enforcement Administration (DEA), órgão federal encarregado da repressão e do controle de narcóticos
Em 2010, menos de 40 mil pessoas morreram por overdose de drogas em todo o país, e menos de 10% dessas mortes estavam ligadas ao fentanil.
Naquela época, as mortes eram causadas principalmente pelo uso de heroína ou opioides prescritos por profissionais de saúde.
A mudança de cenário é detalhada num estudo divulgado recém-publicado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
O trabalho examina as tendências nas mortes por overdose no país entre 2010 e 2021, utilizando dados compilados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
O aumento das mortes relacionadas à droga foi observado pela primeira vez em 2015, revelam as estatísticas.
Desde então, o entorpecente se espalhou pelo país e a taxa de mortalidade cresceu de forma acentuada.
Mas, em 2019, “o fentanil passa a fazer parte do fornecimento de drogas no oeste dos EUA e, de repente, esta população que estava resguardada também ficou exposta, e as taxas de mortalidade começaram a subir”, segundo a pesquisadora
Na pesquisa recente, os especialistas alertam para outra tendência crescente: as mortes relacionadas ao consumo de fentanil em conjunto com drogas estimulantes, como a cocaína ou a metanfetamina.
Essa tendência é observada em todos os EUA, embora de formas diferentes devido aos padrões de consumo que diferem de região para região.
Os investigadores encontraram, por exemplo, taxas de mortalidade mais elevadas relacionadas ao consumo de fentanil e cocaína em Estados do nordeste dos EUA, como Vermont e Connecticut, onde os estimulantes geralmente são de fácil acesso.
Mas em praticamente todos os cantos do país, da Virgínia à Califórnia, as mortes foram causadas principalmente pelo uso de metanfetaminas e fentanil.
Blake, que também é médica, disse que seu filho usava cocaína esporadicamente, embora o exame toxicológico tenha encontrado apenas fentanil em seu organismo.
Ela aprendeu que muitos misturam diferentes substâncias para obter uma sensação prolongada.
Quando o fentanil chegou pela primeira vez aos EUA como parte do tráfico, “muitas pessoas não o queriam”, lembra Shover. Mas o opioide sintético tornou-se amplamente disponível porque é mais barato de produzir em comparação com outras drogas.
Ele também é altamente viciante — isso significa que dependentes ficam expostos ao entorpecente e muitas vezes o procuram como uma forma de evitar abstinências dolorosas relacionadas a outras substâncias.
Nos EUA, o estudo identificou que Alasca, Virgínia Ocidental, Rhode Island, Havaí e Califórnia como os estados com as taxas mais elevadas de mortes por overdose em que há mistura de fentanil e estimulantes.
Esses locais têm taxas historicamente altas de uso de drogas, segundo Shover. Com a chegada do fentanil, esse consumo tornou-se ainda mais letal.
Um problema que atravessa classes sociais
A crise dos opioides tem sido tradicionalmente retratada como um “problema dos brancos”, destaca Shover.
No entanto, o estudo recente revelou que os afro-americanos estão morrendo ao combinar fentanil e estimulantes a taxas mais elevadas, em todas as faixas etárias e limites geográficos.
Para Rasheeda Watts-Pearson, especialista em redução de danos baseada em Ohio, nos EUA, os dados refletem o que é visto na prática.
Ela faz um trabalho de divulgação com a A1 Stigma Free, uma organização fundada há apenas oito meses para combater um aumento notável de mortes por overdose na comunidade afro-americana de Cincinnati.
Como parte do trabalho, Watts-Pearson visita frequentemente barbearias, bares e mercearias para falar com as pessoas sobre os impactos do fentanil.
Ela considera que há falta de conscientização sobre o tema, motivada em parte pelas disparidades históricas de saúde vivenciadas por grupos raciais e étnicos.
Mesmo as campanhas de marketing feitas para conscientizar sobre a crise dos opioides não incluem a experiência dos negros americanos, critica ela.
Ela aponta que as drogas misturadas com fentanil são uma grande barreira para a comunidade. Segundo a ativista, muitas pessoas acabam consumindo o entorpecente sem saber — e desenvolvem uma dependência. “Os legistas veem pessoas com overdose que morreram por causa de cocaína, crack e vestígios de fentanil”, diz ela.
“Isso está infiltrado na comunidade negra e não há gente suficiente falando sobre o assunto.”
Rasheeda Watts-Pearson (à esquerda) tem trabalhado com A1 Stigma Free para aumentar a conscientização sobre o impacto da epidemia de fentail na comunidade afro-americana de Cincinnati, Ohio — Foto: A1 STIGMA FREE via BBC
Uma quarta onda
O abuso de fentanil em combinação com outras drogas marca o início de uma “quarta onda” da crise nos EUA, avaliam os pesquisadores.
A primeira onda de overdoses aconteceu no final dos anos 1990, com mortes por opioides com prescrição médica. Em 2010, houve uma segunda onda de overdoses, dessa vez causadas por heroína. E em 2013, surgiu uma terceira onda, graças à proliferação de drogas ilícitas análogas ao fentanil.
Especialistas como a professora Shover alertam que as opções de tratamento para a quarta onda não acompanham a demanda.
“Mas a realidade é que muitos usuários usam mais de um tipo de droga.”
Para manter viva a memória de seu filho, Blake decidiu falar abertamente sobre a perda e tenta ajudar outras famílias a passar pela mesma dor.
Seu filho fez tratamentos contra dependência algumas vezes.
A experiência ensinou à Blake que as opções terapêuticas variam de Estado para Estado e, em muitos casos, o que está disponível não é suficiente.
Blake também sugere a criação de locais para a prevenção de overdose, onde as pessoas pudessem usar drogas com segurança e sob supervisão.
Esses lugares estão amplamente disponíveis no Canadá — que tem a sua própria crise de fentanil — mas existem apenas duas instalações do tipo nos EUA inteiro.
Acima de tudo, Blake apelou à compaixão e à compreensão para aqueles que lutam contra o uso de substâncias. “A maioria das pessoas com quem converso dizem que seus filhos não queriam morrer.”
Fonte:https://contilnetnoticias.com.br/2023/09/fentanil-como-nova-onda-de-overdoses-assola-eua-e-mata-quase-300-por-dia/
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