CHOGYAM TRUNGPA, O GUERREIRO ESPIRITUAL DE SHAMBALA: A HISTÓRIA DE UM LAMA TIBETANO REVOLUCIONÁRIO NA ERA DO MOVIMENTO HIPPIE NO MUNDO
Vidyadhara Chögyam Trungpa Rinpoche (tibetano: ཆོས་ རྒྱམ་ དྲུང་པ་ Wylie: Chos rgyam Drung pa ; também conhecido como Dorje Dradul de Mukpo , Surmang Trungpa , em homenagem a seu mosteiro, ou Chökyi Gyatso , do qual Chö gyam é uma abreviatura) era um Mestre de meditação budista, estudioso, professor, poeta e artista. Ele foi o 11º descendente da linha de Trungpa tulkus da escola Kagyü do Budismo Tibetano. Ele também foi treinado na tradição Nyingma, a mais antiga das quatro escolas, e foi um adepto do rimay ou movimento "não sectário" dentro do Budismo Tibetano, que aspirava reunir e disponibilizar todos os valiosos ensinamentos das diferentes escolas. , livre de rivalidade sectária.
Vidyadhara Chögyam Trungpa Rinpoche
Chögyam Trungpa Rinpoche foi um dos mestres budistas mais dinâmicos e controversos do século XX. Foi um dos pioneiros em trazer os ensinamentos budistas do Tibete para o Ocidente, e a ele se deve a introdução de muitos conceitos budistas na língua inglesa e no psiquismo, de uma maneira nova e única. Ao definir o verbete ego, por exemplo, o dicionário inglês da Universidade de Oxford passou a consignar também a acepção utilizada por Chögyam Trungpa Rinpoche. Fundou a Universidade Naropa, primeira instituição de ensino superior de inspiração budista das Américas, assim como uma rede de mais de uma centena de centros de meditação pelo mundo todo. Escreveu muitos livros sobre meditação, budismo, poesia, arte e sobre o caminho Shambhala da condição guerreira. Numerosos grandes mestres detentores de linhagens tibetanas foram por ele trazidos, pela primeira vez, para ensinar nos Estados Unidos e no Canadá. Os milhares de estudantes por ele atraídos continuam a propagar seus ensinamentos e seu legado neste novo milênio.
Biografia
O Vidyadhara Chögyam Trungpa Rinpoche (1939-1987) foi o 11.º descendente na linhagem dos tülkus Trungpa, mestres importantes da linhagem Kagyü, uma das quatro escolas principais do budismo tibetano e conhecida por sua forte ênfase na prática da meditação. Além de ser um professor-chave dentro da linhagem Kagyü, Chögyam Trungpa foi também treinado na tradição Nyingma, a mais antiga das quatro escolas, e aderiu ao movimento ecumênico ri-me (“não sectário”) dentro do budismo tibetano, que tinha por aspiração coletar e tornar disponíveis os valiosos ensinamentos de diferentes escolas, sem que houvesse rivalidade sectária. Ao longo de sua vida, procurou levar à maior audiência possível os ensinamentos que tinha recebido.
Chögyam Trungpa Rinpoche quando jovem
Após já ter assumido a posição de superior dos monastérios Surmang no Leste do Tibete, Trungpa foi obrigado a fugir do país em 1959, com 20 anos de idade. Mal escapando dos invasores chineses, ele e uma pequena comitiva de monges fizeram uma perigosa viagem a cavalo e a pé pelos Himalaias, para alcançar a Índia. De 1959 a 1963, por indicação de Sua Santidade, o Dalai Lama, Chögyam Trungpa serviu como conselheiro espiritual para o Lar Escola para Jovens Lamas, em Dalhousie, na Índia.
Em 1963, Chögyam Trungpa mudou-se para a Inglaterra para estudar religiões comparadas, filosofia e belas-artes na Universidade de Oxford, como bolsista Spaulding. Nesse período, também estudou ikebana, a arte japonesa do arranjo de flores, e recebeu um diploma de instrutor da escola Sogetsu. Em 1967, mudou-se para a Escócia, onde fundou o Centro de Meditação Samye Ling, o primeiro dos seus centros de prática no Ocidente. Logo depois, diversas experiências — inclusive um acidente de automóvel que o deixou com o lado esquerdo paralisado — levaram Chögyam Trungpa à decisão de abandonar seus votos monásticos e trabalhar como um professor leigo. Em 1969, publicou “Meditation in action” (Meditação na ação), a primeira das 14 obras sobre o caminho espiritual que publicou em vida. O ano seguinte foi ainda marcado por outro ponto de inflexão na vida de Trungpa: seu casamento com Diana Pybus e sua mudança para os Estados Unidos. Lá ele fundou seu primeiro centro de meditação na América, Tail of the Tiger (A Cauda do Tigre, conhecido agora como Karmê-Chöling), em Barnet, no estado de Vermont.
Nos Estados Unidos dos anos 70, os antigos ensinamentos e as instruções práticas que Chögyam Trungpa trouxe consigo encontraram uma audiência ávida. Durante essa década ele viajou constantemente através da América do Norte, publicou 6 livros, fundou 3 centros de meditação e uma universidade contemplativa (Universidade Naropa). Tornou-se conhecido pela sua habilidade única para apresentar a essência dos mais elevados ensinamentos budistas de uma forma facilmente compreensível para os estudantes ocidentais.
Durante esse período, Chögyam Trungpa dirigiu 6 Seminários Vajradhatu, programas residenciais de 3 meses nos quais ele apresentava o vasto corpo de ensinamentos budistas em uma atmosfera de intensa prática de meditação. Os seminários auxiliavam na importante tarefa de treinar seus estudantes para que também se tornassem professores. Chögyam Trungpa também convidou outros mestres, inclusive Sua Santidade, o Gyalwang Karmapa — chefe da linhagem Kagyü —, para que viessem ao Ocidente e oferecessem seus ensinamentos (foto à esquerda, com Trungpa).
Foi também nessa época que Chögyam Trungpa fundou o Vajradhatu (com sede em Boulder, no Colorado), organização central colocada acima dos muitos centros que surgiam por todo o mundo, sob sua direção. Em 1976, designou Thomas Rich para ser seu Regente Vajra, uma tradicional posição que se confere a alguém com a responsabilidade de dar prosseguimento à transmissão do legado de ensinamentos deixado por um mestre. O Regente Vajra Ösel Tendzin foi o primeiro ocidental a ser reconhecido como detentor da linhagem, dentro da tradição Kagyü (na foto acima ele está atrás do Karmapa, à esquerda).
Além do Budismo
No fim da década de 70, Chögyam Trungpa realizou um desejo havia muito acalentado, de apresentar a prática contemplativa aos que não estivessem necessariamente interessados em estudar o budismo. Ele desenvolveu um programa chamado de Aprendizado Shambhala, inspirado no legendário reino iluminado de mesmo nome.
Durante os anos 80, enquanto continuava suas viagens para ensinar, ministrava os seminários Vajradhatu e publicava livros — e fundava um mosteiro budista no cabo Breton, na Nova Escócia, no Canadá —, Trungpa cada vez mais voltava sua atenção para a propagação de ensinamentos que se estendiam além dos cânones budistas. Essas atividades incluíam não apenas o Aprendizado Shambhala, que vinha atraindo milhares de estudantes, mas também a arte japonesa do arco-e-flecha, caligrafia, arranjo de flores, cerimônia do chá, dança, teatro e psicoterapia, entre outras. Ao plantar as sementes dessas muitas atividades, Chögyam Trungpa, em suas próprias palavras, buscou trazer “a arte para a vida diária”. Criou em 1974 a Fundação Nalanda, para abrigar essas atividades.
A essência das organizações que Chögyam Trungpa tinha fundado era oferecer instrução de meditação e programas de ensino em mais de 100 centros urbanos (Dharmadhatus) espalhados por todo o mundo e em diversos centros contemplativos rurais onde eram ministrados programas intensivos de meditação e estudos. Nesses vários centros, que formavam uma grande rede informal, apresentava-se aos estudantes a possibilidade de integrar os estudos e a prática da meditação à vida diária. Dependendo de seu interesse e inclinação, esses estudantes se dedicavam a quaisquer das muitas atividades contemplativas que hoje são parte da organização de Shambhala — da prática tradicional de meditação ao arranjo de flores e à dança.
Uma nova era
Em 1986, com base em seu desejo de instalar a sede de sua organização em uma atmosfera menos agressiva e materialista, Chögyam Trungpa mudou-se para a Nova Escócia, onde já se haviam estabelecido centenas de seus estudantes.
Esta seria sua última mudança. Pouco depois, em abril de 1987, Chögyam Trungpa viria a falecer.
Seu passamento foi marcado por uma elaborada cerimônia realizada na propriedade de Vermont, onde ele havia estabelecido sua primeira base na América. O funeral estendeu-se por todo um dia e atraiu mais de 3 mil pessoas. Muitos anos depois, o Regente Vajra também veio a falecer. Durante o período que seguiu essas mortes, a comunidade e suas lideranças voltaram-se para um dos mais reverenciados mestres de Chögyam Trungpa, e o único que lhe havia sobrevivido: Dilgo Khyentse Rinpoche, o então chefe supremo da linhagem Nyingma.
Tributo a Chögyam Trungpa celebrando seu 24o. Parinirvana, feito por um de seus filhos, o cineasta Gesar Mukpo:
Fonte:https://shambhala-brasil.org/sobre-shambhala/mestres/vidyadhara-chogyam-trungpa-rinpoche/
Trungpa Rinpoché
De Wikipedia, a enciclopédia livre
Trungpa Rinpoché (Qinghai, Tibete, fevereiro de 1939 - Halifax, Nova Escócia, Canadá, 4 de abril de 1987) foi um mestre de meditação da linhagem do Budismo Tibetano.
Trungpa Rinpoché | |
Nascimento | 5 de março de 1939 |
Morte | 4 de abril de 1987 (47–48 anos) |
Cidadania | Inglaterra, Tibete, Estados Unidos |
Filho(s) | Sakyong Mipham, Gesar Mukpo |
| |
Ocupação | |
Obras destacadas | Shambhala: The Sacred Path of the Warrior, divine madness |
Religião | Shambhala Buddhism |
Causa da morte | |
Página oficial | |
Biografia
Nasceu na província de Kham, na parte setentrional do Tibete oriental, em 1939.
Aos treze meses, foi reconhecido como a décima primeira reencarnação da linhagem dos Trungpa tulku. E como todo jovem tulku, foi desde cedo educado de maneira intensa nos estudos e práticas dos ensinamentos budistas. Aos cinco anos, foi coroado como abade supremo dos monastérios de Surmang.
Ordenado monge aos oito anos, ele se consagrou ao estudo e à prática das diversas disciplinas monásticas tradicionais, assim como à arte da caligrafia, da pintura em tangka e as danças monásticas. Com apenas quatorze anos de idade, ele confere a abhisheka do Rintchen Terdzö. Um tulku tão jovem dando uma abhisheka que duraria quase seis meses era então um evento excepcional.
Ele estudara com Jamgon Kontrul de Sétchèn, que foi seu guru-raiz e com quem ele permaneceu alguns anos. Jamgön Kontrül ensinava de forma direta e demonstrava em seguida como aplicar a realização final em cada momento da vida quotidiana. Esse mestre se tornou um exemplo e uma fonte de inspiração permanente para Trungpa Rinpoché durante toda sua vida.
Chögyam Trungpa estudou também ao lado de Dilgo Khyentsé, que lhe transmitiu os ensinamentos da Grande Perfeição ou Atiyoga. Graças a esses dois mestres, ele fora fortemente marcado pelos ensinamentos Nyingma. Khenpo Ganshar, filho espiritual de Jamgön Kontrül, foi igualmente alguém muito proximo do jovem Chögyam Trungpa.
Em 1958, ele fora ensinar nos monastérios de Surmang. Pressentindo que os habitantes dali estariam brevemente sujeitos à própria sorte, ele apresentou-lhes então rapidamente os ensinamentos essenciais. Chögyam Trungpa aprendera dessa forma a indicar diretamente a natureza do espírito a um grande numero de estudantes.
Em 1959, em razão da invasão do Tibete pelos chineses, ele foi obrigado a partir em exílio. Com apenas vinte anos ele teve que abandonar seu pais e fugir; atravessando os Himalaias em condições extremamente difíceis. Ele liderou um grupo de trezentas pessoas numa viagem que durou quase dez meses. A maioria dessas pessoas foram feitas prisioneiras pelos chineses, e apenas dezenove conseguiriam escapar.
Na Índia
O período passado na Índia, de 1959 a 1963, foi marcado pela “fascinação e pela curiosidade”. Fréda Bédi, que trabalhava então para o governo da India, no escritório central de apoio aos refugiados tibetanos, o ajudou muito, se tornando um pessoa de importância capital.
Uma das primeiras mulheres a ter obtido um diploma da Oxford, ela era esposa de Baba Bédi, um nacionalista sikh, com quem ela veio morar no Penjab. Ela se tornaria então um figura importante na luta pelos direitos das mulheres dessa região. No final da década de 50, ela decide se consacrar a causa dos tibetanos, para em seguida se tornar monja no monastério de Karmapa. Ela convida Chögyam Trungpa para viver com sua familia em Kalipong, se tornando sua tutora e se comportando com ele como uma verdadeira mãe.
Chögyam Trungpa foi então nomeado pelo Dalai Lama como conselheiro espiritual dos jovens tülkous na escola dirigida por Fréda Bédi, em Dalhousie. Em 1963, o jovem Trungpa recebe uma bolsa des estudos da fundação Spalding para a Universidade de Oxford.
A Inglaterra e as primeiras tentativas de transmissão no Ocidente
Na Inglaterra, ele faz estudos de religião comparada e filosofia ocidental. Ele demonstra um enorme interesse pela historia da arte, visitando Londres e seus museus, e sentindo uma fascinação particular pela arte contemporânea, que “passava além de qualquer hesitação, para expressar livremente tudo aquilo que poderia passar na cabeça de cada um”.
Descobre assim a arte japonesa. Estuda ikebana, forma tradicional de arranjo floral, ao lado de Stella Coe, mestre da escola Sogetsu, de onde ele recebe mais tarde o diploma de instrutor. Muito interessado pela poesia, ele publica na Inglaterra sua antologia de poemas, sob o titulo de "Mudra".
Impressionado com a riqueza da cultura ocidental, percebeu ao mesmo tempo as possibilidades de apresentar os ensinamentos budistas nesse contexto. Nesse intuito, ele fundou em 1968, em Dumfriesshire, Escócia, o Centro de Meditação de Samyé Ling - nome do primeiro monastério tibetano, implantado por Padmasambhava, no século VIII. Publicou então dois livros: "Nascido no Tibet" e "Meditação e ação".
Mais tarde, vitima de um grave acidente: seu carro colide violentamente com a vitrine de uma loja. Conduzido inconsciente ao hospital, posteriormente é dado o grave diagnostico: o lado esquerdo de seu corpo fica paralisado para sempre.
Foi uma mensagem importante para ele que decide então abandonar o estilo de vida monástico que até então ele havia seguido. A partir daí renuncia a tudo o que criava entre ele e seus alunos “uma espécie de aura insondável” e que constituísse um obstáculo na sua relação com eles. Abandona seus votos de monge e suas vestimentas “exóticas”. Mais tarde se casa com uma jovem inglesa, Diana Pybus.
Em outubro de 1973 já nos EUA, foi feito o primeiro seminário de Vajradathu, no hotel Jackson Hole, em Wyoming, que mais tarde aconteceria todos os anos. O seminário era um retiro de estudos e meditação de três meses, durante os quais eram apresentados, um após o outro, os três yanas – o hinayana, o mahayana e o vajrayana.
Chögyam Trungpa pode apresentar de maneira aprofundada e progressiva os ensinamentos budistas da escola Kagyü e Nyingma. Ele introduziu pela primeira vez os ensinamentos do vajrayana em toda sua força. Alguns meses após o seminário, ele autorizou alguns de seus estudantes a começarem as práticas de Ngöndro, ou preliminares.
Em 1974, foi fundado o Instituto Naropa, inspirado no modelo da célebre universidade budista indiana de Nalanda, que recebia estudantes budistas e não budistas vindos de toda a Ásia. No seu primeiro ano de existência, foram dados ensinamentos de tai-chi, cerimônia do cha, antropologia, física e psicologia, escrita e poesia, entre outros. Mais de dois mil estudantes freqüentaram a universidade.
Em 1977, apos um retiro de vários meses, Chögyam Trungpa Rinpoché apresentou os ensinamentos Shambhala, o caminho sagrado do guerreiro – guerreiro aqui não aquele que faz a guerra, mas sim aquele que é corajoso e autentico o bastante para aceitar entrar em contato com seu próprio coração.
Essas instruções afirmam que cada um de nos pode fazer nascer a cada momento a confiança inextinguível que possuímos e que nos permite de ir além do medo e do mundo confinado dentro do qual esse medo nos aprisiona. Existe na realidade uma sabedoria iluminada, ou bondade fundamental inerente à cada um, e que podemos à qualquer momento invocar.
A aprendizagem Shambhala, que ele estabelece em 1978, apresenta a possibilidade de seguir um caminho espiritual despido de qualquer dogma religioso. A importância é dada na idéia de aliar espiritualidade e vida quotidiana. “Geralmente, a religião é ligada ao fato de punir a si mesmo. As pessoas levam muito a sério até hoje o pecado original. Deveríamos deixar isso de lado. Talvez a bondade original devesse substituir o pecado original”, diz ele em 1985.
Dordjé Dradül, “Guerreiro indestrutível”, título enquanto detentor dos ensinamentos Shambala, afirma que esses ensinamentos são a expressão primordial de sua ação ao longo dessa vida. Ele indicou a urgência de fundar aqui mesmo o reinado de Shambhala, considerado geralmente como algo de caráter apenas mítico.
O ano de 1977 é marcado também pela sua primeira visita a Nova Escócia, no Canadá, onde decide se instalar. A partir de 1982, a sua maneira de ensinar se transforma mais uma vez, se tornando cada vez mais objetiva e simples - mas ao mesmo tempo guardando um sentido continuo de transmissão direta do espírito de iluminação. Em 1985, ele parte em retiro pra Mill Village, em Nova Escócia.
Em 28 de setembro de 1986, com a saúde debilitada devido a um acidente de carro em sua juventude e anos de abuso de álcool, sofreu uma parada cardíaca. Depois disso sua condição de saúde se deteriorou ainda mais, necessitando de cuidados intensivos no hospital e em sua casa, e, finalmente, de volta ao hospital, Chögyam Trungpa faleceu no dia 4 de abril de 1987, em Halifax.
Ligações Externas
- Chögyam Trungpa - Shambhala
- Chögyam Trungpa Rinpoche Straight Up!
- The Chronicles of Chögyam Trungpa Rinpoche
- Recalling a Buddha (documentário sobre o XVI Karmapa), inclui um comentário de Tenga Rinpoche e Judith Lief descrevendo os preparativos para uma das turnês do Karmapa aos EUA.
Referências
1. Hayward, 2008, p 367
- Hayward, Jeremy (2008). Warrior-King of Shambhala: Remembering Chögyam Trungpa. ISBN 0-86171-546-2
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Chogyam Trungpa Rinpoche
Chögyam Trungpa Rinpoche , também conhecido como Surmang Trungpa Chökyi Gyamtso (tib. ཟུར་མང་དྲུང་པ་ཆོས་ཀྱི་རྒྱ་མཚོ ་, Wyl. zur mang drung pa chos kyi rgya mtsho ) (1940-1987) — um mestre de meditação, professor e artista, nascido em Kham , leste do Tibete. Ele foi abade supremo - o Décimo Primeiro Surmang Trungpa - do Mosteiro de Surmang , onde recebeu o grau de khenpo aos dezoito anos. Seus principais professores foram Shechen Kongtrul Pema Drimé Lekpé Lodrö , Dilgo Khyentse Rinpoche , o Décimo Sexto Karmapa , e Khenpo Gangshar.. Ele viajou para os Estados Unidos em 1970 e é o fundador da Naropa University e da Shambhala International.
Leitura adicional
· Chögyam Trungpa, nascido no Tibete , George Allen & Unwin, 1966
· Diana J. Mukpo, Dragon Thunder: Minha vida com Chögyam Trungpa (Boston: Shambhala, 2006)
Publicações
· Chögyam Trungpa, Atenção plena em ação (Shambhala, 2015)
· Chögyam Trungpa, A xícara de chá e a taça de caveira - onde o Zen e o Tantra se encontram (Shambhala, 2015)
· Chögyam Trungpa, O Profundo Tesouro do Oceano do Dharma
o Volume Um: O Caminho da Libertação Individual (Shambhala, 2014)
o Volume Dois: O Caminho do Bodhisattva da Sabedoria e da Compaixão (Shambhala, 2014)
o Volume Três: O Caminho Tântrico da Vigília Indestrutível (Shambhala, 2013)
· Chögyam Trungpa, Trabalho, sexo, dinheiro – a vida real no caminho da atenção plena (Shambhala, 2011)
· Chögyam Trungpa, A linhagem do acidente - transformando confusão em sabedoria (Shambhala, 2011)
· As Obras Coletadas de Chögyam Trungpa (Shambhala, 2004)
o Volume Um: Nascido no Tibete ; Meditação em Ação ; Mudra e escritos selecionados
o Volume Dois: O Caminho é a Meta ; Treinando a Mente ; Vislumbres do Abhidharma ; Vislumbres de Shunyata ; Vislumbres do Mahayana e escritos selecionados
o Volume Três: Cortando o Materialismo Espiritual ; O Mito da Liberdade ; O Coração do Buda ; Escritos Selecionados
o Volume Quatro: Jornada sem Meta ; O Rugido do Leão ; O Amanhecer do Tantra ; Uma entrevista com Chogyam Trungpa
o Volume Cinco: Sabedoria Louca ; Jogo da Ilusão ; A Vida de Marpa (Trechos); A Chuva de Sabedoria (Trechos); O Sadhana de Mahamudra (Trechos); Escritos Selecionados
o Volume Seis: Vislumbres do Espaço ; Caos Ordenado ; Segredo além do pensamento ; O Livro Tibetano dos Mortos: Comentário ; Transcendendo a Loucura ; Escritos Selecionados
o Volume Sete: A Arte da Caligrafia (Trechos); Arte do Dharma ; Dharma Visual (Trechos); Poemas Selecionados ; Escritos Selecionados
o Volume Oito: Grande Sol Oriental ; Shambhala ; Escritos Selecionados
Links internos
Leitura adicional
Publicações
Links internos
Linha de Encarnação Surmang Trungpa
A Linha de Encarnação Surmang Trungpa (Tib. ཟུར་མང་དྲུང་པ་, Wyl. zur mang drung pa ) -
- Kunga Gyaltsen (Tib. ཀུན་དགའ་རྒྱལ་མཚན་, Wyl. kun dga' rgyal mtshan ) (n. séc. XV)
- Kunga Zangpo (tib. ཀུན་དགའ་བཟང་པོ་, Wyl. kun dga' bzang po )
- Kunga Özer (tib. ཀུན་དགའ་འོད་ཟེར, Wyl. kun dga' 'od zer )
- Kunga Namgyal (tib. ཀུན་དགའ་རྣམ་རྒྱལ་, Wyl. kun dga' rnam rgyal )
- Drupgyü Tenpa Namgyal (tib. སྒྲུབ་བརྒྱུད་བསྟན་པ་རྣམ་རྒྱལ་, Wyl. sgrub brgyud bstan pa rnam rgyal )
- Tenzin Chögyal (tib. བསྟན་འཛིན་ཆོས་རྒྱལ་, Wyl. bstan 'dzin chos rgyal )
- Karma Rabsel (tib., ཀརྨ་རབ་གསལ་, Wyl. karma rab gsal )
- Gyurmé Tenphel (Tib. འགྱུར་མེད་བསྟན་འཕེལ་, Wyl. 'gyur med bstan 'phel )
- Gelek Chökyi Nyima (tib. དགེ་ལེགས་ཆོས་ཀྱི་ཉི་མ་, Wyl. dge pernas chos kyi nyi ma ) (falecido em 1870)
- Karma Chökyi Nyinché (tib. ཀརྨ་ཆོས་ཀྱི་ཉིན་བྱེད་, Wyl. karma chos kyi nyin byed ) (1879?-1939)
- Chökyi Gyamtso (tib. ཆོས་ཀྱི་རྒྱ་མཚོ་, Wyl. chos kyi rgya mtsho ), também conhecido como Chögyam Trungpa Rinpoche (1940-1987)
- Chökyi Sengé (tib. ཆོས་ཀྱི་སེང་གེ་, Wyl. chos kyi seng ge ) (n. 1989), que atualmente reside no Mosteiro Surmang Dutsi Til (tib. ཟུར་མང་ Mais པ་, Wyl. zur mang bdud rtsi mthil dgon pa ), Tibete Oriental, a sede tradicional dos Surmang Trungpas.
A Linha de Encarnação Surmang Trungpa (Tib. ཟུར་མང་དྲུང་པ་, Wyl. zur mang drung pa ) -
- Kunga Gyaltsen (Tib. ཀུན་དགའ་རྒྱལ་མཚན་, Wyl. kun dga' rgyal mtshan ) (n. séc. XV)
- Kunga Zangpo (tib. ཀུན་དགའ་བཟང་པོ་, Wyl. kun dga' bzang po )
- Kunga Özer (tib. ཀུན་དགའ་འོད་ཟེར, Wyl. kun dga' 'od zer )
- Kunga Namgyal (tib. ཀུན་དགའ་རྣམ་རྒྱལ་, Wyl. kun dga' rnam rgyal )
- Drupgyü Tenpa Namgyal (tib. སྒྲུབ་བརྒྱུད་བསྟན་པ་རྣམ་རྒྱལ་, Wyl. sgrub brgyud bstan pa rnam rgyal )
- Tenzin Chögyal (tib. བསྟན་འཛིན་ཆོས་རྒྱལ་, Wyl. bstan 'dzin chos rgyal )
- Karma Rabsel (tib., ཀརྨ་རབ་གསལ་, Wyl. karma rab gsal )
- Gyurmé Tenphel (Tib. འགྱུར་མེད་བསྟན་འཕེལ་, Wyl. 'gyur med bstan 'phel )
- Gelek Chökyi Nyima (tib. དགེ་ལེགས་ཆོས་ཀྱི་ཉི་མ་, Wyl. dge pernas chos kyi nyi ma ) (falecido em 1870)
- Karma Chökyi Nyinché (tib. ཀརྨ་ཆོས་ཀྱི་ཉིན་བྱེད་, Wyl. karma chos kyi nyin byed ) (1879?-1939)
- Chökyi Gyamtso (tib. ཆོས་ཀྱི་རྒྱ་མཚོ་, Wyl. chos kyi rgya mtsho ), também conhecido como Chögyam Trungpa Rinpoche (1940-1987)
- Chökyi Sengé (tib. ཆོས་ཀྱི་སེང་གེ་, Wyl. chos kyi seng ge ) (n. 1989), que atualmente reside no Mosteiro Surmang Dutsi Til (tib. ཟུར་མང་ Mais པ་, Wyl. zur mang bdud rtsi mthil dgon pa ), Tibete Oriental, a sede tradicional dos Surmang Trungpas.
Leitura adicional
- Chögyam Trungpa , The Mishap Lineage — Transforming Confusion into Wisdom , Editado por Carolyn Rose Gimian (Boston: Shambhala, 2009)
Links externos
- Chögyam Trungpa , The Mishap Lineage — Transforming Confusion into Wisdom , Editado por Carolyn Rose Gimian (Boston: Shambhala, 2009)
Links externos
Chögyam Trungpa
Chögyam Trungpa , também chamado de Chögyam Trungpa Rinpoche , (nascido em fevereiro de 1940, Kahm, Tibete - falecido em 4 de abril de 1987, Halifax , Nova Escócia, Canadá), abade do Mosteiro Surmang no Tibete (China) e fundador da organização budista tibetanaShambhala International, que foi criada nos Estados Unidos na segunda metade do século XX para divulgar os ensinamentos budistas, especialmente a prática da meditação . Ele é frequentemente referido como Chögyam Trungpa Rinpoche, sendo a palavra tibetana rinpoche (“jóia preciosa”) um título honorífico frequentemente conferido aos líderes budistas tibetanos.
Chögyam Trungpa fugiu do Tibete depois que os chineses assumiram o controle da região em 1959. Mudou-se para Oxford , na Inglaterra , e depois para a Escócia , onde fundou um mosteiro. Em 1970 mudou-se para os Estados Unidos e fundou um centro de meditação, Tail of the Tiger (atual Karmê Chöling), em Vermont , o primeiro de muitos na América do Norte . Em 1971 mudou-se para Boulder , Colorado, onde fundou a Vajradhatu (agora Shambhala) International.
Os seguidores de Trungpa o consideravam um tulku (“encarnação”) do lama tibetano do século XIV , Kunga Gyaltsen. Embora tenha recebido treinamento nas tradições tibetanas Kagyu e Nyingma, Trungpa mais tarde expressou adesão ao Rimay, um movimento budista tibetano não sectário. Ele convidou um amplo espectro de professores budistas para falar no Instituto Naropa (agoraNaropa University ), uma escola que ele fundou em Boulder em 1974 que combinava estudos contemplativos com acadêmicos ocidentais. Adotando trajes e maneiras ocidentais, ele enfatizou a meditação e apresentou o budismo em uma linguagem não sectária que os ocidentais compreenderiam.
Chögyam Trungpa , também chamado de Chögyam Trungpa Rinpoche , (nascido em fevereiro de 1940, Kahm, Tibete - falecido em 4 de abril de 1987, Halifax , Nova Escócia, Canadá), abade do Mosteiro Surmang no Tibete (China) e fundador da organização budista tibetanaShambhala International, que foi criada nos Estados Unidos na segunda metade do século XX para divulgar os ensinamentos budistas, especialmente a prática da meditação . Ele é frequentemente referido como Chögyam Trungpa Rinpoche, sendo a palavra tibetana rinpoche (“jóia preciosa”) um título honorífico frequentemente conferido aos líderes budistas tibetanos.
Chögyam Trungpa fugiu do Tibete depois que os chineses assumiram o controle da região em 1959. Mudou-se para Oxford , na Inglaterra , e depois para a Escócia , onde fundou um mosteiro. Em 1970 mudou-se para os Estados Unidos e fundou um centro de meditação, Tail of the Tiger (atual Karmê Chöling), em Vermont , o primeiro de muitos na América do Norte . Em 1971 mudou-se para Boulder , Colorado, onde fundou a Vajradhatu (agora Shambhala) International.
Os seguidores de Trungpa o consideravam um tulku (“encarnação”) do lama tibetano do século XIV , Kunga Gyaltsen. Embora tenha recebido treinamento nas tradições tibetanas Kagyu e Nyingma, Trungpa mais tarde expressou adesão ao Rimay, um movimento budista tibetano não sectário. Ele convidou um amplo espectro de professores budistas para falar no Instituto Naropa (agoraNaropa University ), uma escola que ele fundou em Boulder em 1974 que combinava estudos contemplativos com acadêmicos ocidentais. Adotando trajes e maneiras ocidentais, ele enfatizou a meditação e apresentou o budismo em uma linguagem não sectária que os ocidentais compreenderiam.
Budismo Tibetano
Budismo tibetano , também chamado (incorretamente) de lamaísmo , ramo do budismo Vajrayana (tântrico ou esotérico) que evoluiu a partir do século VII DC no Tibete . Baseia-se principalmente nas rigorosas disciplinas intelectuais da filosofia Madhyamika e Yogachara e utiliza as práticas rituais tântricas que se desenvolveram na Ásia Central e particularmente no Tibete. O Budismo Tibetano também incorpora as disciplinas monásticas do antigo Budismo Theravada e as características xamânicas do Budismo Tibetano. religião indígena tibetana , Bon . Uma característica do budismo tibetano é o segmento invulgarmente grande da população activamente envolvida em actividades religiosas (até à tomada do país pelos comunistas chineses na década de 1950, estima-se que um quarto dos habitantes eram membros de ordens religiosas); seu sistema de “lamas reencarnantes”; a tradicional fusão da autoridade espiritual e temporal no cargo e na pessoa do Dalai Lama ; e o vasto número de seres divinos (cada um com sua própria família, consorte e aspectos pacíficos e aterrorizantes), que são considerados representações simbólicas da vida psíquica pelos religiosos sofisticados e aceitos como realidades pelas pessoas comuns.
O budismo foi transmitido ao Tibete principalmente durante os séculos VII a X. Os primeiros professores notáveis foram o ilustre mestre tântrico do século VIII, Padmasambhava , e o mais ortodoxo professor Mahayana , Shantirakshita . Com a chegada da Índia em 1042 do grande mestreAtisha , um movimento de reforma foi iniciado, e dentro de um século surgiram as principais seitas do Budismo Tibetano. ODge-lugs-pa , ou Um do Sistema Virtuoso, comumente conhecido como Chapéus Amarelos, a ordem do Dalai e doPanchen Lamas , foi a seita tibetana politicamente predominante desde o século XVII até 1959, quando o governo hierocrático do Dalai Lama foi abolido pela República Popular da China .
No século XIV, os tibetanos conseguiram traduzir toda a literatura budista disponível na Índia e no Tibete; muitos textos em sânscrito que desde então se perderam no país de origem são conhecidos apenas pelas suas traduções tibetanas. O cânone tibetano é dividido em Bka'-'gyur , ou “Tradução da Palavra”, consistindo de textos supostamente canônicos , e Bstan-'gyur , ou “Palavra Transmitida”, consistindo de comentários de mestres indianos.
Chögyam Trungpa: um sábio louco
Pioneiro na difusão do budismo no Ocidente, ele dizia que o mundo não será salvo apenas pela religião
“Crazy wisdom”, louca sabedoria, foi assim que o estilo de ensinar e de viver de Chögyam Trungpa (1939-1987) ficou conhecido no Ocidente. O pioneiro na disseminação do budismo tibetano nasceu na província de Qinghai, na China. Era o 11º descendente na linhagem dos tülkus Trungpa, mestres importantes de Kagyü, umas das quatro escolas principais do budismo tibetano que prioriza a prática da meditação.
Aos 20 anos, após a invasão dos chineses comunistas, Trungpa exilou-se na Índia com um grupo de monges. Por indicação do Dalai Lama, serviu como conselheiro espiritual no Lar Escola para Jovens Lamas, em Dalhousie, até 1963. Durante esse período, dedicou-se a aprender inglês, tornando-se professor da língua. Com o objetivo de aprofundar os estudos em religiões comparadas, filosofia e artes, mudou-se para Inglaterra, onde conseguiu uma bolsa para estudar na Universidade de Oxford. Em 1967, fundou o Centro de Meditação Samye Ling na Escócia.
Um acidente de automóvel que o deixou com o lado esquerdo paralisado marcou sua trajetória. O episódio influenciou-o na decisão de abandonar os votos monásticos, casar-se com a jovem inglesa Diana Pybus e continuar seu trabalho como professor leigo. Na década de 70, Trungpa mudou-se para os Estados Unidos e, em poucos anos, criou a Universidade Naropa, a primeira no Ocidente com inspiração budista, além de mais de 30 centros de meditação. Publicou Além do materialismo espiritual, livro que compila palestras realizadas.
Chögyam Trungpa possuía um estilo de vida polêmico para alguém que era considerado líder espiritual. Tinha o hábito de consumir bebidas alcoólicas e ter relações sexuais com suas alunas, práticas que não escondia de ninguém, pois acreditava que cada pessoa era livre para julgar seus atos. Apesar das muitas críticas a seu estilo, ele foi reconhecido pela hierarquia tibetana como mestre vajrayana.
Em seus ensinamentos, Trungpa costumava criticar o materialismo, o fanatismo religioso, o ego e a hipocrisia. “Meu trabalho é dedicado para apresentar a noção de iluminação para o Ocidente. O mundo não será salvo apenas pela religião, mas esse mundo poderá ser salvo também por uma iluminação secular. Esse mundo precisa muito de sua ajuda, portanto, em nome desse mundo, eu gostaria de pedir a você para vir e fazer algo sobre isso”, intima o líder em uma palestra registrada no documentário sobre sua vida produzido pela produtora Alive Mind Cinema, em 2011.
Fonte: https://namu.com.br/portal/filosofia/filosofias-orientais/chogyam-trungpa-um-sabio-louco/
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Vidyadhara Chögyam Trungpa Rinpoche (1939-1987) |
Os ensinamentos de Shambhala e budistas podem ser estudados e explorados na associação mundial de centros de meditação fundada por Vidyadhara, o Venerável Chögyam Trungpa Rinpoche, e agora dirigida por seu filho e herdeiro espiritual, Sakyong Mipham Rinpoche. Um caminho abrangente de prática e estudo budista é oferecido através da rede de centros locais. A tradição budista fornece um método graduado e bem definido para desenvolver ações hábeis e sabedoria por meio da prática da meditação e do estudo do dharma. Linhagem: Chögyam Trungpa Rinpoche foi o 11º descendente da linha de Trungpa tülkus, importantes professores da linhagem Kagyü. Biografia: O Vidyadhara Chögyam Trungpa Rinpoche (1939-1987) foi o 11º descendente na linha de Trungpa tülkus, importantes professores da linhagem Kagyü, uma das quatro principais escolas do Budismo Tibetano e conhecida por sua forte ênfase na prática da meditação. Além de ser um professor-chave dentro da linhagem Kagyü, Chögyam Trungpa também foi treinado na tradição Nyingma, a mais antiga das quatro escolas e foi um adepto do movimento ecumênico ri-me ("não-sectário") dentro do Budismo Tibetano, que aspirava reunir e disponibilizar todos os valiosos ensinamentos das diferentes escolas, livres de rivalidades sectárias. Ao longo de sua vida, ele procurou levar os ensinamentos que recebeu ao maior público possível. Já instalado como chefe dos mosteiros de Surmang no leste do Tibete, Chögyam Trungpa foi forçado a fugir do país em 1959, aos 20 anos. Escapando por pouco dos invasores chineses, ele e um pequeno grupo de monges fizeram a perigosa viagem através do Himalaia para Índia a cavalo e a pé. De 1959 a 1963, por nomeação de Sua Santidade, o Dalai Lama, Chögyam Trungpa serviu como conselheiro espiritual da Young Lamas Home School em Dalhousie, Índia. Em 1963, Chögyam Trungpa mudou-se para a Inglaterra para estudar religião comparada, filosofia e artes plásticas com uma bolsa Spaulding na Universidade de Oxford. Durante esse período, ele também estudou arranjos florais japoneses e recebeu o diploma de instrutor da escola Sogetsu. Em 1967, mudou-se para a Escócia, onde fundou o centro de meditação Samye Ling, o primeiro centro de prática budista tibetana no Ocidente. Pouco tempo depois, uma variedade de experiências - incluindo um acidente de carro que o deixou parcialmente paralisado do lado esquerdo do corpo - levou Chögyam Trungpa à decisão de abandonar seus votos monásticos e trabalhar como professor leigo. Em 1969, publicou Meditação em Ação, o primeiro de quatorze livros sobre o caminho espiritual publicados durante sua vida. O ano seguinte representou mais uma virada na vida de Trungpa Os antigos ensinamentos e instruções práticas que Chögyam Trungpa trouxe consigo encontraram um público ávido na América da década de 1970, uma década durante a qual ele viajou quase constantemente pela América do Norte, publicou seis livros, estabeleceu três centros de meditação e uma universidade contemplativa (Naropa University ). Ele tornou-se conhecido pela sua capacidade única de apresentar a essência dos mais elevados ensinamentos budistas de uma forma facilmente compreensível para os estudantes ocidentais. Durante este período, Chögyam Trungpa conduziu seis Seminários Vajradhatu, programas residenciais de três meses nos quais apresentou um vasto conjunto de ensinamentos budistas numa atmosfera de prática intensiva de meditação. Os seminários auxiliaram na importante função de treinar seus alunos para se tornarem professores. Chögyam Trungpa também convidou outros professores, incluindo Sua Santidade o Gyalwang Karmapa – chefe da linhagem Kagyü – para virem ao Ocidente e oferecerem ensinamentos. Foi também durante este período que Chögyam Trungpa fundou a Vajradhatu (com sede em Boulder, Colorado), a organização guarda-chuva para os muitos centros que estavam surgindo em todo o mundo sob sua direção. Em 1976, ele nomeou Thomas Rich para ser seu Regente Vajra, uma posição tradicional que atribui a alguém a responsabilidade de dar continuidade ao legado docente deixado por um professor. O regente Vajra Ösel Tendzin foi o primeiro ocidental a ser reconhecido como detentor de linhagem na tradição Kagyü. A essência da organização que Chögyam Trungpa fundou era oferecer instrução de meditação e programas de ensino em mais de 100 centros urbanos (Dharmadhatus) espalhados por todo o mundo e nos vários centros contemplativos rurais onde eram realizados programas intensivos de meditação e estudo. . Nestes vários centros, que formavam uma rede ampla e algo informal, os alunos foram apresentados à possibilidade de integrar a prática da meditação e o estudo na sua vida quotidiana. Dependendo de seus interesses e inclinações, os alunos participavam de qualquer uma das muitas atividades contemplativas que agora fazem parte da organização Shambhala – desde a prática tradicional de meditação até arranjos florais e dança. Seria o último de seus muitos movimentos. Não muito depois, em abril de 1987, a vida de Chögyam Trungpa chegou ao fim. Sua morte foi marcada em uma cerimônia elaborada que durou um dia inteiro, atraindo mais de 3.000 pessoas, realizada nas terras de Vermont, onde ele havia estabelecido pela primeira vez uma posição no Ocidente. Vários anos depois, o Regente Vajra também faleceu. Durante o período que se seguiu a estas mortes, a comunidade e a sua liderança recorreram a um dos mais reverenciados e únicos professores vivos de Chögyam Trungpa, Dilgo Khyentse Rinpoche, então chefe supremo da linhagem Nyingma. Centros Principais: Existem mais de 100 Centros Shambhala localizados em todo o mundo. Centros Shambhala em todo o mundo: www.shambhala.org/centers/index.html • Site principal : www.shambhala.org Inexistência e Indestrutibilidade - De “Natureza Vajra”, em Jornada sem Objetivo: A Sabedoria Tântrica do Buda, páginas 26 a 27. Fonte:https://www.buddhanet.net/masters/trungpa.htm
Chogyam Trungpa Rinpoche Presidente 1974-1985, Corpo Docente Central Sobre O fundador da Universidade Naropa, Chögyam Trungpa Rinpoche, nasceu no Tibete em 1939, detentor da linhagem das tradições budistas Kagyü e Nyingma. Em 1959, após a invasão chinesa, ele escapou do Tibete através do Himalaia até o norte da Índia. Tal como o Dalai Lama e outros professores tibetanos exilados, ele continuou a ensinar e a transmitir a sabedoria do dharma budista. Em 1963, recebeu patrocínio da Spaulding para estudar religião comparada, filosofia e artes plásticas na Universidade de Oxford, onde se tornou fluente em inglês e se familiarizou com as necessidades e interesses específicos dos estudantes ocidentais. Em 1970, Trungpa começou a apresentar os ensinamentos budistas nos Estados Unidos. Durante os dezessete anos seguintes, ele ensinou extensivamente e fundou centros de meditação na América do Norte e na Europa. Estudioso e artista, além de mestre de meditação, tornou-se amplamente reconhecido como um dos principais professores de budismo no Ocidente. Esta distinção colocou-o numa posição única de possuir e compreender a sabedoria de ambas as culturas, com a capacidade de as unir de uma forma compassiva, inovadora e frutífera. Com a fundação do Instituto Naropa em 1974 (que mais tarde se tornaria a Universidade Naropa), Trungpa concretizou sua visão de criar uma universidade que combinasse estudos contemplativos com disciplinas escolares e artísticas ocidentais tradicionais. História de Naropa
As raízes de Naropa A Universidade Naropa é baseada na Universidade Nalanda. Estabelecido sob os auspícios do Budismo Mahayana, Nalanda floresceu na Índia do século V ao XII. Em Nalanda, a filosofia budista e a disciplina da meditação proporcionaram o ambiente no qual estudiosos, artistas e curandeiros de muitos países asiáticos e tradições religiosas vieram estudar, debater e aprender uns com os outros. Os contemporâneos conheceram Nalanda pela sua união de intelecto e intuição, e pela atmosfera de apreciação e respeito mútuos entre diferentes tradições contemplativas. Esta se tornou a inspiração contínua para o desenvolvimento da Universidade Naropa. Particularmente conhecido por reunir sabedoria acadêmica com visão meditativa foi o abade de Nalanda do século XI, um grande estudioso, professor e praticante budista chamado Naropa, que deu nome à atual Universidade de Naropa. O verão de 74 A população mundial atingiu 4 bilhões. E o país estava envolvido no escândalo Watergate que derrubaria o presidente Richard Nixon. Foi nesta atmosfera que o Instituto Naropa ofereceu as suas duas primeiras sessões de verão numa antiga estação de ônibus em Boulder, Colorado. O corpo docente incluía Kobun Chino Roshi, Allen Ginsberg, Anne Waldman, Ram Dass, Gary Snyder, Herbert Guenther, Joan Halifax, John Cage, Gregory Bateson, além de outros escritores, artistas e acadêmicos famosos. Mais de 1.500 alunos compareceram, seis vezes o previsto. Allen Ginsberg, Anne Waldman, John Cage e Diane di Prima fundaram a Escola de Poética Desincorporada Jack Kerouac no Instituto Naropa. “Foi uma noite selvagem. Foi também a noite em que Nixon renunciou, e alguns moradores da cidade podem ter pensado que era uma festa para comemorar isso. Além disso, por ser uma cidade universitária e a noite ser anunciada como um 'Concerto com John Cage', algumas pessoas podem ter pensado que poderiam simplesmente participar e cantar junto. A energia era insana, as pessoas jogavam almofadas”. —Anne Waldman 1975 Segunda sessão de verão, novamente com professores e ofertas luminares. 1976 Naropa começa a oferecer mestrado em psicologia budista e ocidental, bem como certificados em dança, teatro e poética. Naropa continua apenas como um Instituto de verão. 1978 O mestrado em Estudos Budistas abre em janeiro, iniciando o primeiro programa anual, que vai de janeiro a agosto em quatro trimestres acadêmicos. Os escritórios estavam localizados em 1111 Pearl Street, acima de um restaurante chinês no Pearl Street Mall. As salas de aula foram alugadas no centro de Boulder. 1983 Naropa mudou de seu espaço alugado no Pearl Street Mall para o aluguel do antigo prédio da Lincoln School em Arapahoe, compartilhando-o com a Shambhala Training. Naropa recebe uma doação anônima de US$ 1 milhão para financiar sua doação, garantindo pela primeira vez os salários do corpo docente. Mais tarde foi revelado que a doadora era Martha Bonzi. Ela também doou anonimamente a propriedade a oeste da escola, com seus 5 a 6 pequenos edifícios. A morte iminente de Naropa foi evitada. 1986 Naropa recebe credenciamento total da Associação Centro-Norte de Faculdades e Escolas, após oito anos de credenciamento provisório que permitiu aos alunos se qualificarem para empréstimos estudantis. 1987 Naropa compra o campus Lincoln do distrito escolar de Boulder Valley. A Universidade do Colorado havia superado a oferta de Naropa duas vezes, mas os Regentes não apoiaram sua oferta e, portanto, a oferta de Naropa de US$ 750.000 foi bem-sucedida. 1994 Naropa dedica a nova Biblioteca Allen Ginsberg . 1995 Depois de anos de introdução, primeiro nos cursos da divisão superior, depois no segundo ano e, finalmente, no primeiro ano, a faculdade de graduação de quatro anos de Naropa, que oferece bacharelado em Escrita e Poética, Psicologia, Estudos Budistas, Teatro, Dança e Música, torna-se totalmente credenciado. 1997 Naropa hospeda a Conferência de Espiritualidade e Educação, considerada por muitos como o berço do movimento de educação contemplativa no ensino superior americano. 1999 O Instituto Naropa adota formalmente o nome Universidade Naropa. 2006 Naropa estabelece um Centro para o Avanço da Educação Contemplativa para apoiar o corpo docente e fornecer um recurso internacional para pesquisa e colaboração em Educação Contemplativa . O Centro, em sua versão piloto de três anos, foi apoiado por uma doação da Fundação Frederick P. Lenz para o Budismo Americano. 2012 Charles G. Lief torna-se presidente da Universidade Naropa . 2014 Naropa reabre o Centro para o Avanço da Educação Contemplativa, continuando o seu trabalho, promovendo a educação contemplativa para os nossos alunos e tornando-se um recurso para o crescente campo do ensino e aprendizagem contemplativos tanto no ensino superior como no ensino fundamental e médio. 2015 Naropa adquire a propriedade intelectual e os ativos físicos do Boulder College of Massage Therapy com o objetivo de lançar uma escola de massoterapia. Naropa abre o Naropa Community Counseling , oferecendo serviços de terapia acessíveis para clientes de baixa e média renda, e lança o Authentic Leadership Center, oferecendo programas de mindfulness, workshops e treinamento para líderes em todo o mundo. 2017 Mindful U, um podcast para aqueles com interesse em mindfulness e curiosidade sobre seu lugar no ensino superior e no mundo em geral, é lançado como o podcast oficial da Universidade Naropa no outono. É fundado o Instituto Chogyam Trungpa. O Instituto destacará o trabalho do fundador da Universidade Naropa e fornecerá uma plataforma digital abrangente como uma via para acessar suas extensas palestras, poesia e arte. 2018 A Naropa adquire o LeapYear, um programa exclusivo de ano sabático que combina viagens internacionais, estágios e mindfulness que apoia a transição consciente dos alunos do ensino médio para a faculdade e o desenvolvimento da adolescência até a idade adulta. Fonte:https://www.naropa.edu/about-naropa/leadership/past-presidents/chogyam-trungpa-rinpoche/ O Décimo Primeiro Trungpa, Chogyam Trungpanascido em 1939 - falecido em 1987 REVISADO POR PARES TRADIÇÃOLINHA DE ENCARNAÇÃOENCARNAÇÕES ANTERIORES
PERÍODO HISTÓRICOINSTITUIÇÃOCLÃO Décimo Primeiro Zurmang Trungpa, Chokyi Gyatso (zur mang drung pa 11 chos kyi rgya mtsho), nasceu em 5 de março de 1939 em um acampamento nômade na região de Nangchen, em Kham. Ele é popularmente conhecido como Chogyam Trungpa (chos rgya drung pa). "Chogyam" é uma contração da primeira e da terceira sílaba de seu nome pessoal (o "m" final é emprestado da quarta sílaba, conforme a pronúncia tibetana comum). Nas publicações, seu nome costuma ser escrito "Chögyam". Existem muitas fontes sobre a vida de Chogyam Trungpa, incluindo sua própria autobiografia, que ele revisou duas vezes, e várias biografias em forma de livro. Muitos estudantes publicaram memórias de seu tempo com ele. Trungpa apareceu em publicações populares e acadêmicas, desde artigos de revistas até estudos sobre o budismo contemporâneo, e há vários sites dedicados à sua memória. Quase todos estes são hagiográficos. Nas últimas décadas, surgiram reportagens mais críticas, principalmente em fóruns online e publicações não-budistas. Estas incluem investigações de abusos nas organizações que fundou e reavaliações dos seus métodos de ensino e das suas práticas de liderança. O pai de Trungpa era um pequeno proprietário de terras chamado Yeshe Dargye (ye shes dar rgyas), e sua mãe se chamava Dungtso Dolma (dung mtsho sgrol ma). De acordo com a autobiografia de Trungpa, Nascido no Tibete , da qual foi extraída a maior parte das informações da seção inicial deste artigo, Chokyi Gyatso era o segundo filho de seus pais. Depois que ele foi concebido, seu pai abandonou a mãe e ela se casou novamente antes de seu nascimento. Seu padrasto o criou como se fosse seu. [1] Um irmão mais novo chamado Damcho Tenpel (dam chos bstan phel) também seria identificado como uma encarnação, baseado no Mosteiro de Kyere (skye re dgon). Logo após seu nascimento, um lama do vizinho Mosteiro Tashi Lhapuk (bkra shis lha phug) passou por lá e o abençoou. O lama disse aos pais que queria a criança para o seu mosteiro e, portanto, que a mantivesse limpa e bem cuidada. [2] Antes que o lama pudesse retornar para buscá-lo, entretanto, a criança foi reconhecida como a reencarnação do Décimo Zurmang Trungpa, Karma Chokyi Nyinje (zur mang drung pa 10 karma chos kyi nyin byed, c. 1879-1938), cuja sede tradicional era Zurmang. Dutsitil (zur mang bdud rtsi mthil). A identificação foi feita pelo então décimo sexto Karmapa, Rangjung Rigpai Dorje (karma pa 16 rang byung rig pa'i rdo rje, 1924-1981), que estava visitando o Mosteiro de Pelpung .(dpal spungs dgon) em Derge. Enviados do Mosteiro de Zurmang já haviam solicitado ao Karmapa uma indicação de onde poderiam encontrar a reencarnação do Décimo Trungpa. Enquanto estava em Pelpung, diz-se que o Karmapa teve duas visões que forneceram a localização da aldeia natal, a composição da família e os nomes dos pais da próxima encarnação de Trungpa. Os nomes dados na visão eram os do pai biológico de Chogyam Trungpa e uma combinação do nome e apelido da mãe, fatos que inicialmente atrasaram a chegada do grupo de busca à residência correta. Trungpa escreveu que quando o grupo de busca chegou à sua casa, pouco mais de um ano após seu nascimento, ele acolheu os monges como se fossem velhos amigos e os abençoou quando partiram. [3] No início da década de 1940, o Décimo Sexto Karmapa visitou Zurmang, e o jovem Trungpa foi levado até lá para ser entronizado. Seus pais receberam terras em sua região de origem em troca da criança. Eles o acompanharam até Zurmang, onde sua mãe permaneceu até os cinco anos de idade. Mais tarde, após a morte de seu marido, a mãe de Trungpa morou fora dos muros do mosteiro com uma irmã do Décimo Zurmang Trungpa, cuidando do gado. O Quinto Rolpai Dorje Tulku, (rol pa'i rdo rje sprul sku 05), então chefe da Dutsitil, serviu como patrocinador da entronização. Ele e o chefe da instituição irmã da Dutsitil, Zurmang Namgyeltse (zur mang rnam rgyal rtse), o Garwang Tulku (gar dbang sprul sku), deu à criança votos e o nome Karma Tenzin Trinle Kunkhyab Pel Zangpo (karma bstan 'dzin' phrin las kun khyab dpal bzang po). [4] Trungpa foi treinado em Zurmang Dutsitil. Seu tutor inicial, com quem viveu desde os cinco anos de idade, foi um homem chamado Asang Lama (a sang bla ma), que havia sido aluno do Décimo Zurmang Trungpa. Durante dois anos viveram juntos no eremitério de Dorje Khyung Dzong (rdo rje khyung rdzong), que o Décimo Trungpa havia estabelecido para retiros de três anos. Depois de voltar ao mosteiro para uma transmissão de leitura de três meses do Kangyur por um Genchung Lama (rgan chung bla ma), Trungpa recebeu um novo tutor, Apo Karma (um pho karma), e seus estudos aumentaram em rigor. [5]Antes de a criança completar dez anos, ele conheceu duas encarnações do grande Jamgon Kongtrul ('jam mgon kong sprul, 1813-1899): o Segundo Pelpung Kongtrul, Khyentse Wozer (dpal spungs kong sprul 02 mkhyen brtse'i 'od zer, 1904 -1953) e Shechen Kongtrul Pema Drime (zhe chen kong sprul pad+ma dri med, 1901-1960). Pelpung Kongtrul deu a Trungpa seus votos de ordenação de noviço aos oito anos de idade, enquanto ele passava por Zurmang. No ano seguinte, Shechen Kongtrul viajou para Zurmang para transmitir o Tesouro de Conselhos de Jamgon Kongtrul ( dam ngag mdzod), uma cerimónia que se revelou tão popular entre a população local que o lama inicialmente fugiu para o eremitério e depois adoeceu devido ao esforço. Shechen Kongtrul continuaria sendo o professor mais próximo de Trungpa até ele fugir do Tibete. Um ano depois desse ensinamento, Dilgo Khyentse Tashi Peljor (dil mgo mkhyen brtse bkra shis dpal 'byor, 1910-1991), que havia recebido ensinamentos do Décimo Trungpa, chegou a Zurmang para dar ensinamentos Dzogchen. [6] Nos dez anos seguintes, Trungpa mudou-se por Kham, retornando a Zurmang entre as viagens para aprender sobre a administração do mosteiro. As visitas monásticas são uma prática padrão para os altos lamas, uma forma de aumentar receitas e de transmitir ensinamentos a comunidades fora dos seus próprios mosteiros. Eles também foram oportunidades para receber treinamento, e Trungpa permaneceu no Mosteiro Shechen (zhe chen), Pelpung e outros mosteiros por longos períodos para receber transmissões dos ensinamentos Kagyu e Nyingma. Seu primeiro período de estudos em Shechen, para treinar com Shechen Kongtrul, foi aos treze anos. Ele trouxe duas vacas para se abastecer de leite e manteiga. Shechen Kongtrul deu-lhe a transmissão do Tesouro das Revelações ( rin chen gter mdzod), outra coleção de Jamgon Kongtrul, após a qual ingressou no colégio monástico, Lekshe Nyida Ling (pernas bshad nyi zla'i gling), que o próprio Shechen Kongtrul havia estabelecido. Em visitas posteriores, Shechen Kongtrul lhe ensinaria as obras do grande filósofo Nyingma Longchenpa (klong chen pa, 1308-1364). [7] Apesar de sua esperança de permanecer em Shechen por um longo período de tempo, ele foi rapidamente chamado de volta a Zurmang após a morte de um abade. Ele logo viajou para o Mosteiro Thrangu (khra 'gu dgon) para representar Zurmang no funeral do Oitavo Tralek Kyabgon Rinpoche (khra legs skyab mgon rin po che). Pelpung Kongtrul também participou do evento. Foi o último encontro deles, pois ele faleceu logo depois. [8] Trungpa assumiu suas funções como lama ainda adolescente. Em meados da década de 1950, em uma visita a Drolma Lhakhang (sgrol ma lha khang) fora de Chamdo - não confundir com o famoso Longtang Dolma Lhakhang (klong thang sgrol ma lha khang) - ele conheceu seu amigo próximo e futuro colaborador Akong Tulku (um dkon sprul sku, 1940-2013). Trungpa já presidia cerimônias religiosas massivas. Naquela ocasião ele entregou o Tesouro das Revelações. Seu tutor Karma Norzang (karma nem bzang) deu a transmissão da leitura e Trungpa realizou as iniciações. [9] Nessas viagens durante a primeira metade da década de 1950, Trungpa encontrou repetidamente tropas e oficiais comunistas chineses, que se aprofundavam cada vez mais no território tibetano. Depois que o Exército de Libertação Popular Comunista (ELP) derrotou os nacionalistas na Guerra Civil Chinesa em 1949, Mao Zedong, o chefe do Partido Comunista Chinês, declarou o Tibete como parte da China. O ELP começou imediatamente a construir infra-estruturas nas áreas tibetanas de Kham, a nacionalizar terras e a estabelecer comunas, e a afirmar autoridade sobre os mosteiros. Em sua autobiografia, Trungpa descreve sentir tanto consternação com a rápida industrialização de sua terra natal quanto também fascínio pela tecnologia e pela janela que as mudanças oferecem ao mundo em geral. [10] Em meados da década de 1950, Trungpa foi ao Mosteiro Dzongsar (rdzong sar dgon) para receber a transmissão dos ensinamentos Kālacakra de Khyentse Chokyi Lodro.(mkhyen brtse chos kyi blo gros, 1893-1959). Na viagem de Shechen para lá, Trungpa passou pela cidade de Manigango, onde ouviu a história de um homem local que alcançou o corpo do arco-íris, um sinal da obtenção da iluminação. O homem tinha sido um servo e um trabalhador, sem treino na prática religiosa formal, mas devoto e compassivo, e dedicado nas suas meditações. Na véspera de sua morte, um ano antes da visita de Trungpa, ele solicitou que sua família não perturbasse seu corpo durante uma semana. Lentamente, seu cadáver diminuiu de tamanho, emitindo luz da cor do arco-íris antes de desaparecer completamente, deixando apenas cabelos e unhas. O fato de um leigo sem qualquer conexão ou status elevado poder atingir a iluminação foi uma inspiração significativa para Trungpa,[11] Em 1955, a pedido do Décimo Quarto Dalai Lama, Tenzin Gyatso (da la'i bla ma 14 bstan 'dzin rgya mtsho, nascido em 1935), o Décimo Sexto Karmapa visitou Kham para coletar informações sobre a situação sob ocupação chinesa. O Karmapa parou em Derge com grande alarde e entronizou o Décimo Segundo Situ, Situ Pema Donyo Nyinje (si tu 12 pad+ma don yod nyin byed, nascido em 1954). O jovem Trungpa compareceu à cerimônia e teve uma breve audiência com o Karmapa. [12] Ainda com dezoito anos, Trungpa foi cada vez mais encarregado de servir a administração de seu mosteiro. Em Derge ele conversou com o Décimo Sexto Karmapa sobre a expansão do colégio monástico de Dutsitil, e passou vários anos perseguindo a ideia, concluindo a construção em 1958, ano em que ele próprio obteve o grau de khenpo ( mkhan po). Ao mesmo tempo, um número crescente de refugiados do lado leste do Drichu ('bris chu), ou Alto Rio Yangtze, passava por Nangchen a caminho do Tibete central, trazendo relatos de destruição e violência nas mãos dos chineses. Comunistas. Trungpa debateu durante vários anos se deveria deixar a sua terra natal, dividido entre os seus deveres para com a sua comunidade e os avisos cada vez mais terríveis de todos ao seu redor. O próprio Shechen Kongtrul já havia partido para o Tibete central e convidou Trungpa para se juntar a ele. [13] No início de 1959, aos vinte anos, de volta a Zurmang, Trungpa recebeu a ordenação plena de Rolpai Dorje, que o incentivou a deixar o Tibete. Os comunistas ocuparam recentemente Zurmang por um período de vários meses e exigiram uma quantia exorbitante do mosteiro para permitir que permanecesse ativo. Rolpai Dorje informou Trungpa que as autoridades chinesas o procuravam, por razões desconhecidas. Ele deixou seu mosteiro imediatamente, com a intenção de se esconder dos comunistas e, em última análise, organizar sua fuga do Tibete. [14] As circunstâncias de sua decisão final de partir foram que Trungpa estava na região de Lhatok (lha thog), no oeste de Kham, para participar da entronização de um novo rei. Convites de mosteiros ansiosos chegaram de todas as direções, incluindo um do Mosteiro de Yak, ao sul de Chamdo, para transmitir o Tesouro das Revelações. Ele concordou com isso e, enquanto estava lá, enviou mensagens para a sede principal do Karmapa no Tibete, o Mosteiro de Tsurpu.(mtshur phu), implorando ao Karmapa, Dilgo Khyentse e Shechen Kongtrul conselhos sobre se devem permanecer em Kham ou partir. Ele estava escondido perto de Yak quando chegou a notícia de Zurmang de que o mosteiro havia sido saqueado e que havia uma busca ativa por ele. Ao saber da revolta em Lhasa que começou em 10 de março de 1959, aos vinte anos Trungpa finalmente decidiu partir para a Índia. [15] Chogyam Trungpa descreveu sua fuga para a Índia com detalhes angustiantes em Born in Tibet. Akong Rinpoche o acompanhou. Eles usavam roupas leigas e, embora tentassem limitar a festa a apenas um punhado de pessoas, ela cresceu à medida que mais pessoas se juntavam. A incerteza sobre qual caminho seguir era constante e a viagem muitas vezes traiçoeira. A paisagem era desconhecida e árdua, e mais de uma vez encontraram soldados chineses que atiraram contra eles. Não havia comida suficiente em nenhum vale por onde passaram. As pessoas passaram fome, adoeceram e aqueles que puderam continuar foram forçados a deixar outros para trás. Muitos no seu partido crescente não tinham determinação, debatendo se deveriam ficar e lutar com a resistência, e receberam conselhos e relatórios contraditórios de lamas seniores e de pessoas que conheceram. Viajaram com leigos e clérigos, camponeses e nobres, incluindo, por um breve período, a rainha de Nangchen.[16] Índia A caminho da Índia, Trungpa conheceu uma freira chamada Konchok Peldron (dkon mchog dpal sgron, 1931-2019). Dois anos depois, em 15 de novembro de 1962, ela deu à luz seu filho, Ösel Rangdrol ('od gsal rang 'grol), que mais tarde seria conhecido como Sakyong Mipham (sa skyong mi pham) e se tornaria chefe da organização internacional de Trungpa. A ordenação tibetana inclui um voto estrito de celibato. Nessa época, Trungpa ainda era um monge ordenado; ele não retornaria formalmente seus votos por mais cinco anos. Konchok Peldrom, forçada a abandonar sua ordenação pelo nascimento de um filho, mais tarde se casou com um homem chamado Lama Pegyal (bla ma pad rgyal) e teve outro filho, Gyurme Dorje ('gyur med rdo rje). Anos mais tarde, ela foi trazida para as organizações de Trungpa e conhecida como "Lady Konchok Peldron". [17] Trungpa permaneceu na Índia por três anos. Durante a maior parte desse tempo, ele serviu como conselheiro e professor na Young Lama's Home School.em Dalhousie, escola para lamas encarnados fundada em 1960 por Freda Bedi (1911-1977). Bedi, uma cidadã britânica casada com um político indiano, mais tarde se tornou a primeira mulher ocidental a ordenar-se na tradição budista e recebeu os votos completos de bhiksuṇi em Hong Kong em 1972, após o que ficou conhecida como Gelongma Palmo (dge long ma dpal mo) . Ela trabalhou como secretária ocidental do Décimo Sexto Karmapa por muitos anos. O financiamento para a escola foi fornecido por Christopher Hills (1926-1997), um autor britânico e defensor da alimentação saudável que encorajou o governo indiano a dar refúgio e apoio aos tibetanos que fugiam da tomada comunista do Tibete. Akong Tulku ajudou na administração. Konchok Peldron e o filho viviam num campo de refugiados noutro local. [18]
Grã-Bretanha Durante sua breve estada na Índia, Trungpa estudou inglês com o tibetólogo John Stapleton Driver (1931-2014), que estava na Índia pesquisando uma dissertação sobre Guhyagarbha. Diz-se que Driver e Bedi conseguiram juntos com sucesso uma "bolsa Spaulding" para Trungpa no St. Antony's College, Oxford, onde ambos estudaram. Com o dinheiro da bolsa, Trungpa passou quatro anos em Oxford, de 1963 a 1967, e enquanto frequentava as aulas, parece que nunca se matriculou na universidade nem se formou. [19] Em Born in Tibet , que Trungpa publicou pela primeira vez nessa época na Inglaterra, ele escreveu que passou a apreciar como "a arte ocidental superou todas as hesitações para expressar livremente quaisquer coisas estranhas que saíssem da cabeça de alguém". [20]Akong Tulku mais uma vez acompanhou Trungpa. Ele trabalhou como auxiliar de hospital e dividiu um pequeno apartamento com Trungpa e Tulku Chime (sprul sku 'chi med, nascido em 1941) do Mosteiro de Benchen (ban chen dgon), que Trungpa conheceu em Kham (e que foi brevemente professor de David Bowie). [21] Em 1967, Trungpa e Akong Tulku foram convidados a assumir um centro budista em declínio na Escócia, chamado Johnstone House Contemplative Community, estabelecido por um monge Theravadin canadense chamado Ananda Bodhi. Nascido Leslie George Dawson (1931-2003), mais tarde adotou o nome de Namgyal Rinpoche e lecionou em Toronto na tradição tibetana. Juntos, Trungpa e Akong inauguraram ali um mosteiro, chamado Samye Ling.(bsam yas gling), que é frequentemente considerado o primeiro mosteiro budista do Ocidente. Treinado no budismo monástico tibetano tradicional, mas afetado pela tomada comunista do Tibete, e atraído pelos valores, linguagem e comportamento contraculturais de sua geração na Grã-Bretanha, Trungpa enfrentava agora uma escolha entre transmitir o que sabia nos métodos ortodoxos com os quais ele foram treinados ou desenvolveram novas formas de ensinar o Budismo ao Ocidente. Ele ficou famoso por escolher a última opção. Quase um ano depois de se mudar para a Escócia, Trungpa viajou para a Índia e o Butão a convite da família real butanesa, que eram patronos dos amados professores de Trungpa, o Karmapa e Dilgo Khyentse Rinpoche. Enquanto estava lá, Trungpa deu ensinamentos ao príncipe herdeiro, Jigme Wangchuk ('jigs med dbang phyug, nascido em 1955) e aproveitou a oportunidade para passar dez dias em retiro em Taktsang (stag tshang), o famoso eremitério em Paro sagrado para Padmasambhava . De acordo com edições posteriores de sua autobiografia, ele teve uma experiência de intensa devoção a Padmasambhava e ao Segundo Karmapa, Karma Pakshi.(karma pa 02 karma pakshi, 1204-1283), que gerou uma firme convicção da unidade de Mahāmudrā e Dzogchen, os ensinamentos centrais das tradições Kagyu e Nyingma. Ele compôs [22] um sādhana , ou manual de meditação, para concretizar esta união. Ele escreveu que a prática iria “exorcizar o materialismo que parecia permear as disciplinas espirituais no mundo moderno. A mensagem que recebi da minha súplica foi que é preciso tentar expor o materialismo espiritual e todas as suas armadilhas, caso contrário a verdadeira espiritualidade não poderia se desenvolver. " [23]Pelo termo "materialismo espiritual" Trungpa significava apego e busca por certos estados meditativos e realizações, que, argumentou ele, serviam apenas para reforçar o ego e, portanto, eram contrários ao caminho da libertação. Doravante, este se tornaria um de seus temas principais e, sem dúvida, o ensino pelo qual ele era mais conhecido. Uma coleção de palestras editadas expandindo o tema foi publicada em 1973 sob o título Cutting Through Spiritual Materialism , que continua sendo um dos livros mais vendidos sobre o Budismo. Em Calcutá e Delhi, em outubro de 1968, Trungpa conheceu Thomas Merton (1915-1968), um monge trapista americano que estava na Índia para participar da Conferência Espiritual Inter-religiosa. Merton descreveu Trungpa como "uma pessoa completamente maravilhosa. Jovem, natural, sem fachada ou artifício, profundo, desperto, sábio". [24] Isso foi um mês antes de Merton conhecer o Dalai Lama em Dharamsala, após o qual Harold Talbott (1939-2019) o levou para Chatral Rinpoche Yeshe Dorje (bya bral sangs rgyas rdo rje, 1913-2015) em Darjeeling. Também presente num dos encontros em Deli esteve Lobsang Lhalungpa (blo bzang lha lung pa, 1926-2008), o primeiro tradutor da Vida de Milarepa . A retirada e o encontro com Merton influenciaram significativamente Trungpa. Tal como sugerido pela descrição do seu retiro, ele aceitou a insistência contracultural de que as principais instituições religiosas estavam falidas, corrompidas pelo “materialismo espiritual”. Muitas vezes considerado uma marca registrada do Budismo Ocidental, cujos adeptos são por vezes ridicularizados por competirem para obter a melhor iluminação, Trungpa lançaria a mesma acusação contra os seus colegas tibetanos. Em 1974, ele ensinou que no Tibete de sua infância, os mestres budistas estavam "mais preocupados em construir telhados de ouro maciço em seus templos, construir imagens gigantescas de Buda e tornar seus templos belos e impressionantes do que com a prática real de sua linhagem. Eles se sentaram menos e fiz mais negócios." [25]Ele afirmou que se tratava de um processo de declínio que já vinha acontecendo há algum tempo. "O Tibete começou a perder a sua ligação com o dharma" há bem mais de cem anos", afirmou ele, e o Budismo lá "lentamente, de forma muito irritante e horrível, começou a transformar-se num feio materialismo espiritual." [26] Os mosteiros e a religião do Tibete que estava então sendo sistematicamente destruído pela China comunista, afirmou Trungpa, já havia sido corrompido pelo “materialismo espiritual”. A meditação que ele ensinaria era a "prática há muito esquecida" pelas comunidades religiosas do Tibete. [27] É uma afirmação notável e contrasta fortemente com os ensinamentos de outros lamas, que construíam activamente novos templos na Índia e que dedicariam as suas actividades à difusão da religião tibetana em todo o mundo. A rejeição de Trungpa às formas exteriores da religião tradicional, tanto tibetana como ocidental, coincidiu com a aceitação dos valores, práticas e sonhos da nova contracultura. A maior parte dos seus alunos não o procuravam para trocar um ritual e um sistema de crenças plenamente formados por outro – não abandonavam as suas igrejas anglicana e católica para se juntarem a uma ordem budista tibetana. Nem, como expresso na palestra de 1974 citada acima, Trungpa estava interessado em criar um, pelo menos no início. Trungpa não tentaria reconstruir a religião tradicional tibetana no Ocidente. Ele se esforçaria para criar algo novo. Durante as duas décadas seguintes, o ensino de Trungpa se concentraria no “espiritual” liberto do “materialismo”. As inovações de Chogyam Trungpa não vieram facilmente. Ele tinha apenas trinta anos e vivia num país estrangeiro com poucos apoios familiares. Seus companheiros eram dois monges tradicionais que não compartilhavam de sua sede de invenção e experimentação. Como resultado, sua passagem por Samye Ling não foi um sucesso total. À medida que se afastava da sua formação tradicional, cada vez mais fascinado pela linguagem e comportamento rebelde dos jovens que se sentiam atraídos por ele, adoptou muitos dos seus costumes como seus. Trungpa manteve relações sexuais com estudantes, o que continuaria a fazer até o fim da vida, e começou a usar drogas e beber álcool, ações que levaram ao conflito com Akong Tulku e outros. E, no entanto, ao mesmo tempo, ele não estava totalmente convencido de que os seus discípulos britânicos pudessem segui-lo para onde ele quisesse.Nascidos no Tibete , "eles pareciam estar perdendo o foco". [28] Em 1969, algumas das palestras de Trungpa com Samye Ling foram coletadas e publicadas como Meditação em Ação por Stuart & Watkins. Logo depois de seu lançamento, Samuel Bercholz, coproprietário de uma livraria em Berkeley, Califórnia, pediu para publicá-lo nos Estados Unidos. Foi lançado no outono de 1969, o primeiro título da Shambhala Publications, que nos últimos cinquenta anos cresceu e se tornou uma importante editora de livros budistas em inglês. Naquele ano, Trungpa foi naturalizado cidadão britânico. Seu filho, Ösel Rangdrol, chegou à Escócia para morar com ele, enquanto Konchok Peldron permaneceu em um campo de refugiados na Índia, onde se casou vários anos depois que Trungpa partiu para a Inglaterra. [29] No início de 1969, Chogyam Trungpa desmaiou enquanto dirigia sob a influência de álcool e bateu em uma loja de novidades em Northumberland, Inglaterra. Ele não tinha carteira de motorista. Mais tarde, ele escreveu que a causa de seu desmaio foi sua angústia mental devido à luta para encontrar um caminho claro para seguir em frente em seu ensino. [30] Não há registro de como ele evitou acusações. Ele se recuperou na casa dos estudantes Christopher e Pamela Woodman. Trungpa deixaria seu filho com esses estudantes depois de partir para a América em 1970, e seria forçado a lutar contra eles no tribunal para recuperar a criança em 1971. [31] Entre os britânicos que vieram estudar com Samye Ling estava uma garota de quinze anos chamada Diana Pybus. Pybus viu Trungpa pela primeira vez, então com trinta anos, no outono de 1968, em um evento em Londres. Ela já havia lido Born in Tibet , mas não conseguiu ouvi-lo ensinar naquela noite, pois Trungpa desmaiou no palco antes de falar, por doença ou possivelmente por álcool. [32]Logo depois, ela assistiu a uma série de palestras sobre Padmasambhava em Londres e, no início de 1969, convenceu sua mãe a permitir que ela participasse de um programa na Samye Ling. A mãe e a irmã de Pybus foram junto. No ano seguinte, Pybus escapou do internato para passar fins de semana com Trungpa, e ela lembrou que os dois fizeram sexo pela primeira vez em outubro de 1969, pouco depois de ela completar dezesseis anos, a idade legal de consentimento na Grã-Bretanha. Em sua autobiografia, ela escreveu: "Mais tarde, percebi que era um tanto ultrajante dormirmos juntos, mas também achei fantástico." [33]Trungpa teve sete "esposas", conhecidas em sua comunidade como "consortes secretas" ou "Sangyum" [34] e diz-se que ele pressionou outras estudantes para servirem como parceiras sexuais. As mulheres que recusaram foram condenadas ao ostracismo. Uma de suas “esposas”, Leslie Hays, tinha 24 anos quando seu relacionamento com Trungpa começou em 1985; ele tinha quarenta e cinco anos. Hays disse ao Denver Post que Trungpa batia nela e era emocionalmente abusiva, e que "os votos que ela fez vinculavam o abuso de seu marido espiritual dentro dela". [35]Embora o Budismo Tântrico inclua práticas conhecidas como "ioga sexual", Trungpa parece não ter feito nenhuma pretensão de que qualquer uma de suas relações sexuais estivesse a serviço de sua própria prática religiosa (ou de seu parceiro). Em 1985, Trungpa nomeou estas sete mulheres para servirem como membros do conselho da Vajradhatu, a organização que fundou em 1973 (ver abaixo). [36] Embora algumas destas relações sexuais tenham sido mantidas em segredo, muitas eram conhecidas pela comunidade. Trungpa tinha reputação pública de propor propostas a mulheres e levá-las para a cama. A freira britânica Tenzin Palmo contou como Trungpa passou as mãos pela perna quando se conheceram na Inglaterra, logo depois que ele chegou ao país; ela enfiou o salto do sapato no pé dele. Ele persistiu, sem sucesso, em pressioná-la a fazer sexo com ele, gabando-se de ser sexualmente ativo desde os treze anos. Tenzin Palmo explicou que foi a deturpação de Trungpa sobre seu status de ordenação que a ofendeu, ele fingindo ser um monge célebre enquanto tentava seduzi-la. [37]Durante muitas décadas, ela e outras estudantes próximas, tal como os seus homólogos masculinos, serviram como apologistas de Trungpa, minimizando o abuso e até transferindo a culpa pelo seu comportamento predatório para as mulheres que ele levava para a cama. [38] Os companheiros tibetanos de Trungpa não foram os únicos que ficaram escandalizados com o seu comportamento; muitos de seus discípulos britânicos também estavam. [39] Diante de sua desaprovação, em outubro de 1969, Trungpa despiu-se formalmente. Ele não estava mais disposto a seguir o caminho de seu treinamento tradicional tibetano e a satisfazer as expectativas do lama encarnado ordenado, a não ser ensinar o dharma da maneira que considerasse adequada. Trungpa posicionou-se para ensinar um dharma que era do Tibete, mas não tibetano, um Budismo Ocidental que não era apenas uma modificação do Budismo Asiático. Pareceria que o dharma de Trungpa não pertenceria nem ao Oriente nem ao Ocidente e poderia, portanto, ser abraçado por uma contracultura que era, por definição, uma rejeição de qualquer autoridade. Em 3 de janeiro de 1970, Trungpa e Pybus se casaram; a recente lei escocesa permitia que uma menina de dezesseis anos se casasse sem permissão dos pais. Ela adotou o nome do clã dele, Mukpo (po presunçoso) como sobrenome de casada. Talvez por ela pertencer à classe alta e ser uma das primeiras a tirar vantagem das novas leis flexibilizadas sobre o casamento, e por ter se casado com um lama tibetano mais de dez anos mais velho que ela, a imprensa britânica percebeu, e Trungpa não recebeu bem a mídia. tempestade que gerou; correram pelo país histórias sobre uma garota de dezesseis anos que fugiu de casa para se casar com seu guru. A Grã-Bretanha estava se tornando cada vez mais intolerável para Trungpa e eles partiram logo depois. Diana Mukpo escreveu que o período desde o acidente automobilístico até a partida para a América foi para Trungpa um período sombrio de depressão e doença.[40] Trungpa e Akong não se separaram amigavelmente. Samye Ling continuou a prosperar sob a liderança de Akong Rinpoche. Após a partida de Trungpa, ele teria declarado que a partir de então ninguém em Samye Ling deveria infringir a lei britânica. [41] Somente em 1981, por insistência do Décimo Sexto Karmapa em seu leito de morte, Trungpa e Akong encerraram seu conflito. [42] América 1970-1972 Chogyam Trungpa e Diana Mukpo voaram para Toronto no início de 1970 e permaneceram em Montreal por seis semanas enquanto solicitavam vistos para os Estados Unidos. Vários estudantes americanos de Samye Ling que deixaram a Grã-Bretanha com eles compraram uma grande fazenda leiteira em Barnet, Vermont, com a intenção de estabelecer uma residência e centro de ensino para Trungpa. Inicialmente chamado de Cauda do Tigre e renomeado como Karmé Chöling em 1974, tornou-se o primeiro centro de Trungpa na América do Norte e foi o local para seu primeiro ensino na América do Norte, um seminário sobre Gampopa (sgam po pa, 1079-1153) e Milarepa .(mi la ras pa, 1040-1123). Trungpa fez duas viagens significativas para lecionar em outros locais: Bercholz o convidou para lecionar na Califórnia, e um grupo de estudantes da Universidade do Colorado, em Boulder, o trouxe até lá para dar a série de palestras que apareceriam como Cortando o Materialismo Espiritual . . Trungpa não chegou aos Estados Unidos com uma opinião elevada dos estudantes americanos do dharma, nem de seus professores. Ele escreveu que os alunos "pareciam não ter qualquer compreensão da disciplina e apenas apreciar os professores que acompanhavam sua própria neurose. Ninguém parecia estar apresentando uma maneira de superar a neurose dos alunos". [43] Trungpa insistia em que os alunos confrontassem sua própria mente - ou, na linguagem da época, sua "neurose". Parte de sua genialidade consistiu em confrontá-los diretamente em sua própria língua e chocá-los, afastando-os de seus preconceitos sobre o que deveria ser um professor budista; ele começou uma palestra em 1970 com esta declaração ao público: "É uma pena que você tenha vindo aqui. Você é tão agressivo." [44] A única exceção à opinião negativa de Trungpa sobre seus colegas professores de dharma foi Shunryu Suzuki (1914-1971), o fundador do San Francisco Zen Center e Tassajara, que Trungpa conheceu durante sua visita a São Francisco em 1970 e novamente em 1971, pouco antes da morte do mestre Zen. . Suzuki despertou em Trungpa o profundo apreço pela cultura japonesa e fortaleceu a determinação de Trungpa de enraizar seus ensinamentos na meditação budista básica śamatha-vipaśyanā. Trungpa, que falou em querer desenvolver um budismo que transcendesse "as características culturais de nacionalidades específicas", ficou particularmente impressionado com o Zen americano de Sukuki, que foi construído com apenas ligeiras conexões com instituições no Japão, [45 ]oferecendo a Trungpa um modelo para o desenvolvimento de uma forma de budismo tibetano que seria independente da autoridade religiosa tibetana. Ambos os homens estiveram entre os primeiros e mais bem sucedidos promotores da meditação individual, abrindo caminho para o que, no início do século XXI, ficou conhecido como o movimento mindfulness: uma prática de meditação despojada de quaisquer estruturas ou apoios religiosos. Em Boulder, Trungpa foi imediatamente atraído pela paisagem das Montanhas Rochosas, tão semelhante à sua terra natal, Nangchen. Ele e Diana ficaram na periferia da cidade e lecionaram em uma casa da cidade e depois no Instituto de Yoga Integral dirigido por discípulos do professor indiano chamado Swami Satchidananda (2014-2002). À medida que a comunidade ao redor de Trungpa crescia - entre os que se reuniam estavam membros de uma comuna fora de Boulder cujos membros eram conhecidos como "pigmeus" - eles estabeleceram um centro de meditação na cidade chamado Karma Dzong (agora Boulder Shambhala Center ) . Mais tarde, eles adquiriram 600 acres em Red Feathers Lake, que chamaram de Rocky Mountain Dharma Center (agora Shambhala Mountain Center). Ao reunir sua comunidade, ele não tinha nenhum modelo óbvio a seguir além do centro de Suzuki Roshi em São Francisco. O ensino e a prática budista no Tibete eram uma atividade quase inteiramente confinada a mosteiros e templos, já que os eremitas que se estabeleceram em cavernas e os chefes de família que obtiveram corpos de arco-íris eram extremamente raros. Os centros de meditação de Trungpa foram uma de suas inovações centrais e mais amplamente imitadas. Embora Tail of the Tiger em Vermont continuasse sendo o principal centro de ensino, Trungpa se estabeleceu em Boulder e lá permaneceu até o último ano de sua vida. Em março de 1971, Diana deu à luz seu primeiro de dois filhos com Trungpa, Tenzin Lhawang Tagtrug David Mukpo, a quem o Décimo Sexto Karmapa reconheceu em 1976 como a reencarnação de um lama chamado Zurmang Tenzin Rinpoche (zur mang bstan 'dzin rin po che). Seu segundo filho nasceu em 1973, chamado Gesar Arthur, a quem Dilgo Khyentse identificou como a reencarnação do amado mestre de Trungpa, Shechen Kongtrul. Diana Mukpo teve mais dois filhos com o médico de Trungpa, Mitchell Levy, enquanto ainda era casada com Trungpa: um terceiro filho, Ashoka Mukpo, nascido em 1981, e um quarto, David, nascido em 1986. Embora tenham vivido separados por alguns anos, Mukpo e Trungpa nunca se divorciou. Diz-se que Trungpa considerava Ashoka e David seus filhos, embora reconhecesse que não era seu pai biológico. Em 1988, Mukpo e Levy adotaram uma menina tibetana de oito anos, a quem deram o nome de Chandali. 1973-1975: Vajradhatu, a infame festa de Halloween e a ascensão da "sabedoria louca". As atividades de Chogyam Trungpa durante a década de 1970 foram marcadas por uma exploração expansiva de modalidades de ensino, pelo estabelecimento de dezenas de novos centros budistas e pela hospedagem de seus mestres tibetanos, o Décimo Sexto Karmapa e Dilgo Khyentse Rinpoche, que afirmaram publicamente para seu público americano a autoridade de Trungpa. ensinar. À medida que suas atividades cresceram, Trungpa instituiu uma estrutura e uma cultura mais organizadas em seu trabalho, iniciando uma organização internacional do dharma e um repertório de rituais e modos formais de vestimenta e comportamento.Trungpa falava sobre "neurose" desde os primeiros dias de sua estadia no Ocidente, e seu interesse pela terapia psicológica ocidental ia além da mera adoção de sua linguagem para ensinar o budismo. Em 1972 iniciou o Maitri Space Awareness, concebido como um programa terapêutico que utilizava o conceito das cinco famílias búdicas para abordar diferentes condições psicológicas. A ideia era que as pessoas que experimentam condições mentais específicas – entendidas como o inverso das qualidades iluminadas da família búdica correspondente – respondem de maneira diferente a certas configurações espaciais, cores e técnicas de meditação. Trungpa abriu um centro no subúrbio de Nova York dedicado a Maitri, em uma casa doada por um estudante. Embora o centro de Nova Iorque tenha fechado em 1976,[46] No ano seguinte, Trungpa iniciou o Grupo de Teatro Mudra, uma fusão entre a dança religiosa tibetana ( 'cham ) e o teatro experimental americano, bem como algumas práticas corporais sutis ( rtsa rlung). Trungpa estava então escrevendo peças e procurou usar o teatro como uma nova forma de prática budista; onde Maitri trabalhava com a mente, Mudra trabalhava com o corpo. Teve menos sucesso. Uma conferência de 1973 para trupes de teatro experimental co-organizada por Trungpa não terminou bem, depois que os alunos se comportaram de maneira grosseira em uma apresentação da companhia de Robert Wilson (n. 1941), a Byrd Hoffman School of Birds. O próprio Trungpa, após tentar impedir que seus alunos interferissem na peça, decidiu se juntar a eles. A palestra de Trungpa sobre o egoísmo dos artistas no dia seguinte pouco fez para acalmar os sentimentos ruins. [47] Ao mesmo tempo, Trungpa utilizava métodos de ensino mais tradicionais, pelo menos em suas formas externas, reunindo seus alunos para palestras sobre temas específicos. Em 1973 ele iniciou reuniões anuais para treinar seus alunos, chamadas Os Seminários, e, mais tarde, Seminários Vajradhatu. Os primeiros seminários eram caóticos, tanto festas de dança e bebida quanto práticas de meditação. Os alunos adquiriram o hábito de chegar às aulas programadas com duas horas de atraso porque Trungpa raramente chegava na hora marcada; Certa vez, ele comentou que chegou atrasado para permitir que o público trabalhasse e esgotasse suas expectativas antes de começar sua palestra. Os seminários eram programas de residência de três meses em doutrina, literatura e prática budista, By 1973 Trungpa's scattered activities and properties were in need of a central organizing body. He established Vajradhatu in Boulder that year. Individual dharma centers in cities across the United States were renamed Dharmadhatu Centers. A California student of Swami Satchidananda named Thomas Rich (1943-1990), who had met Trungpa on his first visit to Boulder, was the first administrator. When they met, Rich was using the name Narayana; Trungpa later gave him the name Ösel Tendzin. In 1976 he gave him the title of Vajra Regent and named him his dharma heir, the person who would inherit his religious authority and supervision of his students. Talvez uma das conquistas mais significativas de Trungpa, em termos de estabelecimento do budismo na América do Norte, tenha sido a fundação da Universidade Naropa , a primeira instituição budista de ensino superior fora da Ásia. Inicialmente sob o controle administrativo de Vajradhatu, começou como uma sessão de verão de 1974, com cursos ministrados por escritores, músicos e professores religiosos famosos como Ram Dass (1931-2019), Allen Ginsberg (1926-1997), Anne Waldman (b .1945), Joan Halifax (n. 1942) e John Cage (1912-1992). Aparentemente, Trungpa queria dar à nova escola o nome da famosa universidade monástica indiana Nālandā , mas outros acharam que seria muito presunçoso. [48] Então ele o nomeou em homenagem ao santo budista indiano do século XI, Nāropa, que serviu como um dos últimos abades de Nālandā. Ginsburg e Waldman organizaram o programa de escrita criativa, que chamaram de Escola de Poética Desincorporada Jack Kerouac. Mais de 1.500 alunos vieram para o primeiro verão. Os primeiros programas formais de graduação começaram no ano acadêmico seguinte, incluindo bacharelado e mestrado em estudos budistas, psicologia e artes. Naropa obteve credenciamento total em 1985 e atualmente oferece cursos de graduação e pós-graduação. O comportamento iconoclasta de Trungpa gerou polêmica na faculdade desde o início. Em 1975, o poeta WS Merwin (1927-2019) chegou a Naropa para estudar com Trungpa e concordou em lecionar na escola Kerouac. Trungpa e Merwin formaram um vínculo, e quando Merwin pediu que ele e sua namorada, a poetisa e ativista havaiana Dana Naone, tivessem permissão para frequentar o seminário daquele outono, no Eldorado Lodge em Snowmass, Colorado, Trungpa concordou, aparentemente deixando-os à frente de uma longa lista de espera de estudantes. Merwin e Naone geralmente mantinham-se isolados, participando de palestras e sessões de meditação e cumprindo seus deveres comunitários, mas optando por não participar da socialização. Dois meses depois do início do seminário de três meses, Trungpa decidiu que a escola iria organizar uma festa de Halloween. Merwin e Naone compareceram brevemente antes de retornarem ao quarto. Quando Trungpa chegou, ele ordenou que vários estudantes se despissessem, pelo menos um deles o fez de má vontade, e fez um discurso sobre a festa ser uma festa vajra, ou gaṇacakra. Um aluno explicou mais tarde que este era um desafio para a comunidade abandonar as suas inibições e envolver-se em comportamentos ultrajantes: “é preciso ser capaz de lidar com o tipo mais selvagem de energia e ainda assim manter a consciência”. [49] Gaṇacakra são, tradicionalmente, rituais altamente controlados que envolvem comportamento desviante: os participantes comem carne, bebem álcool e se envolvem em atividades sexuais, embora tradicionalmente estes fossem visualizados em vez de praticados fisicamente.[50] Uma estudante, Brigid Meier, contou como, quando Trungpa chegou, pediu um beijo e, quando ela se aproximou, ele torceu o braço dela e mordeu seu lábio, tirando sangue. Mantendo o controle sobre ela, ele mordeu sua bochecha, deixando marcas que duraram uma semana. [51]Quando Trungpa percebeu a ausência de Merwin e Naone, enviou seus alunos para convidá-los para a festa. Eles recusaram, Trungpa recusou-se a aceitar a resposta deles. Os alunos forçaram a entrada no quarto de Merwin e Naone, quebrando uma porta de vidro deslizante e arrombando a porta trancada do corredor. Naone gritou por socorro e Merwin tentou afastá-los com uma garrafa quebrada, mas os dois finalmente se renderam e foram levados para a festa. Trungpa ordenou que seus guardas tirassem as roupas de Merwin e Naone. Naone pediu aos estudantes que assistiam que interviessem. Diz-se que Trungpa deu um soco no único homem que tentou deter os guardas, sangrando o nariz. O Merwin nu exigiu saber por que os dois eram os únicos nus, momento em que outros estudantes começaram a tirar as roupas, Merwin e Naone permaneceram em Naropa até o final do seminário – Merwin explicou mais tarde que queriam receber os ensinamentos Vajrayana. Assim que a história foi divulgada, outros autores exigiram uma explicação, se não um pedido de desculpas, e o incidente ganhou atenção nacional depois que o proeminente poeta Robert Bly começou a falar sobre isso, e depois que o poeta Ed Sanders teve sua aula de Poesia Investigativa em Naropa pesquisando o incidente em 1977. A turma produziu um relatório de 179 páginas, cujos trechos foram publicados pela primeira vez em março de 1979 na Boulder Weekly , e foram usados para um artigo na Harper's em fevereiro de 1979, por Peter Marin. [52] A infame festa de Halloween não foi uma ocorrência incomum na comunidade Vajradhatu. O uso desenfreado de álcool e a atividade sexual continuaram em grande parte sem controle, e muitos relatos críticos das atividades de Trungpa continuam a ser publicados. Os alunos de Trungpa descreveram até que ponto os membros da comunidade permitiram o alcoolismo e a má conduta sexual de Trungpa – alguns perpetrando eles próprios abusos com poucas repercussões. [53] Os membros da comunidade, até mesmo pais de crianças vítimas de abuso, [54] desviaram sua atenção do dano causado, oferecendo explicações tiradas do misticismo tântrico: "Trungpa Rinpoche disse isso porque ele tinha natureza Vajra[uma psicofisiologia iogue transformada e estabilizada], ele era imune aos efeitos fisiológicos normais do álcool. " [55] Diz-se que Trungpa também recorreu ao álcool para descer ao nível de seus alunos. [56] E, novamente usando a linguagem do Tantra, diz-se que Trungpa "bebeu o veneno" - assumiu as paixões do samsara para colocá-las sob o poder da mente iluminada - a fim de melhor servir seus discípulos . única droga tomada; Em suas memórias, John Riley Perks descreve o uso de ácido com Trungpa e outros estudantes, e Nancy Steinbeck, em suas memórias O Outro Lado do Éden: A Vida com John Steinbeck , alega que Trungpa tinha um vício em cocaína de US$ 40.000 por ano. [58] Muito do comportamento iconoclasta de Trungpa - incluindo seu alcoolismo, crueldade com os animais, [59] e má conduta sexual - foi categorizado por sua comunidade como "sabedoria louca". O próprio Trungpa usou o termo pela primeira vez em dois seminários proferidos no Colorado em 1973, cujas palestras foram editadas e publicadas em 1991 sob o título Crazy Wisdom . As palestras, entretanto, sugerem que Trungpa não tinha então uma definição fixa da frase. [60] O aluno de Trungpa, Jeremy Hayward, explicou mais tarde que "As ações de um mestre de sabedoria maluca criam naturalmente o caos no ambiente que rompe a lógica convencional e os pontos de referência fixos e limitados de outros." [61]Acreditava-se que esse caos tinha uma qualidade libertadora. Existe uma base histórica para a afirmação; a tradição Karma Kagyu há muito venera santos individuais cujo comportamento chocou e ofendeu as normas sociais, expondo as ilusões do saṃsāra e permitindo momentos de compreensão da verdadeira natureza da existência. A tradição venera como santos seres em grande parte semimíticos conhecidos como mahāsiddhas que incorporam este ideal tântrico. Certas figuras históricas também foram celebradas por seus métodos excêntricos e receberam o epíteto de "iogues loucos" ( smyon pa ), e o consumo excessivo de álcool e a atividade sexual costumavam fazer parte das atividades desses homens. Ativistas e estudiosos chamaram a atenção nas últimas décadas para a longa história de exploração das mulheres no Budismo Tântrico Tibetano para o avanço religioso dos homens.[62] O rótulo de “sabedoria louca” tem sido usado por alguns membros da comunidade Vajradhatu para permitir e perpetuar abusos e para justificar danos. Midal escreveu sobre Trungpa que "Certas coisas surpreendentes que ele fez podem parecer chocantes hoje, e também podem ter parecido brutais ou malucas na época, mas graças a elas as pessoas a quem se destinavam foram capazes de se abrir totalmente." [63] Midal também afirmou que "Uma medida da compaixão [de Trungpa] pode ser obtida a partir dos relatos de várias estudantes que vivenciaram passar um tempo íntimo com ele como uma comunicação muito preciosa." [64] Um contraponto a esta justificativa preocupante é que muitos desses estudantes passaram décadas lidando com o trauma do abuso, que tem sido cada vez mais documentado por jornalistas e em fóruns online. A Visita do Karmapa de 1974 Mesmo no seu esforço para criar um budismo desprovido de características culturais tibetanas, Trungpa nunca se afastou totalmente dos seus próprios mestres e, em meados da década de 1970, trouxe tanto o Décimo Sexto Karmapa como Dilgo Khyentse para a América para ensinar os seus alunos. O efeito foi trazer seus métodos pouco ortodoxos para a comunhão com a religião tradicional tibetana. De acordo com Didi Contractor, um aluno de Swami Muktananda (1908-1982) que ajudou a organizar um encontro de Muktananda e o Karmapa em 1972, o Karmapa ficou na época perturbado pela maneira como Trungpa "estava modificando os ensinamentos tradicionais para se ajustarem o Ocidente e sobre o efeito que o Ocidente estava tendo sobre ele." A visita do Karmapa à América seria a oportunidade para Trungpa tranquilizar seu mestre. A visita de 1974 foi a primeira do Décimo Sexto Karmapa aos Estados Unidos, e Trungpa o recebeu em grande estilo. A comitiva, que incluía Kalu Rinpoche (kar lu rin po che, 1905-1989) e Freda Bedi, então ordenada e conhecida como Gelongma Palmo, desembarcou pela primeira vez na cidade de Nova York onde, em 21 de setembro de 1974, o Karmapa executou o preto cerimônia do chapéu no centro local de Dharmadhatu. Eles seguiram para Vermont, onde o Karmapa deu ao centro de Trungpa seu nome atual, Karmé Chöling, depois para Ann Arbor, Michigan, e finalmente para Boulder, onde o Karmapa realizou novamente a cerimônia do chapéu preto e deu várias iniciações aos discípulos de Trungpa. Durante as cerimônias, o Karmapa afirmou publicamente que Trungpa era um detentor da linhagem da tradição Karma Kagyu. O Karmapa fez isso numa proclamação escrita.[66] De acordo com a narrativa de Rick Fields emHow the Swans Came to the Lake, a visita do Karmapa também teve o efeito de preparar o terreno para Trungpa ensinar o Tantra a seus alunos. Eles receberam alguns ensinamentos esotéricos de Trungpa e realizaram as práticas preliminares, mas agora as transmissões do Karmapa possibilitaram práticas mais avançadas. [67] A visita também inspirou Trungpa a disponibilizar mais literatura clássica tibetana aos leitores ingleses e, assim, em 1975, ele estabeleceu o Comitê de Tradução Nalanda, que traduz principalmente obras litúrgicas para praticantes americanos. O biógrafo de Trungpa, Fabrice Midal, descreve a visita do Karmapa como um ponto de viragem no estilo de ensino de Trungpa. Trungpa acolheu o Karmapa com todo o esplendor tradicional, insistindo na perfeição até nos detalhes. Os alunos que anteriormente participavam de eventos com roupas casuais passaram a ser obrigados a usar ternos e vestidos e a adotar um comportamento deferente para com os dignitários visitantes. A visita reconectou Trungpa às raízes de sua linhagem, às exigências formais da tradição. Mas, em vez de simplesmente regressar aos métodos tradicionais de ensino, Trungpa parece ter sido inspirado a criar novas modalidades de formalidade, inspiradas nos costumes japoneses e ocidentais, bem como nos tibetanos. Após a visita, Trungpa se interessou pelo uso de fantasias. Ele começou a usar terno e gravata, embora ocasionalmente usasse uma chuba tibetana ou túnicas japonesas ou, mais tarde, uniformes de estilo militar que ele desenhou. Ele estudou e executou arranjos florais japoneses, ou ikebana, e serviço de chá, ambos atos rituais altamente formalizados. Ele criou o que chamou de Kalapa Ikebana para combinar elementos tibetanos e japoneses, e também adotou o tiro com arco kyudo japonês, que estudou com um professor chamado Kanjuro Shibata, que trouxe do Japão. [68] Parte da nova formalidade era o estabelecimento de uma guarda de estilo militar que viria a ser conhecida como Dorje Kasung. Os membros deste corpo, que treinavam num regime hierárquico estrito, tinham a responsabilidade de actuar como guarda-costas do professor, quem quer que fosse, e posicionavam-se nas entradas e ao longo das paredes durante os ensinamentos, não muito diferentes dos oficiais do serviço secreto que guardavam os diplomatas. David Rome, discípulo próximo de Trungpa que desempenhou vários cargos no início da década de 1970, foi o primeiro chefe da guarda. Os membros do Dorje Kasung eram obrigados a fazer treinamento anual de verão em artes marciais japonesas e rituais de purificação. A prática do Dorje Kasung tem sido amplamente integrada na estrutura de Shambhala do "caminho do guerreiro", onde é mencionada como um caminho distinto,[69] A formalidade aumentou em 1976 com a visita de Dilgo Khyentse Rinpoche e uma segunda visita do Karmapa. Naquele ano, Trungpa estabeleceu o que chamou de Corte Kalapa, inspirada no mítico reino de Shambhala do Kālacakra Tantra . Sob esta metáfora, Trungpa colocou-se no centro de uma mandala em torno da qual estavam dispostos seus assistentes, discípulos e estruturas institucionais. A ideia era iniciar um conjunto de protocolos formais para acessar Trungpa, que antes estava disponível para qualquer pessoa a qualquer hora – Diana Mukpo comentou que anteriormente os alunos entravam rotineiramente no quarto que ela dividia com Trungpa a qualquer hora da noite. [70] A estrutura envolvia funcionários domésticos semelhantes em função a uma mansão aristocrática inglesa, com estudantes elevados a certas posições de serviço dentro da família, adotando títulos tibetanos como kasung (bka' srung) e kusung ( sku srung ), termos tradicionais que significam " guardião do ensino" e "guarda-costas", respectivamente. Trungpa chegou ao ponto de fazer com que seus alunos americanos aprendessem a falar com sotaque britânico. [71] Trungpa certamente também estava pensando nas estruturas reais de sua infância no Tibete, onde foi capelão dos reis e rainhas dos reinos de Kham, como Nangchen e Lhatok. Na estrutura do Tribunal Kalapa, Trungpa seria referido como "Vossa Majestade" e sua esposa como "Lady Diana". [72] Os alunos começaram a servir Trungpa, Diana e Ösel Tendzin como uma forma de prática, e os professores foram considerados como tendo permitido esse serviço como uma expressão de sua generosidade. [73] A estrutura aristocrática, afirmou Trungpa, permitia a compaixão e a veneração, duas virtudes budistas fundamentais: aqueles nos estratos superiores da hierarquia deveriam sentir compaixão pelos que estavam abaixo deles, enquanto aqueles nos estratos inferiores deveriam venerar aqueles que estavam acima deles. [74] O estabelecimento do Tribunal Kalapa formalizou ainda mais uma cultura de obediência à autoridade de Trungpa e do seu sucessor, Ösel Tendzin. Baseava-se vagamente nas noções tântricas de devoção ao guru – a ideia de que o professor não é simplesmente o representante do Buddhadharma, mas é um Buda em pessoa e, portanto, digno de veneração e submissão. Tais teorias de devoção e submissão ao guru são postas em prática em contextos tibetanos em ambientes altamente ritualizados e raramente são interpretadas literalmente, muito menos adotadas fora de um contexto próximo de professor-discípulo. [75]Além disso, a literatura tibetana está repleta de advertências contra a aceitação de um guru sem primeiro examinar as suas qualidades e qualificações. A obediência cega, pelo menos na literatura, não é encorajada, pois, como disse a estudiosa Holly Gayley, “essa elevação e essa idealização não deixam espaço para um encontro humano com humano e o tipo de responsabilidade que é necessário em comunidades budistas para seus professores." [76] Na órbita de Trungpa, entretanto, esperava-se que todos os que aderissem prometessem fidelidade absoluta a Trungpa. O livro de Trungpa, Glimpses of Abhidharma, de 1978 , afirma que é preciso entregar o corpo ao guru. Em Empowerment , também publicado no mesmo ano, ele escreveu que é preciso se entregar como presente ao guru. [77] Não fazê-lo acarretou consequências graves. Como Steven Butterfield descreveu, os alunos foram ensinados a orar por uma morte horrível caso discutissem os ensinamentos com os não-iniciados, e foram informados de que se algum dia tentassem deixar a comunidade, "sofreriam uma angústia insuportável, sutil e contínua". ”, e que os desastres os perseguiriam “como fúrias”. [78]Os alunos aprenderam sobre o “inferno vajra”, o renascimento particularmente cruel daqueles que rejeitavam ou falavam mal de seus professores. [79] A nova formalidade de Trungpa não alterou muito seus métodos na sala de aula. Midal descreve como, na Assembleia Kalapa e no Seminário Vajradhatu de 1984, ele começou suas palestras em horários aleatórios, um dia às três da manhã e continuando durante o dia, outro dia começando às seis da tarde e só terminando depois das onze. Midal comenta que “assim a noite virou dia e o dia virou noite. Às sete da noite era hora de organizar o café da manhã. Os alunos foram assim levados a abandonar seus pontos de referência habituais”. Os discípulos de Trungpa celebraram essas "situações de caos" que eles acreditavam que poderiam "liberar de maneiras inesperadas" e, em sua desorientação, ampliaram sua devoção ao seu guru. [80] Shambhala Em 1976, Trungpa começou a ensinar o que veio a ser conhecido como as revelações de Shambhala, que constituem o núcleo do que desde então cresceu para uma rede institucional internacional que apoia um corpo de práticas seculares. Estes permaneceram ao lado de seus ensinamentos budistas até que as organizações Vajradhatu e Shambhala foram fundidas em 2000. No cerne dos ensinamentos de Shambhala está o que é chamado de "o caminho do guerreiro", um conjunto de métodos para cultivar a coragem e o altruísmo no objetivo. de criar o que Trungpa chamou de "uma sociedade global iluminada". Embora geralmente apresentados como um ensinamento não religioso, os ensinamentos iniciais de Trungpa sobre Shambhala foram coletados em um livro publicado em 1984 sob o título Shambhala: O Caminho Sagrado do Guerreiro., e ensinamentos adicionais moldados como revelações foram impressos separadamente nas últimas décadas. As histórias das revelações dos tesouros tibetanos são notoriamente flexíveis, expandindo-se e desenvolvendo-se à medida que o corpus de textos dentro de uma única revelação cresce em tamanho. A primeira menção publicada por Trungpa do reino de Shambhala foi em sua autobiografia, onde ele mencionou que durante uma breve pausa em sua fuga do Tibete ele "começou a trabalhar em uma alegoria sobre o reino de Shambhala e seu governante que libertará a humanidade no final da Idade das Trevas." [81] Esse texto não sobreviveu, embora mais tarde ele tenha reconstruído partes dele como um texto central da revelação. Várias narrativas afirmam que Trungpa continuou a refletir sobre o significado de Shambhala durante anos antes de dar várias palestras nos seminários de 1976 e 1977. Mais detalhes foram adicionados posteriormente. Conforme descrito por Midal, na noite de 25 de outubro de 1976, Trungpa recebeu uma marca visual – o que a tradição de Shambhala agora chama de axé – na qual o ensinamento do tesouro estava contido. Trungpa pediu aos alunos pincel, caneta e papel e largou a imagem; desenhando o cinzacontinua a ser uma prática central nos centros de Shambhala. Escrituras adicionais para o ensino - escritas em inglês - chegaram a Trungpa ao longo de vários anos, e ele tomou como tesouro o nome Dorje Dradul (rdo rje dra 'dul). Trungpa afirmou que a fonte dos tesouros era Gesar de Ling. Este mítico herói popular tibetano, afirmou ele, era uma emanação de Padmasambhava, que por sua vez é a fonte da maioria das revelações de tesouros tibetanos. [82] Trungpa apresentou os ensinamentos de Shambhala sobre o "caminho do guerreiro" usando metáforas de coragem e militarismo, e os concebeu como um novo caminho para a libertação. No outono de 1976, Trungpa ofereceu treinamentos em Shambhala, aparentemente inspirados por uma visita no início daquele ano de Werner Erhard (n. 1935), o fundador da EST, ou "Erhard Seminars Trainings". O modelo EST era um curso intensivo durante dois fins de semana que prometia “reprogramar” a consciência para, afirmava-se, realizar plenamente o potencial humano. EST era muito popular na década de 1970, mas enfrentou críticas significativas por práticas de controle mental semelhantes a cultos e, em 1984, foi modificado e renomeado como "O Fórum". Trungpa adotou o modelo do seminário intensivo de mudança mental e, embora o programa tenha tido um início difícil, Nos anos seguintes, as organizações de Trungpa continuaram a crescer, e ele, sua esposa e outros associados continuaram a abrir novos tipos de centros, desde creches até fazendas de cavalos. Centros Vajradhatu foram abertos em vários países, e os treinamentos de Trungpa, tanto Shambhala quanto Budistas, cresceram em complexidade. Embora Trungpa tenha nomeado Thomas Rich seu herdeiro do dharma em 1976, em 1979 ele nomeou seu filho mais velho, Ösel Rangdröl Mukpo, como seu herdeiro da linhagem Shambhala, com o título Sawang, que significa "Senhor da Terra" (sa dbang ) . Os sucessores de Trungpa mantiveram a cultura do abuso dentro das organizações. Ösel Tendzin usou a autoridade absoluta que Trungpa lhe investiu para coagir muitos membros da comunidade, tanto homens como mulheres, a envolverem-se em actividades sexuais enquanto estavam conscientemente infectados pelo VIH. As acusações incluem ter guardas segurando um homem enquanto ele o estuprava. Ösel Tendzin afirmou que Trungpa lhe disse que suas realizações meditativas protegeriam suas vítimas de infecções. [83]Enquanto muitos dentro da organização defendiam Ösel Tendzin, uma grande parte da comunidade se manifestou e exigiu a sua demissão, levando a comunidade ao ponto do colapso. Face a uma crise crescente, Ösel Tendzin acabou por ser ordenado por Dilgo Khyentse a recuar, embora se tenha recusado a entregar o controlo da organização. Ele morreu de AIDS em 1990. Após a morte de Rich, Ösel Rangdröl Mukpo assumiu o controle das organizações budistas e de Shambhala. Em 1995, o Terceiro Penor Rinpoche (pad nor 03, 1932-2009) investiu Mukpo com o título de Sakyong ( sa skyong ), que significa "Protetor da Terra", e o identificou como uma reencarnação de Ju Mipam Gyatso.('ju mi pham rgya mtsho, 1846-1912), um grande lama do século XIX que declarou a famosa declaração de que não renasceria em lugar nenhum a não ser em Shambhala. Em 2000, Mukpo fundiu as organizações Vajradhatu e Shambhala sob a égide da Shambhala International. Os outros filhos de Trungpa recusaram-se a servir como professores religiosos; Gesar Mukpo lançou um filme, “Tulku”, em 2009, que documenta a vida de cinco tulkus nascidos no Ocidente, incluindo ele próprio. Ashoka Mukpo trabalha na área de Direitos Humanos Internacionais. Tagtruk Mukpo, que tem deficiência intelectual, mora em um alojamento de apoio em Vermont. Em 2018, Sakyong Mipham renunciou ao cargo de chefe da organização depois que alegações de longa data de má conduta sexual foram tornadas públicas pelo Projeto Budista Sunshine; a diretoria da Shambhala International, que o protegeu enquanto pôde, renunciou em massa em desgraça. Apesar das muitas alegações bem documentadas de má conduta, Mukpo manteve o controle da organização. Seu anúncio no início de 2020 de que retomaria o ensino foi recebido com críticas generalizadas e com a demissão de muitos professores proeminentes. Halifax: os últimos anos de Trungpa Chogyam Trungpa visitou Halifax, Nova Escócia, pela primeira vez em 1977, e em 1980 estabeleceu residência lá, embora tenha continuado a passar a maior parte do ano em Boulder. Segundo Midal, o isolamento da Nova Escócia atraiu Trungpa. A sua saúde já estava em declínio, explicada por alguns como o custo da sua actividade incansável, e por outros como os efeitos a longo prazo do alcoolismo; ele fez um hiato de um ano em 1983-84 para entrar em retiro na Nova Escócia. Em 1983, seu aluno Pema Chödrön (n. 1936) fundou a Abadia de Gampo — em homenagem a Gampopa — um mosteiro Karma Kagyu em Cape Breton. Após a morte de Trungpa em 1987, o Nono Thrangu Rinpoche, Karma Lodro Ringluk Mawai Sengge (khra 'gu sprul sku 09 karma blo gros ring lugs smra ba'i seng+ge, nascido em 1933) tornou-se abade. Uma das inovações da Abadia de Gampo é a disponibilidade de ordenação temporária; os indivíduos têm permissão para ordenar por um período mínimo de nove meses. Tem servido como um importante centro de treinamento para praticantes budistas norte-americanos; um centro de retiro de três anos chamado Söpa Chöling foi estabelecido lá por Thrangu Rinpoche em 1990. Pema Chödron tornou-se uma das professoras budistas nascidas nos Estados Unidos mais respeitadas e reverenciadas, e seus livros, comoWhen Things Fall Apart e The Wisdom of No Escape são amplamente lidos. Em 2020, Pema Chödron renunciou ao cargo de professora sênior em protesto contra o retorno de Ösel Rangdrol Mukpo ao ensino. [84] Em 1986, Trungpa mudou sua casa para Halifax, juntamente com as sedes internacionais de Vajradhatu e Shambhala. Naquele mês de setembro, ele sofreu um ataque cardíaco e faleceu em 4 de abril de 1987. A causa da morte permanece controversa. Midal afirma que o médico de Trungpa, Mitchell Levy, com quem Diana Mukpo se casou mais tarde, anunciou inicialmente que a causa do ataque cardíaco foi diabetes e hipertensão, e que sua morte foi causada por uma infecção bacteriana. [85] No entanto, Levy declarou mais tarde em uma entrevista publicada no site Chronicles of Chogyam Trungpa, que Trungpa tinha uma doença hepática crônica causada pelo consumo prolongado de álcool. [86] Diz-se que Trungpa ficou sentado por três dias em tukdam ( barragem de bandidos ), um estado meditativo que segue a morte do corpo. Seu corpo foi então levado para Karma Chöling em Vermont, onde foi cremado em 26 de maio. Muitos grandes lamas compareceram, incluindo Dilgo Khyentse, o Décimo Segundo Tai Situ, o Terceiro Kongtrul, Lodro Chokyi Sengge (kong sprul 03 blo gros chos kyi seng + ge, 1954-1992), e o Décimo Segundo Tsurpu Gyeltsab, Drakpa Tenpa Yarpel (mtshur phu rgyal tshab 12 grags pa bstan pa yar 'phel, n. 1954). Seus restos mortais estão enterrados em uma stupa no Colorado. O Décimo Segundo Trungpa, Chokyi Sengge (drung pa 12 chos kyi seng ge, nascido em 1989), foi reconhecido pelo Décimo Primeiro Tai Situ em 1991. Ele está sendo treinado no Tibete nos mosteiros de Zurmang e Pelpung. [1]Trungpa, nascido no Tibete , 23. [2]Trungpa, nascido no Tibete , 25. [3]Trungpa, nascido no Tibete , 26. [4]Trungpa, nascido no Tibete , 30. [5]Trungpa, nascido no Tibete , 44-48. [6]Trungpa, nascido no Tibete , 48-54. [7]Trungpa, nascido no Tibete , 72-77. [8]Trungpa, nascido no Tibete , 79. [9]Trungpa, nascido no Tibete , 83-84. [10]Por exemplo, Trungpa, Nascido no Tibete , 91. [11]Trungpa, nascido no Tibete , 95-96. [12]Trungpa, Nascido no Tibete , 101. [13]Trungpa, Nascido no Tibete , 114-122.. [14]Trungpa, nascido no Tibete, 127-128. [15]Trungpa, Nascido no Tibete , 166, Capítulo Doze. [16]Trungpa, Nascido no Tibete , Capítulo Quatorze. [17]https://www.dechencholing.org/the-passing-of-lady-konchok/ [18]Campos, Capítulo 13. [19]Administrador. "O Oxoniano Ausente." [20]Trungpa, Nascido no Tibete , 252. [21]Trungpa, nascido no Tibete . [22]Em 1977, depois de Born in Tibet, Trungpa escreveu que compôs o texto, enquanto publicações posteriores de Shambhala identificam a obra como um tesouro. Veja http://www.philashambhala.org/public_html/Sadhana.shtml e Diana Mukpo, Dragon Thunder , Capítulo Um. [23]Trungpa, nascido no Tibete , 254. [24] The Asia Journal of Thomas Merton , citado em https://www.chronicleproject.com/christian-buddhist-dialogue/ [25]Trungpa, Jornada sem meta , p. 89. [26]Trungpa, Jornada sem meta , p. 89. [27]Trungpa, Jornada sem meta , p. 90. [28]Trungpa, nascido no Tibete , 253; Mukpo, 28-29. [29]https://www.dechencholing.org/the-passing-of-lady-konchok/ [30]Mukpo, 11. [31]Trungpa, nascido no Tibete . [32]Mukpo, 3. [33]Mukpo, Capítulo Um. [34]Remski; Gayley. [35]Berneto. Sobre o tema "consorte secreto", veja Gayley 2018. [36]Midal, Capítulo Vinte. [37]Mackenzie, 31. [38]Veja, por exemplo, Mackenzie, 180-181 e uma entrevista com Pema Chödron em Tricycle na edição do outono de 1993 intitulada "No Right, No Wrong", e a discussão de Midal sobre os sete Sangyum no Capítulo Vinte. [39]Pybus, 87. [40]Pybus, 27. [41]Marrom, 99. [42]Marrom, 121. [43]Trungpa, Nascido no Tibete , 257. [44]Midal, 16. [45]Veja Sharf. [46]Midal, Capítulo Oito. [47]Midal, Capítulo Nove. [48]Midal, 338. [49]Sanders, 33. [50]Larson, Louco por Sabedoria. [51]Preto e Colina. [52]Marin, Remski, Black e Hill, Sanders. Midal não inclui este episódio em seu livro. [53]Remski. [54]Remski. [55]Mordomo. [56]Montgomery. [57]Butterfield, 110. [58]Vantagens, 51-53, Steinbeck, 32, Remski. [59]Vantagens, 57-58, 60-61. [60]DiValério, pp. 237-240. [61]Hayward, 427. [62]Veja DiValério; Langenberg e Gleig; Jacoby; Gayley; Larsson. [63]Midal, Introdução. [64]Midal, Capítulo Sete. [65]Remski; Projeto Budista Sunshine. [66]Campos, 330. [67]Campos, 331. [68]Midal, 421-422. [69]Midal, Capítulo 21. [70]Mukpo, 123; Midal Capítulo 17. [71]Midal, Capítulo 15. [72]Midal, Capítulo 17; Vantagens, Capítulo 7. [73]Butterfield, 88. [74]Butterfield, 101. [75]O recente artigo da IATS de Geoff Barstow sobre casos em que os discípulos dizem “não”, o próximo livro de Pitkin, Khunu. [76]Preto e Colina. [77]Trungpa, Vislumbres do Abhidharma , 75; Trungpa, Empoderamento , 71. [78]Butterfield, 11. [79]Trungpa, Empoderamento , 59. Veja também Barnett. [80]Midal, Capítulo Sete. [81]Trungpa Nascido no Tibete , edição de 1985, 178-179. [82]Midal. [83]Butterfield; Remski; Projeto Budista Sunshine. [84]https://tricycle.org/trikedaily/pema-chodron-shambhala/ [85]Midal, 663.
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CHOGYAM TRUNGPA RINPOCHE E O BUDISMO DA LOUCA SABEDORIA
O primeiro livro budista que comprei num centro de darma foi o Comentário Sobre o Ngondro, Instruções Para as Práticas Preliminares Concisas do Budismo Tibetano, de Chagdud Khadro, alguns meses antes de iniciar a prática das preliminares. Nesse livro havia uma menção a Trungpa Rinpoche:
Um praticante ocidental recentemente escreveu sobre um encontro com seu lama, o falecido Chögyam Trungpa Rinpoche, detentor irrefutável de realização espiritual, também famoso por beber muito. Sentado numa sacada, Trungpa Rinpoche fez um sinal ao aluno para que viesse ajudá-lo a caminhar até o quarto. Enquanto carregava Trungpa Rinpoche, o aluno sentiu cheiro de álcool. Quando entraram no quarto, Rinpoche se voltou e disse, “Parece que você tem tido problemas ao meditar, não é?” e fez um gesto na direção de umas almofadas. “Sente ali e medite para mim.”
Quando se sentou, um pensamento cruzou a mente do aluno: “O que esse bêbado pode fazer por minha meditação?” Anos depois do acontecido, ele relatou “Após um tempo sentado em meditação eu o senti em minha cabeça, cortando aquela amarra, desfazendo esse nó e retirando aquele alfinete até que o topo de minha cabeça passou a flutuar livre, e eu atingi uma visão de 360 graus.”
Quando o aluno se curvou para ir embora, Trungpa Rinpoche aconselhou, “Sempre separe o homem do professor.”
Um tempo depois, um professor meu recomendou Trungpa Rinpoche de forma bastante entusiástica. Uma cópia de “Além do Materialismo Espiritual” dentro de um saco plástico com um post-it “oferenda” estava sobre uma mesa no escritório do centro budista – alguém havia deixado ali como presente –, e, após alguns dias olhando para aquele livro perdido, perguntei a ele se era tudo bem se eu pegasse para ler. A resposta foi “Sim, professor extraordinário, ensinamentos preciosos”. Fiquei muito impressionado que alguém tão certinho, tão evidentemente moralmente ilibado, recomendasse e louvasse tão francamente Trungpa Rinpoche.
Esse é um padrão que se repetiu ao longo dos anos: os professores mais extraordinários, poderosos e gentis invariavelmente louvavam abertamente Trungpa Rinpoche. A lista inclui Sua Santidade o Dalai Lama, Sua Santidade o Karmapa, Dilgo Khyentse Rinpoche, Dzongsar Khyentse Rinpoche, Traleg Rinpoche e muitos outros. De fato, atualmente, se quero examinar um professor, faço o caminho oposto: pergunto sua opinião sobre Trungpa Rinpoche. Se há qualquer crítica, ou mesmo hesitação, perco imediatamente a confiança.
A máxima crítica que aceito é uma como a de Robert Thurman: “se ele não bebesse tanto, teria vivido mais e beneficiado mais seres”. Porém, mesmo o professor Thurman compreende que os meios hábeis dos seres extraordinários são incompreensíveis para nossas expectativas espaço-temporais. A quantidade de projetos e o legado que Trungpa Rinpoche deixou no seu curto período de 18 anos nos EUA é absolutamente inconcebível. Um mestre como ele opera efetivamente além do tempo e além de qualquer forma particular manifesta.
Dzongsar Khyentse Rinpoche chegou a dizer que as duas únicas comunidades budistas que ele viu funcionando realmente bem no ocidente foram a de Trungpa Rinpoche e a de Chagdud Rinpoche.
Posso dizer até que, francamente, sem Trungpa Rinpoche, minha afinidade pelo budismo teria permanecido extremamente superficial – talvez bastante temporária. Nossa cultura é tão degenerada, e eu, pessoalmente, estou em tanta sintonia com essa degeneração, que valores explicitamente positivos, a princípio, não me atraiam (o que me atraia era exatamente a imagem contraditória de um professor budista alcoolizado, sem nenhuma vergonha de beber, sem nem mesmo esconder o fato – coisa até então inédita para mim). A dissonância cognitiva disso – embora eu mesmo nunca tenha tido grande interesse pelo álcool – me era absolutamente fascinante.
Também ajudava pensar que alguém com um defeito tão humano pudesse ter realização espiritual. Havia alguma chance para alguém como eu.
Algumas pessoas têm o mérito de olhar para um monge de cabeça raspada ou para a figura do Buda e, imediatamente, sentir devoção, querer espelhar aquelas qualidades. Já outras, como eu, sentem devoção por professores esquisitos e ultrajantes, como os mahasiddhas da Índia – professores budistas realizados com uma aparência tão fora dos padrões que, como Dzongsar Khyentse Rinpoche descreve, “você pode achar a ideia da figura deles legal, mas se algum realmente batesse a sua porta, você chamaria é a polícia”.
Creio que não há problema com nenhum dos dois enfoques e em iniciar com qualquer um deles – monge certinho, ou “buda rebelde” –, desde que em determinado ponto larguemos nossos julgamentos e ambos os estilos produzam devoção. O próprio Buda Sakyamuni, em vários sutras mahayana, incitou seus alunos para que renascessem por todo lado – em lugares degradados ou mesmo em âmbitos mundanamente considerados elevados, mas onde a espiritualidade normalmente não penetra. Deste modo, há mestres realizados no budismo que foram bandidos, prostitutas, reis, acadêmicos, vaqueiros etc. Isso (o Vajrayana, de forma geral) é uma tradição budista reconhecida e com mais de mil anos de história.
Se alguém tem problema com mestres estranhos ou controversos – e realmente é raro que sejam seres de fato realizados como Trungpa Rinpoche (há muito mais mestres falsos, com qualquer aparência, do que verdadeiros) – o melhor é, em todo caso, procurar um professor como Sua Santidade o Dalai Lama. Isto é, alguém que se manifesta na forma de um monge de ética muito pura, reconhecido por milhares de pessoas por sua compaixão ou erudição. Na impossibilidade de ser ele mesmo (porque ele é muito famoso e talvez inacessível como professor pessoal para a maioria das pessoas), alguém semelhante que tenha recebido o aval de muitos mestres. No entanto, algumas vezes de fato é compensador ir atrás dos selvagens, particularmente se eles efetivamente têm o aval aberto e irrestrito de outros grandes mestres que, por sua vez, preenchem o estereótipo de “bom budista” ou “budista bonzinho”. Aí há realmente algo a observar. Esse é o caso de Trungpa Rinpoche, não é algo comum.
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Sua Eminência Chagdud Tulku Rinpoche, em 2001, convocou todos os lamas que ordenou (uns 25 compareceram) para um treinamento de dois meses no Khadro Ling que culminou no Druptchen da “Essência do Siddhi” daquele ano. “Druptchen” significa “grande realização (ou siddhi)” e é uma elaborada cerimônia com de quatro a seis grandes sessões diárias de meditação com várias horas de duração, que inclui o uso de paramentos, instrumentos musicais, vários implementos rituais e uma variedade de oferendas e, enfim, danças sagradas. Os Druptchens podem ter várias durações e podem seguir por meses, mas no Khadro Ling normalmente há dois por ano e eles duram 9 dias cada.
Neste Druptchen é utilizado um texto revelado por Dilgo Khyentse Rinpoche, e em uma das muitas etapas da prática, os “oito nomes do Guru” ou as oito emanações de Guru Rinpoche – estilos que ele usou para beneficiar seres com necessidades diversas – são visualizadas. No contexto do Druptchen, a culminância é com danças diárias referentes a uma ou outra das oito emanações. As máscaras utilizadas na dança foram produzidas pelo próprio Chagdud Rinpoche, com ajuda de seus alunos. Rinpoche ensinou as coreografias aos brasileiros e tudo ainda é realizado, anualmente, exatamente como era no Tibete. É fácil inferir que, se hoje a tradição de Guru Rinpoche está viva no Brasil e agora podemos publicar livros sobre Padmasambhava (e esperar que pessoas sintam afinidade e entendam), isso se deve, sem dúvida, a interdependência com o que Chagdud Tulku Rinpoche estabeleceu por aqui.
Quando retornei daquele retiro especial de 2001, com tantos lamas presentes, ainda com o frescor das bênçãos bem nítidas, encontrei uma caixa de livros me esperando, entrega internacional.
Entre esses livros o tão esperado “Crazy Wisdom”, de Trungpa Rinpoche: justamente uma explicação dos Oito Nomes do Guru – com o enfoque duplo nos ensinamentos mais elevados do budismo tibetano e uma perspectiva “psicológica” ou “metafórica” palatável aos obstáculos intelectuais (superstições materialistas) contemporâneos. Uma preliminar para exatamente o tipo de Ioga do Guru presente na Essência do Siddhi. Naquela época eu morava de favor em um centro de darma na cidade de Porto Alegre. Eu, no ápice do meu momento “vagabundo do darma”, tinha muito tempo livre. Absolutamente fascinado pela profundidade dos ensinamentos, decidi traduzir o livro – sem ninguém me pedir e sem um público específico em mente. Talvez, a princípio, como um modo de eu mesmo me relacionar mais diretamente com o conteúdo daquele texto fascinante.
A tradução seguiu muito rápida. Por vários anos muitas pessoas que por acaso se deparavam com uma cópia, perguntavam quando sairia por alguma editora (eu sempre dizia que achava que nunca). Quatorze anos depois, graças à Lúcida Letra, o livro ganha uma edição. A tradução foi completamente revisada – não ficou parágrafo sem modificação.
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A dúvida comum com relação a “Louca Sabedoria” é se ele se trata de um livro adequado para nossos tempos – se as pessoas terão interesse ou se serão capazes de entendê-lo e, talvez mais importante, se não distorcerão a ideia de louca sabedoria.
Alguma distorção é esperada, como a própria imagem de Trungpa Rinpoche pode causar alguns problemas em iniciantes. É comum que pessoas imaturas, mas com algum mérito de encontrar o darma, achem justificativas nas atitudes incompreensíveis de grandes mestres para seus próprios vícios ou idiossincrasias. “Ora, se Trungpa fumou, eu também posso fumar” etc. há vários formatos – mas esse é um erro que, em geral, é resolvido com uma semana de convívio com uma comunidade budista. Não imitamos a atitude externa dos professores. Não só porque eles são “maiores” do que nós (embora eles, em certo sentido, e no mais das vezes, sejam de fato incomensuravelmente “maiores”, ainda que no sentido relativo, que, se formos ver, é só o que conta em comparações mesmo…) – mas porque não estamos na posição daquela pessoa, não estamos na mesma circunstância espaço temporal, não vivemos com as mesmas expectativas e condições. Somos outra pessoa: a mesma ação vinda de nós tem outro sentido, tem outro resultado e tem outra motivação. Mesmo os alunos de Trungpa que tentaram agir como ele, em sua presença, receberam sinais claros de que “não era por aí”.
Em outras palavras, a menção de louca sabedoria e uma ideia superficial sobre ela, pode dar a entender que “vale tudo” no budismo. Mas copiar os mestres de forma leviana é o mesmo que se descobrir, no primeiro semestre de medicina, segurando o bisturi no meio de uma neurocirurgia. E ao começar a cortar o tecido, talvez só então, naquele momento crucial, dar-se conta de que esse negócio de ser médico não combina muito com você. Se, por acaso, a pessoa tem sorte, não terá cortado nada essencial, não terá causado nenhum dano mais profundo. Esse é o tipo de leviandade de copiar o comportamento ultrajante dos grandes professores. É certo que se quebrará a cara e, se for o caso, é melhor que se quebre a cara o quanto antes, porque se demorar muito, o estrago pode mesmo ser grande.
Por outro lado, se atentamos bem ao livro – ou aos ensinamentos dos grandes mestres em geral –, reconheceremos que a louca sabedoria, a sabedoria desmedida não tolhida por nenhum limite ou arrazoamento, que não é outra coisa senão compaixão totalmente destemida é, de fato, apenas a pura expressão de nossa “sanidade básica”, isto é, de nossa natureza de buda. O livro foca essa perspectiva bastante tradicional de que Guru Rinpoche é, no fundo, muito mais do que uma figura histórica, nada mais do que uma espécie de reflexo da nossa própria natureza.
Essa sanidade inata, quando reconhecida e deixada inalterada, se expressa de forma particularmente intensa e não negocia com nada e com ninguém. Ao mesmo tempo, se a pessoa lê as palavras “não negocia com nada e com ninguém” e tenta fabricar algo que chama de “sanidade básica”, embasada nesses conceitos forçados, passando a agir por louca sabedoria porque isso “parece legal”, então a resposta da sanidade inata inseparativa de todos os budas é imediata. Se temos mérito, quebramos a cara rápido, pela compaixão dos budas.
Também a capa do livro pode causar alguma confusão. Das oito formas de Guru Rinpoche de que o livro trata, duas são ditas “iradas”, Senge Dradok e Dorje Drolod. Para alguém que não conheça o budismo tibetano, eles têm a aparência de demônios. Porém, o que os budas de aparência irada expressam é essa forma de compaixão particularmente intensa, ligada ao reconhecimento direto da própria natureza.
O próprio Buda só chamou os maras (obstáculos, demônios, sendo um deles a fixação na ideia de um “eu”) para o combate quando atingiu a iluminação. Se alguém os chama para o combate, um instante que seja, antes da iluminação, tudo estará perdido. Todo o caminho budista se desfaz e o que era caminho budista se transforma numa espécie de prisão em que a incomodação, a projeção do nosso próprio “projeto de praticante” inacabado como um fantasma de justificação passa a ser incessante. E então perde-se muito tempo com sofrimento desnecessário. Pode levar bastante tempo até se achar um professor capaz de nos resgatar desse estado.
Porém, se reconhecemos a sanidade básica, podemos expressar as formas de Guru Rinpoche, e então lidar com maras ou com o que quer que seja, não é problema.
Após Além do Materialismo Espiritual e o Mito da Liberdade, que tratam da transição do mahayana para o tantra, Trungpa Rinpoche escreveu “O Rugido do Leão” (Lion’s Roar, não traduzido para o português), uma explicação dos nove veículos descritos pela tradição nyingma, sua primeira incursão nos ensinamentos vajrayana em livros publicados abertamente. Imediatamente após O Rugido do Leão, vem este Louca Sabedoria, Journey Without a Goal (“Jornada sem destinação”) e Orderly Chaos (“Caos Ordenado”) – os dois últimos sem tradução publicada.
Mas Louca Sabedoria, em certo sentido é um prenúncio dos livros mais sofisticados sobre budismo que Trungpa publicou antes de se dedicar mais aos termas “não necessariamente budistas” do caminho de Shambhala. O texto tem alguns momentos de efulgência e louca sabedoria direta, mas é bem mais acessível do que se fosse apenas isso. Ele, antes de tudo, explica que essa tradição existe e como se manifesta na relação com o professor, e em termos psicológicos. Então, embora algumas pessoas o situem como um ensinamento de topo, ele é mais como uma preliminar para ensinamentos avançados do que propriamente uma transmissão direta deles, embora tenha seus momentos.
Pessoas que precisam de explicações, que sentem devoção por Guru Rinpoche, e que sentem os obstáculos diretos das superstições materialistas são o alvo desse livro. Se você ainda não conhece Guru Rinpoche, também é um bom lugar para começar.
Além de seus potenciais perigos – facilmente dissipados com o mínimo de maturidade e inserção mínima em alguma comunidade budista –, esse é um livro definitivamente adequado para esses tempos degenerados. Particularmente entre aqueles tocados pelas bênçãos de Guru Rinpoche – aqueles em particular abertos à união das linhagens de Shechen Kongtrul e Dilgo Khyentse Rinpoche – para estes, os ensinamentos do Detentor Incessante de Rigpa, estado desperto intrínseco, Chogyam Trungpa Rinpoche são inestimáveis.
Escrito com a aspiração de que mais ensinamentos de Trungpa Rinpoche venham à tona em português, em particular Transcending Madness. Dzongsar Khyentse Rinpoche, durante ensinamento sobre o livro no centro de Trungpa Rinpoche em Halifax, o elogiou como sendo “o mesmo que um tantra raiz”. Um texto sobre os seis bardos bastante difícil, também foi extremamente louvado por Dzongsar Khyentse Rinpoche em várias ocasiões.
O livro “Louca Sabedoria”, de Chögyam Trungpa lançado pela Lúcida Letra já está disponível para encomendas aqui. Esse fascinante livro examina a vida de Padmasambhava — o reverenciado professor indiano que levou o budismo ao Tibete — para ilustrar o princípio da louca sabedoria. Dessa perspectiva profunda, a prática espiritual não fornece respostas confortáveis para a dor ou para a confusão. Pelo contrário, as emoções dolorosas são valorizadas como desafiadoras oportunidades que permitem novas descobertas. Em particular, o autor discute a meditação como uma forma prática de desvelar nossa própria sabedoria inata em meio à vida cotidiana.
Fonte: https://www.budavirtual.com.br/chogyam-trungpa-rinpoche-e-o-budismo-da-louca-sabedoria/
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