A VIDA DE MÍSSEIS, ORGIAS E ABUSO DE COCAÍNA DE UM DOS CRIADORES DA BONECA BARBIE

 


Jack Ryan, um dos inventores da Barbie, com a atriz Dza Dza Gabor
Jack Ryan, um dos inventores da Barbie, com a atriz Dza Dza Gabor Reprodução

A vida de mísseis, orgias e abuso de cocaína de um dos criadores da boneca Barbie

Livro descreve Jack Ryan como um narcisista viciado em sexo e drogas que se suicidou aos 64 anos; filha conta como o designer apontou arma contra cabeça da irmã dela

21/07/2023 04h30  Atualizado há 9 horas

A maioria das bonecas vendidas em lojas nos Estados Unidos, até os anos 1950, eram reproduções de bebês ou crianças. Mas a americana Ruth Handler vinha observando que a sua filha, Barbara, gostava muito mais de brincar com as bonecas como se elas fossem adultas. Ruth, então, sugeriu ao marido, Elliot Handler, um dos sócios fundadores da fábrica Mattel, a criação de brinquedos imitando corpos de mulheres adultas, mas o empresário não deu a menor bola para a ideia.

Durante uma viagem para a Europa com os filhos, Barbara e Kenneth, em 1956, a americana conheceu uma boneca alemã que era exatamente o que ela tinha pensado. Chamada Bild Lili, a boneca era uma "mulher" inspirada na personagem de uma tirinha em quadrinhos do jornal "Bild". Desenhada para ser vendida a adultos, Lili fazia sucesso com as crianças alemãs. Ruth comprou três exemplares, deu um para sua filha e, ao voltar para os EUA, levou dois para o departamento de criação da Mattel.

Para desenvolver a nova boneca, que seria lançada em 1959, batizada com o apelido da filha, Barbie, Ruth chamou o designer Jack Ryan, cujo emprego anterior não tinha nada a ver com o que ele fazia na Mattel. Formado na Universidade Yale, Ryan trabalhara como engenheiro na empresa de armamentos militares Raytheon, onde desenvolvia os mísseis AIM-7 Sparrow e MIM-23 Hawk, usados em conflitos como as guerra do Vietnã e do Irã-Iraque. O americano foi um dos "pais" da Barbie, mas você não vai ver nenhuma referência a ele no filme sobre a boneca, que estreou nos cinemas nesta quinta-feira.


"O pessoal que negociava com bonecas achava que a Barbie era um grande erro", disse Ryan, de acordo com uma reportagem sobre ele publicada pelo GLOBO em janeiro de 1975. "Uma boneca infantil com seios? Não se admitia que o mercado fosse aceitar isso. Mesmo assim, disparei-a como se fosse um foguete. E não foram apenas as garotinhas. As mães também se apaixonaram pelos vestidos. Da mesma forma como papai fica impressionado com trenzinho elétrico".

Àquela altura, Ryan era um milionário. Não apenas devido ao êxito da boneca com seios, mas também porque havia criado outros brinquedos famosos, como os carrinhos Hot Wheels, o leão Larry The Lion e, claro, o melhor amigo de Barbie, Ken. Considerado um inventor brilhante, o engenheiro trabalharia na Mattel até fins dos anos 1970, quando deixou o cargo e processou a empresa, reivindicando direitos autorais não pagos por suas invenções (mais tarde, a companhia e ele entraram em acordo).

No livro "Toy Monster: The Big Bad World of Mattel" (2009), o americano Jerry Oppenheimer, autor de biografias espinhosas de celebridades como Anna Wintour, Jerry Seinfeld e os Kardashians, descreve Jack Ryan como um narcisista perturbado e maníaco sexual. O designer era dono de uma propriedade de 16 mil metros quadrados em Los Angeles, chamada de "O Castelo", decorada com arcos no estilo da Grécia Antiga, armaduras medievais, pisos de mármore e até um trono no altar do salão onde, de acordo com o livro, o inventor da boneca mais famosa do mundo conduzia bacanais semanais.

Segundo amigos de Ryan, ele gostava de transar com modelos que seguiam o padrão de beleza da Barbie e se inspirava nas suas muitas parceiras sexuais para criar novas versões da boneca. De acordo com a obra de Oppenheimer, o designer chegou a adotar um sistema usado por bibliotecas, antes do advento da computação, para catalogar as características físicas das mulheres que conhecia. "Tudo era registrado por seu séquito de belas secretárias", escreve o autor. Assim, quando ele queria reunir garotas com atributos parecidos em uma festinha, bastava recorrer a esse sistema.

"À exceção de um pequeno círculo de confidentes, poucas pessoas sabiam que o Pai da Barbie era uma massa de problemas emocionais e vícios tratáveis e não tratáveis, incluindo o que mais tarde seria conhecido como hiperssexualidade, uma necessidade obsessiva por gratificação sexual, que era um dos sintomas de seu transtorno bipolar", de acordo com Oppenheimer.

Em entrevista recente ao jornal "New York Post", a americana Anne Ryan, de 68 anos, filha do designer e apresentadora do podcast "Dream House: A história real de Jack Ryan", disse que o inventor, certa vez, apontou uma arma contra outra de suas filhas, num episódio de paranoia movida por doses de cocaína, cercado pela polícia de Los Angeles. "Meu pai bebia muito e usava drogas. Ele achava que as pessoas o perseguiam, que estava sempre sendo espionado eletronicamente", contou Anne.


Ela relatou que tinha 22 anos de idade quando recebeu o telefonema de um amigo de seu pai dizendo, em tom exasperado, que ela precisava ir pra casa correndo. "Quando cheguei lá, tinha vários carros de polícia do lado de fora do portão e até veículos da Swat. Fiquei alarmada", disse ela. "O amigo dele veio correndo até mim e disse: 'Você precisa entrar, seu pai está fazendo a Diana de refém'. A polícia achava que eu podia colocar algum juízo no meu pai, eles não sabiam mais o que fazer".

Mais tarde, Anne viria descobrir o que originara a situação. Sua irmã entrara numa cozinha adjacente à suíte de Ryan e percebera uma boca do fogão acesa e "cozinhando" cartuchos de espingarda. Achando que o pai estava afim de explodir a casa toda, ela ligou para a polícia. Ao entrar na mansão, Anne se viu sugada pelo caos. "Meu pai estava acuado e segurando uma arma contra a cabeça de Diana, enquanto policiais apontavam suas armas para ele. Eu não podia acreditar".

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"Me colocaram debaixo de uma mesa no salão de entrada da casa e pediram para eu falar alguma coisa. Diana estava tremendo e chorando. Eu não conseguia dizer nada, minha voz não saía, mas acabei articulando alguma coisa: 'Vai ficar tudo bem, pai, apenas solta a Diana'", relembrou ela na entrevista. "Não me recordo de nada específico depois daquilo, a não ser quando ele baixou a pistola e os policiais saíram de todos os lados e agarraram meu pai e minha irmã".

Após o episódio, ocorrido em meados dos anos 1970, Ryan concordou em se internar numa clínica psiquiátrica. Àquela altura, segundo Oppenheimer, Ruth Handler já estava tentando afastar o inventor da Mattel, por não concordar com o estilo de vida dele. Até hoje, Anne move uma campanha para que seu pai seja reconhecido pela firma como o criador da Barbie. Ela alega que a fabricante de brinquedos faz de tudo para apagar o legado do designer, tentando se distanciar dos escândalos.

Ao longo da vida, Ryan foi casado cinco vezes, uma delas com a húngara Dza Dza Gabor (o designer foi o sexto dos nove maridos da atriz). Com o tempo, a exposição ao estresse e o abuso das substâncias químicas cobrou uma dívida cara de sua saúde. Em 1989, ele sofreu um derrame e, em 1991, cometeu suicídio usando uma arma de fogo. Tinha 64 anos. Todos os grandes jornais americanos escreveram obituários sobre ele, sublinhando a sua genialidade como inventor e o seu inferno psicológico.

A boneca alemã Bild Lili e uma versão antiga da Barbie — Foto: Reprodução

A boneca alemã Bild Lili e uma versão antiga da Barbie — Foto: Reprodução


Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/blog-do-acervo/post/2023/07/barbie-a-vida-de-misseis-orgias-e-abuso-de-cocaina-de-um-dos-criadores-da-boneca.ghtml




Jack Ryan: Criador da Barbie diante de seu 'castelo' em Los Angeles — Foto: Acervo pessoal/Anne Ryan

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