CANNABIS ALÉM DA MEDICINA: CELEBRIDADES, EMPRESAS E PRODUTORES RURAIS ESTÃO DE OLHO NESTE MERCADO

 

Plantação de cannabis sativa. Defensores da utilização comercial do cânhamo industrial veem benefícios para pelo menos 20 setores da economia
Plantação de cannabis sativa. Defensores da utilização comercial do cânhamo industrial veem benefícios para pelo menos 20 setores da economia Divulgação


Cannabis além da medicina: celebridades, empresas e produtores rurais estão de olho neste mercado

Só nos Estados Unidos, cânhamo industrial rendeu quase US$ 1 bilhão em 2021. Quem defende o cultivo vê benefícios a mais de 20 setores da economia

Por Eliane Silva — Ribeirão Preto (SP)

10/06/2023 07h20  Atualizado há 2 semanas

O uso medicinal tem ficado mais em evidência quando se fala em liberação do cultivo de cannabis sativa e comercialização de produtos à base da planta no Brasil. Recentes decisões judiciais, inclusive, têm permitido o plantio por pacientes em tratamento para diversas doenças. Em São Paulo, por exemplo, uma lei sancionada no início deste ano regulamenta o fornecimento de medicamentos à base de cannabidiol no sistema de saúde.

Mas as possibilidades vão muito além da medicina. Em várias partes do mundo e também no Brasil, pesquisadores, empresas, celebridades e até mesmo produtores rurais estão de olho nesse potencial e em como fazer da planta um produto do agronegócio ou, até mesmo, uma commodity global.

Um desses agricultores é Ricardo Arioli, sócio da Agropecuária Novocampo. A empresa planta 2 mil hectares de soja e cria 2 mil cabeças de gado em Campo Novo do Parecis (MT), município também conhecido como a capital nacional do milho pipoca.

“Recebo muitos produtores de outros países na minha fazenda e gosto de estar sempre antenado com as tendências. Há 3 anos, li uma notícia de que, nos Estados Unidos, muitos agricultores estavam ganhando dinheiro com a produção de hemp para medicamentos e fibras e pensei que seria uma boa oportunidade de negócios para nós no Brasil”, diz Arioli.

O “hemp” que ele menciona é o cânhamo industrial, uma das subespécies da cannabis sativa e que, no Brasil, foi popularizada como a maconha. A planta começou a ser cultivada há pelo menos seis mil anos para a produção de medicamentos, alimentos e fibras.

Apenas em 2021, o mercado movimentou US$ 824 milhões nos Estados Unidos e US$ 1,7 bilhão na China. No Brasil, o cânhamo chegou com os portugueses, que usavam a fibra nas velas das embarcações. (veja mais números ao final da reportagem)

Na época do império, o Brasil tinha no Rio Grande do Sul a Real Feitoria do Cânhamo e Linho. O produto beneficiado no país era exportado para Portugal. Há pouco mais de 80 anos, o cultivo foi proibido, uma decisão – a exemplo do que ocorre em outros países – atrelada às propriedades psicoativas da cannabis, como a sensação de euforia causada no seu uso recreativo.

A cultura ficou com pecha negativa por causa da maconha, mas pesquisas lá fora já provaram que o cânhamo industrial não tem propriedades psicoativas. Falta autorizar a pesquisa aqui e identificar as variedades que podem ser plantadas"
— Ricardo Arioli, produtor rural

No entanto, a cepa que produz o cânhamo industrial tem menos de 0,3% de tetraidrocanabinol (THC), composto causador do efeito. Além disso, afirmam especialistas, a planta de cânhamo desenvolvida geneticamente para fibras, alimentos e medicamentos é mais alta e “magra” que a popular maconha.

Consultorias, empresas e associações que atuam nesse mercado estimam que em cinco anos o cânhamo deve movimentar US$ 30 bilhões no mundo. A Prohibition Partner, empresa inglesa de análise de mercado, aposta mais alto: estima que, em 2022, as vendas globais já somaram US$ 45 bilhões e podem chegar a US$ 101 bilhões até 2026.


No Brasil, o potencial com a legalização do cultivo, comercialização e exportação é projetado em US$ 5 bilhões por ano pela Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann). A Kaya Mind, empresa brasileira especializada no segmento, estima que em 2022 o mercado de medicamentos à base de cannabis, o único regulado, movimentou R$ 363,9 milhões no país e deve dobrar neste ano.


Gaúcho radicado em Mato Grosso, Ricardo Arioli afirma ter ficado surpreso ao conhecer outras possibilidades e mercados para a cannabis. De outro lado, se diz “inconformado” com o fato da pesquisa de variedades da planta só ser permitida no país com autorização judicial.


“A cultura ficou com pecha negativa por causa da maconha, mas pesquisas lá fora já provaram que o cânhamo industrial não tem propriedades psicoativas. Falta autorizar a pesquisa aqui e identificar as variedades que podem ser plantadas sem risco e com alta produtividade”, diz ele.

Ele afirma que tem procurado parcerias com universidades e institutos de pesquisa que tenham autorização para colocar a sua própria fazenda como área experimental para o cânhamo. Representante do comitê de fibras na Confederação Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Arioli acredita que o agro do Estado do Mato Grosso tem muito potencial de plantio.

“Lembro que o cultivo do algodão se desenvolveu muito aqui. Hoje, o Estado é o líder do ranking nacional, reconhecido em todo o mundo pela qualidade. Pelas informações, o cânhamo produz uma fibra mais longa e de excelente qualidade e pode ser uma opção bem lucrativa de rotação com outras culturas”, explica.


Fonte:https://globorural.globo.com/negocios/noticia/2023/06/cannabis-alem-da-medicina-celebridades-empresas-e-produtores-rurais-estao-de-olho-neste-mercado.ghtml

Mercados potenciais para a cannabis sativa — Foto: Globo Rural

Mercados potenciais para a cannabis sativa — Foto: Globo Rural

O que é a cannabis sativa — Foto: Globo Rural

No Brasil, o potencial com a legalização do cultivo, comercialização e exportação é projetado em US$ 5 bilhões por ano pela Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann). A Kaya Mind, empresa brasileira especializada no segmento, estima que em 2022 o mercado de medicamentos à base de cannabis, o único regulado, movimentou R$ 363,9 milhões no país e deve dobrar neste ano.


Comentários