Robôs não vão superar pessoas, diz cofundador da OpenAI, criadora do ChatGPT
Em festival de inovação, Greg Brockman diz que foco da empresa é o ‘bem para a Humanidade’
Por André Miranda e Luiza Baptista — Austin, EUA
12/03/2023 04h30 Atualizado há um mês
A fila para acessar um auditório de dois mil lugares no quarto andar do Centro de Convenções de Austin, no Texas, era tão grande que chegou a invadir o terceiro. No palco, a estrela era Greg Brockman, um homem tranquilo mas de fala rápida, na faixa dos 30 anos, cujo nome ainda é pouquíssimo conhecido no mundo, mas cuja empresa cofundada e presidida por ele virou uma sensação desde o fim do ano passado. O grande assunto do primeiro dia do maior festival de inovação do mundo, o South by Southwest (SXSW), foi a OpenAI e suas ferramentas de inteligência artificial, sobretudo o ChatGPT.
Brockman, contudo, deixou mais perguntas no ar do que ofereceu respostas. Numa apresentação mediada pela jornalista Laurie Segall, ele saiu pela tangente quando o assunto foi regulação e desemprego pela automação.
Insistiu que o desejo da OpenAI é fazer o “bem para a Humanidade”, mas admitiu que houve casos de desinformação na plataforma. E afirmou que os robôs não tomarão decisões melhor do que as pessoas.
A OpenAI foi fundada em 2015, mas passou a ser conhecida mesmo em novembro de 2022, quando tornou público o ChatGPT, um sistema de inteligência artificial que responde a qualquer tipo de pergunta de seus usuários e se aperfeiçoa constantemente.
O ChatGPT pode desde explicar para um aluno do ensino médio quem foi Darwin numa linguagem simples, quanto pode criar em segundos os códigos para um profissional de animação fazer um filme sobre a teoria da evolução das espécies. Rapidamente, passou a ser usado por estudantes, publicitários, artistas, advogados, médicos, jornalistas e qualquer outra profissão que exija conhecimento específico e raciocínio.
— Minha mulher teve uma doença misteriosa, foi a vários médicos ao longo de três meses até descobrir o que era. Aí eu fiz um teste no ChatGPT, sinalizando os sintomas e perguntando o que poderia ser. Ele deu algumas opções, a segunda era a correta — disse Brockman. — Mas isso não quer dizer que eu quero substituir os médicos. A inteligência artificial serve para te dar sugestões, ela oferece ideias para que as pessoas tomem suas decisões.
Aportes bilionários
A OpenAi já recebeu investimentos de bilionários da indústria da tecnologia, como Elon Musk, Reid Hoffman (cofundador do Linkedin) e Peter Thiel (cofundador do Paypal).
Recentemente fechou um contrato de bilhões de dólares com a Microsoft, que está incorporando a tecnologia do ChatGPT em seu buscador, o Bing. A empresa também é criadora do DALL-E, ferramenta lançada em 2021, para a geração de imagens por inteligência artificial.
— Eu sinto que nossa missão é ser benéfica para a Humanidade, por isso surgimos como uma empresa sem fins lucrativos. Mas, para ter o impacto que gostaríamos, precisamos de mais e melhores computadores. Foi preciso levantar recursos e não é fácil para uma empresa sem fins lucrativos conseguir centenas de milhões de dólares. Daí somos uma empresa estranha, sem fins lucrativos, mas com um braço que pode trazer lucro para seus investidores e acionistas — explicou Brockman.
No início da apresentação, a jornalista Laurie Segall perguntou quem na plateia utilizava o ChatGPT, e mais da metade levantou a mão imediatamente — a sensação é que o restante ou estava cansado ou era blasé demais para se mexer.
Brockman disse ter consciência do sucesso da plataforma e de quanto isso cria pressão sobre a responsabilidade por possíveis erros.
— Em 2015, nós percebemos que essa tecnologia de inteligência artificial era alcançável. Ainda demorou quase uma década para estarmos onde estamos hoje, mas tínhamos um sentimento de que iria acontecer. Hoje, as pessoas percebem que não é ficção científica — disse Brockman. — Mas sabemos que precisamos ser cuidadosos. Não é porque o ChatGPT diz que uma coisa é verdade que ela é verdade. Isso não serve para humanos, e também não deve servir para a inteligência artificial.
Sobre algumas das críticas e dos temores em torno do ChatGPT, Brockman manteve o mesmo discurso apaziguador de quem jura querer fazer o bem. Assim, tratou de regulação e de automação da mão de obra:
— Estamos bem engajados a conversar com os legisladores sobre regular a inteligência artificial, mas não temos todas as respostas. Há um debate acontecendo agora, estamos construindo um novo tipo de internet — afirmou, antes de ser perguntado se a tecnologia vai tirar empregos. — Sim, vai. A questão é quais empregos. Robôs tiram o trabalho manual de algumas pessoas. Mas os humanos são muito mais capazes de fazer coisas que as máquinas. O ChatGPT não está aqui me entrevistando. Ele não tem a capacidade de fazer julgamentos que você tem.
‘Sistema igualitário’
Outra crítica comum trata dos casos de erros cometidos pela ferramenta. Brockman explicou que o ChatGPT considera várias fontes de informação e que estão trabalhando para aperfeiçoar a plataforma. E disse acreditar que, no futuro, ele vai ajudar o jornalismo a combater notícias falsas.
— Queríamos que um sistema fosse igualitário e tratasse todos os sites convencionais igualmente, mas acho que as pessoas estavam certas em nos criticar — admitiu, ressaltando que é possível utilizar sua tecnologia para combater desinformação. — Eu acho que a tecnologia não tem sido simpática de várias formas ao jornalismo. E acho que a IA pode ser bastante útil para o jornalismo.
Fonte:https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2023/03/robos-nao-vao-superar-pessoas-diz-cofundador-da-openai.ghtml
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