O CÂNCER ALÉM DOS REMÉDIOS: O GRANDE PAPEL DE PRÁTICAS COMO MEDITAÇÃO, IOGA E REIKI NO TRATAMENTO DA DOENÇA

 

Luciana Lobo atende Adriana Valois no Instituto ZENcancer, em Botafogo, no Rio.
Luciana Lobo atende Adriana Valois no Instituto ZENcancer, em Botafogo, no Rio. Leo Martins

O câncer além dos remédios: o grande papel de práticas, como meditação, ioga e reiki no tratamento da doença

Criado por ex-paciente oncológica e instrutora de ioga, Instituo ZENcancer faz parceria com o Inca

Por Janaína Figueiredo

21/05/2023 04h30  Atualizado 21/05/2023


Quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama, há seis anos, a funcionária pública federal aposentada Adriana Valois, hoje com 54 anos, ficou, como segundo ela fica a grande maioria dos pacientes oncológicos num primeiro momento: sem chão. Seus pés se sentiram firmes novamente quando conheceu o Instituto ZENcancer, onde foi acolhida, e hoje é uma das voluntárias que acolhe os que chegam em busca de ajuda. Em suas palavras, “o câncer vai muito além do tratamento médico, é preciso suporte emocional” para atravessar o que, não necessariamente, é uma sentença de morte.

Adriana é um dos cerca de 100 voluntários do instituto — na maioria dos casos pacientes e ex-pacientes oncológicos —, fundado em 2018 pela instrutora de ioga Luciana Lobo, que teve câncer de mama em 2017 e, desde então, trabalha para “mudar o olhar sobre a doença”. A chamada medicina integrativa que Luciana promove já chegou ao Instituto Nacional do Câncer (Inca), onde são realizadas práticas de ioga e relaxamento com pacientes adultos e pediátricos, seus familiares e profissionais da saúde. A parceria, garante Sima Ferman, chefe do serviço de pediatria do Inca, “tem sido um diferencial muito importante para os pacientes e para seus pais, porque não podemos esquecer dos pais”.

— Estudos recentes mostram que quando os pais conseguem enfrentar melhor a doença dos filhos o tratamento das crianças melhora. Conseguimos a cura numa grande quantidade de casos, e trabalhamos para que a qualidade de vida do paciente, e de sua família, seja a melhor possível — explica Sima, entusiasmada com o trabalho que, segundo ela, “transformou o hospital num lugar menos pesado”.

As práticas de relaxamento, acrescentou, “são um complemento essencial para o tratamento oncológico. Porque o tratamento, apenas, não resolve as demandas das crianças e de seus pais”.

— O acolhimento ajuda os familiares a terem forças para enfrentar e ajudar — frisa a médica.

O trabalho em conjunto entre o ZENcancer e o INCAvoluntário tem tido um impacto tão positivo, afirmou Fernanda Vieira, gerente geral do INCAvoluntário, que as práticas devem se expandir a outras sedes do INCA no Rio. O ZENcancer também participa de uma Ação Educativa na Área de Ensino e Pesquisa do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro.

— As práticas de relaxamento melhoraram o convívio geral e o bem-estar psicossocial de pacientes, familiares e profissionais da saúde. Elas trazem um conforto muito grande, porque cuidamos do corpo e da mente. Os relatos que recebemos são de que os tratamentos melhoram quando todos estão menos ansiosos — comenta Fernanda.

Segundo ela, “fazer práticas de relaxamento como ioga ajudam os pacientes a absorverem melhor os medicamentos e, a seus familiares, sobretudo mães de pacientes pediátricos, a entenderem melhor o que estão vivendo”.

Atualmente, as práticas são realizadas no Inca1, onde se tratam a maioria dos tipos de câncer e pacientes pediátricos, e no Inca3, especializado em câncer de mama. Com 17 funcionários e 180 voluntários — número ainda muito abaixo dos 600 que atuavam no grupo antes de pandemia —, o INCAvoluntários, junto ao ZENcancer, está trazendo conforto em momentos onde predominam a angústia e a dor. Segundo Fernanda, “as mudanças de comportamento em pacientes e familiares são incríveis”.

— Mães de pacientes oncológicos que chegam nervosas, muitas vezes até mesmo agressivas, conseguem entender melhor a doença de seus filhos — frisa ela.

Benefícios

Num espaço muito menor, mas que chega, através de parceiros espalhados por vários estados do Brasil, e desde o começo do ano até mesmo em Portugal, o ZENcancer tem hoje 475 inscritos. Tudo começou e continua numa sala em Botafogo, onde Luciana, coautora do livro “O que aprendi com minhas células rebeldes?”, passou a dedicar tempo para ajudar pacientes oncológicos que não têm recursos para financiar terapias alternativas. O instituto tem atualmente práticas gratuitas de ioga restaurativa, psicoterapia, arteterapia, terapia floral, fisioterapia, reiki, meditação e mindfullness. O programa de Práticas Interativas Complementares (PICs), explica o relatório de atividades do ZENcancer, “tem como objetivo oferecer gratuitamente práticas integrativas e complementares aos tratamentos médicos ao maior número possível de pacientes oncológicos. A cada dia, novos estudos indicam os benefícios destas práticas, sendo possível reduzir o nível de cortisol (hormônio do estresse), diminuir a fadiga, os distúrbios do sono, a ansiedade e o medo. Estes benefícios ajudam consideravelmente na recuperação do sistema imune e na melhora da qualidade de vida durante e após o tratamento”.

— Queremos mudar o olhar sobre o câncer, e mudar a ideia de que um diagnóstico de câncer é uma sentença de morte — afirma Luciana, que com seus conhecimentos como instrutora de ioga e mestre em microbiologia, abriu um caminho hoje abraçado por muitos.

Alto astral

Adriana é uma de suas primeiras discípulas. Em tratamento por um câncer de mama metastático, a funcionária pública dedica grande parte de seu tempo a ajudar outros pacientes oncológicos. Seu alto astral é contagiante, e impacta qualquer pessoa que a conhece. O desejo de transmitir o que aprendeu no instituto a fez estudar ioga restaurativa para poder acolher outros.

— Como as pessoas me viam bem, me pediam que eu falasse com amigos e familiares que estavam com câncer, muito pra baixo. Um dia cheguei no instituto angustiada, e disse para a Luciana que gostaria de ajudar essas pessoas. Ela me deu uma bolsa para fazer o curso de ioga restaurativa e assim comecei. Vou ajudar outros pacientes até meu último dia de vida — conta Adriana, defensora ferrenha da necessidade de, ao longo do tratamento, e depois, dele, cuidar do corpo e da mente.

— Quando recebe o diagnóstico, o paciente oncológico fica sem chão. No instituto, a gente se sente seguro no chão e do chão a gente não passa — afirma a funcionária pública.

Ela garante que os quatro pilares de sustentação da doença são “o amor que recebi de minha família, o ZENcancer, o Lar do Frei Luiz e meu oncologista, Mário Alberto”.

— Através do instituto alcancei uma conexão com a minha verdade, com o meu próprio ser. Aprendi que o autocuidado é fundamental para ter mente e corpo saudáveis, sem contar com a rede de amizades e troca troca de figurinhas, pois falamos a mesma língua, entendemos as dores alheias e as nossas próprias dores e sofrimentos. Lá consegui liberar as minhas emoções e soltar o meu choro engasgado — conclui Adriana.

Para mais gente

A fundadora do instituto ZENcancer, Luciana Lobo, teve câncer de mama em 2017 e, desde então, trabalha para ajudar outros pacientes oncológicos. Quando recebeu o diagnóstico, ela, que já era instrutora de ioga, redobrou as atividades do que chama de práticas complementares e restaurativas, chegando a desembolsar cerca de R$ 5 mil por mês.

O tamanho da despesa, conta Luciana, a fez perceber que esse tipo de prática, considerado por ela essencial para pacientes e familiares, não está ao alcance de todos. Muito pelo contrário. Poucas pessoas podem dispor de R$ 5 mil mensais para fazer atividades como ioga, fisioterapia e psicoterapia.

Atualmente, Luciana financia o instituto com seus próprios meios, e consegue levar adiante um trabalho que está se expandindo graças à colaboração de seus voluntários. Com um trabalho presencial e híbrido, o instituto está presente em 55 cidades, de 11 estados do Brasil, além de sua recente chegada à Portugal.


Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2023/05/cancer-alem-dos-remedios-a-grande-importancia-de-praticas-como-meditacao-ioga-e-reiki-no-tratamento-da-doenca.ghtml


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