GÊMEAS TRANS RELATAM JORNADA E MUDANÇAS 2 ANOS APÓS CIRURGIAS DE RESIGNIFICAÇÃO DE SEXO: 'LIBERTADOR'
Gêmeas Mayla Phoebe e Sofia Albuquerck — Foto: Leonardo Brauwer/Arquivo pessoal
Gêmeas trans relatam jornada e mudanças 2 anos após cirurgias de redesignação de sexo: 'Libertador'
Mayla e Sofia contam sobre caminho de autoaceitação e início da vida acadêmica. Elas fizeram o procedimento em Blumenau em 2021.
Por Joana Caldas, g1 SC
18/03/2023 07h00 Atualizado há 5 horas
Dois anos depois, após uma jornada de emoções e descobertas, a fase de acompanhamento chega ao fim. As duas falam em alívio, em liberdade, e até em situações cotidianas que agora trazem pequenos prazeres, como tomar banho.
Ao g1, relataram como foi a jornada no período pós-cirúrgico e sobre a inspiração que se tornaram para outras pessoas, sejam jovens trans ou os pais deles.
"Nesses dois anos, foi literalmente o recomeço de uma nova história, de uma nova pessoa em si. A gente teve que aprender tudo de novo, por conta que era tudo uma coisa nova, inusitada. E o sentimento era de estar liberta, de poder ser quem a gente é e estar livre de todo aquele peso que estava sobre a gente", resume Sofia.
As cirurgias foram feitas em fevereiro de 2021. As gêmeas fizeram o procedimento pela rede particular, mas ele também está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Elas tinham 19 anos na época.
Cerca de duas semanas depois do procedimento, elas tiveram alta. Desde então, há um acompanhamento por parte da clínica, conta Sofia.
"Mandaram mensagem, perguntaram se a gente estava sentindo alguma coisa diferente, de não conforme ao que eles esperam. Perguntaram sobre como a gente se sente esteticamente. E tudo ocorreu superbem, tranquilo, a gente não teve nenhum problema".
Elas se preparam para voltar a Blumenau para a última consulta. Originalmente, as gêmeas são de Tapira, em Minas Gerais.
Alívio e emoção
Mayla conta que, após a cirurgia, há um período de alegria e adaptação.
“Não dá para descrever o sentimento, mas a primeira coisa é alívio que a gente sente. E, depois, é tudo muito incrível quando a gente vai descobrindo como funciona, tem que redescobrir como usar tudo de novo. Você tem que reaprender. Não é igual era antes. Até para poder fazer xixi é muito difícil, tem que aprender".
O alívio também podem ocorrer situações cotidianas.
“Meu primeiro banho, eu chorei. Eu não gostava de tomar banho por conta do meu órgão genital e hoje eu sinto prazer em tomar banho, é uma das coisas que eu amo fazer”, relata Mayla.
Ela conta que, antes da cirurgia, às vezes tomava banho de shorts para esse sentimento descrito por ela, chamado de disforia de gênero.
Gêmeas Mayla Phoebe e Sofia Albuquerck — Foto: Arquivo pessoal
Sofia complementa, dizendo que também há um período de adaptação na vida sexual.
“A primeira vez que você vai ter uma relação, é supernormal sentir um desconforto, é supernormal dar um sangramento. Porque você sente tudo aquilo que está sentindo pela primeira vez”.
Toda pessoa trans busca a cirurgia de redesignação de sexo?
A cirurgia foi importante para Mayla e Sofia, mas um dos médicos responsáveis pelo procedimento delas, José Carlos Martins Junior, destacou que essa não é a realidade para a maior parte das pessoas transgênero.
“95% mais ou menos da população trans é feliz com seu órgão genital. Cerca de 3% a 5% da população de mulheres trans têm indicação para redesignação sexual", diz ele.
As irmãs gêmeas Mayla Phoebe e Sofia Albuquerck, de 21 anos, na última vez em que estiveram juntas, em Balneário Camboriú — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
A busca pela cirurgia está relacionada à disforia de gênero, de acordo com o médico. “A disforia de gênero é um estresse, é um mal-estar, é uma tristeza que a mulher trans sente quando ela percebe que a maneira como ela se entende não é a maneira que foi designada a ela no momento do nascimento".
Em 2020 novas regras para a cirurgia de transição de gênero foram aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). A resolução amplia o acesso à cirurgia e também ao atendimento básico para transgêneros.
A norma reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para o início de terapias hormonais e define regras para o uso de medicamentos para o bloqueio da puberdade. Procedimentos cirúrgicos envolvendo transição de gênero estão proibidos antes dos 18 anos. Antes era preciso esperar até os 21 anos.
Para Mayla, o acompanhamento com a psicóloga foi um momento relacionado à aceitação.
“Quando eu descobri que eu tinha que ir à psicóloga, eu falei assim ‘mas eu tenho certeza que eu quero fazer a cirurgia. Não é a psicóloga que vai me dizer se eu quero fazer a cirurgia ou não’. Mas nunca foi para ela me ajudar a decidir se eu quero ou não, sempre foi para me ajudar a me aceitar. Porque eu não me aceitava. Eu não suportava a ideia de alguém me perguntar na rua se eu era trans. Não saía de casa, eu ficava isolada".
Sofia Albuquerck (à esquerda) com a irmã, Mayla Phoebe de Rezende — Foto: Nadson de Souza/Divulgação
Sofia completa declarando que a aceitação tem que ficar de dentro. “Às vezes a gente bota isso na cabeça de que a gente tem que parecer mais uma mulher cis, como a população prega", resume. "A gente tem que parar e aceitar o nosso próprio corpo, e não empregar aquilo que a sociedade coloca como objetivo", completa.
"A gente não tem que pegar e falar assim ‘nossa, eu sou uma mulher linda porque fiz feminização facial, porque eu fiz readequação sexual’. Você faz aquilo se você tiver se sentindo incomodada consigo mesma. Você faz aquilo para você ter um psicológico melhor consigo mesma, e não por conta que alguém está pregando aquilo em cima de você", afirma Sofia.
Transgênero é a pessoa que se identifica com o gênero oposto ao qual ela nasceu. Não há relação com orientação sexual. — Foto: Alexandre Mauro / G1
Conselhos para jovens e pais
Com a rara situação de duas irmãs gêmeas que fizeram cirurgias de redesignação sexual no mesmo período, as duas acabaram sendo procuradas por outras pessoas, que pediram conselhos para elas.
“Tiveram muitos pais que mandaram mensagem perguntando como foi para os meus pais. A gente passava o meu site, que a gente deixava para conversar sobre o assunto, e muitas meninas, inclusive novas, de 16, 17 anos me mandaram mensagens perguntando como contar para os pais", diz Mayla.
"Uma mãe que mandou mensagem perguntando ‘como foi para os seus pais, porque até ontem tinha meu filho de 14 anos com barba e agora ele veio dizer que é trans. Como foi para você? Como foi para os seus pais? Posso conversar com os seus pais?’", conta Mayla.
Já os jovens perguntam sobre como foi a experiência das irmãs. "Eles enviam mensagens assim para mim, perguntando como foi a cirurgia, se eu recomendava, como funcionava, o que precisava", diz.
Inclusive, Mayla afirma que já fez até amigos dessa forma.
"Quando cada uma operava, contava para a gente e era muito legal. Uma amiga eu conheci através disso e fiquei muito próxima hoje. Ela operou agora e estou muito feliz por ela".
Procedimento pelo SUS
É a portaria nº 2.836 de dezembro de 2011, que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que trata sobre o direito da cirurgia de readequação de sexo e o uso de hormônios. O objetivo é geral da portaria é promover a saúde integral da população LGBT.
Fonte:https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2023/03/18/gemeas-trans-relatam-jornada-e-mudancas-2-anos-apos-cirurgias-de-redesignacao-de-sexo-libertador.ghtml
COMO FOI A HISTÓRIA DAS GÊMEAS
Gêmeas trans de 19 anos fazem cirurgia de readequação de sexo em SC
Elas nasceram com sexo biológico masculino, mas discutem transição desde antes da maioridade. Segundo especialista, processo de transição exige acompanhamento por dois anos.
Em um hospital de Blumenau, no Vale do Itajaí, gêmeas de 19 anos realizaram cirurgia de readequação de sexo. Elas nasceram com o sexo biológico masculino, mas discutem a transição para o feminino desde antes da maioridade. O hospital informou que a cirurgia de uma delas terminou na noite de quarta-feira (10). A outra irmã foi operada na quinta (11).
Antes de ser submetido à cirurgia, o paciente precisa passar por acompanhamento multidisciplinar por cerca de dois anos. As gêmeas fizeram a cirurgia pela rede particular, mas o procedimento é disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Dos cinco hospitais públicos brasileiros que prestam esse serviço, nenhum fica em Santa Catarina. A espera no país para iniciar o processo pode levar até cinco anos (leia mais abaixo).
Segundo o hospital, as pacientes passaram por acompanhamento psicológico e orientações médicas. As duas começaram o tratamento hormonal por volta dos 15 anos.
A cirurgia feita na quarta-feira durou cinco horas, mesmo tempo que o procedimento da irmã, realizado nesta quinta. Elas estão de repouso no mesmo quarto e ficarão internadas por três dias, conforme o hospital.
Os médicos José Carlos Martins Junior e Cláudio Eduardo, especializados em cirurgia trans e feminização facial, foram os responsáveis pelo procedimento cirúrgico realizado no Hospital Santo Antônio. Segundo a unidade, é a primeira vez que gêmeas passam por esse tipo de procedimento no país.
Médicos durante uma cirurgia no hospital em Blumenau — Foto: Alex Ferrer/Divulgação
Legislação
Conforme mostra o vídeo abaixo, em 2020 novas regras para a cirurgia de transição de gênero foram aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). A resolução amplia o acesso à cirurgia e também ao atendimento básico para transgêneros.
A norma reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para o início de terapias hormonais e define regras para o uso de medicamentos para o bloqueio da puberdade. Procedimentos cirúrgicos envolvendo transição de gênero estão proibidos antes dos 18 anos. Antes era preciso esperar até os 21 anos.
Cirurgia é último recurso procurado
Para o pesquisador Rodrigo Moretti, professor e pesquisador do departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), do Núcleo de Estudos em Gênero e Saúde, a busca de pessoas transexuais interessadas em fazer a cirurgia de readequação de sexo diminuiu nos último anos.
Isso porque antes do decreto nº 8.727 de abril de 2016, que trata sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis ou transexuais, a cirurgia era obrigatória para que a pessoa pudesse modificar seus documentos.
"A cirurgia é o último recurso, muitas vezes a população necessita só da modificação das características secundárias, que o uso de hormônio as vezes dá conta, sem a necessidade de alteração genital", afirmou Rodrigo Moretti.
Transgênero é a pessoa que se identifica com o gênero oposto ao qual ela nasceu. Não há relação com orientação sexual. — Foto: Alexandre Mauro / G1
Procedimento pelo SUS
É a portaria nº 2.836 de dezembro de 2011, que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que trata sobre o direito da cirurgia de readequação de sexo e o uso de hormônios. O objetivo é geral da portaria é promover a saúde integral da população LGBT.
Para realizar a cirurgia de readequação de sexo pelo SUS, o acesso inicial é via Unidade Básica de Saúde (UBS). Após esse primeiro contato, é função da rede estadual direcionar essa pessoa para um dos centros de referência habilitados pelo Ministério da Saúde que realizam o procedimento .
No Brasil, cinco hospitais prestam esse serviço de acompanhamento para a população. Nenhum deles fica em Santa Catarina.
"Os mais próximos do estado ficam em Porto Alegre e São Paulo. Tem também um no Rio do Janeiro, em Pernambuco e Goiás. Cada um dos centros realiza no máximo duas cirurgias como essas por mês. Então, isso dá uma média 10 procedimentos por mês e isso é muito aquém da necessidade. É uma situação precária", disse Rodrigo.
Segundo o pesquisador a fila de espera é longa, com relatos de pessoas que esperam por mais de cinco anos para iniciar o processo.
"O direito destas pessoas está assegurado, é uma politica pública que já tem 10 anos. Mas se avançou muito pouco desde então. Há grandes dificuldades na realização deste procedimento hospitalar pelo SUS. [...] Por mais que essas mulheres trans sejam cidadãs, elas não tem o seu direito cumprido na sua totalidade neste sentido", disse.
O G1 procurou a Secretaria de Estado da Saúde para informações sobre a fila de espera e não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Avanço
Mesmo com um cenário que ainda precisa melhorar, Rodrigo Moretti, vê o procedimento das gêmeas como um grande avanço.
"Até muito recentemente, mesmo com recursos para fazer a cirurgia no sistema privado de saúde e passando pelo acompanhamento com profissionais qualificados, as pessoas não conseguiriam realizar esta cirurgia. Acho que tem uma mudança de cenário bem interessante neste sentido", explica o professor.
De acordo com o pesquisador esse tempo segue parâmetros internacionais que são seguidos pelo CFM.
"Esse procedimento não é tranquilo, é algo que mesmo depois da cirurgia demora tempo para a pessoa se adaptar. É uma modificação muito profunda. No fim, essa mulheres já são mulheres desde sempre, mas foram lidas como homens pela questão genital e por uma certa incompreensão da sociedade. Tem que limpar uma vida aí, toda uma uma trajetória de opressão", concluiu.
Ambulatório Trans
Florianópolis é uma das poucas capitais do país que tem um ambulatório de atendimento específico para este público. Segundo o último levantamento da prefeitura, 400 pessoas trans foram atendidas no local regularmente.
Os atendimentos acontecem no Centro de Saúde do Saco Grande e Campeche. Os médicos e outros profissionais de Saúde acompanham os processos de hormonização e indicam exames aos pacientes. Esse acompanhamento também pode implicar em tirar dúvidas sobre a cirurgia readequação de sexo.
"O ideal que não tivéssemos locais específicos. O melhor seria que esta população pudesse frequentar qualquer posto próximo. Mas é possível ver essa sensibilidade da rede municipal de saúde nesta questão. A gente tem vários estudos que apontam que temos mulher trans e homens trans com problemas básicos de saúde, como por exemplo, unha encravada. A pessoa não tinha a coragem de ir no serviço de saúde pelo estigma que ela sabia que iria sofrer por ser uma pessoa trans. O hormônio é sim importante, mas o básico também é", disse Rodrigo Moretti.
Primeira cirurgia
A primeira cirurgia no Brasil foi anterior a qualquer resolução oficial. Ela foi feita em 1971 pelo cirurgião Roberto Farina, que chegou a ser condenado por isso. Farina também fez a primeira cirurgia em um homem transexual no Brasil – o paciente foi o psicólogo e escritor João Nery, autor do livro “Viagem solitária – memórias de um transexual 30 anos depois”.
Já a primeira cirurgia de redesignação sexual na rede pública no Brasil foi realizada em 1998, no Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas. Na época, o procedimento só foi possível após a resolução 1482/97 do CFM. A primeira mulher trans a ser operada pela rede pública de saúde foi Bianca Magro, em 1998.
Fonte:https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2021/02/12/gemeas-de-19-anos-fazem-cirurgia-de-readequacao-de-sexo-em-hospital-de-sc-transicao-exige-acompanhamento-por-dois-anos-diz-especialista.ghtml
Jovem trans que fez cirurgia de readequação de sexo com irmã gêmea recebe alta em cidade de SC
Mulher de 19 anos fez o procedimento na quarta-feira (10). De acordo com o médico José Carlos Martins Junior, a cirurgia durou cerca de 4h30 e não teve intercorrências. Irmã deve deixar a unidade de saúde no domingo (14).
Por G1 SC
13/02/2021 19h42 Atualizado há 2 anos
Ela fez o procedimento na quarta-feira (10). De acordo com o médico José Carlos Martins Junior, a cirurgia durou cerca de 4h30 e não teve intercorrências. A outra irmã, que foi operada na quinta (11), deve deixar a unidade de saúde no domingo (14).
Segundo Martins, que é especializado em cirurgia trans, as jovens serão acompanhadas pela equipe médica pelo próximos 14 dias para continuarem o tratamento.
"Todos os dias a gente vai fazer dilatação vaginal e, depois do 14º dias, elas estão liberadas para a cidade de origem e a gente vai acompanhá-las via telemedicina. Depois de mais ou menos entre seis e oito meses elas voltam para a cidade e, uma vez por ano, elas fazem consulta com a gente ou com algum ginecologista que a gente vai indicar", contou.
Segundo o hospital, as pacientes passaram por acompanhamento psicológico e orientações médicas. As duas começaram o tratamento hormonal por volta dos 15 anos.
Médicos durante uma cirurgia no hospital em Blumenau — Foto: Alex Ferrer/Divulgação
Antes de ser submetido à cirurgia, o paciente precisa passar por acompanhamento multidisciplinar por cerca de dois anos. As gêmeas fizeram a cirurgia pela rede particular, mas o procedimento é disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Dos cinco hospitais públicos brasileiros que prestam esse serviço, nenhum fica em Santa Catarina. A espera no país para iniciar o processo pode levar até cinco anos.
Legislação
Conforme mostra o vídeo abaixo, em 2020 novas regras para a cirurgia de transição de gênero foram aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). A resolução amplia o acesso à cirurgia e também ao atendimento básico para transgêneros.
A norma reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para o início de terapias hormonais e define regras para o uso de medicamentos para o bloqueio da puberdade. Procedimentos cirúrgicos envolvendo transição de gênero estão proibidos antes dos 18 anos. Antes era preciso esperar até os 21 anos.
'Nunca tive rejeição familiar', diz gêmea trans que passou por cirurgia de readequação de sexo em SC
Mayla diz que desde os 3 anos já se identificava com o sexo feminino e pediu a Deus que a transformasse em uma menina. Ela e a irmã gêmea fizeram a cirurgia e já tiveram alta.
Por Joana Caldas, G1 SC
14/02/2021 20h17 Atualizado há 2 anos
Mayla Phoebe de Rezende passa bem o pós-operatório. Ela e a irmã gêmea Sofia, de 19 anos, fizeram cirurgia de readequação de sexo em um hospital de Blumenau, no Vale do Itajaí. Mayla teve alta no sábado (13) e Sofia, no início da tarde deste domingo (14).
As duas já se reencontraram. Mayla contou ao G1 que teve apoio da família e que todos se sentiram aliviados depois que as irmãs fizeram a cirurgia. Ela não sente dores, apenas um desconforto. Mayla e Sofia nasceram com o sexo biológico masculino e discutiam a transição para o feminino desde antes da maioridade.
"Eu sempre me identifiquei com o sexo feminino, desde 3 anos. Sabe um dente de leão, que você assopra e faz um pedido? Pedi a Deus para me transformar numa menininha", disse.
As gêmeas têm uma irmã mais velha e uma mais nova. Mayla relatou que os procedimentos foram pagos pelo avô delas. "Meu avô tinha uma casa e para pagar as cirurgias, vendeu", disse.
Elas são de Tapira, no interior de Minas Gerais. Mayla contou alguns preconceitos que sofreu. "No ensino médio, me chamaram de viado, fizeram gozação com minhas calças apertadas, diziam que eu não podia andar com meninas porque era feia".
Ela se fortaleceu com o apoio da família.
"Nunca tive rejeição familiar. O medo dos pais não é de a gente ser quem a gente é, mas dos outros machucarem a gente".
Mesmo assim, ela ainda teme a violência contra as pessoas trans. "Eu ainda tenho medo, de um cara na rua me xingar e me bater". Ela também lembrou o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo.
Atualmente, Mayla faz faculdade de medicina e gostou tanto de Blumenau que sonha em transferir o curso para a cidade catarinense. "Eu sou uma mulher completa, posso adotar, posso ter uma família, uma carreira".
Mayla, uma das gêmeas que passou por cirurgia de readequação de sexo em Blumenau — Foto: Mayla Rezende/Arquivo pessoal
Contudo, ela lembra que, antes de passar pela cirurgia, as pessoas trans precisam passar por acompanhamento multidisciplinar por cerca de dois anos. "Toda trans precisa ser aceita, tive que ter aceitação de mim mesma", disse Mayla.
Perguntada sobre que conselhos daria a pais que suspeitam que tenham um filho trans, afirmou: "eu digo que nunca proíba as escolhas do seu filho. Se ele é trans, ele nasceu trans. Querer que fazer com que ele seja outra pessoas vai tornar tudo difícil. Eu aconselho que tem que apoiar, lutar".
As gêmeas vão ficar até 27 de fevereiro em Blumenau para serem acompanhadas pela equipe médica. Elas estão hospedadas na casa de uma enfermeira.
Cirurgia também está disponível no SUS
Mayla e Sofia fizeram a cirurgia pela rede particular, mas o procedimento é disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Dos cinco hospitais públicos brasileiros que prestam esse serviço, nenhum fica em Santa Catarina. A espera no país para iniciar o processo pode levar até cinco anos.
Legislação
Conforme mostra o vídeo abaixo, em 2020 novas regras para a cirurgia de transição de gênero foram aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). A resolução amplia o acesso à cirurgia e também ao atendimento básico para transgêneros.
A norma reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para o início de terapias hormonais e define regras para o uso de medicamentos para o bloqueio da puberdade. Procedimentos cirúrgicos envolvendo transição de gênero estão proibidos antes dos 18 anos. Antes era preciso esperar até os 21 anos.
Fonte:https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2021/02/14/nunca-tive-rejeicao-familiar-diz-gemea-trans-que-passou-por-cirurgia-de-readequacao-de-sexo-em-sc.ghtml
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