RÚSSIA AVALIA PROPOSTA DE PAZ PARA GUERRA NA UCRÂNIA FEITA POR LULA

 

Lula durante cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do BNDES
Lula durante cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do BNDES MAURO PIMENTEL / AFP

Rússia avalia proposta de paz para guerra na Ucrânia feita por Lula

A informação foi anunciada pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, em entrevista à agência de notícias russa Tass

Por O Globo — Moscou

23/02/2023 14h01  Atualizado há 2 horas

O governo da Rússia avalia as propostas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para mediar a paz na Ucrânia e cessar o conflito, que completa um ano na sexta-feira. A informação foi anunciada pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, em entrevista à agência de notícias russa Tass, divulgada nesta quinta-feira.

Segundo o vice-chanceler, Moscou "tomou nota" das várias declarações que Lula tem feito sobre a questão. O presidente brasileiro defende a necessidade de falar de paz e se opõe enfaticamente ao envio de armas, munições ou outras tecnologias bélicas ao governo de Volodymyr Zelensky:

— Tomamos nota das declarações do presidente do Brasil sobre o tema de uma possível mediação, a fim de encontrar caminhos políticos para evitar a escalada [da guerra] na Ucrânia, corrigindo erros de cálculo no campo da segurança internacional com base no multilateralismo e considerando os interesses de todos os envolvidos — afirmou. — Estamos examinando as iniciativas, principalmente do ponto de vista da política equilibrada do Brasil e, claro, levando em consideração a situação in loco.

Em uma foto de 2004, Lula, durante seu primeiro mandato, mostra ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, a Praça dos Três Poderes em Brasília — Foto: Ailton de Freitas

Em uma foto de 2004, Lula, durante seu primeiro mandato, mostra ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, a Praça dos Três Poderes em Brasília — Foto: Ailton de Freitas

Galuzin enfatizou a importância da visão do Brasil, ressaltando que o Kremlin vê o país como um parceiro estratégico bilateral e globalmente:

— Estamos interagindo de forma construtiva nos Brics, G20, ONU e seu Conselho de Segurança, onde essa nação [Brasil] agora é representada como membro não permanente — acrescentou.

De acordo com o representante russo, o país "aprecia" o fato de o Brasil não fornecer armas à Ucrânia "apesar da pressão dos EUA".

— Gostaria de enfatizar que a Rússia valoriza a posição de equilíbrio do Brasil na atual situação internacional, sua rejeição a medidas coercitivas unilaterais tomadas pelos EUA e seus satélites contra nosso país e a recusa de nossos parceiros brasileiros em fornecer armas, equipamentos militares e munição para o regime de Kiev — afirmou. — Ao mesmo tempo, podemos ver como Washington está pressionando o Brasil. Essa postura soberana merece respeito.

O Brasil condena desde o início a invasão russa na Ucrânia, mas mantém uma posição diferente da defendida por americanos e europeus. Washington e seus aliados enviam armas essenciais para os ucranianos em sua resistência e impuseram uma enxurrada de sanções com o fim de minar as capacidades russas de financiar sua ofensiva militar.

A política externa brasileira sempre foi de não isentar Moscou por seus ataques ao país vizinho, mas de buscar uma saída negociada para o imbróglio. Lula, desde que tomou posse, apresenta-se como um possível mediador e, por proposta do governo brasileiro, uma resolução que deve ser aprovada pela Assembleia Geral da ONU inclui menção expressa à necessidade de obter “uma paz abrangente, justa e duradoura”.

O petista, em paralelo, está avaliando manter um contato direto com o presidente da Ucrânia, com data ainda não confirmada. Segundo reportagem do GLOBO, o presidente da França, Emmanuel Macron, pretendia articular e participar de uma conversa entre Lula e Zelensky ainda esta semana, mas assessores internacionais do presidente não consideram o momento conveniente.

No final de janeiro, após reunião com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, Lula já havia sugerido a criação de um grupo formado por países dispostos a negociar a paz no Leste Europeu. Na época, disse que estava na hora de o presidente chinês, Xi Jinping, "colocar a mão na massa" para tratar do problema geopolítico e humanitário. Há previsão de que Lula viaje a Pequim no fim de março, quando deve abordar, entre outros temas, uma solução para o conflito na Ucrânia.

A China, por sua vez, afirmou que vai apresentar ainda nesta semana sua proposta de paz para pôr fim ao conflito. Na quarta, o chanceler do país, Wang Yi, visitou Moscou e celebrou a relação "sólida como o Monte Tai [famosa montanha chinesa]" dos dois países.

Frente ao isolamento internacional, a Rússia escora-se cada vez em Pequim, inclusive como destino de exportações que antes iam para a Europa. Portanto, a maior proatividade chinesa para os esforços de paz pode ser chave para avanços nas negociações.

Os chineses têm buscado se posicionar de forma neutra, mas fornecem apoio diplomático a Moscou. Para Xi, o Kremlin é um aliado-chave contra o que considera um cerco ocidental a seus interesses estratégicos, em especial na Ásia, e no desejo de fazer frente à hegemonia americana com a defesa de uma ordem multipolar.


Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2023/02/russia-avalia-proposta-de-paz-para-guerra-na-ucrania-enviada-por-lula.ghtml?utm_source=globo.com&utm_medium=oglobo


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