SERÁ QUE EXISTE UMA CULTURA DO ESTUPRO?

 

sozinha (Foto: Flickr/galaxies and hurricanes)

(Foto: Flickr/galaxies and hurricanes)

  • ISABELA MOREIRA
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Em maio de 2016, o estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro foi o principal assunto de várias manchetes brasileiras. Não só o corpo da vítima foi violado por 33 homens como imagens do ato foram registradas e divulgadas nas redes sociais pelos próprios criminosos.

Em entrevista ao Fantástico, a jovem conta que após todas as agressões sofreu ainda uma série de humilhações: ela foi culpabilizada por muitos — inclusive o delegado designado para cuidar de seu caso — pelo que lhe aconteceu, além de ter recebido milhares de críticas e ameaças de morte vindas de pessoas do país inteiro. 

É por conta desse tipo de reação que grande parte das vítimas não denuncia os estupros e outros tipos de violência que sofre. E não são poucas: a cada uma hora e meia, uma mulher morre no Brasil por causas relacionadas à violência, em sua maioria, cometidas por homens, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Mas por que quando um estupro acontece, a primeira coisa que se passa pela cabeça das pessoas é se questionar se a vítima está falando mesmo a verdade? Certamente não é o que ocorre com outros crimes, a não ser que você duvide toda vez que alguém afirma ter sido vítima de um assalto ou roubo. A resposta é simples: por conta da cultura do estupro, que é muito enraizada na nossa sociedade.

Uma série de mitos sobre o estupro e a cultura que o perpetua são disseminados diariamente. Você provavelmente já contribuiu para isso ocorrer, mesmo sem querer. Por isso GALILEU consultou pesquisas, relatos e conversou com especialistas para explicar o que é esse infeliz fenômeno, como eles afeta a sociedade e, o mais importante, como podemos melhorar. Confira abaixo: 

1. O que é a cultura do estupro?

O termo foi cunhado na década de 70 por feministas americanas e, de acordo com o Centro das Mulheres da Universidade Marshall, nos Estados Unidos, é utilizado para descrever um ambiente no qual o estupro é predominante e no qual a violência sexual contra as mulheres é normalizada na mídia e na cultura popular. 

Ao disseminar termos que difamam as mulheres, permitem a objetificação do corpos delas e glamurizam a violência sexual, a cultura do estupro passa adiante a mensagem de que a mulher não é um ser humano, e sim uma coisa. "Vivemos em uma sociedade patriarcal que considera que nós mulheres somos ou sujeitos de segunda categoria, ou em alguns casos, que não somos sujeitos e podemos ser utilizadas ou destruídas", explica Izabel Solyszko, que é professora, assistente social e doutoranda em Serviço Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

2. A cultura do estupro começa no nascimento

Quando uma família dá boas-vindas a um bebê, o recém-nascido vem com várias expectativas: se for menino, espera-se que ele seja agressivo; se for menina, espera-se que seja delicada. São scripts pré-determinados para cada gênero. "O conceito de gênero surge para questionar a ideia de uma essência ou natureza que explique os comportamentos", diz a pesquisadora Jane Felipe de Souza, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "É essa necessidade de se pautar em aspectos biológicos para justificar diferenças, as colocando como desigualdade, inferioridade, que o conceito de gênero procura combater."

Como aponta Arielle Sagrillo, doutoranda em psicologia forense na Universidade de Kent, na Inglaterra, a sociedade cria expectativas muito grandes para ambos os gêneros. "Não permitimos que as crianças e adultos transitem entre esses espaços. Desde cedo dizemos a esses sujeitos o que eles devem ser, antes mesmo que possam descobrir o que querem, o que lhes afeta e como lidam com suas próprias emoções", afirma.

Caso Mariana Ferrer: por que o termo “estupro culposo” não existe (Foto: Kat Jayne/Pexels)

Cada uma hora e meia, uma mulher morre no Brasil por causas relacionadas à violência (Foto: Kat Jayne/Pexels)

Dentro das expectativas, observa a advogada americana Reshma Saujani, os meninos são criados para serem corajosos e se arriscarem, enquanto as meninas são criadas para buscarem a delicadeza e a perfeição. Da mesma forma, espera-se que eles sejam mais agressivos ("Homem de verdade não chora", não é mesmo?) e que elas se sintam responsáveis — pela casa, pelos filhos, pelo companheiro e até mesmo pelas violências que sofrem. 

"Os homens são ensinados a usarem a agressividade de maneira violenta, desde a infância são estimuladas a vivenciarem sua sexualidade até um ponto de serem reconhecidos como pessoas que 'precisam de sexo', 'que perdem a cabeça por sexo', que se tornam praticamente 'irracionais' quando o assunto é sexo", explica Solyszko. "Isso faz com que as pessoas pensem que o estupro é uma questão de sexo e sexualidade quando o estupro é uma questão de violência porque se trata de uma agressão bárbara e brutal que invade o corpo de outra pessoa." 

3. Existem vários mecanismos que propagam a cultura do estupro

Pense nos comerciais aos quais você assistiu recentemente. Agora se concentre naqueles que possuem presença feminina. Reflita ainda mais: em quantos deles as mulheres aparecem como um simples corpo para agradar os homens? Quantos deles contam com piadas relacionadas às aparências delas?

Tal representação é chamada de objetificação. Um estudo realizado pela Associação Americana de Psicologia explica que "muitas mulheres são objetificadas sexualmente e tratadas como objetos para serem valorizadas por seu uso", o que só reforça a ideia de que a mulher é uma coisa, e não um ser humano. Segundo Solyszko, além de ser patriarcal, a sociedade em que vivemos é racista e capitalista. "Essas três dimensões de dominação e de opressão vão permitir que as vidas e os corpos das mulheres sejam explorados, mercantilizados, coisificados e, inclusive, agredidos, mutilados, estuprados e assassinados." 

4. Você também contribui com a cultura do estupro

E não precisa ser um estuprador para que isso aconteça. Ao consumir músicas que denigrem a mulher e disseminar vídeos, imagens, comentários e piadas sexistas, por exemplo, você contribui para que a objetificação da mulher seja reforçada. "Nessa cultura machista que só pode se sustentar pela existência de uma sociedade patriarcal, são diversos os mecanismos que vão das piadas que nos desqualificam para dirigir, para ser engenheiras, para ser presidente do país até a violência sexual no transporte público e nas ruas", pondera Izabel Solyszko.

Vale ressaltar que a violência contra a mulher não se restringe ao estupro. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular, podem ser consideradas formas de assédio cantadas ofensivas ou com apelo sexual indesejado; coerção; a violência física; a desqualificação intelectual e a violência sexual, que vai desde o toque sem consentimento até o estupro. Dados do Think Olga mostram que 48% dos assédios são verbais e 68% deles ocorrem durante o dia. 

5. O estuprador pode ser um cara normal

Existem alguns mitos em torno dos estupradores, sendo os principais deles o de que o agressor é uma pessoa estranha e o segundo de que é um ser cheio de problemas psicológicos. Nenhuma dessas afirmações são verdadeiras.

Um levantamento realizado pelo IPEA em 2014 aponta que 24,1% dos agressores das crianças são os próprios pais ou padrastos, e 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima. Isso sem contar casos de violência contra a mulher dentro de relacionamentos como namoros e casamentos, onde as linhas entre o consensual e a violência são mais nebulosas.

Iniciativa que criou a chatbot Maia que ajudar a reduzir número de casos de violência contra a mulher, principalmente entre jovens (Foto: Kat Jayne/Pexels)

Violência contra a mulher não se restringe ao estupro. Podem ser consideradas formas de assédio cantadas ofensivas ou com apelo sexual indesejado; coerção; a violência física; a desqualificação intelectual e a violência sexual. (Foto: Kat Jayne/Pexels)

Além disso, de acordo com Arielle Sagrillo, os estudos que foram feitos sobre estupradores até o momento não identificaram nenhum tipo de patologia. "O que leva um sujeito a cometer um estupro pode ser uma série de coisas. Entre elas, um não entendimento de que o que está fazendo é violência, não ver seu ato como violência sexual, e isso tem relação com a educação. É uma questão cultural", afirma Sagrillo. 

Ela explica ainda que existem várias "crenças disfuncionais" em relação às mulheres que colabora para que os agressores cometam a violência. "Só é estupro se for em um beco escuro", "uma mulher se comportando ou vestindo uma roupa está pedindo para ser estuprada", "mulheres secretamente desejam que o estupro aconteça" e "o não quer dizer sim, ela deve estar fazendo charme", são alguns deles.

6. A vítima nunca é a culpada

Como reforça Izabel Solyszko, "independentemente do nosso comportamento e da nossa aparência, nada, absolutamente nada (nem que eu seja garota de programa, nem que eu seja promíscua, nem que eu esteja bêbada, nem que eu esteja sozinha com vários homens em um quarto), realmente nada vai justificar uma violência contra mim".

No livro Missoula, de Jon Krakauer, a promotora Suzy Boylan pondera que o estupro é o único crime em que presume que a vítima esteja mentindo. "Se uma pessoa é assaltada num beco, ficaríamos céticos com o depoimento da vítima só porque não havia testemunha ocular? Nós iríamos duvidar da vítima de um roubo porque ela deixou a porta de casa destrancada?", questiona. 

O silenciamento e a culpabilização das vítimas são alguns dos principais artifícios da cultura do estupro. "Se o sigilo falha, o agressor ataca a credibilidade de sua vítima. Se não consegue silenciá-la totalmente, ele tenta se certificar de que ninguém lhe dê ouvidos. Para tanto, convoca um impressionante esquadrão de argumentos, da negação mais descarada à racionalização mais sofisticada e elegante", explica Judith Lewis Herman em Trauma and Recovery. "Depois de cada atrocidade, podem-se esperar ouvir as mesmas desculpas previsíveis: jamais aconteceu; a vítima mente; a vítima exagera; a vítima que provocou isso; e em todos os casos é o momento de esquecer o passado e seguir em frente."

O problema é que a cultura do estupro está tão enraizada na sociedade em que vivemos que não é só o agressor que apresenta tal comportamento: profissionais da saúde e da lei também o reproduzem. No relato que deu ao Fantástico, a vítima do estupro coletivo no Rio de Janeiro contou que foi interrogada por vários homens que expuseram imagens do crime para ela, além de realizarem questionamentos absurdos como se já tinha feito sexo grupal. "É fácil esquecer que o dano causado a uma vítima de estupro que é desacreditada pode ser no mínimo tão devastador quanto o dano causado a um homem inocente que é injustamente acusado de estupro", aponta Jon Krakauer em Missoula. "E, sem dúvida, o segundo caso acontece com muito mais frequência."

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2016/06/6-coisas-que-voce-precisa-entender-sobre-cultura-do-estupro.html

  • ISABELA MOREIRA
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(Foto: Flickr/Xu-Gong)

(Foto: Flickr/Xu-Gong)

Um novo relatório do Ministério da Saúde mostra que dez estupros coletivos ocorrem diariamente no Brasil. O dado pode ainda representar apenas uma parcela da possível chocante realidade: 30% dos municípios brasileiros não fornecem os dados ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

“O estupro coletivo é um tipo de violência que choca as pessoas e gera uma repercussão maior”, afirmou Arielle Sagrillo-Scarpati, doutoranda em psicologia forense na Universidade de Kent, na Inglaterra, em entrevista à GALILEU.

“Ter uma classificação que diferencia o estupro cometido por um agressor do cometido por dois ou mais nos ajuda a entender melhor quais são as dinâmicas desse fenômeno.”

O levantamento mostra ainda um aumento no número de estupros coletivos: foram 1,5 mil crimes do tipo registrados em 2011, em comparação aos 3,5 mil notificados em 2016. Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, dados sobre violência sexual se tornaram de notificação obrigatória pelos serviços públicos e privados de saúde desde 2011.

Conversamos com Sagrillo-Scarpati, cujos estudos abordam violência contra a mulher, mitos da cultura do estupro, teoria de gênero e feminismo, sobre a importância desses dados (e da falta de parte deles) e as consequências desse tipo de crime para as vítimas. Confira:

Qual é a definição de cultura do estupro?
Falar de cultura do estupro é falar da forma que a sociedade se organiza para justificar a violência contra a mulher. São normas, comportamentos e práticas sociais que permitem que esse tipo de violência aconteça e que, quando aconteça, a responsabilidade seja transferida do agressor para a vítima.

Como práticas que por vezes são vistas como “inofensivas”, como as cantadas, por exemplo, podem legitimar outras violências, como estupro e feminicídio?
São várias práticas que legitimam e sustentam a desigualdade de poder. A violência sexual é quase a ponta final da escala, e tem outras mais sutis, mas que não deixam de ser violências. Cantadas e alguns comentários são práticas que têm como função lembrar a mulher qual é o lugar dela na sociedade, do que pode acontecer com ela se não se comportar de determinada maneira.

É um lembrete à mulher de que o corpo dela é um objeto para a satisfação do homem, que ele tem o direito de a usufruir. E já que ela é um objeto, não precisa de consentimento. Pensar em combater a violência sexual é levar em consideração todos esses graus, desde os mais sutis aos mais graves.

O que a ciência já sabe sobre os agressores?
Depende da perspectiva teórica abordada, mas já foi observado que homens machistas e que são apegados às normas tradicionais de gênero, de querer ser visto como macho, por exemplo, têm mais chances de cometer estupros. Existem vários discursos que permitem que o homem cometa violência e não tenha a responsabilidade do que aconteceu atribuída a ele.

É necessário pensar no contexto dessas crenças. Há ainda um discurso de que o estuprador tem distúrbio mental, que o crime por ser agressivo ou ter um tipo de transtorno. Pode até ser verdade, talvez tenha, mas de modo geral, o que temos observado na literatura é que os agressores não têm patologia.


Se fosse o caso, como explicaríamos casos de estupros coletivos? No Brasil ocorrem 10 estupros coletivos por dia, todos esses agressores teriam patologia?
O estupro coletivo torna mais evidente o quanto é falho o discurso da patologização do agressor: é muito mais do que uma característica individual do agressor. É complicado porque a literatura a respeito do tema é nova, pouco foi produzido sobre esse assunto [estupros coletivos]. Do pouco que temos até agora, sabemos que nesses tipos de violência, os agressores costumam ser pessoas mais jovens e, as agressões, mais violentas.

Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde mostra que o número de estupros coletivos aumentou significativamente desde 2011…
Precisamos avaliar o quanto o número reflete o aumento de casos ou de denúncias. De qualquer forma, é necessário prestar atenção nos índices: mesmo quando tivermos um sistema que funcione muito bem e funcione de forma equivalente no país todo, o estupro é um dos crimes com maior número de subnotificação.

Ainda com sistema organizado, a vítima tem muita dificuldade em registrar e denunciar o ocorrido. É muito mais complicado do que imaginamos, tem uma série de razões para as violências não serem notificadas — a não compreensão da vítima de que o que ela passou foi estupro é uma delas.

Um fator que tem se repetido no Brasil é a divulgação de vídeos e fotos após os estupros coletivos. Como isso pode afetar as vítimas?
Tornar público faz com que a vítima, além da violência física, seja submetida à uma segunda violência, a social. Um estudo recente da Suécia mostra que vítimas de estupros coletivos foram mais responsabilizadas pelo que aconteceu a elas do que as que foram abusadas por uma só pessoas. As vítimas de estupros coletivos foram mais responsabilizadas porque, segundos os participantes, se elas estavas com vários homens em um lugar, estavam pedindo que algo do tipo lhe acontecesse — se elas fossem de respeito, não se colocariam em uma situação de risco.

Ficamos intrigados quando vimos a apresentação sobre o assunto, já que a Suécia é considerada muito avançada em questão de igualdade de gênero. Isso nos faz pensar sobre o quanto os discursos e práticas que tiram a responsabilidade do agressor estão em todos os lugares. Em alguns pode ser mais velado, o que não significa que não exista.

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/08/cultura-do-estupro-faz-culpa-ser-transferida-do-agressor-para-vitima.html

  • MARÍLIA MARASCIULO
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Pessoas acreditam menos em estupros quando agressor é conhecido pela vítima (Foto: Fred Moon/Unsplash)

Pessoas acreditam menos em estupros quando agressor é conhecido pela vítima (Foto: Fred Moon/Unsplash)

Um estudo da Universidade de Harvard publicado na revista Political Behavior mostrou que os vieses de julgamento presentes na cultura do estupro não só existem, como ajudam a moldar a forma como a opinião pública enxerga determinado caso.

Cultura do estupro é o nome dado às reações diante de casos de agressão sexual que levam a sociedade a tratar as sobreviventes com ceticismo, enquanto os agressores recebem empatia e credibilidade. É o cerne de atuação de movimentos como o #MeToo, que teve como caso mais emblemático o do produtor de cinema Harvey Weinstein, que por anos foi um dos “donos” de Hollywood ao mesmo tempo em que praticava crimes sexuais em série.

O viés de julgamento presente na cultura do estupro pode ser caracterizado por quatro fatores principais: a culpabilização da vítima, a empatia com o agressor, a presunção de consentimento e o questionamento à credibilidade da vítima. Com isso em mente, os pesquisadores buscaram identificar em quais tipos de caso o viés é mais presente.

Os experimentos foram conduzidos pelos pesquisadores Dara Kay Cohen, Matthew Baum e Suzane Schwarz. Os participantes receberam detalhes sobre casos de estupro, como o perfil racial dos envolvidos, histórico sexual e roupas utilizadas da vítima, a condição socioeconômica do agressor e sua relação prévia com o alvo e o local do crime. Eles então tiveram que determinar quais casos deveriam ser denunciados à polícia e qual a pena ao agressor, e justificar a resposta.

Os pesquisadores descobriram que alguns tipos de vítimas eram levadas a sério com menos frequência do que outras, e alguns cenários eram vistos como menos confiáveis. Já os detalhes relacionados ao consentimento e à culpa da vítima (gênero, histórico sexual, local do crime e relacionamento com agressor) influenciaram mais se as pessoas denunciariam o caso à polícia e no quanto acreditavam que estuprador deve ser punido.

Casos que envolviam sobreviventes do sexo masculino foram "significativamente menos acreditados" do que os do sexo feminino. O local do crime também influenciou o julgamento: os entrevistados foram 6% menos propensos a denunciar estupros que aconteceram em uma festa, e 17,6% menos propensos a buscar punição severa. Se a vítima e o agressor se conheciam antes do estupro, o caso apresentava uma probabilidade 11,8% menor de ser encaminhado à polícia.

Porém, o estudo trouxe algumas surpresas, contrariando pressupostos. A raça da vítima e do agressor não apresentou influência significativa, embora os entrevistados tivessem 4,7% mais chance de acreditar em vítimas negras do que em vítimas brancas. A condição socioeconômica do agressor também não foi um fator relevante para os entrevistados.

Com as descobertas, os pesquisadores concluíram que testar o efeito que o viés da cultura do estupro tem sobre policiais, advogados e juízes pode ser um tema importante a ser desenvolvido em pesquisas futuras.

"Uma das minhas expectativas é que a pesquisa ajude a conscientizar as pessoas de que existe uma tendência de viés sobre como esses crimes são levados a sério e o quanto acreditamos que o estupro seja merecedor de punição, ou ainda como podemos culpar a vítima por se colocar naquela situação", disse Cohen ao site da Universidade de Harvard.

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2020/10/pessoas-acreditam-menos-em-estupros-quando-agressor-e-conhecido-pela-vitima.html

  • AGÊNCIA BORI
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Homens que praticam violência contra mulher culpabilizam a vítima, a sociedade e o sistema, aponta estudo (Foto: Siavash Ghanbari/Unplash)

Homens que praticam violência contra mulher culpabilizam a vítima, o sistema e a lei, aponta estudo (Foto: Siavash Ghanbari/Unplash)

A cada quatro minutos uma mulher é agredida por um homem no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, e muitos entre os agressores atribuem à vítima a culpa pela violência. É o que aponta estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), publicado em março na Revista Brasileira de Enfermagem. Segundo o estudo, os homens acusados de violência contra as mulheres sentem-se injustiçados e vítimas das ex-companheiras, do sistema e da lei, mesmo assumindo suas atitudes.

Pesquisadoras das instituições entrevistaram, entre 2015 e 2016, 12 homens denunciados por violência contra a própria companheira, todos detidos na Delegacia Especial da Mulher de Guarapuava, no centro-sul do Paraná. Segundo o Mapa da Violência 2015, a região ocupava a 373ª posição em número de feminicídios, com uma taxa média de 6,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes – bem acima da média nacional, de 4,8, e do Paraná, de 5,2.

As entrevistas tiveram foco na repetição do comportamento entre gerações, os sentimentos e comportamentos do agressor diante da violência, suas repercussões para o agressor e a vitimização do homem ao longo de sua história. Ao analisar as respostas, as pesquisadoras observaram que a violência acompanha os agressores desde sua infância e que a única consequência temida por eles é a prisão. À vítima da sua agressão coube, segundo o relato dos criminosos, o papel de culpada. De acordo com a pesquisa, a violência está no cerne familiar – além de presenciarem a violência sofrida pela mãe na infância, também foram submetidos à ela, e na atualidade a praticam na educação dos filhos.

Relato do agressor
“Apesar de o relato das vítimas ser de extrema importância como fonte de informações sobre o que de fato ocorreu, buscamos evidenciar também a relevância de se desenvolver estudos com os homens que praticam a violência. Dessa forma, é possível compor um quadro mais completo sobre o perfil do agressor para subsidiar a elaboração de políticas públicas voltadas à mudança de comportamentos violentos adotados pelos homens para a resolução de conflitos domésticos, muitas vezes resultantes de sua própria história com a violência”, explica Alexandra Bittencourt Madureira, coautora do artigo.

Entre os agressores entrevistados, 58,3% eram adultos jovens, com idade entre 20 e 40 anos; 83,3% tinham de um a três filhos com a denunciante; 50% se declararam casados e 33,3%, solteiros. A maioria (41,7%) conviveu de dois a seis anos com a mulher agredida. Quanto ao tipo de violência pela qual o agressor foi acusado, a violência moral foi mencionada por 41,7%, seguida da física/moral e da psicológica, ambas citadas por 17,7% dos homens.

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2020/04/homens-que-praticam-violencia-contra-mulher-culpabilizam-vitimas.html

  • REDAÇÃO GALILEU
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A própria casa é o local mais perigoso do planeta para as mulheres, diz a ONU (Foto: Pxhere/Creative Commons)

A própria casa é o local mais perigoso do planeta para as mulheres, diz a ONU (Foto: Pxhere/Creative Commons)

O lugar mais perigoso do mundo para uma mulher não é um beco escuro e sem saída, um campo de batalha ou seu local de trabalho: é a sua própria casa. A afirmação é de um novo relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), que analisou os homícidios de mulheres e meninas relacionados ao gênero. 

Das 87 mil mulheres assassinadas globalmente em 2017, cerca de 50 mil foram mortas por um parceiro amoroso ou familiar. Até 30 mil – 34% – dos feminicídios foram cometidos por companheiros íntimos. 

Segundo o estudo, uma mulher é morta por alguém que conhece a cada 10 minutos. E 137 mulheres são mortas diariamente por algum parente. 

Esta é uma tendência em ascensão global, apesar do surgimento de programas para erradicar a violência contra as mulheres. Em 2012, cerca de 47% de todas as vítimas de homicídio do gênero feminino foram mortas por parceiros íntimos ou familiares. Em 2017, esse número foi de 58%.

Em nível global, os homens são cerca de quatro vezes mais propensos a morrerem vítimas de assassinatos. No entanto, as mulheres ainda são as principais vítimas da maioria dos homicídios cometidos por um companheiro ou por alguém com quem se relacionam. Muitas vezes, vítimas de relacionamentos abusivos ou de assassinatos com base em religião, como os chamados "crimes de honra".

"Enquanto a maioria das vítimas de homicídio são homens, as mulheres continuam pagando o preço mais alto do resultado da desigualdade de gênero,da discriminação e dos estereótipos negativos. Elas também são mais propensas a serem mortas por parceiros e familiares", reforçou Yury Fedotov, diretor executivo do UNODC. 

A África foi considerada o continente onde as mulheres correm o maior risco de serem mortas por um parceiro ou parente, com cerca de 3,1 vítimas a cada 100 mil mulheres.

A taxa também foi alta nas Américas, com 1,6 para 100 mil mulheres, assim como a Oceania, com 1,3 e a Ásia, com 0,9, respectivamente. 

A Europa teve a menor taxa de mulheres mortas por parceiros, com 0,7 vítimas a cada 100 mil moças. 

O relatório do UNODC ressalta que há a necessidade de legislação mais dura e programas contra a violência de gênero violência a serem desenvolvidos, especialmente aqueles que "mudam as normas culturais e que afastam a masculinidade violenta  dos estereótipos de gênero".

Além disso, o documento argumenta a violência poderia ser menor, caso a polícia, o sistema judiciário, serviços de saúde e sociais fossem mais eficientes. 

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2018/11/o-lugar-mais-perigoso-para-mulheres-e-propria-casa-diz-onu.html

  • WÂNIA PASINATO*
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Violência contra a mulher é fruto de desigualdade estrutural (Foto: Melanie Wasser/Unsplash)

Violência contra a mulher é fruto de desigualdade estrutural (Foto: Melanie Wasser/Unsplash)

Nos últimos anos, a violência contra as mulheres no Brasil vem se tornando assunto público e reconhecido como problema ao qual qualquer mulher, independentemente de raça, cor, etnia, idade ou classe social, pode estar sujeita. Trata-se de reconhecer que a violência não é um infortúnio pessoal, mas tem origem na constituição desigual dos lugares de homens e mulheres nas sociedades – a desigualdade de gênero –, que tem implicações não apenas nos papéis sociais do masculino e feminino e nos comportamentos sexuais, mas também em uma relação de poder. 

Em outras palavras, significa dizer que a desigualdade é estrutural. Ou seja, social, histórica e culturalmente a sociedade designa às mulheres um lugar de submissão e menor poder em relação aos homens. Qualquer outro fator – o desemprego, o alcoolismo, o ciúme, o comportamento da mulher, seu jeito de vestir ou exercer sua sexualidade – não são causas, mas justificativas socialmente aceitas para que as mulheres continuem a sofrer violência.

Essa situação tem sido traduzida num enunciado bastante simples: “as mulheres são vítimas de violência porque são mulheres”. Mas não é apenas a desigualdade de gênero que é estrutural. Outros fatores, como o racismo e as diferenças econômicas, também afetam de forma desproporcional alguns grupos da sociedade, sendo a mais atingida a população negra.

Em anos recentes, esse reconhecimento foi acompanhado por mudanças na forma como devemos responder a essa violência, atacando não as justificativas, mas as causas. O país tornou-se referência internacional com a Lei 11.340/2006 – a Lei Maria da Penha, cujo diferencial é a forma de abordar o problema, propondo a criminalização e a aplicação de penas para os agressores, mas também medidas que são dirigidas às mulheres para a proteção de sua integridade física e de seus direitos, além das medidas de prevenção destinadas a modificar as relações entre homens e mulheres na sociedade, campo no qual a educação desempenha papel estratégico.

Apesar de tudo, o Brasil segue sendo um país violento para as mulheres. Anualmente são registradas centenas de ocorrências de violência doméstica, de violência sexual, além das elevadas taxas de homicídios de mulheres que, quando motivadas pelas razões de gênero, são tipificadas como feminicídio. Esses números expressam apenas uma parte do problema e comumente dizemos que a subnotificação é uma característica dessas situações.

O medo, a dúvida, a vergonha são algumas das explicações para esse silêncio, mas novamente nos contentamos em olhar para justificativas e não para as causas. E se queremos mesmo mudar essa realidade, é preciso encarar que a desigualdade de gênero é estrutural das nossas instituições também, e se apresenta como um obstáculo a ser transposto se queremos tornar o direito formal em direito de fato, universal e acessível a todas as mulheres.

A aplicação da Lei Maria da Penha é um exemplo, mas não é o único. De modo geral, mudamos leis, mas não a forma como as instituições funcionam. O sistema de Justiça segue atuando de forma seletiva e distribuindo de forma desigual o acesso à Justiça. Existem poucos serviços especializados para atender as mulheres em situação de violência. Faltam protocolos que orientem o atendimento. Falta capacitação para os profissionais cuja atuação é muitas vezes balizada por convicções pessoais e julgamentos de valor que nada tem a ver com os direitos humanos. Cresce um entendimento que dissocia a importância de ensinar gênero e sexualidade nas escolas das políticas de prevenção da violência.

As mudanças continuam a ocorrer como um movimento que ganhou força própria e não tem retorno. Muito tem sido feito para que as leis e políticas possam ser implementadas e mais mulheres encontrem condições para acessar direitos e justiça. Falta avançar em maior engajamento e comprometimento das instituições, governos e da sociedade para que essas sejam um compromisso de todos e todas, e que o lema “Nenhuma a menos” finalmente se torne realidade.

*Wânia Pasinato é socióloga, especialista em gênero e políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres. É assessora no Escritório USP Mulheres, da Universidade de São Paulo.

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2018/02/violencia-contra-mulher-wania-pasinato.html


  • REDAÇÃO GALILEU
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Pesquisadores ressaltam a importância de serem ensinados os aspectos positivos da masculinidade (Foto: Pixabay)

Pesquisadores ressaltam a importância de serem ensinados os aspectos positivos da masculinidade (Foto: Pixabay)

Aulas sobre os aspectos positivos da "masculinidade" diminuem índices de violência contra a mulher, de acordo com uma análise feita nos Estados Unidos. Pesquisadores chegaram à conclusão após fazerem experimento com alunos do Ensino Fundamental.

Após uma série de atividades envolvendo a questão, os garotos mostraram entender melhor os problemas do uso de coerção e violência nas relações. Além disso, o programa mudou as crenças da turma sobre atitudes violentas, incluindo assédio e violência sexual.

Fonte:https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/06/aulas-sobre-masculinidade-diminuem-indices-de-violencia-contra-mulher.html

Será que existe uma cultura que influencia o estupro de mulheres aqui mesmo, no Brasil? O termo cultura do estupro veio à tona após a enorme repercussão de um caso grave de estupro coletivo ocorrido no mês de maio de 2016, no Rio de Janeiro. Os estupradores chegaram a documentar seus crimes em vídeos (o que, por si só, também é um crime). O Politize! veio contextualizar esse conceito pra vocês.

Em primeiro lugar, o que é cultura?

Primeiro, vamos entender um pouco sobre o que é cultura e qual seu papel nas nossas vidas. Em geral, quando falamos de cultura, remetemos a algo positivo e legítimo. E é aí que pode morar o incômodo com o termo “cultura do estupro”. A palavra “cultura” nesse caso, não simboliza algo positivo, nem legítimo. Também não é uma crítica que sugere, por exemplo, que a sociedade seria conivente com o estupro. Não mesmo!

A nossa cultura pode possuir diversos aspectos bons como a música popular, a arte de rua, a hospitalidade do nosso povo, a paixão pelo futebol. Mesmo que não seja consensual, em geral, esses aspectos são interpretados como características positivas da cultura brasileira.

No entanto, nossa cultura pode abrigar também comportamentos que estamos acostumados a aceitar, mas que não são necessariamente são bons. Como nós crescemos vivenciando e aprendendo a repetir esses comportamentos, nossa tendência é pensar que eles são “naturais”. Ou seja, que faz parte de nós enquanto seres humanos, e que, da mesma forma que um gato não pode latir, certos comportamentos da “natureza humana” não poderiam ser modificados.

É a partir disso que surge a problematização da discussão sobre cultura. O ser humano ocidental não vive mais no seu estado de natureza, seus comportamentos são frutos de sua cultura. A cultura que foi criada há décadas ou séculos atrás e que se modifica lentamente ao longo do tempo. Denys Cuche, em seu livro “A Noção de Cultura nas Ciências Sociais” (1999), explica que:

A noção de cultura se revela então o instrumento adequado para acabar com as explicações naturalizantes dos comportamentos humanos. A natureza, no homem, é inteiramente interpretada pela cultura.

Ou seja, ele quis dizer que temos que tomar muito cuidado ao naturalizar os nossos comportamentos, pois eles não são realmente “naturais”, e sim condicionados pela nossa cultura.

O termo “cultura do estupro” tem sido usado desde os anos 1970, época da chamada segunda onda feminista, para apontar comportamentos tanto sutis, quanto explícitos que silenciam ou relativizam a violência sexual contra a mulher. A palavra “cultura” no termo “cultura do estupro” reforça a ideia de que esses comportamentos não podem ser interpretados como normais ou naturais. Se é cultural, nós criamos. Se nós criamos, podemos mudá-los.

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Estupro: definição legal

Ok, mas entre esses comportamentos sutis e um estupro há uma longa distância, não? Aqui chegamos à segunda parte da problematização dessa questão. Afinal, o que é considerado como estupro na atual legislação brasileira?

O estupro configura-se em um crime contra a liberdade sexual. Frequentemente, as pessoas entendem o estupro como um ato sexual não consensual. Essa interpretação é equivocada porque, no próprio Código Penal, o conceito de estupro é mais amplo. Ele é classificado como o ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso” (Art. 213 da Lei Nº 12.015/2009).

“Ato libidinoso” refere-se a qualquer ação que tem como objetivo a satisfação sexual. Ou seja, não tem a ver somente com o ato sexual em si.


Dados

Além dessa questão conceitual sobre estupro, que ainda é pouco conhecida, existe outro aspecto dessa discussão que prejudica uma análise mais realista sobre esse crime. Quando se fala em estupro, há um imaginário comum por trás dessa ação que é quase cinematográfico. É mais fácil pensar que os praticantes desse crime são monstros, pessoas mentalmente desequilibradas ou pessoas que já estão marginalizadas pela sociedade e que não possuem tanta noção do que estão fazendo.

Infelizmente, a realidade está distante do que aparece nos filmes. Segundo dados levantados em nota técnica do IPEA de 2014, mais de 50% dos estupros sofridos por crianças e adolescentes foram praticados por pessoas conhecidas, como pais, padrastos, namorados e amigos. Entre adultos, os estupros praticados por conhecidos são quase 40% dos casos.

O estupro é um dos crimes menos reportados às autoridades: apenas 10% dos casos são registrados pela polícia. Ou seja, ainda é necessário encorajar e empoderar as vítimas para que recorram às autoridades e é necessário que as nossas instituições melhorem o acolhimento dessas vítimas.

Outro dado importante dessa nota técnica se refere à forma de coerção usada contra a vítima. Independentemente da idade da vítima ou da proximidade que o agressor tinha com ela, o estupro aconteceu por meio do uso da força física ou de ameaça em cerca de 50% dos casos. Ou seja, há um comportamento comum nesse crime de abuso que é entendido e compartilhado entre os agressores.

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[…] esses comportamentos não podem ser interpretados como normais ou naturais. Se é cultural, nós criamos. Se nós criamos, podemos mudá-los.

E por que o debate sobre a cultura do estupro é focado nos abusos que os homens cometem contra as mulheres? Os dados da nota técnica do IPEA mostram que 88% das vítimas de violência sexual são mulheres e que 90% dos agressores são homens. Ou seja, se ainda temos uma minoria de casos sendo relatados, uma expressiva quantidade de mulheres entre as vítimas e uma expressiva quantidade de homens entre os agressores, torna-se necessário estudar o fenômeno sob a ótica das relações de gênero. Por que as mulheres não estão denunciando os crimes? Por que são a maioria entre as vítimas? Qual é o perfil dos agressores?

Todas essas perguntas são de extrema complexidade e não possuem respostas prontas. Elas são importantes para estimular os estudos, as pesquisas e para abrir o diálogo sobre esse crime que é tão grave e tão repugnado pela nossa sociedade.

Por que então se fala em cultura do estupro e não apenas do estupro em si, enquanto crime? Se estamos querendo abrir o diálogo, precisamos começar ouvindo principalmente as vítimas majoritárias: as mulheres. E as mulheres estão falando.

O que as mulheres têm feito cada vez mais é levantar suas vozes para apontar as violências sofridas no cotidiano e que também atentam contra sua liberdade sexual. As mulheres têm falado que essas violências rotineiras têm importância sim, que elas também são graves, que não adianta a sociedade se incomodar apenas com os casos brutais de estupro, pois a violência também está presente no assédio. A cultura do estupro, portanto, abrange todo o espectro comportamental e cultural que subjuga o corpo da mulher, criando contexto para a violência. Esses comportamentos e culturas não são necessariamente aceitos ou legitimados pela sociedade, mas estão sendo negligenciados e naturalizados.

Combater a cultura do estupro implica estarmos atentos a toda e qualquer atitude cotidiana que agride a liberdade sexual da mulher. As duas palavras-chave que auxiliam nesse processo são: consenso e respeito. Precisamos respeitar mais a mulher enquanto indivíduo, enquanto ser humano que ela é. Com seus desejos, medos, ambições e sonhos. Ela não é um objeto a ser apreciado onde quer que esteja, ela não é um enfeite para vender produtos ou para ser mostrado para as pessoas, ela não é obrigada a satisfazer vontades sexuais das quais ela não compartilha. A mulher livre é a mulher que não teme.

Última atualização em 20 de abril de 2017.


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