OS BASTIDORES DA JORNADA DE 16 DIAS RUMO AO CAMPO BASE DO EVEREST

 

Tânia Otranto e a filha Luisa (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

Tânia Otranto e a filha Luisa (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

Os bastidores da jornada de 16 dias rumo ao Campo Base do Everest

A jornalista Tânia Otranto relata o desafio do trekking ao Everest, de onde se alcança o cume da montanha mais alta do planeta

Há cinco anos, após fazer o caminho de Compostela, resolvi que, de tempos em tempos, escolheria um desafio que seria somente meu, em que poderia estar comigo mesma, renovando energias e refletindo sobre a vida. Foi nesse momento, que decidi que faria o trekking do Campo Base do Everest. Eis que a pandemia surge e meu sonho é interrompido. Lentamente, conforme tudo foi melhorando em 2021, decidi que, em março seguinte, partiria. Foi um ano e dois meses de muito treino, muitas subidas nas rampas da Bienal e mais de 50 mil degraus de escada percorridos.

Minha filha mais nova, Luisa, sinalizou que gostaria de ir comigo. Confesso que causou um desconforto, afinal aquele era o meu momento, mas, ao mesmo tempo, seria uma felicidade compartilhar algo tão inusitado ao lado dela. Dia 5 de março, partimos para Katmandu, depois de alguns treinos no Pico das Agulhas e com todo o equipamento necessário, estávamos prontas.

As duas com Manoel Morgado, chefe da expedição, com o Everest ao fundo (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

As duas com Manoel Morgado, chefe da expedição, com o Everest ao fundo (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

Iniciamos nosso primeiro dia de trekking com um voo bastante emocionante entre Katmandu e Lukla, porque aterrissar naquele aeroporto é somente para mestres. Ao chegar lá, tivemos uma grata surpresa, um povo extremamente gentil e devoto a estas montanhas, tudo cuidado com carinho e respeito, com uma paisagem deslumbrante e uma cultura cativante. Iniciamos nosso trekking com caminhada de 13 km de Lukla para Monjo, com um terreno bastante diverso com diferentes graus de dificuldades, uma pequena amostra do que estava por vir, ainda em uma altitude de 2.825 metros. Cheguei bem de corpo, alma, mente e certa de que era um grande privilégio estar neste lugar maravilhoso.

Tânia com Siri e DB (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

Tânia com Siri e DB (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

Os dias passavam com muita rapidez, tivemos a sorte de pegar um tempo lindo, mas à noite as adversidades eram um caso à parte. O frio e o desconforto eram os melhores amigos e seu maior tormento.

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No Campo Base (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

No Campo Base (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

O grande desafio naquele momento estava relacionado à famosa aclimatação. É preciso seguir algumas regras, como subir 400 metros a mais no dia e voltar para o ponto em que dormimos no dia anterior, para que seu corpo se acostume com a mudança. Mas a luta estava em superar o medo e controlar a mente para eliminar os pensamentos que circulam em volta do tal e tão temido “mal de altitude”. A grande luta é com o nosso emocional, diante de tantas dificuldades, saímos da zona de conforto, quebrando nossos padrões de higiene e tolerância. Com isso, surge uma insegurança e, ao mesmo tempo, um aprendizado enorme, afinal, tudo que necessitamos está em uma mochila de 40 litros. Ademais, a simplicidade que encontramos à nossa volta nos faz refletir sobre o que realmente importa.

Em Gorakshep (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

Em Gorakshep (Foto: Tania Otranto / Arquivo pessoal)

Décimo terceiro dia, chegamos a Gorakshep a 5.164 metros acima do nível do mar, o famoso acampamento base do Monte Everest, mas antes tínhamos uma grande lição de casa: subir o Kala Patthar a 5.555 metros de altitude para apreciar o pôr do sol com visão única do Everest. Com muitas noites mal dormidas, com certeza foi um dos maiores desafios da minha vida. Levamos 4 horas e 10 minutos para subir 3,52 km acompanhados de um frio descomunal.

Ao chegar no cume, com lágrimas nos olhos, a emoção foi intensa e, ao nos depararmos com a visão daquela magnitude chamada Everest, a montanha mais alta do mundo, mais temida, desejada e desafiadora, foi indescritível. Décimo quarto dia, foram 5 horas percorrendo mais de 5 km e meio para chegarmos ao tão desejado Campo Base, a 5.364 metros de altitude. Ali, se encontram os sonhos e desafios dos grandes escaladores, porque daquele ponto em diante é preciso muita coragem e determinação para chegar ao cume da montanha mais alta do mundo. Foi o momento de agradecer por tudo, por aquela aventura indescritível, pela minha vida, pela minha família e por estar viva. Namastê!

Fonte:https://vogue.globo.com/lifestyle/noticia/2022/06/os-bastidores-da-jornada-de-16-dias-rumo-ao-campo-base-do-everest.html


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