Adolescência em tempos de covid: como jovens estão enfrentando o prolongamento da pandemia
- Shin Suzuki
- Da BBC News Brasil em São Paulo
É na adolescência que se intensificam novas experiências e são vividos períodos de independência dos pais. É quando ocorrem etapas importantes de amadurecimento emocional e sexual. A saúde mental dos jovens tem sido afetada ao longo da pandemia, e a chegada da variante ômicron frustrou a retomada de um ritmo mais normal de vida.
O período, no entanto, também tem levado a reinvenção e adaptação.
Lee Fu-I, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de SP e especializada em crianças e adolescentes, diz que existem casos graves e os tempos da covid, de fato, agravaram as condições de quem já apresentava sintomas de problemas emocionais.
Um monitoramento de 6 mil crianças e adolescentes feito pela USP registrou que 36% dos entrevistados relataram traços de ansiedade e depressão durante a pandemia.
Mas uma parte significativa dos jovens tem achado caminhos de acomodação das novas circunstâncias, afirma Lee. Quem conta com suporte emocional, principalmente dos pais, tem mais chances de atravessar melhor a pandemia. "Assim como na população geral, os que estavam bem e com algum tipo de acompanhamento conseguiram se adaptar", avalia ela.
"O ser humano desenvolve resiliência. A maioria acaba se adaptando e inventando um jeito de viver na situação em que se encontra", diz Enio Roberto de Andrade, do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Hospital das Clínicas de SP.
"Claro que quem tem mais poder aquisitivo terá mais condições de conseguir ajuda e assistência médica dentro de um quadro de depressão e ansiedade. A adaptação para adolescentes com poucos recursos tem mais obstáculos", afirma ele.
A psicóloga Layta Sena Ribeiro observou uma amostra de como os primeiros meses da pandemia despertaram diferentes reações e comportamentos nos jovens. Ela acompanhou até julho de 2020 cinco garotos e cinco garotas de uma área periférica de Juazeiro, cidade da Bahia com 220 mil habitantes na divisa com Pernambuco.
"Fiquei surpresa com eles conseguirem criar estratégias de proteção. Algumas delas foram geradas a partir da própria experiência de resiliência, porque a maioria era de adolescentes negros e pobres, criados às vezes só pela mãe ou por uma avó", conta Sena Ribeiro.
O choque de uma quarentena mais "dura" no primeiro semestre de pandemia fez os jovens se questionarem sobre o que fazer com o tédio e as relações familiares forçadamente mais próximas.
"A experiência do tédio, de repensar sua vida, de pensar na criação de um projeto de futuro, causou sofrimento porque pensar sobre a sua condição existencial traz angústia. Mas também foi positivo porque os adolescentes começaram a criar projetos caseiros", diz.
"A situação despertou neles algo como 'ah, vou aprender uma habilidade nova. Vou pesquisar sobre alguma coisa que seja legal para mim'."
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