AFROTURISMO: VALORIZAÇÃO DA CULTURA PODE IMPULSIONAR O TURISMO NO PAÍS

 

Pelourinho – Salvador | Ali todas as construções foram levantadas por escravos o nome do largo remete aos locais onde as punições a escravos eram realizadas (Foto: Paul R. Burley / WikimediaCommons / CreativeCommons)

Pelourinho – Salvador | Todas as construções foram levantadas por escravos e o nome do largo remete aos locais onde as punições a escravos eram realizadas (Foto: Paul R. Burley / WikimediaCommons / CreativeCommons)

Afroturismo: valorização da cultura pode impulsionar o turismo no País

As experiências turísticas afro centradas colocam as comunidades negras como protagonistas, gerando renda e combatendo o racismo

O mercado de turismo brasileiro hoje ainda é muito tímido e deve ser mais explorado. A solução pode ser encontrada além das nossas belezas naturais, com a valorização da cultura, especialmente do afroturismo. Antes da pandemia, enquanto as ilhas caribenhas recebiam mais de 30 milhões de turistas, o Brasil recebeu menos de 7 milhões, um número menor do que o do museu do Louvre. Mas o que as pessoas buscam no Caribe que não tenha de sobra no Brasil? 

De acordo com Carlos Humberto Silva, CEO da startup Diáspora.black, além das belezas naturais, as pessoas vão para o Caribe por conta da cultura e da gastronomia caribenha, que é referência internacional.

Celebração de 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, no Quilombo dos Palmares (Foto: Ministério da Cultura / Divulgação)

Celebração de 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, no Quilombo dos Palmares (Foto: Ministério da Cultura / Divulgação)

"Esses elementos existem de sobra no nosso país. Essas associações estão diretamente ligadas a todo o legado cultural e patrimonial que a população negra traz para a nossa sociedade. Desse modo, o afroturismo pode ser uma potência para alavancar o crescimento de visitações à medida que a gente apresenta novos atrativos ligados à identidade, à cultura e à história do país", aponta o empresário.

Afroturismo é o conjunto de experiências turísticas afro centradas, que valorizam a história e a cultura preta em todo o mundo. O modelo foi apontado como uma das grandes tendências de turismo mundial justamente pela oferta dessas experiências de imersão.

No Brasil, o turismo étnico, como antes era chamada a prática, já é desenvolvido por todo o território. A meta é destacar como protagonistas as comunidades tradicionais pretas, como os quilombolas, os grupos do jongo, da capoeira, dos batuques e dos sambas, para que eles tomem a frente nas tomadas de decisão e sejam inseridos na cadeia econômica.

Fazenda Roseira, propriedade escravocrata em Campinas, São Paulo (Foto: Luiz Carlos Cappellano / WikimediaCommons / CreativeCommons)

Fazenda Roseira, propriedade escravocrata em Campinas, São Paulo (Foto: Luiz Carlos Cappellano / WikimediaCommons / CreativeCommons)

"Os próprios poderes públicos – municipais, estaduais e federal – estão reconhecendo a necessidade de discussão e apoio não só pela questão da diversidade, mas pelo reconhecimento da importância dessa história", comenta Solange Barbosa, historiadora, turismóloga e criadora da agência Rota da Liberdade.

Diáspora.black

startup é um marketplace em que são anunciadas hospedagens e experiências (presenciais e on-line) com foco na cultura afro. Segundo o criador, quem anuncia na plataforma afirma que oferece, além do produto e valores, a garantia de estar preparado para atender a todos com o mesmo padrão de qualidade. A plataforma alcança 15 países, 145 cidades e mais de 39 mil de pessoas engajadas, além de vários prêmios internacionais.

A ideia para criar a plataforma surgiu em 2016 a partir de algumas experiências pessoais. "Eu viajava muito a trabalho e em muitas delas vivi diversas situações racistas em hotéis. Passei por uma situação em minha casa, quando um casal que se hospedaria no meu apartamento. O casal se negou a ficar na minha casa por eu ser um anfitrião negro. Ali eu entendi a necessidade da criação de serviços que livrassem a população negra dessas situações de racismo e preconceito", conta o CEO.

Réplica da sede administrativa do Quilombo dos Palmares, em Alagoas (Foto: Thalita Chargel / WikimediaCommons / CreativeCommons)

Réplica da sede administrativa do Quilombo dos Palmares, em Alagoas (Foto: Thalita Chargel / WikimediaCommons / CreativeCommons)

Rota da Liberdade

Pioneira em turismo étnico em São Paulo, a agência foi fundada em 2006 com foco na valorização das comunidades pretas tradicionais através dos roteiros turísticos, com geração de renda e trabalho para os integrantes. Sua fundadora, Solange Barbosa, é licenciada em história, turismóloga, guia de turismo e produtora cultural. Entre 2012 e 2015, a empresária foi consultora da Unesco para o programa Rota do Escravo.

"Nós somos produtores relevantes de conteúdo com relação à história da diáspora negra. A gente pode oferecer os melhores roteiros, as melhores experiências turísticas que serão um diferencial em qualquer destino turístico brasileiro", comenta Solange.

Entre outros destinos e experiências, a agência especializada leva turistas para conhecer a história da cultura afro no Rio de Janeiro. Há também um roteiro de quilombos no Vale do Ribeira, onde é possível se hospedar em um hostel. No estado de São Paulo também é possível visitar a Fazenda Roseira em Campinas, o Quilombo do Carmo em São Roque além de outras comunidades espalhadas pelo país.

Fonte:https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Viagem/noticia/2021/11/afroturismo-valorizacao-da-cultura-pode-impulsionar-o-turismo-no-pais.html


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