MESTRE BAMBUZEIRO MOSTRA SUA CASA COM ESTRUTURA E MÓVEIS DE BAMBU

Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)

Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)

Mestre bambuzeiro mostra sua casa com estrutura e móveis de bambu

Mestre bambuzeiro com 46 anos de trajetória, o mineiro Lúcio Ventania vive e trabalha num conjunto de construções de bambu, cercadas por um viveiro, a 40 minutos da capital


  • LÚCIA GUROVITZ | ESTILO ADRIANA FRATTINI FOTOS FRAN PARENTE | ASSISTENTE DE PRODUÇÃO LUCAS FREITAS
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Para Lúcio Ventania, a principal característica do bambu é a generosidade. “Num pedaço de terra de pouco mais de meio hectare, montei casa, biblioteca, cantina, oficina e ainda sobrou espaço para uma plantação que me garante autossuficiência de material”, afirma.

Durante 22 anos, o mestre percorreu o Brasil para levar seu curso a diversas comunidades. O objetivo era estimular o surgimento de bambuzerias que gerassem renda e melhorassem a vida da população de cada lugar.

Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)
Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)

Mais de 50 localidades foram atendidas. Em 2008, cansado da estrada, decidiu que era hora de os alunos virem até ele e, no ano seguinte, fundou o Cerbambu Ravena – Centro de Referência do Bambu e das Tecnologias Sociais, em Ravena, distrito da cidade de Sabará, MG.

Nas quatro edições anuais do treinamento, Lúcio e sua equipe ensinam a cultivar esta gramínea e a utilizá-la na construção de casas, móveis e objetos. “A espécie não deve ficar exposta às intempéries. Por isso, na arquitetura, requer a proteção de um telhado com beiral largo. Das telhas para baixo, porém, quase tudo dá certo com ela: caibros, forros, portas, janelas, paredes, mobiliário, utensílios”, diz.

As aulas acontecem dentro da oficina, uma geodésica de 200 m². O prcesso é artesanal, com ferramentas simples, técnicas de encaixe e um tratamento para aumentar a resistência que emprega apenas água e fogo. “Graças à internet, hoje troco experiências com artesãos de países com tradição milenar, como China e Índia, e recebo reconhecimento pela qualidade do trabalho desenvolvido aqui”, afirma.

Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)
Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)

Lúcio também teve seu professor, Mestre Lu, com quem se iniciou nessa arte em 1975, aos 10 anos. “O ateliê dele ficava perto de casa, no bairro de Padre Eustáquio”, diz. Um dia, o veterano chamou um grupo de meninos que jogava futebol na rua para ajudá-lo a dar conta de uma encomenda de 5 mil cestas. “Ele fazia a estrutura, e nós, os garotos, o trançado. Terminado o serviço, pedi para continuar meu aprendizado.”

Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)

Aos 20 anos, abriu a primeira oficina própria. Mas, antes disso, descobriu outra paixão: o teatro. “Entrei para um grupo de atores e tive a sorte de conhecer o crítico e diretor Ronaldo Brandão, que me estimulou a ler. Parti dos clássicos estrangeiros, como Shakespeare e Ibsen, e cheguei a Abdias Nascimento e outros autores nacionais. Tomei gosto pela leitura e nunca mais parei”, relembra.

Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)

De aprendiz a mestre, encontrou seu modo de contribuir para um mundo melhor. “Quando elogiavam uma peça minha, eu me via num lugar de valor. Queria que mais gente se sentisse assim e resolvi ensinar.”

O sonho de espalhar bambuzerias pelo Brasil não envolve latifúndio, monocultura, processos industriais e transporte de longa distância. Tudo isso ele rechaça. “Proponho o plantio familiar, combinado a outras vegetações para favorecer a biodiversidade. A ideia é que o agricultor erga sua casa com um recurso renovável. Precisamos parar de usar concreto”, fala. Ventania pode não ser seu nome de registro, como desejava seu pai (o funcionário do cartório não permitiu), mas Lúcio certamente é vento de mudança.

Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)
Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)
Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)
Lúcio Ventania, mestre bambuzeiro, abre as portas de sua casa, em Minas Gerais (Foto: Fran Parente)
Fonte:https://casavogue.globo.com/Interiores/casas/noticia/2021/07/mestre-bambuzeiro-mostra-sua-casa-com-estrutura-e-moveis-de-bambu.html

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