COMO SER FELIZ SOZINHA - E SE FORTALECER COM A SOLIDÃO

 

Não saber lidar com a solidão nos torna dependentes e carentes  (Foto: Ilustração Iago Francisco)

Não saber lidar com a solidão nos torna dependentes e carentes (Foto: Ilustração Iago Francisco)

Como ser feliz sozinha – e se fortalecer com a solidão

Precisamos falar sobre dependência emocional e o processo (nem sempre fácil!) de encontrar a felicidade quando bate a solidão

Caso da youtuber paulista Dora Figueiredo, de 24 anos, que fala para mais de 1,6 milhões de seguidores sobre relacionamento. Ela descobriu como viver bem sem companhia após sofrer um bocado com medo da solidão. “Meus pais se divorciaram quando eu era criança e passei a pensar nisso”, conta. “Comecei a namorar muito nova e transferi o sentimento. Resultado: não sabia nem o que queria comer quando estava sem companhia.” Emendou um relacionamento no outro até decidir virar a chave e passar um mês sozinha, no Rio de Janeiro, longe de casa para um período de autodescoberta. “Pela primeira vez, me senti autossuficiente.”

(In)dependência

Essa história de estar sempre namorando ou viver rodeada de amigos 24 horas tem nome: dependência emocional. E ela existe por um motivo simples: viver em grupo é necessidade do ser humano, um comportamento herdado dos nossos ancestrais, instinto mesmo. “Raramente alguém consegue sobreviver sozinho. Necessitamos de outras pessoas para ter ajuda e evoluir, mas o convívio também nos tira a liberdade”, explica a filósofa e psicanalista Viviane Mosé, que já publicou mais de 10 livros. O cerceamento ocorre quando outros olhos se voltam para nós e passam a interferir em escolhas e experiências de vida. Sabe quando você repensa a roupa que usa ou dá mais uma chance para um namoro meia-boca por se preocupar com o que os outros vão pensar? Então! Aliás, por que seria “vergonha” sair de uma relação e ficar sozinha, na plenitude da própria companhia?

Antes só...

É que, segundo Viviane, muitas vezes confundimos solidão com abandono. Essa sensação faz com que a gente queira viver em grupo, perto de amigos. Mas não representa, necessariamente, o único e melhor caminho. “A convivência é prazerosa, claro, mas representa o olhar do outro. Já na solidão você olha para si mesmo e consegue ser livre. Ela nos faz sofrer, mas também nos fortalece”, afirma a filósofa. Por isso, o desafio é conseguir encontrar equilíbrio entre solidão (o próprio espaço) e convívio. O dilema do porco-espinho, descrito pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer, em 1851, representa bem essa dicotomia. Na metáfora, ele relata que os animais precisam ficar juntos para se proteger do frio, mas se machucam e se espetam quando se aproximam demais, então decidem se afastar. Qualquer semelhança com as relações humanas não é mera coincidência...

Antes do outro, precisamos de nós (Foto: Ilustração Iago Francisco)

Antes do outro, precisamos de nós (Foto: Ilustração Iago Francisco)

Tão perto, tão longe

“Não saber lidar com a solidão nos torna dependentes e carentes”, afirma Mosé. Ainda mais na era digital, em que estamos conectados com tanta gente e, ao mesmo tempo, cada vez mais distantes. O assunto é tão sério que foi criado, no Reino Unido, em 2018, um ministério para combater as consequências do isolamento social, chamado pela então primeira ministra, Theresa May, de “triste realidade moderna”.

O psiquiatra do hospital Albert Einstein Elton Kanomata explica que esse sentimento pode, sim, virar problema de saúde, como depressão e síndrome do pânico. Nesses casos, vários fatores devem ser levados em consideração, como traumas e cicatrizes na infância (lembra do caso da Dora?). “É necessário analisar se o paciente era solitário e isso gerou uma doença mental ou se já tinha uma doença e isso causou isolamento. Em ambos, a solidão é afetividade negativa, que gera desconforto e sofrimento.” Não precisa ser assim.

Precisamos do outro, claro, mas antes, precisamos de nós mesmas. Aquele lance de chegar em casa, escolher uma playlist e abrir um vinho, sem ninguém para impressionar, a não ser você mesma. Fundamental é mesmo o autoconhecimento, é impossível ser feliz sozinha (ou acompanhada) sem ele.

Em um caso sério comigo mesma (Foto: Ilustração Iago Francisco)

Em um caso sério comigo mesma (Ilustração Iago Francisco)


Fonte:https://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/noticia/2019/08/como-ser-feliz-sozinha-e-se-fortalecer-com-solidao.html


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