A LINGUAGEM DOS MAMOS: UM GUIA CURTO PARA A PAZ NA TERRA



Ekajati: Rainha dos Mamos, pintura thangka de Chogyam Trungpa Rinpoche

A LINGUAGEM DOS MAMOS: UM GUIA CURTO PARA A PAZ NA TERRA


Ekajati, considerada a rainha das Mamos 
(Fonte: “Images of Enlightenment” 
– dakiniasart.org)

Lama Rangbar apresenta a visão Vajrayana sobre o surgimento de epidemias e sua conexão com o desequilíbrio dos elementos

“Os tempos de degenerescência futuros se farão conhecidos quando inocentes forem perseguidos sem causa e criminosos recalcitrantes ganharem autoridade; quando praticantes espirituais forem ridicularizados e pecadores forem louvados; quando alimentos impuros forem consumidos; quando profissões de guerra, estupro e pilhagem se tornarem a norma; quando Gyalpos, Srinoms, as oito classes de espíritos, e Nagas e Nyens particularmente cruéis emerjam e se tornem poderosas, e multidões de doenças epidêmicas forem soltas sobre humanos e animais; quando o padrão de repetidas promessas incumpridas faça com que os votos e os Samayas se rompam.”

Além disso:

“Aqueles que se mantêm praticando verdadeiramente o Darma são tão raros quanto as estrelas durante o dia. Caso esses praticantes raros sejam atormentados por malfeitores, se alcançarem os rituais de atividades apropriados, derrotarão completamente todos os obstáculos e causadores de dano. Eles se tornarão vitoriosos sobre os Maras e serão livres de doenças. Ganhando a glória de ambos Samsara e Nirvana, eles se tornarão senhores de todas as possíveis aparências.” ¹

 

Enquanto praticantes do budismo Vajrayana, frequentemente ouvimos os nomes de vários tipos de seres ou espíritos mencionados nos textos das práticas com que nos envolvemos. Se você é como a maioria dos praticantes ocidentais, em algum lugar profundo dentro de você surgem algumas questões saudáveis e provavelmente insistentes: “Quem são esses seres? Onde estão? Eles realmente existem apesar de que por enquanto não podemos vê-los com nossos olhos carnudos? Se eu lhes faço oferendas, eles as recebem de fato? Eles causam alguma oscilação ou influência sobre nós, ou isso é apenas algum tipo de expressões primitivas ou fantasias que serviram de consolo para culturas que não tinham uma ciência verdadeira?”.

Para compreender outros seres, primeiro devemos entender o que é um ser. Para que isso chegue a qualquer lugar próximo da compreensão necessária, o ponto é considerarmos primeiro algumas questões básicas. Uma é a natureza desobstruída do espaço básico, a segunda pode ser melhor descrita como interdimensionalidade, e a terceira é a interdependência.

Para a maioria de nós, um ser é essencialmente uma entidade definida por uma fronteira biológica de algum tipo (um corpo) com uma referência identitária a essa fronteira e seu entorno. É um ponto de referência relativo de uma coletividade. Pode ser que acredite em sua própria existência apesar das amplas evidências objetivas de que, de fato, possui pouca existência inerente separado do resto da natureza.

Segundo vários textos budistas tântricos, uma vez que tal identidade se estabelece e é tida como suprema, cinco distorções emergem dentro do que de outra forma se desvelaria como cinco sabedorias puras ou prístinas. Essas são as seguintes:

  1. O ódio é a distorção da sabedoria que é como um espelho (seu elemento correspondente é a água e sua cor é azul). Esta sabedoria basicamente significa que ao ver tudo nitidamente como nossa própria natureza e nada além disso, não somos deludidos nem amedrontados.
  2. O desejo é a distorção da sabedoria discriminativa (seu elemento correspondente é o fogo e sua cor é vermelha). Esta sabedoria basicamente significa que ao não confundirmos objetos aparentemente causadores da felicidade com a fonte da felicidade, podemos nos contentar com nossa própria natureza e assim estarmos livres do desespero.
  3. O orgulho arrogante é a distorção da sabedoria da igualdade (seu elemento correspondente é a terra e sua cor é amarela). Esta sabedoria basicamente significa que ao verdadeiramente compreendermos a equanimidade, nos libertamos do isolamento de nossa presunção, e nos tornamos humildes e felizes.
  4. A inveja é a distorção da sabedoria de que tudo é realizado (seu elemento correspondente é o ar e sua cor é verde). Esta sabedoria basicamente significa que ao vermos que tudo já é completo exatamente como está, não nos separamos mais de nossa natureza e então automaticamente nos regozijamos com a felicidade dos outros.
  5. A ignorância é a distorção da lucidez básica do espaço (seu elemento correspondente é o espaço e sua cor é branca). Esta sabedoria basicamente significa que ver a lucidez do espaço aberto sem véu como nossa própria natureza, não nos distraímos mais da verdade.

As distorções acima são experimentadas por cada ser em intensidades diferentes, a depender de sua posição e percepção evolutiva individual. Quando elas atingem níveis de alta intensidade, causam perturbações significativas dentro de nossas mentes, que conduzem a doenças de diferentes tipos. O medo perturba os rins, o pesar perturba os pulmões, o desejo perturba o coração, o ódio perturba o fígado etc. Essas perturbações internas da mente se manifestam externamente como perturbações nos cinco elementos ao nosso redor.

  1. A água perde sua quietude e se agita em ondas e tsunamis.
  2. O fogo perde o controle de sua localização e se espalha selvagem em todo lugar.
  3. A terra perde sua estabilidade e treme.
  4. O ar é agitado em tempestades.
  5. O espaço se torna obstruído.

Fonte: shambhalatimes.org

No Vajrayana são frequentes as menções a oito classes de seres. Entre eles estão os Nagas ou castas de seres serpentes, senhores da terra, Tsens, espíritos árvores, uma classe canibal chamada Rakshasa, espíritos-como-reis, Dzas, emanações planetárias ou astrológicas, gigantes ou Yakshas (algumas vezes traduzidos como Djinns ou gênios), Shinjes ou espíritos da morte (Tib. Wyl. gshin rje), Tseurangs, talvez conhecidos como Leprechauns, e Bar tsam gyi Lha, ou seres de estados intermediários (digamos, por exemplo, fadas voadoras). Também há Mamos, seres elementais femininos. Como os sistemas que enumeram esses seres variam, também o faz sua classificação e categorização. Em alguns sistemas, Du ou os quatro Maras encabeçam a lista.

Dentre estes, apesar de que Nagas e espíritos-como-reis também podem causar doenças, as Mamos parecem relacionar-se especificamente com esses tipos de vírus. As Mamos são representadas algumas vezes como mulheres assustadoras com cabelos desgrenhados, rosnando com seus dentes à mostra, vestindo couros e cintos feitos de pele humana, ou peles esfoladas de crianças, segurando bolsas de veneno ou doenças pestilentas e um laço. A palavra vírus também significa veneno. Outras vezes elas são extremamente bonitas com diferentes corpos, montarias, vestimentas, decorações, ferramentas e poderes sedutores.²

É comumente aceito entre Lamas e praticantes dedicados que essa doença que nós temos atualmente, pertencente à família chamada Covid19, e outros vírus similares, são manifestações do que poderia ser dito como o comportamento perturbado ou renegado das Mamos. Podemos dizer que é uma mensagem delas, porque esta é a forma direta como elas se comunicam conosco.

Um dos aspectos mais interessantes das Mamos é que elas podem tanto ajudar como prejudicar os humanos, a depender de nosso comportamento. Isso sequer significa que seu comportamento difere nos dois casos, tudo que é necessário é que nosso próprio comportamento varie. Se nos comportamos de maneira respeitosa, lúcidos na nossa relação com elas, elas emergem simbióticas. Esta é uma função que torna esta situação interessante e importante.

As Mamos têm hierarquia quanto ao seu status, suas linhagens de autoridade e seu poder. Para que uma imensa praga se manifeste no reino humano, ela deve primeiro haver estado de acordo com a esfera da sabedoria última. Em outras palavras, a manifestação do vírus deve primeiro ser autorizada pelas chefes das Mamos que não habitam mais dentre a confusão do Samsara, como outros seres ordinários. Por sinal, a sabedoria não é amiga de nossas preferências pessoais a não ser que nossa preferência seja realmente a sabedoria por si só. A partir daí, suas capangas, que recebem ordens destas chefas mas estão mais próximas da esfera dos seres ordinários, são encarregadas de pôr em marcha suas manifestações.

A mais alta protetora da tradição Nyingma ou escola antiga é uma Mamo chamada Ekajati ou “a Mãe de uma trança só”. Ela tem um único seio, um olho, e seu cabelo se junta no topo de sua cabeça em um único nó. Sempre que recebemos iniciação às mandalas tântricas de deidades masculinas ou femininas importantes, nós o fazemos compreendendo que há regras para esse jogo e que estamos sujeitos a essas regras. Nosso sistema se aparelha ou calibra para ouvir os sinais  que esses guardiães oferecem diariamente. Nos é exigido que sentemos conosco e ouçamos profundamente a essas dicas e mensagens. Quando perguntado se ele lia o jornal, Sua Santidade Dudjom Jigdrel Yeshe Dorje respondeu, “eu não preciso ler jornais. Eu posso simplesmente ler as notícias do mundo inteiro no céu a qualquer momento.”

Originalmente, Ekajati, Mamo PokhasiddhiDurtrod Lhamo e outras não eram seres mansos. Muito ao contrário, eram selvagens e rebeldes e frequentemente bastante destrutivas para os humanos. Esses seres se irritavam facilmente e com frequência. Se os humanos se equivocassem na sua conduta, mesmo quando sem intenção ou não vistos por outros humanos, esses seres retaliavam instantâneamente e sem aviso. Mas seres poderosamente realizados, utilizando uma combinação de compaixão (habilidade/método) e sabedoria, compeliram esses seres sob juramento e transformaram suas vidas em expressões de perfeita sabedoria e proteção dos métodos. A relação com as Mamos e outros protetores atados por juramento era um aspecto de ajuda mútua ou simbiose dos humanos vivendo em harmonia com a natureza e suas necessidades.

Em bons tempos nos quais tudo corria bem, um país ou cultura inteira mantinha sua relação viva com essas várias classes de seres interdimensionais diariamente através das práticas de oferecimentos. Essas práticas prestavam aos humanos o tempo e os meios para ouvir o chamado da voz dos elementos e ajustar seus comportamentos conforme necessário. As práticas asseguravam chuva periódica, colheitas abundantes, pacificação das doenças etc. No Tibete, a soberania de todo o país repousava na integridade da relação entre as pessoas e esses guardiães ferozes, e ainda assim essa relação se rompeu quando a política assumiu um papel predominante sobre a harmonia com a natureza.

Mesmo se você tivesse de esboçar uma ideia própria, seria muito difícil nomear qualquer coisa ou evento específico que seria mais efetivo que o coronavírus para unificar a humanidade. Visto como uma manifestação de um ser de sabedoria, o vírus tem a capacidade de cortar através de todas as linhagens políticas. O vírus não é bolsominion ou esquerdopata³. A cor da sua pele não importa e seu país de origem tampouco. Ele não se importa com sua idade, e apesar de que dinheiro e abrigos subterrâneos multimilionários possam oferecer alguma medida de isolamento, esses abrigos são apenas tão impenetráveis como a força de nosso próprio sistema imunológico.

Muitos de nós já podemos ver o vírus em si como uma mensagem das Mamos, que foram encarregadas por milhares de anos a cumprir um papel vital na manutenção do equilíbrio dos elementos do mundo. Elas não são, na verdade, outra coisa além da personificação dos elementos. Imagine se o fogo pudesse falar! Agora, mesmo muitas pessoas que se consideram pensadoras críticas com habilidades científicas falam da manifestação deste vírus de maneiras personificadas, ao fim entendendo que isso tem algo a ver com causa e efeito.

Apesar de que muitos afirmam que o vírus não se espalha pelo ar, a OMS explica que é assim que ele é transmitido. Os meios para a disseminação do vírus lidam com a contaminação do elemento espaço, chamado “Nam Drip” por lamas em tempos modernos. “Nam Drip” se traduz grosseiramente como “obscurecimento do céu”. Este obscurecimento começou com a poluição com carbono, em geral, e continuou com a emissão de aerossóis e materiais em partículas.

As doenças respiratórias têm aumentado dramaticamente ao longo das duas últimas décadas. Não é difícil de imaginar que a parte humana que lida mais diretamente com o céu propriamente dito, os pulmões, seja a primeira coisa a ser atacada pelo vírus. Outra parte poética desta palheta de componentes a partir da causa e efeito é a origem do vírus, que se diz haver sido através da metamorfose de um vírus carregado por uma cobra ou Naga ou entidade do elemento água, para um morcego, uma criatura navegadora do espaço. Tantras médicos antigos enumeram muitas comidas específicas que devem ser evitadas, e a carne de morcego está em uma posição alta nesta lista. Não importa se sua visão é a de que este vírus foi feito pelo homem ou tornado uma arma, pois isso não diminui sua origem, seu caminho ou meio de movimento, nem afeta a lógica natural da retaliação.

Mas o obscurecimento do céu não para no nível das substâncias químicas ou partículas no ar. Todo tipo de ondas de energia de tantas frequências são transmitidas por rádio, radar, micro-ondas, 3G, 4G e 5G, entre outras fontes. Para nossa conveniência, nossas residências possuem Wi-Fi disponível em toda a casa sem qualquer reflexão sobre quais podem ser seus efeitos colaterais sutis ou mesmo grosseiros. Muitas pessoas imediatamente têm dores de cabeça fortíssimas ao apenas se aproximarem de torres de sinal para celular ou ao aproximá-los de suas cabeças. Nós somos, afinal de contas, feitos basicamente de água e ondas que se movem através de nós.

Novamente, há um outro contribuinte para o “Nam Drip” que está sentado de frente para um computador, cujos olhos são bombardeados não apenas pela radiação de sua tela, mas pelas imagens que vemos e devemos de alguma maneira processar. As imagens e as escolhas energéticas que elas exigem – tais como “curta isto, tente ter isso”, “descurta aquilo, tente evitá-lo” e “isto não tem nada a ver comigo, vou ignorá-lo” – põem uma carga em nosso sistema, obscurecendo o espaço básico de nossas mentes. Esse obscurecimento perturba a qualidade de nosso sono, aumenta nossos níveis de estresse, e até mesmo afeta nossa habilidade de digerir de forma apropriada. Apesar acharmos que as criaturas do mar são os únicos seres engasgados com cordas flutuantes, sacolas plásticas à deriva etc., nós mesmos estamos sufocados pelo entupimento de nosso trânsito mental e pelo ar impuro.

Os tantras providenciam aos praticantes budistas muitos métodos sublimes para superar obstáculos como pragas e vírus. A maioria desses textos, independente de operarem desde um lado masculino ou feminino, nos habilitam para superar as influências de fundo de várias forças invisíveis que se impõem sobre nossos sistemas, sobrecarregando-os com trabalho e nos tornando vulneráveis à sua visão da vida, que é simplesmente se replicar. A chave para superar qualquer vírus repousa em encontrar um caminho para que nossos sistemas reconheçam e eliminem o intruso. Supõe-se que mesmo as vacinas ativam este mesmo mecanismo. O trabalho do vírus é se manter sorrateiro enquanto se esconde nos recessos sombrios de nossa inabilidade em identificar ou localizá-los e recusar sua pauta. Isto nos trás às práticas que ajudam a fazer exatamente isso. Eu desprezo entrar em discussões políticas, mas a título de exemplo, quando um representante de um governo propõe que se você é velho você deveria se sacrificar pelo bem da economia, esta não é uma mensagem sadia de ser internalizada. Tal mensagem, caso internalizada, poderia ser exatamente o que faz com que seu sistema se resigne à derrota nas mãos do ladrão que lhe mentiu dizendo que era o fiel da balança e que por isso ele se meteu em sua sala de estar. Esse é um aspecto do que queremos dizer com Don. De alguma forma, no pano de fundo há espíritos maliciosos agitados atravessando a mente de todos e que estão longe de operarem baseados na sabedoria ou compaixão. Nós devemos pacificar nossa própria frustração, ódio e quaisquer outras causas que residem dentro de nós.

Dentro do panteão de práticas tibetanas estão as práticas de Sangye Menlha e Urgyen Menlha (Budas da Medicina); a prática de Tara Ritrod Lomma Gyonma (a vigésima Tara, que protege de pandemias); a prática de Armadura do Corpo Vajra (uma forma de Guru Dragpo); Ta Chag Khyung Sum (A Amálgama das Três Deidades Extremamente Iradas, Hayagriva, Vajrapani e Garuda); e finalmente, Mamo Truk Kong (entre tantas outras). Estas práticas trabalham em diferentes níveis para superar a situação invisível de pano de fundo que sustenta as doenças infecciosas. Uma das práticas a título de exemplo é a pacificação da agitação das Mamos tanto por meio do reconhecimento e desculpa por nossos delitos e samayas rompidos (Shakpa), como também fazendo oferendas através de diferentes elementos, normalmente pela fumaça, ou dito de outra forma, oferecendo medicinas através do ar. Novamente, aqui a noção de samaya ou vinculação com as Mamos é crucial. As Mamos não são realmente separadas de nós e quando elas estão com raiva, isso provavelmente significa que nós estamos cheios de frustração, agitação, raiva e ódio.

Estas práticas funcionam apenas quando certos elementos estão presentes. Para começar, a desculpa deve ser sincera e não uma simples conciliação. Por sua vez, isto significa que nós devemos entender o que fizemos de errado em nossas próprias vidas individuais. Então, finalmente, devemos prometer nunca fazer essas ações novamente. Apesar de que isto não significa que o vírus irá desaparecer instantaneamente, a causa pode desaparecer, pacificando a intensidade de manifestações vindouras.

De alguma maneira, as práticas nos ajudam a identificar como nós nos permitimos ser enganados por noções equivocadas e propagandas errantes, e a corrigir a situação. Você não pode capturar um ladrão se você sequer sabe que ele já está em sua casa disfarçado como seu abajur. Uma vez que identificamos um inimigo ou intruso tal como um vírus e verdadeiramente decidimos que temos o direito de viver, nosso sistema irá fazer o que quer que seja necessário para nos livrar dessa influência indesejada. Esta é a chave para alguns dos métodos que podemos empregar.

Detalhe de thangka pintada por Chögyam Trungpa Rinpoche (Fonte: shambhalatimes.org)

Sem dúvida, os americanos originários tinham suas próprias práticas para assegurar boas relações com estes seres, que eram intrinsecamente conectadas com suas mais ou menos inequívocas formas de vida. Isso é a evidência de que isto não é uma visão dogmática mas sim uma compreensão bastante natural. Infelizmente, no mundo de hoje, as pessoas se tornaram separadas das sutilezas da mente ao envolverem-se apenas com os aspectos mais fisicamente perceptíveis dos fenômenos, e assim, aumentaram seus apegos e focos grosseiros. Há muito tempo, eu acredito que por volta da época de Louis Pasteur, quando os micróbios foram descobertos pela primeira vez, ele foi ridicularizado pela comunidade científica com frases tais como: “se você não pode ver algo, isso não pode te machucar”. Hoje, havendo certificado que pequenas coisas que estão além de nossa capacidade de enxergar comandam nossa própria existência, nós nos tornamos cada vez mais abertos à exploração de coisas na natureza que são ultra pequenas e até nanoscópicas. Mas nossas visões ainda são essencialmente materialistas. E apesar de que agora nós reconhecemos que a pequenez não descarta o potencial de uma forte influência, ainda estamos ignorando, em geral, as mensagens sutis e super-sutis que surgem em nosso caminho. Nós as temos ignorado uma e outra vez, agindo como crianças más e desaforadas sujando nossas camas. Incontáveis pessoas ou não acreditam ou não se importam sobre o que estamos fazendo com o planeta, e continuam agindo como se não houvesse tais coisas como causa e efeito em um sistema limitado do qual todos fazemos parte. A mensagem das Mamos não carece, portanto, de um temperamento natural. Assim como uma mãe que ama e protege seus próprios filhos, as Mamos enviaram sinais de aviso. Quando nós os ignoramos, elas ergueram suas vozes com fortes padrões climáticos. Novamente elas falaram através da forma do fogo, que queimou ferozmente em diferentes áreas do mundo. As Mamos frequentemente agitam seus corpos do elemento terra e ainda assim nós agimos tal como uma colônia de formigas, surpresos por algo que pensamos não ter relação alguma conosco. No caso da maioria, nós humanos simplesmente não estamos fazendo nosso trabalho de compreensão de nossa interconectividade inerente.

O vírus, como nós o chamamos, continuará expandindo sua influência. É a mensagem viral das Mamos de que nós nos unamos e cooperemos e observemos a natureza desrespeitosa de nossas próprias mentes e ações indisciplinadas, acalmando-as desde nossas profundezas. Mitigações políticas, posturas egoístas, mentiras e reivindicações narcisistas não moverão seus olhares de sua tarefa nem um triz. A quantidade de pessoas que perecerão por esta doença significa que todos provavelmente conhecerão alguém que foi morto ou visitado por esta onda em algum nível. A piada-meme que circulou na qual Trump supostamente disse: “pessoas que nunca morreram antes irão morrer” formará uma pressão pela qual as pessoas não serão capazes de pensar sobre política da forma costumeira. Escusas não salvarão pessoas. Um pensamento orçamentário e ideologias capitalistas não pararão este vírus. Nós veremos uma maré de necessidade pública arrebentando através das portas de todas as repartições públicas, e somente aquelas pessoas com maturidade e coragem irão ocupar essas posições na linha de frente. Elas não serão ocupadas por pessoas de coração fraco, mas por quem compreenda que não há nada mais elevado que o servir altruísta.

Vale a pena notar que os canais de Veneza, na Itália, estão subitamente se limpando e golfinhos estão se aproximando das praias do Mediterrâneo. Sem o fardo constante do comportamento doentio dos humanos poluindo o elemento água, ela (Mamaki) é resiliente. Há um futuro para a humanidade depois da passagem deste vírus. Tenham em mente que a única coisa que pode parar o vírus é a cooperação e uma mudança no comportamento dos humanos. Não há espécie que reste neste planeta de qualquer das anteriores extinções em massa que não tenha se adaptado.

Nós não podemos votar pela remoção das Mamos de seu cargo, visto que elas são os tijolos de que todos nós somos compostos. Mas à medida que a severidade de sua mensgem se intensifica na forma das quatro atividades búdicas, elas podem certamente votar pela nossa saída da existência se isso for o que sentirmos que realmente é necessário. Ao invés disso, devemos atentar à mensagem das Mamos e ajustar suficientemente nossos meios de vida, com reverência, respeito e até mesmo gratidão por sermos corrigidos da nossa trajetória de auto-destruição. Não, deixem-me reformular isso: ou nós fazemos tudo isso, ou perceremos, enquanto as Mamos concluem seu trabalho de usar respostas perfeitamente calibradas ao nosso comportamento até que ouçamos e nos adaptemos, ou nos transformemos em novos seres ou retornemos ao solo (seu corpo), daonde nós surgimos primeiramente.

Como de costume, o nome do jogo é humildade, compaixão e sabedoria. Comecemos com alguma humildade e louvemos as Mamos. Eu me sinto hesitante em propor esta nova forma de ver e agir, mas não são as Mamos que carecem de inteligência, é nossa própria inabilidade de reconhecer nossos próprios equívocos. Nós parecemos simplesmente odiar admitir que estamos errados porque somos tão justificados em tudo que pensamos, dizemos e fazemos. Nós não somos crianças muito boas, e como resulta, tampouco bons pais.

Se um indivíduo possui grandes perturbações mentais, geralmente os efeitos são relativamente limitados à própria esfera de vida daquela pessoa. Aqueles que estão próximos de tal pessoa podem ser afetados de várias maneiras, mas a força geral dessa causa não é tremenda no que diz respeito a toda uma população. Entretanto, quando grandes grupos de humanos adaptam certos comportamentos, padrões de consumo, uso de tecnologias, pilhagem desenfreada e poluição do ambiente, então há o peso coletivo dessas ações, que se apresentam como uma perturbação real dos cinco elementos externos como descritos acima. Sendo assim, já que este problema foi criado pelas ações coletivas dos humanos, ele deve ser resolvido com uma ação coletiva, e isso poderia ser uma bênção se jogarmos nossas cartas de forma acertada, começando hoje.

Faça todas as excelentes práticas que quiser, mas, por favor, perceba que se elas não estão baseadas na compaixão, mas sim em mais perspectivas amedrontadas e egoístas, elas provavelmente não serão de uso algum. Além disso, elas apenas lhe agitarão mais. A prática de Tara, portanto, é uma aposta segura.

A forte perturbação de nossas mentes que estamos experimentando vinda do medo deste vírus, ou o senso de desamparo ao enfrentarmos esta situação, ou a frustração com nossos líderes ou uns com os outros, podem ser pacificadas com uma única compreensão. Novamente, a resposta é o despertar de nossa própria compaixão corpo-mente individual, e empregando preces compassivas e açóes que tenham efeitos desobstruídos e positivos no mundo real. Todos os seres desejam a felicidade e ainda assim não parecem saber como manifestá-la. Todos os seres desejam estar livres do sofrimento mas ainda assim não parecem ser capazes de evitar esse sofrimento. Portanto, por favor, utilize as quatro meditações ilimitadas e inclua todos os seres como uma coletividade de sabedoria compassiva. Você nunca está verdadeiramente sozinho.

Possam todos os seres ter felicidade e a causa da felicidade. Possam eles ser livres do sofrimento e da causa do sofrimento. Possam eles nunca se dissociarem da felicidade suprema que é sem sofrimento. Possam eles manterem-se na equanimidade ilimitada, livres de qualquer apego aos seres queridos e rejeição dos demais.

Esta nota foi escrita por Man, Filho da Paz, um seguidor de um professor exemplar que tinha e ainda tem relações imaculadas com todas as Mamos, conhecido como o Nascido-do-Lótus. Ao gerar humildade e engajar-se no oferecimento do bem-estar coletivo, possamos eu e todos os seres sermos capazes de receber suficiente sabedoria do seio único da Mãe que trás vida àqueles que de outra forma estão amaldiçoados pela arrogância do narcisismo desenfreado.

 

Notas:

¹ Traduzido do texto da Amálgama da Tríplice DeidadeTa Chag Khyung Sum, por Acharya Dawa Chodrak Rinpoche © Saraswati Bhawan Publications

² Parafraseado da Explicação Completa de Machik: Esclarecendo o Significado do Chod, traduzido por Sarah Harding.

³ No original em inglês: “The virus is not a Republican or a Democrat.” O tradutor tomou a liberdade de fazer uma adaptação para o contexto brasileiro.


O texto original em inglês pode ser lido aqui.

Fonte:https://bodisatva.com.br/a-linguagem-das-mamos/

Ekajati e os Ensinamentos Ati

Explorando profundidade e significado no canto protetor de Ekajati

por Russell Rodgers

Ekajati: Rainha dos Mamos, pintura thangka de Chogyam Trungpa Rinpoche

Este canto tem um nível extraordinário de ensino sobre a natureza da mente e a natureza da realidade. Na medida em que alguém realmente entende este canto, entenderá pelo menos em um nível conceitual muito sobre os ensinamentos e práticas ati, os mais elevados na linhagem Nyingma.

Ekajati é um protetor dos ensinamentos ati. A linhagem de ati começou no Tibete com Padmasambhava, no século 8 DC. (Em contraste, o Four Armed Mahakala, assunto de um ensaio anterior é um protetor na linhagem Kagyu, que começou cerca de 400 anos depois). Antes de deixar o Tibete, o Vidyadhara Trungpa Rinpoche era abade de vários mosteiros Kagyu, mas muitos de seus principais professores eram Nyingma, e eles o apresentaram aos ensinamentos ati. Por esta razão, as linhagens Kagyu e Nyingma formam a base do que praticamos agora como Budismo Shambhala. O aspecto Shambhala de nossa linhagem também estava presente no Tibete, mas não era considerado lá como uma linhagem separada. Embora estivesse intimamente relacionado às linhagens budistas, também se baseava na sabedoria embutida na sociedade secular tibetana e na religião Bon pré-budista.

Uma característica básica das tradições ati e Shambhala é que elas freqüentemente dão instruções profundas muito cedo no caminho do aluno. Dessa forma, eles estabelecem uma visão básica da iluminação desde o início. Por exemplo, os alunos do Nível I de Treinamento de Shambhala são apresentados à bondade básica incondicional, um conceito profundo e avançado, e o resto do treinamento se desenvolve e elabora essa visão.

Elementos: terra, fogo, água

Um exemplo ati de instrução profunda no início ocorre na seção de refúgio do Sadhana de Mahamudra, onde se refugia na terra, água, fogo e todos os elementos, manifestando-se como equanimidade autoexistente e a sabedoria espontânea do trikaya. Em outras palavras, refugia-se na realidade, como uma pessoa iluminada a experimentaria. Em contraste, um estilo mais Kagyu de refúgio nos faria refugiar-se no Buda, no dharma e na sangha. Se o trikaya parece um pouco abstrato para você, o buda, o dharma e a sangha são mais facilmente acessíveis. Você pode realmente imaginá-los em sua mente. Pode-se dizer que o estilo Nyingma é mais direto e o estilo Kagyu é mais facilmente compreendido por iniciantes como nós.

Em Shambhala e em Ati, há uma fé tremenda de que as pessoas podem reconhecer sua natureza básica. Nos ensinamentos do ati, pode-se ter uma visão da pureza primordial - que todos os fenômenos são puros desde o início. Qualquer mancha aparente é apenas isso: algo adicionado. Até as próprias manchas são puras em sua natureza, se olhadas agora e com plena consciência. Isso é muito semelhante à noção de bondade básica no Treinamento de Shambhala.

O Recipiente: Shambhala Nível Um

Ensinamentos avançados exigem proteção para serem eficazes. O Treinamento Shambhala é oferecido a quem se inscreve, mas é realizado em um container altamente estruturado e protegido. Este contêiner é composto por numerosos funcionários, uma atmosfera enriquecida com arranjos de flores e um certo grau de formalidade misturado com gentileza, relaxamento e dignidade. O diretor se senta em frente ao santuário, com um arranjo de flores e um copo d'água. O contêiner de Shambhala incentiva o respeito e a abertura para o ensino que ocorre.

Da mesma forma, os ensinamentos do ati também requerem proteção, simbolizada aqui por Ekajati. Nesse caso, o contêiner são nossas vidas. Ela tem várias tarefas a cumprir e podemos reconhecer suas ações ao nos familiarizarmos com o canto. Se reconhecermos a atividade de Ekajati em nossas vidas, respeitaremos o que ela está protegendo.

O canto começa com a sílaba BHYO, por meio da qual invocamos sua presença. Ekajati compartilha essa sílaba com outras protetoras femininas, como Vetali.

O primeiro parágrafo do canto estabelece onde Ekajati mora e o que ela representa. Ela surge da qiiididade do insight primordial penetrante e é a essência que tudo permeia. Ela é a criadora do samsara e do nirvana. Portanto, entendemos que Ekajati é um aspecto inerente de nossa realidade. Com SAMAYA JAH solicitamos que a protetora surja do espaço e invocamos seu voto para guardar os ensinamentos e praticantes.

O próximo parágrafo pode ser um pouco confuso, pois nem sempre fica claro nas palavras do canto quem está presente e quem está dando à luz quem. Aqui está um esboço do que está acontecendo, com base nas notas do Comitê de Tradução de Nalanda: Muito, muito tempo atrás (antes do primeiro kalpa), o grande senhor e sua consorte se uniram em mente sem se encontrarem. Isso se refere a Samantabhadra e sua consorte Samantabhadri, que representam os aspectos masculino e feminino do potencial de Buda primordial. Esses dois são geralmente retratados na cor azul escuro. Eles estão nus, simbolizando a falta de forma e a simplicidade do dharmakaya.

O dharmakaya está relacionado à natureza básica semelhante ao espaço da mente, que é vazia e, ao mesmo tempo, mantém o potencial dinâmico para que qualquer coisa aconteça. Estabilizar o reconhecimento experiencial do dharmakaya na própria mente é a iluminação. Para a linhagem Nyingma, Samantabhadra e Samantabhadri mantêm uma posição semelhante ao buda primordial da tradição Kagyu, Vajradhara. Ambos representam o potencial cósmico do Buda, do qual os budas terrestres podem surgir.

Samantabhadri dá à luz (de uma verruga de ferro em sua testa) a outra forma de si mesma, uma emanação colérica, Ekajati. Então, o Senhor do Segredo, Vajrapani, que também está presente, a nomeia a protetora do mantra. “Mantra” aqui se refere a mantrayana, outro nome para vajrayana. Vajrapani é outra divindade cuja função é proteger o vajrayana.

Ekajati tem uma mecha de cabelo turquesa, um olho de dharmakaya na testa, um seio e uma presa. Todos eles simbolizam a natureza não dual do dharmakaya. No dharmakaya, a divisão entre o eu e o outro ainda não surgiu, então existe apenas uma natureza. Ela usa uma nuvem como vestimenta para indicar que mora na expansão. Ela está cercada por um séquito de cem mil mamães. Mamos são deusas coléricas, geralmente descritas como mulheres feias e furiosas. Do ponto de vista negativo, os mamos causam todo tipo de caos no mundo. De um ponto de vista positivo, eles servem como lembretes de consciência. Por esse motivo, alguns deles são altamente considerados protetores dos ensinamentos.

Sua única presa perfura o coração de Mara. Na verdade, existem quatro tipos de maras. A primeira é a tentação de olhar para todos os pensamentos, sentimentos e percepções que fluem pela mente e conceitualizar desleixadamente como um eu unitário, dando-lhes um rótulo: "eu". O segundo mara é a identificação com as emoções de alguém como a verdade sobre a realidade. O terceiro é o medo da falta de fundamento e da morte, que tenta uma reação exagerada ao tentar solidificar conceitualmente a si mesmo e ao mundo. A quarta é a sedução pelo prazer: a tendência de querer morar apenas em situações prazerosas e ignorar o resto. Todos eles são perfurados por uma única presa de dharmakaya, que representa a consciência e o vazio. Em outras palavras, sua natureza é exposta como vazia, da mesma forma que qualquer pensamento mantido em plena consciência se torna transparente.

Ekajati é pacífico e irado. Por um lado, a natureza do dharmakaya é inerentemente pacífica em sua espaçosa simplicidade e natureza não dual. Por outro lado, quando se tenta solidificar a natureza básica da realidade com projeções e a ideia de um eu, essa natureza última inevitavelmente prejudica o funcionamento tranquilo do ego, às vezes de forma abrupta. Esta é a função de um protetor ou protetor colérico.

Ekajati segura em sua mão direita um coração vermelho arrancado de um transgressor de samaya. Samaya se refere a uma promessa feita por praticantes tântricos de respeitar o mundo como sagrado e basicamente bom. No puro momento de consciência, o que se manifesta no local ainda não foi contaminado por conceitos dualísticos, bons ou maus. Quando um praticante quebra esse compromisso com o ser básico, a própria realidade intervém na forma de Ekajati.

No canto, pedimos a Ekajati que se manifeste de várias maneiras: como uma tocha de meditação, pedimos a ela que ilumine a escuridão da ignorância. Quando somos atormentados pela preguiça, pedimos a ela que seja uma flecha de consciência. Quando o praticante fica confuso com a dúvida, pedimos que toque a trombeta da confiança. Às vezes, a palavra “confiança” se refere ao fato de que a mente búdica básica, desperta e vazia, mas expressiva, é inerente a toda experiência. Pensamentos, projeções e percepções mudam constantemente, mas a natureza básica da realidade não. Portanto, alguém que está enraizado nessa natureza básica terá confiança incondicional, mesmo quando os eventos superficiais nascem da mente básica e morrem de volta nela.

“Faça com que o domínio das três joias prospere. “As três joias são o Buda (o principal exemplo da possibilidade de iluminação humana), o dharma (ensinamentos) e a sangha (a comunhão daqueles que estão no caminho). Ela também nutre como filhos os três sanghas: praticantes das escolas hinayana, mahayana e vajrayana do budismo.

Pedimos a Ekajati que fique especialmente furioso com aqueles que põem em perigo os ensinamentos. O canto lista três armadilhas que podem capturar os praticantes tântricos. Os tantras precisam ser transmitidos de maneira adequada, no momento certo, quando professor e aluno estão abertos e disponíveis. No momento errado, as palavras serão incorporadas e aumentarão o senso de identidade do aluno e distanciará ainda mais o aluno de sua própria iluminação. Também existe a tentação de ser arrogante - pensar egoisticamente que se é superior porque se é um praticante tântrico. Finalmente, é possível perverter os ensinamentos a serviço do ego. Por exemplo, alguém pode pensar que causar sofrimento aos outros para beneficiar a si mesmo está certo, já que tudo é sagrado de qualquer maneira.

Nesses casos, a ação de Ekajati é agarrar ferozmente seus corações com uma angústia venenosa, matá-los e conduzi-los ao dharmadhatu. Algumas pessoas acham que esse tipo de atividade é impiedoso e desnecessariamente violento. No entanto, na segunda parte desta frase, depois de matá-los, ela os leva ao dharmadhatu, ou iluminação. Dharmadhatu é um estado ainda mais vazio e refinado do que dharmakaya. Talvez uma maneira de compreender esses níveis seja por analogia ao que acontece aos pensamentos quando eles são trazidos à consciência (mortos). Sua natureza insubstancial é reconhecida e eles desaparecem no espaço mental básico de onde vieram. Para um praticante maduro, os pensamentos são, portanto, uma oportunidade para a iluminação.

Céu luminoso

No canto, seguem-se alguns elogios a Ekajati. No dharmakaya, ela é uma luminosidade autolibertada. Luminosidade é o brilho da aparência que surge no vazio e é inseparável dele. No sambhogakaya, Ekajati é Vajrayogini. Vajrayogini é uma divindade que representa a energia comunicativa do dharmakaya primordial. Esta energia se manifesta no próximo nível abaixo, o sambhogakaya. No nível do nirmanakaya, Ekajati é a mãe de todos. O nirmanakaya é o mundo que experimentamos com nossos sentidos comuns. No entanto, ainda está impregnado do vazio do dharmakaya e da energia e comunicação do sambhogakaya. A qualidade de qiiididade desses kayas (corpos de iluminação) é transmitida aos alunos amadurecidos por meio do quarto abhisheka ou iniciação tântrica.

Em seguida, para atrair a energia de Ekajati, fazemos as oferendas externas, internas e secretas. As ofertas externas são objetos desejáveis ​​da percepção comum. A oferta interior é o corpo. A oferta secreta é a oferta das próprias emoções.

O canto termina com um mantra em sânscrito.

SAMAYA HO: Esta é uma exortação para manter o samaya, a promessa de proteger os ensinamentos e praticantes.

OM MAMA RULU RULU HUM BHYO HUM: Este é o mantra de uma protetora colérica.

MAHA-AMRITA-RAKTA-BALIM TE PUJA HOH DHARMADHATU EVAM: Isso poderia ser traduzido aproximadamente como “(Aqui está) uma oferenda para você de grande amrita, sangue e comida.” Amrita é uma espécie de bebida alcoólica abençoada que produz intoxicação espiritual.

Com essas palavras, o canto chega ao fim. Nós convidamos comentários do mundo. Ao considerar esse feedback como uma ação de Ekajati, levamos a sério sua mensagem de despertar para o mundo como caminho. A alternativa é sentir que nosso mundo mais uma vez nos vitimou e nos insultou. Em qual você prefere acreditar?

Fonte:https://shambhalatimes.org/2017/01/02/ekajati-and-the-ati-teachings/

Ekajati 

Da Wikipédia, a enciclopédia livre

Ekajaṭī ou Ekajaṭā, (Sânscrito: " Mulher de Uma Trança "; Wylie : ral gcig ma : aquele que tem um nó de cabelo), [1] também conhecido como Māhacīnatārā , [2] é um dos 21 Taras . Ekajati é um dos mais poderosos e ferozes protetores da mitologia budista Vajrayana . [1] [3] De acordo com as lendas tibetanas [ carece de fontes? ] , Seu olho direito foi perfurado pelo mestre tântrico Padmasambhava para que ela pudesse ajudá-lo de forma muito mais eficaz a subjugar os demônios tibetanos.

Ekajati também é conhecido como " Blue Tara ", Vajra Tara ou " Ugra Tara ". [1] [3] Ela é geralmente considerada um dos três principais protetores da escola Nyingma junto com Rāhula e Vajrasādhu ( Wylie : rdo rje legs pa ).

Freqüentemente, Ekajati aparece como libertador na mandala da Tara Verde. Junto com isso, seus poderes atribuídos estão removendo o medo dos inimigos, espalhando alegria e removendo obstáculos pessoais no caminho para a iluminação .

Ekajati é o protetor dos mantras secretos e "como a mãe de todos" representa a unidade definitiva. Como tal, seu próprio mantra também é secreto. Ela é a protetora mais importante dos ensinamentos Vajrayana , especialmente dos Tantras Internos e termas . Como protetora do mantra, ela apóia o praticante na decifração dos códigos simbólicos dakini e determina adequadamente os momentos e as circunstâncias apropriadas para revelar os ensinamentos tântricos. Porque ela percebe completamente os textos e mantras sob seus cuidados, ela lembra o praticante de sua preciosidade e sigilo. [4] Düsum Khyenpa, 1º Karmapa Lama meditou sobre ela na primeira infância.

De acordo com Namkhai Norbu , Ekajati é o principal guardião dos ensinamentos Dzogchen e é "uma personificação da natureza essencialmente não dual da energia primordial." [5]

Dzogchen é o ensinamento mais bem guardado do budismo tibetano, do qual Ekajati é o guardião principal, conforme mencionado acima. Diz-se que o próprio Sri Singha (sânscrito: Śrī Siṃha ) confiou os ensinamentos da "Essência do Coração" ( Wylie : snying thig ) aos cuidados dela. Para o grande mestre Longchenpa , que iniciou a disseminação de certos ensinamentos Dzogchen, Ekajati ofereceu uma orientação pessoal incomum. Em seu trigésimo segundo ano, Ekajati apareceu para Longchenpa, supervisionando cada detalhe ritual da Essência do Coração das Dakinisempoderamento, insistindo no uso de pena de pavão e removendo bacia desnecessária. Quando Longchenpa realizou o ritual, ela acenou com a cabeça em aprovação, mas corrigiu a pronúncia dele. Quando recitou o mantra, Ekajati o advertiu, dizendo: "Imite-me", e cantou-o em uma melodia estranha e harmoniosa na língua do dakini. Mais tarde, ela apareceu na reunião e dançou alegremente, proclamando a aprovação de Padmasambhava e das dakinis. [6]

Origem

Ekajaṭī é encontrada nos panteões budistas e hindus; costuma-se afirmar que ela se originou no panteão budista, mas alguns estudiosos argumentam que não é necessariamente assim. [7] [8] Além disso, acredita-se que Ekajaṭī se originou no Tibete e foi introduzido em Nalanda no século 7 pelo (o tântrico) Nagarjuna. [2]

Parece que, pelo menos em alguns contextos, ela é tratada como uma emanação de Akshobhya . [9]

Iconografia

Ela pode ter a pele vermelha escura ou azul escura, com um coque alto e vermelho ("aquela que tem apenas um coque" é outro de seus títulos). Ela tem uma cabeça, um seio, dois braços e um único olho. No entanto, ela também pode ser representada com mais partes do corpo; até doze cabeças e vinte e quatro braços, com diferentes atributos tântricos (espada, kukuri , phurba , machado de lótus azul, vajra )

Em outra forma, seu cabelo é arranjado no mesmo coque único com uma ondulação turquesa na testa. Esta e outras características dela significam sua lealdade ardente ao não - dualismo . O único olho de Ekajati olha para o espaço incessante, uma única presa atravessa os obstáculos, um único seio "nutre praticantes supremos como [seus] filhos". Ela está nua, como a própria consciência, exceto por uma vestimenta de nuvens brancas e pele de tigre em volta da cintura. A pele do tigre é a vestimenta do siddha realizado , que significa iluminação destemida. Ela é ornamentada com cobras e uma guirlanda de cabeças humanas. Em algumas representações, ela fica em uma única perna. Seu corpo é de cor escura, marrom ou azul profundo. Ela está em uma mandala flamejante de formato triangular, representando o despertar completo. Ela está cercada por um séquito temível de demônios mamães, que cumprem suas ordens em apoio aos ensinamentos secretos, e ela emana de sua mão esquerda um séquito de cem ferozes lobos de ferro. Para praticantes desanimados ou preguiçosos, ela está comprometida em ser "uma flecha de consciência" para despertá-los e revigorá-los. Para praticantes desafiadores ou desrespeitosos, ela é irada e ameaçadora, comprometida em matar seus egos e conduzi-los ao dharmakaya, ou à própria realização final. Ela segura em sua mão direita o coração vermelho e eviscerado daqueles que traíram seus votos Vajrayana. [4]

Em sua forma mais comum, ela segura um machado, drigug (cutelo) ou khatvanga (bastão tântrico) e uma taça de caveira em suas mãos. Em seu coque está uma foto de Akshobhya .

Seu comportamento expressa determinação. Com o pé direito, ela pisa em cadáveres, símbolos do ego . Sua risada vajra mostra uma língua dividida ou uma língua bifurcada e um único dente. Ela está adornada com um colar de caveira, um tigre e uma pele humana. Ela está cercada por chamas que representam sabedoria.

Quando Ekajati aparece para os iogues em hagiografias, ela fica especialmente furiosa. Ela fala em gritos agudos e penetrantes, seus olhos fervendo enquanto ela range as presas. Às vezes, ela aparece com o dobro do tamanho humano, brandindo armas e servida por bruxas encharcadas de sangue.

Troma Tantra

O 'Troma Tantra' ou 'Ngagsung Tromay Tantra', também conhecido como 'Ekajaṭĭ Khros Ma'i rGyud', concentra-se nos rituais do protetor, Ekajati, e está incluído no Vima Nyingtig . [10]

Referências

  1. ^ a b c d Alice Getty (1998). Os Deuses do Budismo do Norte: sua história e iconografia . Correio. pp. 125–126. ISBN 978-0-486-25575-0.
  2. ^ a b O corpo alquímico: Tradições de Siddha na Índia medieval Por David Gordon White. pág 65
  3. ^ a b Michael York (2005). Teologia Pagã: Paganismo como Religião Mundial . New York University Press. pp. 121–123. ISBN 978-0-8147-9708-2.
  4. ^ a b A respiração morna de Dakini: O princípio feminino no budismo tibetanopor Judith Simmer-Brown. pg 276
  5. ^ Namkhai Norbu (1986). O Cristal e o Caminho da Luz . Londres: Routledge & Kegan Paul. ISBN 1-55939-135-9.
  6. ^ A respiração morna de Dakini: O princípio feminino no budismo tibetanopor Judith Simmer-Brown. pág. 278
  7. ^ "A Deusa Mahācīnakrama-Tārā (Ugra-Tārā) no Tantrismo Budista e Hindu" por Gudrun Bühnemann . Boletim da Escola de Estudos Orientais e Africanos , Universidade de Londres, Vol. 59, No. 3 (1996), pp. 472
  8. ^ Kooij, RK van. 1974. "Alguns dados iconográficos do Kalikapurana com referência especial a Heruka e Ekajata", em JE van Lohuizen-de Leeuw e JMM Ubaghs (ed.), Arqueologia do Sul da Ásia, 1973. Artigos da segunda conferência internacional de arqueólogos do Sul da Ásia realizada na Universidade de Amsterdam. Leiden: EJ Brill, 1974 pág. 170
  9. ^ "O Culto de Jvālāmālinī e as Primeiras Imagens de Jvālā e Śyāma." por S. Settar. Artibus Asiae, vol. 31, No. 4 (1969), pp. 309
  10. ^ Thondup, Tulku & Harold Talbott (editor) (1996). Mestres da meditação e milagres: vidas dos grandes mestres budistas da Índia e do Tibete . Boston, Massachusetts, EUA: Shambhala, Edições do Sul da Ásia.ISBN  1-57062-113-6 (papel alcalino);ISBN  1-56957-134-1 , p.362


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