FILHOS FEMINISTAS: FERNANDA LIMA POSA COM A FAMÍLIA COMPLETA E ORGULHA-SE DE CRIAR FILHOS COM ESSA MENTALIDADE

 

Fernanda Lima com João, Francisco e Maria Manoela (Foto: Bruna Castanheira)

Fernanda Lima com João, Francisco e Maria Manoela (Foto: Bruna Castanheira)


Fernanda Lima posa com a família completa e orgulha-se de criar filhos feministas

De alma nômade e coração combativo, Fernanda Lima mostrou a força do feminismo em rede nacional ao levantar bandeiras e tratar de assuntos tabu no elogiado "Amor & Sexo". Não se abateu frente a uma rede maldosa de fake news e conservadorismo. Enfrentou o puerpério durante a pandemia, mesmo período em que se casou com seu companheiro de 20 anos e sofreu a maior perda de sua vida para a covid-19, Cleomar Lima, seu pai e exemplo. Agora, aos 43 anos, comanda um programa de conversas e comida ao lado de Rodrigo Hilbert, no qual aprofunda temas que despertaram seu interesse na quarentena, como ansiedade, alimentação e redes sociais. Nesta entrevista, em que posa pela primeira vez com a família completa, fala de maternidade, parceria, amor, ressignificação, e da criação de sua primeira menina, Maria Manoela.

Esta é a primeira vez que Fernanda Lima posa para uma revista com a família completa – algo inimaginável para a mãe de primeira viagem de 13 anos atrás. Convites não faltaram. “Me chamam desde que eles nasceram e nunca aceitei”, conta. Não que não se sentisse tentada. “Sempre quis fazer pelo registro da história, pela família. Acho lindo, mas não queria ser a razão dos traumas que eles vão levar para a psicanálise no futuro”, diverte-se. Mas o tempo passou, o casal relaxou, Maria Manoela, a caçula de 1 ano e meio, chegou. E, ironicamente, o incentivo que faltava para aceitar o convite veio dos próprios filhos mais velhos, João Francisco, de 13 anos. É que, na família, todos são ouvidos. E, consultados, os gêmeos foram enfáticos: queriam estampar a capa desta edição de maio, mês das mães.

Quando foram pais pela primeira vez, Fernanda e Rodrigo Hilbert decidiram em comum acordo não expor as crianças. Sempre mantiveram um perfil muito discreto, tanto no que diz respeito às informações que compartilhavam em entrevistas quanto nas imagens. “No Rio, muitos paparazzi nos perturbavam, ficávamos um pouco constrangidos e as crianças, pequenininhas, também”, lembra ela. “Eles diziam: ‘Papagaio, mamãe, papagaio, papai. Vamos fugir’”, conta ele, que não acha saudável imaginar que seus filhos possam ter um tratamento diferente do de outras crianças – para o bem ou para o mal. Fernanda lembra bem do momento em que João e Francisco entenderam que o marido e ela eram pessoas públicas. “Um deles me perguntou se poderia fazer alguma coisa, não lembro o quê. Questionei por que faria aquilo. Ele respondeu: ‘Ué, porque eu sou famoso’”, conta. “Me desceu supermal e comecei a explicar que a fama deveria ser consequência de algo que a pessoa tenha feito, uma contribuição interessante e admirável que traga notoriedade e relevância.”

MATERIA_DE_CAPA_FERNANDA_LIMA (Foto: Foto: Bruna Castanheira (GROUPART)  Styling: Carol Roquete)

Fernanda Lima para Marie Claire (Foto: Bruna Castanheira (GROUPART))

Fernanda, no entanto, entende que o conceito de fama instantânea – impulsionada pelas redes sociais –, especialmente para essa geração, também existe. E toma cuidado para que eles se aprofundem e encontrem seu diferencial independentemente da carreira que quiserem seguir: tiktoker, modelo, jogador de futebol, gamer – todas opções já levantadas por ambos. Pelas regras da casa, os pequenos têm que estudar e treinar muito antes de assumir uma carreira. Os pais se comprometem, em contrapartida, a apoiar qualquer escolha que façam. “Quero criar uma criança inteira em seus sentimentos, desejos, dores e sensibilidades. Tem que chorar, tem que sofrer, pode ficar vulnerável. Não sabe o que quer da vida? Não tem problema, vamos juntos.”

A troca com os meninos se dá de uma forma muito natural, tanto com Fernanda como com Rodrigo. Pudera, a mãe, jornalista por formação e apresentadora das mais antenadas, já em 2009 trazia temas como masturbação feminina, nudez sem tabu, sexualização de corpos dissidentes e feminismo negro para a televisão aberta no disruptivo Amor & Sexo, programa que comandou por 11 temporadas na Globo. “Com a Fernanda em casa, não tem como não eles não terem uma criação feminista”, orgulha-se Rodrigo, fazendo referência aos livros da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. O amplo acesso da nova geração à informação ajuda nesse sentido. Alguns temas são levantados para discussão pelos próprios meninos, e até os mais espinhosos são tratados pelos pais com desembaraço e confiança. “Desde o início, falo para eles: ‘Nada do que vocês me falarem vai me assustar, porque praticamente tudo o que vocês estão vendo e ouvindo a gente já ouviu também ou está ouvindo agora.’ Buscamos passar para eles que nos sentimos preparados para ampará-los e para conversar abertamente sobre qualquer questão que tiverem”, pontua ela.

MATERIA_DE_CAPA_FERNANDA_LIMA (Foto: Foto: Bruna Castanheira (GROUPART)  Styling: Carol Roquete)

Fernanda Lima, Rodrigo Hilbert, João, Francisco e Maria (Foto: Bruna Castanheira (GROUPART))

Gaúcha de Porto Alegre, Fernanda é a caçula de dois irmãos, Rafael e Rodrigo. Seu pai, Cleomar Lima, carioca, mudou-se para a cidade para jogar basquete nos anos 1950. Lá, conheceu a mulher e mãe de seus três filhos, Maria Tereza, professora de educação física, profissão que também exerceu, além de advogado e contador. Aos 14 anos, Fernanda foi abordada por um olheiro na praia do Imbé, no litoral gaúcho, onde passou boa parte de sua adolescência, que a incentivou a seguir a carreira de modelo. Mesmo com os pais torcendo o nariz, foi passar temporadas no Japão, na Itália e na Suíça para trabalhar. “Eles não gostaram, mas nunca me diriam ‘não’. Meu pai saiu de casa muito novinho e virou quem virou por causa daquela decisão. Como eles iriam me impedir com uma oportunidade batendo à porta?”, lembra. De volta ao Brasil, mudou-se para São Paulo, formou-se em jornalismo e foi convidada para apresentar programas na MTV, na RedeTV! e, enfim, na Globo.

MATERIA_DE_CAPA_FERNANDA_LIMA_e_FILHOS (Foto: Foto: Bruna Castanheira (GROUPART)  Styling: Carol Roquete)

Fernanda com João, Francisco e Maria (Foto: Bruna Castanheira (GROUPART))

Desde pequena, a apresentadora tem os pés bem fincados no chão. Culpa de suas raízes – não só as afetivas, que permeiam suas relações familiares, como as da natureza, com a qual tem enorme conexão –, responsáveis por criar toda a sua base de sustentação. Entre os tempos verbais, prefere sempre o presente. Ao lado de seu companheiro de vida, Rodrigo Hilbert, está há 20 anos. “Todo mundo quer ter a sorte de um amor assim”, diz ela, esboçando um sorrido tímido, meio sem querer, que, involuntariamente, toma seu rosto. Quando ouve a declaração, ele abre o sorriso largo que lhe é fácil. Os dois fazem parte de um seleto grupo de casais – cujos integrantes ninguém sabe exatamente quem escolheu – que alimentam a crença do brasileiro no casamento. Em tempos de amores líquidos, ser uma espécie de Glória Menezes e Tarcísio Meira 2.0 é uma responsabilidade e tanto. “Sem querer contar vantagem, mas a gente vive uma relação muito saudável, tranquila e verdadeira. Que bom que conseguimos refletir isso para as pessoas”, orgulha-se ela.

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Os gêmeos João e Francisco (Foto: Bruna Castanheira (GROUPART))

“Meu avô chegou a completar 50 anos de casamento, minha meta é bater ele. Olha a masculinidade tóxica aí”, brinca o apresentador. “Preciso chegar até os 60 anos, que são bodas de diamante”, completa. Fernanda prefere depositar suas fichas no que é concreto, intenso e feliz. No agora. Mas entra na brincadeira. “Tu vai me prometer?”, questiona, com o sotaque gaúcho nunca perdido. Ele lembra, então, que a promessa já foi sacramentada um ano atrás, num casamento surpresa organizado por Fernanda no sítio da família em Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Planejada com a ajuda de João e Francisco, a cerimônia foi realizada na capela dentro da propriedade – idealizada por Rodrigo justamente para esse fim. Como testemunhas, escolheram apenas três amigos, alguns funcionários que vivem no sítio, além dos gêmeos e de Maria Manoela.

MATERIA_DE_CAPA_FERNANDA_LIMA_e_ESCRITA (Foto: Foto: Bruna Castanheira (GROUPART)  Styling: Carol Roquete)

Fernanda Lima e Maria Manoela (Foto: Bruna Castanheira (GROUPART))

cerimônia foi a cara deles. A noiva chegou de barco, remado pelos dois ajudantes adolescentes orgulhosos e chorosos. A chuva de arroz deu lugar a folhas secas catadas no mato, assim como o buquê, e a recepção intimista aconteceu em volta de uma fogueira.
Quando começou a namorar o atual marido, Fernanda fez uma viagem a trabalho a Buenos Aires e lá arrematou um vestido branco na tradicional feira de rua do bairro de San Telmo. “Eu era bem hippie, mas já sabia que aquele seria o vestido com que casaria com o Rodrigo. Só não imaginava que seria 18 anos depois.” Os detalhes eles contam no episódio de estreia do Bem Juntinhos, novo programa do GNT, criado, produzido, roteirizado e apresentado pelo casal durante a pandemia. Em 15 episódios gravados num cenário que remete à casa da família em São Paulo, eles recebem amigos para cozinhar e conversar sobre casamento, maternidade, ansiedade, envelhecimento, alimentação, redes sociais. Na telinha, Fernanda levanta o tema enquanto Rodrigo pilota o fogão e, claro, dá pitaco na conversa. Escolhidos a dedo para falar de cada assunto, os convidados são pessoas que o casal admira: Dani Calabresa, Bela Gil, Gaby Amarantos, Helena Rizzo, Camila Pitanga e Claudia Raia estão entre os nomes. “Comecei a pensar como poderia compartilhar um pouco do que aprendi e do que eu vinha fazendo para me manter sã na quarentena. Fiz pequenos vídeos de respiração, falei sobre meditação e ioga. Também ouvi e aprendi mais sobre maternidade, alimentação, e assim fui me nutrindo. Foi desse sentimento que brotou o Bem Juntinhos, de uma necessidade de dar e receber afeto. Da saudade de um abraço.”

Morando em São Paulo há alguns meses, depois de uma temporada confinada em Teresópolis, a família, que havia vivido dois anos em Los Angeles, na Califórnia, voltou para a capital paulista no segundo semestre de 2019, durante a fase final da gravidez de Fernanda. “Os meninos estão acostumados com esse nosso temperamento meio cigano. Somos todos muito parceiros. Acho que é até divertido para eles, devem achar a gente bem louco”, diz ela. Maria Manoela veio depois de mais de dez anos do nascimento dos gêmeos, por insistência de Rodrigo. “Eu sonhava em ter mais um filho, porque é sempre maravilhoso, mas assusta um pouco. Nós, mulheres, temos que doar nosso corpo, ficar grávidas nove meses, parir, ficar sem dormir, amamentar... Confesso que estava com preguiça”, diz. Mas ele insistiu. “A gente conversou várias vezes, até que, na última, falei: ‘A gente precisa decidir. Já estou com mais de 40 anos, é agora ou nunca’”, conta. Agora, claro. “Planejamos tudo direitinho, vimos as datas em que eu estaria fértil. Aí, depois do terceiro mês treinando, conseguimos.”

O casal esperou passar o primeiro trimestre de gestação para abrir a novidade para os futuros irmãos mais velhos, que nem desconfiavam da possibilidade. “O bom da diferença de idade é que agora posso contar com eles para ajudar. A Maria é apaixonada pelos dois e eles se divertem com ela.” No começo, porém, nem tudo foram flores. “Tive muitos enjoos no início da gravidez, dormia com um balde ao lado da cama e eles não entendiam nada, achavam que eu estava doente porque passava muito tempo deitada”, lembra. É que Fernanda sofre de hiperêmese gravídica, condição que atinge cerca de 2% das grávidas e é caracterizada por excesso de enjoos e vômitos. Tatá Werneck, Kate Middleton e a humorista Amy Schumer são outras famosas que também tiveram a complicação em suas gestações.

Mas a recompensa não poderia ter sido maior. Fernanda conta que, durante um puerpério em que ficou fragilizada e com uma preocupação extra por trazer uma mulher a um mundo tão machista, pegava na mãozinha dela e dizia: “Não vou largar tua mão nunca, filha”. Num país que mata uma mulher a cada sete horas, o medo não é infundado. Mesmo cercada de privilégios, caso de Maria Manoela, a mulher no Brasil está suscetível a assédios, discriminação de gênero e diversos tipos de violência. A apresentadora, na contramão da corrente, agarra-se a uma visão otimista para o futuro da filha. Fernanda acredita que a nova geração, tanto de homens como de mulheres, está mais preparada para enfrentar os desafios da desigualdade de gênero e botar no chão barreiras que aos poucos estão sendo quebradas. “Vamos ensinar que as regras são sempre dela, o corpo é dela e ela precisa estar atenta, mas, de maneira geral, o mundo é muito mais interessante para a mulher hoje do que foi nas décadas de 1940, 50, 60. Acredito que as mulheres do futuro estarão mais amparadas e prontas.”

Maria também foi sua âncora em um dos momentos mais difíceis que já viveu. Em julho de 2020, quando a filha tinha apenas 8 meses, Fernanda perdeu o pai para a covid-19, após 120 dias de internação. “Durante a catarse, falava para ela: ‘Maria, tudo do vovô está aqui dentro de mim. Tudo o que ele me passou, toda a força e intensidade dele vou passar pra ti, não precisa se preocupar’. Foi uma coisa muito forte e especial, uma transferência de amor”, emociona-se. Cleomar esteve três vezes com a pequena – a última, no Uruguai, onde ele
costumava passar os verões. Fernanda conta que uma das coisas que mais o marcaram foi como as duas eram parecidas, principalmente fisicamente. “A parte mais legal seria agora que a Maria está aprendendo a andar, a falar. Seria muito mágico para ele reviver a paternidade com ela”, acredita. “Ele teria uma onda muito louca de me ver pequenininha de novo, mas não deu tempo.” Com a mãe, Maria Tereza, Fernanda tenta compensar o tempo e as experiências perdidas na pandemia e diz que faz várias videochamadas diárias da vovó com a neta. “Queria que ela estivesse aqui, mas, como não dá, ligo até para não falar nada e só mostrar a Maria brincando”, conta.

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Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert (Foto: Bruna Castanheira (GROUPART))

A recente morte do pai teve um profundo impacto na maneira como Fernanda se relaciona. Hoje, ela diz valorizar cada instante da vida e não conter nenhuma emoção nem deixar nada por dizer. “Só me interessa o que é o essencial, não quero passar por nada superficialmente”, afirma. “Meu pai era um cara que amava loucamente, do tipo que liga o dia inteiro, pergunta, se interessa. Eu sou mais desapegada, amo e pronto”, conta. A última vez que os dois se falaram, por videochamada, ele estava no hospital e ela, isolada com a bebê, amamentando. Apesar de senti-lo cansado, Fernanda não imaginou que aquela seria sua última conversa com ele. “Se eu soubesse, teria dito tanta coisa”, lamenta.

Desde então, a apresentadora tem relevado as pequenas desavenças do dia a dia. “Se eu e o Rodrigo nos desentendemos ou eu brigo com os meninos, por exemplo, não deixo que aquilo dure muito tempo. Eu antes era um pouco mais orgulhosa nesse sentido.” Tudo isso a conecta ainda com o presente. E, apesar das ausências, Fernanda se sente hoje absolutamente completa e certa do que quer: “Momentos intensos e pessoas que façam a diferença na minha vida”. O resto não importa mais.

MATERIA_DE_CAPA_FERNANDA_LIMA (Foto: Foto: Bruna Castanheira (GROUPART)  Styling: Carol Roquete)

Fernanda Lima (Foto: Bruna Castanheira (GROUPART))


Fonte:https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2021/05/fernanda-lima-posa-com-familia-completa-e-orgulha-se-de-criar-filhos-feministas.html



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