Variante britânica do coronavírus que se espalha pelo mundo é 58%
mais letal, dizem pesquisadores
Versão do vírus é até 90% mais contagiosa, alerta a Escola
de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Cepa brasileira possui a mesma
mutação que escapa parcialmente às defesas humanas, segundo estudos
A variante do coronavírus detectada
em novembro no Reino Unido e já encontrada em quase uma centena
de nações é entre 43% e 90% mais contagiosa, segundo uma análise de 150.000
amostras de pacientes do país. Esta versão do vírus, batizada de B.1.1.7, apresenta mutações peculiares e
se espalhou muito rapidamente pelo mundo. Os autores do estudo, ligados à
Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, salientam que, ao examinarem
dados de outros países, chegaram a conclusões semelhantes: a variante parece
ser 55% mais transmissível na Dinamarca, 59% mais nos EUA, e 74% mais na Suíça.
O estudo publicado
nesta quarta-feira na revista Science,
com base em dados colhidos até o começo de janeiro, não encontrou indícios de
que esta versão do vírus provoque doenças mais graves. Entretanto, uma segunda
análise feita pela mesma equipe sugere que a variante B.1.1.7 está associada a
um aumento de 58% no risco de morte, segundo suas conclusões preliminares.
“Este resultado parece robusto. Começamos a estudá-lo em meados de janeiro, e
todas as atualizações com novos dados são compatíveis com a hipótese de que a
B.1.1.7 seja mais letal”, explica a bioestatística mexicana Karla Díaz Ordaz,
coautora dos dois trabalhos.
O risco de óbito para um homem
sexagenário depois de um exame positivo para covid-19, por
exemplo, saltaria de 0,6% com uma variante clássica para 0,9% com a nova,
segundo os cálculos desses cientistas (um aumento de 50%). O efeito observado é
mais alarmante em pessoas maiores de 85 anos que tiverem uma infecção
diagnosticada: o risco de óbito passaria de 13% para 20% nas mulheres, e de 17%
para 26% nos homens.
Os pesquisadores,
encabeçados pelo epidemiologista Nicholas Davies, já anteciparam em dezembro
seus resultados preliminares sobre a
capacidade de contágio da nova variante. A equipe previu na
época um grande aumento dos casos de covid-19 e, portanto, das mortes, caso não
se acelerasse o ritmo de vacinação nem fossem impostas medidas rigorosas de
controle. Ambas as medidas foram tomadas no Reino Unido. “Mesmo assim, 42.000
pessoas morreram de covid-19 na Inglaterra nos dois primeiros meses de 2021, o
mesmo número de óbitos em oito meses entre março e outubro de 2020”, disse
Davies em suas redes sociais. “Estou certo de que grande parte destas mortes
teria sido evitada sem a variante B.1.1.7”, afirmou.
A principal
hipótese dos pesquisadores é que a carga viral dos doentes seja
maior com esta variante do vírus, daí o contágio mais fácil, segundo seus
sofisticados modelos estatísticos. Díaz Ordaz, codiretora do Centro de
Metodologia Estatística da instituição londrina, observa que foram analisadas
outras possibilidades, como que as crianças tenham uma maior suscetibilidade
a esta variante.
“A B.1.1.7 é mais
transmissível que a original em todos: em crianças e em adultos por igual.
Quanto à possibilidade de ser inclusive mais fácil de transmitir em crianças do
que em adultos, parece que não”, afirma a bioestatística. A pesquisadora
recorda que, quando a variante começou a ser analisada, em dezembro, tudo
levava a crer que as crianças se contagiavam mais, porque estavam sendo
detectados mais casos do que se podia esperar. Entretanto, esse comportamento
do vírus desapareceu nas semanas seguintes. “Uma possível explicação é que, em
novembro, a Inglaterra estava em lockdown, com comércio fechado e
trabalho à distância, mas as escolas estavam abertas”,
afirma Díaz Ordaz.
Muitos países ainda
estão implantando sistemas de vigilância para
conhecer a progressão das versões mais inquietantes do coronavírus. O último
relatório do Ministério da Saúde da Espanha mostra que a variante identificada
no Reino Unido já representa entre 4% e 64% dos casos
analisados no país, dependendo da região, embora sejam estimativas
preliminares, que devem ser tratadas com o devido cuidado. Essa variante já é
dominante no Reino Unido, Irlanda e Israel.
O documento do
ministério espanhol alerta que a variante B.1.1.7 é mais transmissível e
“provavelmente mais letal”, mas salienta que “não parece escapar à imunidade” das
pessoas, seja a adquirida após uma infecção natural ou graças à vacinação. Há
um mês, as autoridades sanitárias do Reino Unido anunciaram a detecção de outra
mutação, chamada E484K e
vinculada a uma maior capacidade de burlar as defesas humanas, em algumas
poucas amostras de pacientes infectados com essa variante. “A aparição da
mutação E484K sobre esta linhagem é o que mais preocupa atualmente, porque
acrescentaria a possibilidade de uma menor eficiência vacinal e mais
possibilidades de reinfecção”, observa o geneticista Fernando González
Candelas, catedrático da Universidade de Valência (leste da Espanha).
As outras duas
variantes mais inquietantes do coronavírus, descobertas na África do Sul
(B.1.351) e Brasil (P.1), também apresentam esta mutação E484K e escapam
parcialmente às defesas humanas, segundo diversos estudos. As vacinas atuais,
porém, parecem evitar praticamente 100% dos casos graves de covid-19,
independentemente da variante.
A equipe de Karla
Díaz Ordaz e Nicholas Davies repete sua advertência na revista Science:
“Sem medidas de controle rigorosas,
incluído o fechamento parcial de instituições educacionais e uma grande
aceleração das campanhas de vacinação, o número de hospitalizações e mortes por
covid-19 na Inglaterra em 2021 será maior que em 2020”.
Fonte: https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-03-04/variante-britanica-do-coronavirus-que-se-espalha-pelo-mundo-e-58-mais-letal-dizem-pesquisadores.html
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