As diferenças abismais entre as vacinas de Oxford, Pfizer e
Moderna, a Coronavac e a Sputnik V
As candidatas mais avançadas a imunizações contra a
covid-19 se distinguem em fatores como preço, que varia de 19 a 135 reais por
dose, temperatura de conservação e eficácia
A humanidade conseguiu em
pouco mais de 10 meses desenvolver três vacinas experimentais com uma aparente
altíssima eficácia contra o
novo coronavírus. As mais promissoras são: Oxford-AstraZeneca, Pfizer-BioNtech e Moderna-Institutos Nacionais da Saúde dos EUA, mas
cada uma delas tem suas vantagens e inconvenientes. Ainda se aguarda com muita
expectativa os resultados de duas outras vacinas: da Sinovac (Coronavac), previsto para o início de dezembro, e a do
Instituto Gamaleya (Sputnik V). Estas são as principais diferenças
conhecidas até o momento entre estes laboratórios.
Preço
A grande maioria da
humanidade precisará se vacinar contra a covid-19, de modo que o preço da injeção é um
dos fatores essenciais para que o medicamento seja acessível a todos. As
diferenças entre as três vacinas mais avançadas são abismais: a desenvolvida
pelas britânicas Universidade de Oxford e AstraZeneca custará três euros (cerca de
19 reais) por dose; a da multinacional norte-americana Pfizer e
a empresa biotecnológica alemã BioNTech superaria
os 15 euros (96 reais) por dose, cinco vezes mais; e a concebida pela empresa
norte-americana Moderna e os Institutos Nacionais da Saúde dos
EUA chegaria a 21 euros (135 reais) por dose, sete vezes mais do que a de
Oxford.
Esses preços
estimados têm como base valores divulgados pelas empresas para países
desenvolvidos e podem variar em caso de países em desenvolvimento, como o
Brasil, e também para países mais pobres. O laboratório chinês Sinovac ainda
não divulgou o valor de venda de sua vacina Coronavac. Em seu perfil no Twitter, a
russa Sputnik V divulgou que seu preço será de menos de 20
dólares (cerca de 107 reais) por pessoa nos mercados internacionais. Para os
cidadãos russos, a vacina será gratuita.
Temperatura de conservação
Levar as vacinas
contra a covid-19 a todos os cantos do mundo será um desafio logístico com poucos precedentes.
Um dos pontos decisivos será a temperatura de conservação de cada produto.
A Universidade de Oxford se
vangloriou em um comunicado de que sua vacina experimental se mantém na
geladeira, entre temperaturas de 2 a 8 graus e, portanto, pode ser distribuída
utilizando os canais já existentes para outras vacinas. A imunização da Pfizer, entretanto,
precisa de temperaturas ultrafrias, de 70 graus abaixo de zero, um problema que
a empresa tentará solucionar com contêineres com gelo seco que podem conservar
a vacina durante 15 dias. O produto da Moderna está em um
termo médio. Sua vacina experimental permanece estável por pelo menos seis
meses a 20 graus abaixo de zero e aguenta 30 dias na geladeira, com
temperaturas de 2 a 8 graus.
Um pesquisador da
Sinovac envolvido no estudo Coronavac, disse à agência Reuters que
a vacina pode ser uma opção atraente porque também pode ser armazenada em
temperaturas normais de geladeira de 2 a 8 graus Celsius e pode permanecer
estável por até três anos. Dados preliminares do Instituto Gamaleya mostram que
a Sputnik V deve ser armazenada a menos 18 graus. No entanto,
a empresa testa um processo de liofilização, um tipo de desidratação da vacina,
que, assim, poderá ser armazenada em temperaturas normais de geladeira.
Eficácia
As equipes das
vacinas experimentais proclamaram eficácias de 90% a 97%, mas há matizes entre
elas. A Universidade de Oxford e a AstraZeneca anunciaram nesta segunda-feira uma
eficácia de até 90% a partir de uma análise de 2.700 pessoas que
receberam primeiro meia dose e após um mês uma dose completa. Com duas doses
inteiras a eficácia, paradoxalmente, se reduz a 62%, de acordo com os
resultados de um estudo maior, com 8.900 participantes. Os pais da vacina estão
estudando esse fenômeno e será preciso ver se a eficácia preliminar de 90% se
mantém nos resultados finais do teste clínico, que já recrutou 24.000 pessoas
no Reino Unido, Brasil e África do Sul.
A vacina
experimental da Pfizer e da BioNTech foi a primeira a oferecer um número de
eficácia ― 95% ― com plena validade estatística, graças a um ensaio
com 44.000 participantes e 170 contágios entre eles. Somente oito das pessoas
infectadas receberam duas doses da vacina real. O restante, 162 voluntários,
recebeu duas injeções de água com sais (placebo). A eficácia de 95% se mantém
constante nos diferentes grupos de idade e em todos os sexos e raças dos
participantes no ensaio, como destacou a Pfizer.
A empresa norte-americana Moderna e
os Institutos Nacionais da Saúde, por sua vez, anunciaram uma eficácia de
94,5%, de acordo com uma primeira análise de um ensaio com 30.000 pessoas nos
EUA. Seus resultados ainda são preliminares. Está previsto que nos próximos dias
novos dados se somem a esses e se alcance a potência estatística suficiente
para confirmar o número ou matizá-lo.
Os primeiros dados
da Coronavac mostram que ela é segura e capaz de
produzir resposta imune no organismo 28 dias após sua aplicação em 97% dos
casos. Os resultados finais das pesquisas da chinesa Sinovac são
aguardados para o início de dezembro. A vacina russa Sputnik V demonstrou,
42 dias após a primeira dose, uma eficácia de mais de 95%, divulgaram nesta
terça o Instituto Gamaleya e o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF). De
acordo com dados preliminares da segunda análise, a eficácia da vacina russa
após 28 dias é de 91,4%.
Doses compradas pelo Brasil
O Governo brasileiro anunciou em agosto a abertura de um
crédito extraordinário de 1,9 bilhão de reais para a produção e
aquisição de 100 milhões de doses da vacina Oxford-AstraZeneca. A
medida também prevê a transferência de tecnologia ao país caso a vacina se
mostre eficaz e segura. A absorção da tecnologia será feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e
o processamento da vacina pela Bio-Manguinhos. Dados recentes sobre os
resultados da eficácia da vacina mostram que o país pode ganhar 30% a mais de
doses. Isto porque diferenças nos testes mostram que com uma dose reduzida e
uma completa, em um intervalo de 30 dias, a eficácia da vacina é de 90%. “Em
vez de termos vacina para 100 milhões de brasileiros, poderíamos vacinar 130
milhões. O que é um ganho adicional. Foi uma boa notícia”, disse Marco Krieger,
vice-presidente de produção e inovação em saúde da Fiocruz, à Agência
Brasil. A previsão é que a produção da vacina no Brasil tenha início a
partir de dezembro deste ano.
O Governo do Estado de São Paulo assinou um
acordo para a compra de 46 milhões de doses da vacina da Coronavac. As
primeiras 6 milhões de doses chegarão prontas da China ― 120.000 doses já estão
em São Paulo prontas para serem aplicadas após a autorização da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Intituto Butantan passará a
produzir as imunizações no Brasil após a reforma de sua fábrica que está
recebendo investimentos da ordem de 160 milhões de reais. Após o Ministério da
Saúde voltar atrás no anuncio de compra de mais 46 milhões de doses da vacina
do laboratório chinês, o governador do Estado, João Doria,
afirmou que pode garantir a compra de 100 milhões de doses, mesmo sem verba
federal.
O Ministério da
Saúde aderiu a iniciativa Covax Facility, liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
que irá permitir ao país acesso a pelo menos nove vacinas em desenvolvimento.
Pelo acordo, o país tem direito a uma reserva de 40 milhões de doses. O Governo
pretende divulgar um calendário de vacinação contra a covid-19 para 2021 e para
isso está se reunindo com cinco farmacêuticas ― Pfizer, Moderna, Janssen-Cilag
(braço da Johnson & Johnson),
a indiana Bharat Biotech e o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF).
A farmacêutica
União Química informou que assinou acordo com o RDIF para produzir a
vacina Sputnik V no Brasil, segundo a Reuters. A
empresa disse que firmou um acordo de confidencialidade que a impede de
fornecer quaisquer detalhes técnicos ou científicos. O laboratório ainda
precisa obter aprovação da Anvisa para a produção.
Funcionamento das 3 vacinas mais avançadas
Funcionamento das 3 vacinas mais avançadas
Em janeiro, um vírus foi extraído de um paciente infectado e sua informação genética (RNA) foi sequenciada...
…, uma mensagem de 29.903 letras escritas com combinações das mesmas quatro letras (A, U, G, C), que permite ao vírus atacar as células e se replicar.
Foram identificadas as 3.831 letras que contêm as informações para se fabricar as proteínas da espícula do vírus, sua porta de entrada para as células.
Essas instruções para criar as proteínas do vírus são a base das três vacinas.
Vacinas da Moderna
e da Pfizer
Vacina
de Oxford
A mensagem é traduzida em DNA, outra linguagem genética, e introduzida num adenovírus de resfriado comum de chimpanzé
A mensagem é codificada em uma molécula de RNA que é encapsulada em uma membrana lipídica para que possa entrar nas células
DNA da espícula
do vírus
RNA
espícula
do vírus
Genes inativados
do adenovírus
Membrana
lipídica
COVID-19
COVID-19
COVID-19
Moderna
Pfizer
Oxford
É injetada
a vacina
DNA
Célula
humana
Célula
humana
RNA
RNA entra nas células e faz com que elas produzam proteínas da espícula do coronavírus
O DNA é transformado em RNA dentro do núcleo da célula e faz com que a célula produza proteínas virais
RNA
A espícula do vírus é localizada pelas células dendríticas (que protegem o corpo)
... e apresentá-las
ao sistema linfático.
Resposta imune
São produzidos dois tipos
de glóbulos brancos:
linfócitos B e linfócitos T
Linfócitos
B
Linfócitos
T
Criam anticorpos que bloqueiam o vírus
Destroem células infectadas
Fonte:https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-11-24/as-diferencas-abismais-entre-as-vacinas-da-oxford-pfizer-moderna-a-coronavac-e-a-sputnik-v.html
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