Protesto
em São Paulo contra a filósofa Judith Butler Foto: NELSON ALMEIDA / AFP
Judith Butler: 'É preocupante ver tantas pessoas levadas pela
ignorância'
Filósofa comenta
protestos que sofreu no Brasil, onde foi acusada de
ser uma 'ameaça à família'
O Globo
14/11/2017 - 12:36 / Atualizado em
14/11/2017 - 13:08
RIO - Em entrevista publicada no site "Inside Higher Ed", a escritora e filósofa Judith Butler comentou os protestos motivados por sua presença no Brasil, onde esteve na semana passada para uma conferência no Sesc Pompeia, em São Paulo. Na ocasião, manifestantes levaram bonecos com fotos dela e clamaram por uma "queima das bruxas", se dizendo contra o que chamavam de "ideologia de gênero" — Judith é conhecida por seus estudos de gênero e teoria queer, como no caso de seu livro mais famoso, "Problemas de gênero", de 1990.
- Eles pleitearam o cancelamento da minha palestra, e presumiram que eu falaria sobre gênero, dado que sua alegação era de que eu era fundadora da "ideologia de gênero" — contou Judith — Essa ideologia, que é chamada de diabólica por esses opositores, é considerada uma ameaça à família. Não parece haver qualquer evidência de que essas pessoas que se mobilizaram tivessem alguma familiaridade com com texto "Problemas de gênero", publicado em 1989. Mas eles defendiam que esse texto promove a ideia de que uma pessoa pode se tornar qualquer gênero que quiser, que não há leis naturais ou diferenças naturais, e que as bases científicas e bíblicas que estabelecem dfiferenças entre os sexos seriam, ou já foram, destruídas pelas teorias atribuídas a mim.
A conferência não era sobre gênero, e sim sobre democracia, ela lembrou. De qualquer forma, o olhar dos manifestantes, ela alegou, não passava nem perto de entender seu pensamento sobre o assunto.
- É preocupante ver tantas pessoas levadas pela ignorância, se opondo a uma teoria que não passa de caricatura, e queimando imagens, remetendo à horrível tradição da queima de dissidentes como bruxas. Eu entendo que o boneco/ poster que me representava incluía tanto um chapéu de bruxa quanto um sutião rosa brilhante, significando gay ou trans de alguma forma. Eu não estou muito certa sobre o que significa eles me acusarem de ser ao mesmo tempo bruxa e trans. Se eu sou trans, sou presumivelmente um homem, mas seu sou bruxa, sou presumivelmente uma mulher. Parece que eles estão um tanto envolvidos num problema de gênero.
Butler comentou também os protestos que sofreu no aeroporto:
- Fomos cercadas por um grupo de umas 20 pessoas, segurando cartazes me mandando ir pra casa ou pro inferno. Eles estavam gritando para que eu deixasse o Brasil, onde eu não era desejada. Parecia haver também menções à pedofilia (à qual eu fortemente me oponho, como qualquer ativista ou intelectual feminista). Houve brigas físicas entre os manifestantes e algumas pessoas que tentaram impedi-los de nos agredir, mas não nos ferimos. Quando entrei na área de segurança, uma delas gritou para mim em inglês: "Trump vai cuidar de você!"
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