IMAGINÁRIO DO PÓS-TRABALHO: AUTOMAÇÃO COMPLETA,RENDA BÁSICA,JORNADA DO TRABALHO E ÉTICA DO EMPREGO

Thomas Piketty - Você será substituído por um robô? | Fronteiras ...


Imaginários do Pós-Trabalho: Automação Completa, Renda Básica, Jornada de Trabalho e Ética do Emprego

objetivo do futuro é o pleno desemprego, para que possamos aproveitar. É por isso que temos de destruir o atual sistema político-econômico”, Arthur C. Clark
por Nick Srnicek e Alex Williams, em ‘Inventing the Future: Postcapitalism and a World Without Work’ [“Inventando o Futuro: Pós-Capitalismo e um Mundo Sem Trabalho”]
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Ilustração de Nathalie Lees para o jornal the Guardian
[Nota do Minhocário: O artigo abaixo é o capítulo 6 do livro de Nick Srnicek e Alex Williams, ‘Inventing the Future: Postcapitalism and a World Without Work’ (“Inventando o Futuro: Pós-Capitalismo e um Mundo Sem Trabalho”), “Postwork Imaginaries”. Sendo assim, haverá algumas referências a outros capítulos no texto, mas isso não atrapalhará em praticamente nada a compreensão das principais ideias sendo discutidas em torno das quatro demandas defendidas pelos autores]
  1. Automação completa
  2. A redução da Semana de Trabalho
  3. O fornecimento de uma Renda Básica
  4. A diminuição da Ética do Trabalho
Enquanto o capítulo anterior [1] analisava as condições sociais em transformação que estão tornando cada vez mais necessário um mundo pós-trabalho, este capítulo delineará o que um mundo pós-trabalho pode significar na prática. [2] Para esse fim, defendemos algumas demandas amplas [3] para começarmos a construir uma plataforma para uma sociedade pós-trabalho. Ao afirmarmos a centralidade das demandas, estamos rompendo com uma tendência muito disseminada na esquerda radical atual, que acredita que não fazer exigências é o cúmulo do radicalismo. [4] Esses críticos costumam afirmar que apresentar uma demanda significa ceder à ordem de coisas existente ao exigir algo de, e portanto legitimar, uma autoridade. Mas essas narrativas não consideram o antagonismo no centro das demandas e as maneiras pelas quais elas são essenciais para constituir um agente ativo de mudança. [5] Sob essa luz, a rejeição das demandas é um sintoma de confusão teórica, não de progresso prático. Uma política sem exigências é simplesmente uma coleção de corpos sem objetivo. Qualquer visão significativa de futuro estabelecerá propostas e objetivos, e este capítulo é uma contribuição para essa discussão em potencial. Nenhuma das propostas apresentadas será radicalmente nova, mas isso é parte de sua força: não é um projeto solto por aí, uma vez que estruturas e movimentos já existem e possuem apoio no mundo.
Hoje, demandas revolucionárias parecem ingênuas, enquanto demandas reformistas parecem fúteis. Por vezes demais é aí que o debate termina, com cada lado denunciando o outro e com o imperativo estratégico de mudar nossas condições, esquecido. As demandas que propomos são portanto pensadas como reformas não-reformistas. Com isto queremos dizer três coisas. Primeiro, elas possuem uma aresta utópica que tensiona os limites do que o capitalismo pode conceder; isso as transforma de pedidos educados em demandas insistentes, carregadas de beligerância e antagonismo. Tais demandas combinam a orientação futura das utopias com a intervenção imediata da exigência, invocando um “utopismo que não pede desculpas“. [6] Em segundo lugar, estas propostas não-reformistas estão fundamentadas em tendências reais do mundo atual, dando-lhes uma viabilidade que falta aos sonhos revolucionários. Em terceiro lugar, e mais importante, tais demandas deslocam o atual equilíbrio político e constroem uma plataforma para mais avanços. Elas projetam uma fuga em aberto em relação ao presente, ao invés de uma transição mecânica para o próximo estágio pré-determinado da História. [7] As propostas deste capítulo não vão nos tirar do capitalismo, mas prometem nos tirar do neoliberalismo e estabelecer um novo equilíbrio de forças políticas, econômicas e sociais. Depois do consenso social-democrata [8] ao consenso neoliberal [9], nosso argumento é que a esquerda deveria se mobilizar em torno de um consenso pós-trabalho. Com uma sociedade pós-trabalho, teríamos ainda mais potencial para avançar para objetivos maiores. Porém, este é um projeto que deve ser realizado a longo prazo: décadas em vez de anos, mudanças culturais em vez de ciclos eleitorais. Dada a realidade atual da esquerda enfraquecida, só há um caminho em frente: reconstruir pacientemente seu poder – um tópico que será abordado nos capítulos seguintes. [10] Simplesmente não há outra maneira de criar um mundo pós-trabalho. Devemos, portanto, dar atenção a esses objetivos estratégicos de longo prazo e reconstruir os agentes coletivos que podem eventualmente realizá-los. Direcionando a esquerda para um futuro pós-trabalho, não estaremos apenas mirando em ganhos significativos – como a redução do trabalho enfadonho e da pobreza -, mas estaremos construindo poder político nesse processo. No final, dadas as condições materiais, acreditamos que uma sociedade pós-trabalho não é apenas alcançável, mas também viável e desejável. [11] Este capítulo traça um caminho a seguir: construir uma sociedade pós-trabalho com base na automação completa da economia, na redução da semana de trabalho, na implementação de uma Renda Básica Universal e alcançando uma mudança cultural na compreensão do trabalho.

Automação Completa

Nossa primeira demanda é por uma economia totalmente automatizada. [12] Utilizando os mais recentes desenvolvimentos tecnológicos, uma tal economia visaria liberar a humanidade do trabalho penoso e ao mesmo tempo produzir quantidades crescentes de riqueza. Sem uma automação completa, futuros pós-capitalistas precisam necessariamente escolher entre a abundância às custas da liberdade (ecoando a centralidade do trabalho da Rússia Soviética) ou a liberdade à custa da abundância, representada por distopias primitivistas. [13] Com a automação, pelo contrário, as máquinas podem produzir cada vez mais todos os bens e serviços necessários, ao mesmo tempo em que libertam a humanidade do esforço de produzí-los. [14] Por esta razão, argumentamos que as tendências na direção da automação e da substituição de trabalho humano devem ser entusiasticamente aceleradas e direcionadas como um projeto político da Esquerda. [15] Este é um projeto que toma uma tendência capitalista existente e procura pressioná-la para além dos parâmetros aceitáveis das relações sociais capitalistas.
Há muito o capitalismo tem sido sinônimo de rápidas mudanças na tecnologia: impulsionados pelo imperativo de acumulação, os meios de produção são continuamente transformados. [16] No século XIX, a agricultura começou a ser mecanizada, e pequenos lotes de terra tornaram-se gradualmente mais centralizados em fazendas industriais cada vez maiores. O artesanato também foi transformado, com máquinas aparecendo como uma intervenção alienígena no processo de produção. O trabalho que tradicionalmente havia sido realizado por um trabalhador qualificado era agora dividido em suas tarefas constitutivas desqualificadas e, muitas vezes, executado usando máquinas. [17] Trabalhadores foram designados para tarefas parciais, e ferramentas que antes eram governadas por trabalhadores se tornaram máquinas que conduziam ritmicamente os trabalhadores. [18] O trabalho tornou-se cada vez mais repetitivo, desqualificado e governado por máquinas – com maior demanda por trabalhadores baratos e não-qualificados (particularmente mulheres e crianças). [19] No início do século XX, essa tendência começou a mudar com a introdução de tecnologias que eliminavam as tarefas manuais mais rotineiras e mundanas (como rebocar e transportar mercadorias). Trabalhadores qualificados tornaram-se cada vez mais necessários para supervisionar as novas máquinas, realizar trabalhos em expansão no setor de serviços e gerenciar as empresas cada vez maiores que estavam surgindo. [20] A necessidade de mão-de-obra qualificada foi ampliada ainda mais no início do século XX pelo surgimento de tecnologias de escritório – máquinas de escrever, fotocopiadoras e assim por diante – que exigiam operadores relativamente bem instruídos. Em outras palavras, a tecnologia não é uniformemente desqualificadora, e o aumento da demanda por mão-de-obra qualificada durante o último século atesta isso. [21] Ao longo deste período o emprego industrial continuou a diminuir, devido à sua suscetibilidade à tecnologia de aumento de produtividade. [22] A automação da produção em massa no início do século XX foi eventualmente ampliada, com a automação da fabricação de pequena escala. [23] Enquanto o setor industrial empregava 1.000 robôs em 1970, hoje usa mais de 1,6 milhão de robôs. [24] Em termos de emprego, a manufatura industrial atingiu um ponto de saturação global. Mesmo nos países em desenvolvimento, a tendência é de desindustrialização, com o crescimento do emprego agora confinado predominantemente ao setor de serviços. [25] Concomitante com o declínio da manufatura, a segunda metade do século XX assistiu outra mudança. Embora as tecnologias de escritório anteriores tivessem suplementado os trabalhadores e aumentado a demanda por eles, o desenvolvimento do microprocessador e de tecnologias de computação começou a substituir os trabalhadores semi-qualificados de serviços em muitas áreas – por exemplo, operadoras de telefonia e secretárias. [26] A robotização de serviços está agora ganhando força, com mais de 50.000 robôs de serviço profissional vendidos nos últimos quinze anos. [27] Tem estado sob especial ameaça os empregos de “rotina” – empregos que podem ser codificados em uma série de etapas. Estas são tarefas que os computadores são perfeitamente adequados para realizar, uma vez que um programador tenha criado o software apropriado, levando a uma redução drástica nos números de empregos manuais e cognitivos de rotina nas últimas quatro décadas. [28] O resultado tem sido uma polarização do mercado de trabalho, uma vez que muitos empregos de salário médio e de qualificação média são rotineiros e, portanto, estão sujeitos à automação. [29] Em toda a América do Norte e Europa Ocidental, o mercado de trabalho está agora caracterizado por uma predominância de trabalhadores em empregos manuais e de serviços de baixa qualificação e baixos salários (por exemplo, fast-food, varejo, transporte, hospitalidade e trabalhadores de armazém), juntamente de um número menor de trabalhadores em trabalhos cognitivos altamente qualificados, de alto salário e não rotineiros. [30]
A mais recente onda de automação está prestes a mudar drasticamente essa distribuição do mercado de trabalho, já que abrange todos os aspectos da economia: coleta de dados (identificação por radiofreqüência, big data [31]); novos tipos de produção (a produção flexível de robôs, [32] manufatura aditiva, [33] fast food automatizado); serviços (assistência ao cliente e atendimento a idosos com Inteligência Artificial); tomada de decisão (modelos computacionais, agentes de software); alocação financeira (negociação e operação financeira algorítmica); e especialmente distribuição (a revolução logística, veículos autônomos, [34] navios-drones de porta-contêineres e armazéns automatizados). [35] Em cada função da economia – da produção à distribuição, passando pelo gerenciamento e varejo -, vemos tendências de grande escala em direção à automação. [36] Esta última onda de automação baseia-se em aprimoramentos algorítmicos (particularmente em aprendizado de máquina e aprendizado profundo), desenvolvimentos rápidos em robótica e crescimento exponencial no poder computacional (a fonte do big data) se fundindo em uma “segunda era das máquinas”, que está transformando a extensão das tarefas que as máquinas podem realizar. [37] Ela está criando uma era que é historicamente única de diversas maneiras. Novas tecnologias de reconhecimento de padrões estão tornando tarefas rotineiras e não-rotineiras sujeitas à automação: tecnologias de comunicação complexas estão tornando os computadores melhores que os humanos em certas tarefas de conhecimento especializado, e avanços em robótica estão rapidamente tornando a tecnologia melhor em uma ampla variedade de tarefas manuais. [38] Por exemplo, carros autônomos envolvem a automação de tarefas manuais não-rotineiras, e tarefas cognitivas não-rotineiras, como escrever notícias ou pesquisar precedentes legais, estão sendo realizadas por robôs. [39] O escopo desses desenvolvimentos significa que todos, desde analistas de ações a trabalhadores da construção civil, passando por chefs de cozinha e jornalistas, estão vulneráveis ​​a serem substituídos por máquinas. [40] Trabalhadores que movem símbolos em uma tela correm tanto risco quanto aqueles que movem mercadorias por um armazém. Um relatório prevê um “despovoamento dos pregões” à medida que os robôs continuam se infiltrando no mundo financeiro; [41] os empregos de varejo – a muito tempo um bastião do emprego pós-industrial – devem ser tomados por máquinas; [42] e mais de 140 milhões de empregos cognitivos em todo o mundo têm a previsão de serem eliminados. [43] Embora a última onda de automação tenha levado a uma polarização do mercado de trabalho, essa onda mais recente parece destinada a dizimar o mercado de mão-de-obra pouco qualificada e de baixos salários. [44] E à medida que os robôs substituam o trabalho humano, os trabalhadores tendem a enfrentar salários mais baixos e miséria crescente. [45] No mínimo, portanto, a onda emergente de automação mudará drasticamente a composição do mercado de trabalho e, potencialmente, levará a uma redução significativa na demanda por trabalhadores. [46 – importante!]
Um bom número de economistas têm apontado, no entanto, que a produtividade não tem aumentado no grau que seria de se esperar em uma revolução na automação. [47] Se uma máquina estiver substituindo metade dos trabalhadores em uma fábrica, a produtividade deveria dobrar se a fábrica produzisse o mesmo número de mercadorias. De fato, no entanto, houve uma ampla desaceleração global no crescimento da produtividade na última década, especialmente após a crise. [48] Deixando de lado o fato de que a produtividade é uma coisa notoriamente difícil de se medir, acreditamos que alguns fenômenos podem ajudar a explicar essa anomalia. Primeiro, é altamente provável que os baixos salários estejam reprimindo o investimento em tecnologias que aumentam a produtividade. [49] O acesso a uma grande reserva de mão-de-obra barata significa que as empresas têm menos incentivo para se concentrar no investimento em capital. Por que comprar novas máquinas quando trabalhadores mais baratos fazem o mesmo por menos? Isso significa que, no esforço para obter a automação total, lutar por salários globais mais altos é uma tarefa complementar crucial. Em segundo lugar, é provável que haja um fator de atraso em funcionamento. Nos anos 90, a revolução da TI demorou algum tempo para se expressar nos números de produtividade, já que as empresas tiveram de investir e depois se adaptar às novas capacidades dessas tecnologias. As organizações precisam ser mudadas, novas habilidades precisam ser aprendidas e processos precisam ser reformulados para fazer uso efetivo dessas novas tecnologias. Em geral, parece que investimentos em tecnologias digitais enfrentam atrasos de produtividade de cinco a quinze anos. [50] Hoje, muitas das tecnologias em discussão são incrivelmente novas e eram inimagináveis ​​até mesmo uma década atrás. Essa novidade significa que devemos esperar um atraso na resposta dos números de produtividade, à medida que as tecnologias são adotadas e depois adaptadas à maneira como as empresas operam. [51] Finalmente, e mais importante, nosso argumento aqui depende em grande parte de uma afirmação normativa, em vez de descritiva. A automação completa é algo que pode e deve ser alcançado, independente dela estar ou não sendo realizada no momento. Por exemplo, das empresas estadunidenses que poderiam se beneficiar com a incorporação de robôs industriais, menos de 10% já o fazem. [52] Esta é só uma área para automação completa, e isso reitera a importância de tornarmos a automação completa uma demanda política, ao invés de assumirmos que ela virá da necessidade econômica. Uma variedade de políticas públicas pode ajudar neste projeto: mais investimento estatal, salários mínimos mais altos e pesquisa voltada para tecnologias que substituam os trabalhadores, ao invés de complementá-los. Nas estimativas mais detalhadas do mercado de trabalho, sugere-se que entre 47% e 80% dos empregos atuais são passíveis de serem automatizados. [53] Tomemos essa estimativa não como uma previsão determinista, mas como o limite externo de um projeto político contra o trabalho. Devemos considerar esses números como um padrão pelo qual medir nosso sucesso.
Embora a automação completa da economia seja apresentada aqui como um ideal e uma demanda, na prática é improvável que ela seja plenamente alcançada. [54] Em certas esferas, é provável que o trabalho humano continue por razões técnicas, econômicas e éticas. Num nível técnico, as máquinas atualmente permanecem piores que os humanos em trabalhos que envolvem atividade criativa, trabalhos altamente flexíveis, trabalho afetivo e onde a maioria das tarefas depende de conhecimento tácito em vez de explícito. [55] Os problemas de engenharia envolvidos na automação dessas tarefas parecem intransponíveis pelas próximas duas décadas (embora reivindicações semelhantes tenham sido feitas sobre carros autônomos dez anos atrás), e um programa para a automação completa visaria investir dinheiro em pesquisa para superar esses limites. Uma segunda barreira à automação completa ocorre por razões econômicas: certas tarefas já podem ser completadas por máquinas, mas o custo delas excede o custo da mão de obra equivalente. [56] Apesar da eficiência, precisão e produtividade do trabalho da máquina, o capitalismo prefere lucrar e, portanto, usa mão-de-obra humana sempre que é mais barato que o investimento em capital. Um programa de automação completa visaria superar isso também, por meio de medidas simples, como aumentar o salário mínimo, apoiar os movimentos trabalhistas e usar subsídios estatais para incentivar a substituição do trabalho humano.
Um último limite à automação completa é o status moral que damos a certos trabalhos, como aqueles que envolvem cuidados (assistência a idosos, pessoas com deficiências e crianças, educação infantil, enfermagem, etc). [57] ​​Essas tarefas, incluindo a criação das crianças, são algumas que muitas pessoas defenderiam que devem ser realizadas por seres humanos. Podemos delinear duas abordagens amplas para esses tipos de trabalho: Uma primeira abordagem concordaria que tal trabalho tem valor moral e deve ser realizado por humanos e não por máquinas. Em uma sociedade pós-trabalho, entretanto, o trabalho de cuidados poderia ser valorizado, desviando a sociedade do status privilegiado concedido ao trabalho rentável. O tempo livre que resulta da automação completa também poderia facilitar a experimentação com arranjos domésticos alternativos – há uma longa história de experimentos utópicos na qual podemos nos inspirar para repensar como nossas sociedades organizam o trabalho doméstico, reprodutivo e assistencial. [58] Para alcançarmos tudo isso, é preciso enfatizar, ainda precisaríamos de um movimento político; um mundo pós-trabalho pode facilitar a mudança, mas não pode garantí-la. Uma abordagem mais radical, no entanto, defende que a automação de grande parte desse trabalho deve ser uma meta para o futuro. [59] De fato, o estereótipo de que as mulheres são naturalmente “maternais” [60] e que desejam esse trabalho afetivo é freqüentemente uma cobertura perniciosa para sua exploração continuada. Mas e se grande parte desse trabalho pudesse ser eliminado? Tradicionalmente, a família tem sido um espaço que apresenta pouca mudança tecnológica: a sua natureza não-remunerada e a ausência de normas de produtividade deram ao capitalismo poucos incentivos para investir na redução do trabalho doméstico. [61] Ainda assim, cada vez mais, tarefas domésticas como limpar a casa e dobrar roupas, por exemplo, podem ser delegadas a máquinas. [62] Tecnologias voltadas para cuidados e computação afetiva também estão fazendo incursões na automação de algumas tarefas de cuidados altamente pessoais e embaraçosos, que talvez sejam mais adequados para robôs impessoais. [63] Mais especulativamente, algumas pessoas têm argumentado que a dor e o sofrimento envolvidos na gravidez devem ser relegados ao passado, ao invés de serem mistificados como naturais e belos. [64] Nessa visão, formas sintéticas de reprodução biológica permitiriam uma nova igualdade entre os sexos. Não vamos julgar sobre esses caminhos aqui, mas simplesmente defini-los como opções abertas por um mundo pós-trabalho. Seja qual for a abordagem adotada, porém, a questão é que o trabalho não será imediatamente ou totalmente eliminado, mas sim reduzido progressivamente. A automação completa é uma demanda utópica que visa reduzir o trabalho necessário tanto quanto possível.

Não São as Segundas-Feiras Que Você Odeia, É o Seu Emprego [Sobre a Redução da Semana de Trabalho]

Uma segunda grande demanda para a construção de uma plataforma pós-trabalho envolve um retorno às idéias clássicas sobre a redução da duração da semana de trabalho sem cortes nos pagamentos. Desde o início do capitalismo, os trabalhadores têm lutado contra a imposição das horas de trabalho fixadas, e a demanda por menos horas de trabalho era um componente-chave do movimento trabalhista em seus primórdios. [65] Nas batalhas iniciais se observavam altos níveis de resistência na forma de absenteísmo individual, numerosos feriados e hábitos de trabalho irregulares. [66] Essa resistência às horas normais de trabalho continua hoje em dia com uma certa folga generalizada, com os trabalhadores frequentemente navegando na Internet em vez de fazer seu trabalho. [67] Em cada etapa do caminho, portanto, os trabalhadores têm lutado para escapar do horário normal de trabalho, e muitos dos primeiros sucessos do movimento trabalhista tinham a ver com a redução do tempo de trabalho. O fim de semana de dois dias, por exemplo, surgiu espontaneamente da predileção dos trabalhadores por beber e passar um dia a mais se recuperando ao invés de trabalhando. [68] A eventual consolidação final do fim de semana como um período de folga reconhecido e delimitado foi o produto de lutas políticas sustentadas (um processo que não foi completado no mundo ocidental até os anos 1970). [69] Da mesma forma, os trabalhadores obtiveram sucesso significativo em reduzir a semana de trabalho de 60 horas em 1900 para pouco menos de 35 horas durante a Grande Depressão. [70] A velocidade desse sucesso era tanta que, durante um período de cinco anos na década de 1930, a semana de trabalho declinou em 18 horas. [71] Durante os primeiros anos da Depressão, a idéia de uma semana de trabalho mais curta gozava de apoio bipartidário nos Estados Unidos, e a legislação para uma semana de trabalho de 30 horas era considerada iminente. [72] Simultaneamente, os intelectuais profetizavam ainda mais reduções no tempo de trabalho – imaginando mundos onde o trabalho seria reduzido a um mínimo. Em uma frase clássica, Paul Lafargue argumentava pela limitação do trabalho a apenas 3 horas por dia. [73] Keynes celebremente argumentou pelo mesmo resultado, calculando que em 2030 todos estaríamos trabalhando 15 horas por semana – embora seja menos conhecido que ele estava simplesmente verbalizando o que era uma crença amplamente estabelecida na época. [74] E Marx colocou o encurtamento da semana de trabalho no centro de toda a sua visão pós-capitalista, argumentando que ela representava um “pré-requisito básico” para alcançar “o reino da liberdade”. [75]
Mas tais visões de um dia de trabalho de três horas desapareceram. O impulso de quase um século por jornadas de trabalho mais curtas terminou abruptamente durante a Grande Depressão, quando a opinião empresarial e a política do governo decidiram usar programas de trabalho banal em resposta ao desemprego, apenas para manter as pessoas ocupadas. [76] Logo após a Segunda Guerra Mundial, a semana de trabalho se estabilizou em quarenta horas na maior parte do mundo ocidental, e desde então tem havido pouca consideração séria sobre mudar isso [77]; em vez disso, houve uma expansão geral do trabalho nas décadas seguintes. Primeiro, houve um aumento no tempo gasto em empregos pela sociedade como um todo [78] – conforme as mulheres entraram no mercado de trabalho, a semana de trabalho permaneceu a mesma, e o tempo total dedicado a empregos, portanto, aumentou. [79] Em segundo lugar, tem havido uma eliminação progressiva da distinção entre trabalho e vida, com o trabalho vindo a permear todos os aspectos de nossas vidas acordados. Muitos de nós estão agora presos ao trabalho o tempo todo, com e-mails, telefonemas, mensagens de texto e ansiedades sobre o trabalho nos afetando constantemente. [80] Os trabalhadores assalariados são freqüentemente compelidos a trabalhar horas-extras não reconhecidas, enquanto muitos trabalhadores sentem a pressão social por serem vistos trabalhando por muitas horas; essas demandas significam que o trabalhador estadunidense médio de tempo-integral [81] registra, de fato, mais perto de quarenta e sete horas de trabalho por semana. [82] Além disso, uma grande quantidade de trabalho não é paga e, portanto, não é contada em dados oficiais (Tem havido também uma divisão de gênero dentro dessa força de trabalho não remunerada). [83] Enquanto continua difícil para muita gente encontrar trabalho assalariado, o trabalho não remunerado está se proliferando – toda uma esfera de “trabalho nas sombras” está emergindo com a automação no ponto de venda, com o trabalho sendo delegado aos usuários (pense em caixas eletrônicos e supermercados com caixas de auto-registro e pagamento [84]) . [85] Além disso, há o trabalho oculto necessário para manter um emprego: gestão financeira, busca de emprego se desempregado, constante treinamento em habilidades, tempo de deslocamento e a importantíssima esfera (marcada pela divisão por gênero) do trabalho envolvido no cuidado de crianças, membros da família e outros dependentes. [86]
Se o trabalho tem se estendido a tantas áreas de nossas vidas, um retorno a uma semana de trabalho mais curta traria consigo uma série de benefícios. Para além do mais óbvio – que isso aumentaria o tempo livre – ela traria uma série de benefícios mais sutis. [87] Em primeiro lugar, reduzir a semana de trabalho constitui uma resposta elementar à automação crescente. De fato, o papel dessa política em períodos anteriores de automação é muitas vezes esquecido – muitos comentaristas têm apontado corretamente para a história da mudança tecnológica para mostrar que ela não precisa levar ao desemprego em massa. No entanto, os principais períodos de automação coincidiram com reduções significativas na semana de trabalho; o nível de emprego era freqüentemente sustentado pela redistribuição do trabalho. Um segundo benefício desta política são suas diversas vantagens ambientais. Por exemplo, reduções na semana de trabalho levariam a reduções significativas no consumo de energia e na nossa pegada de carbono em nível global. [88] Mais tempo livre também significaria uma redução em todos os bens de conveniência que compramos para caber em nossas agendas de trabalho febris. Em termos mais gerais, o uso de melhorias de produtividade para menos trabalho, em vez de mais produção, significaria que as melhorias de eficiência energética seriam direcionadas para a redução dos impactos ambientais. [89] Uma redução nas horas de trabalho é, portanto, um elemento essencial em qualquer resposta às mudanças climáticas. Outra pesquisa sugere que uma semana de trabalho mais curta traria uma redução geral no estresse, ansiedade e nos problemas de saúde mental promovidos pelo neoliberalismo. [90] Mas uma das razões mais importantes para reduzir o tempo de trabalho é que essa é uma demanda que consolida e que gera poder de classe. Em primeiro lugar, reduzir o tempo de trabalho pode ser empregado como uma tática temporária na luta política – fazer apenas o mínimo [91], greves e outras formas de remover tempo de trabalho são meios de exercer pressão sobre os capitalistas. Mas em segundo lugar – e mais importante – a redução da semana de trabalho também torna o movimento trabalhista mais forte. Ao retirar horas de trabalho do mercado, a oferta total de mão-de-obra diminui e a força do trabalhador aumenta. Como dois comentaristas observaram recentemente, “Nenhuma outra demanda de barganha simultaneamente aumenta a posição de barganha; além disso, nenhuma outra lógica estratégica inicia um ciclo virtuoso contínuo no qual cada vitória estabelece as condições para a força na próxima luta.’ [92] Por estas razões, o objetivo de reduzir a semana de trabalho deveria ser uma demanda imediata e proeminente da Esquerda no Século XXI.
Nossa preferência é pelo estabelecimento de um fim de semana de três dias, em vez de uma redução no dia de trabalho, a fim de reduzir os deslocamentos e aproveitar a base dos feriados prolongados já existentes. Essa demanda pode ser alcançada de várias maneiras – através de lutas sindicais, pressão de movimentos sociais e mudança legislativa por partidos políticos. Sindicatos construindo uma estratégia para o futuro, ao invés de aceitar a demanda capitalista por empregos a todo custo, poderiam usar a negociação coletiva para aceitar a automação em troca de uma semana de trabalho mais curta. De fato, o registro histórico sugere que os sindicatos são freqüentemente reativos diante das mudanças tecnológicas, e que as concessões salariais apenas atrasam a automação, ao invés de impedi-la. [93] Uma abordagem alternativa focada na redução e na difusão do trabalho poderia reduzi-lo sem deixar os trabalhadores nas ruas. [94] Esforços também podem ser feitos para obter reconhecimento para o trabalho não-oficial e não-remunerado como parte da semana de trabalho, reduzindo-a ao simplesmente chamar atenção para isso. [95] O foco em uma semana de trabalho mais curta também exige que os sindicatos estabeleçam vínculos com trabalhadores em tempo parcial e precários. Mas embora os sindicatos sejam necessários nessa luta, não são suficientes, pela simples razão de que cada setor tem diferentes potenciais para automação e para incrementos de produtividade. [96] Uma luta mais ampla é necessária para que haja uma ruptura com a lógica atual do neoliberalismo. Movimentos sociais e instituições ideológicas devem contribuir para essa luta, modelando o espaço da possibilidade. Vários think tanks, incluindo a New Economics Foundation [“Fundação Para Uma Nova Economia] e a Jimmy Reid Foundation, têm começado a recomendar abertamente uma redução da semana de trabalho. [97] Grupos no Reino Unido, como a Precarious Workers Brigade [“Brigada dos Trabalhadores Precários”] e o Plano C, tem dado destaque para o trabalho não-remunerado e se mobilizado em torno de questões relativas ao status do trabalho na sociedade atual. [98] Mas, mais significativamente, já existe um alto nível de desejo público pela redução da semana de trabalho, com pesquisas de opinião pública mostrando que a maioria da população apóia a idéia. [99] Há também uma variedade de abordagens políticas para encurtar a semana de trabalho. Intervenções legislativas podem alterar o cálculo dos custos de mão-de-obra de uma base por pessoa para uma base por hora, tornando menos efetivo em custos para as empresas impor longas horas extra. [100] Países como a Bélgica e a Holanda deram aos trabalhadores o direito de exigir horas reduzidas sem serem discriminados pelos empregadores. A Holanda também começou a encurtar a semana de trabalho em cada extremidade do espectro etário. Os jovens e os idosos passam agora por uma transição para dentro e para fora da força de trabalho, respectivamente, através de mudanças graduais em suas jornadas de trabalho. [101] Todas essas opções podem e devem ser mobilizadas na busca de um projeto para reduzir a semana de trabalho.

O Salário Não Dá [Sobre a Renda Básica]

Estas duas primeiras propostas equivalem à redução da demanda por mão-de-obra através da automação total e à redução da oferta de mão-de-obra através do encurtamento da semana de trabalho. [102] O resultado combinado dessas medidas seria a liberação de uma quantidade significativa de tempo livre sem uma redução no produto econômico ou um aumento significativo do desemprego. Ainda assim, esse tempo livre será de pouco valor se as pessoas continuarem lutando para fazer as contas bater. Como Paul Mattick coloca, “o tempo livre dos famintos ou dos necessitados não é um lazer, de maneira nenhuma, mas uma atividade implacável visando permanecer vivo ou melhorar sua situação”. [103] Os sub-empregados, [104] por exemplo, têm muito tempo livre, mas não têm os meios para aproveitá-lo; “sub-empregado”, na verdade, é apenas um eufemismo para “sub-salariado”. É por isso que uma demanda essencial em uma sociedade pós-trabalho é uma Renda Básica Universal (RBU [ou UBI, na sigla em inglês]), dando a cada cidadão uma quantia de dinheiro suficiente para se viver, sem qualquer exigência. [105] É uma ideia que tem brotado periodicamente ao longo da história. [106] No início dos anos 1940 uma versão dela foi apresentada como uma alternativa ao Relatório Beveridge, que acabou dando forma ao Estado de Bem-Estar Social do Reino Unido. [107] Em um período agora amplamente esquecido durante os anos 1960 e 1970, a renda básica era fundamental para as propostas de reforma do Estado de Bem-Estar dos EUA. Economistas, ONGs e formuladores de políticas exploraram a ideia em detalhes, [108] e vários experimentos de pequena escala foram estabelecidos no Canadá e nos Estados Unidos. [109] Tamanha era a influência da RBU que mais de 1.300 economistas assinaram uma petição pressionando o Congresso dos EUA para promulgar um “sistema nacional de garantias de renda”. [110] Três administrações separadas consideraram seriamente a proposta, e dois presidentes – Nixon e Carter – tentaram aprovar alguma legislação para alcançá-la. [111] Em outras palavras, a RBU quase se tornou uma realidade nos EUA anos 70. [112] Embora o Alasca tenha eventualmente implementado uma renda básica financiada por sua riqueza em petróleo, a idéia praticamente desapareceu do debate na esteira da hegemonia neoliberal. [113] No entanto, nos últimos anos a idéia tem passado por um ressurgimento de popularidade. Nos meios de comunicação dominantes e nos meios críticos, ela tem ganhado força, sendo assumida por Paul Krugman, Martin Wolf, o New York Times, o Financial Times e o Economist[114] Os suíços realizaram um referendo sobre a RBU em 2016 [115]; a proposta tem sido recomendada por comissões parlamentares em outros países; vários partidos políticos a adotaram em seus manifestos; houveram novos experimentos sobre ela na Namíbia e na Índia. [116] A idéia tem alcance global, tendo sido promovida com força por grupos no Brasil, África do Sul, Itália e Alemanha, e por uma rede internacional envolvendo mais de vinte países. [117] O movimento por uma RBU, portanto, tem uma vez mais experimentado uma ressurgência na sequência da crise de 2008 e dos regimes de austeridade colocados em prática depois dela.
A demanda por uma RBU, no entanto, está sujeita a forças hegemônicas que concorrem entre si – está tão aberta a ser mobilizada para uma distopia “libertariana” [118] quanto para uma sociedade pós-trabalho – uma ambigüidade que tem levado muitos a confundir erroneamente os dois pólos. Ao demandar uma RBU, portanto, três fatores-chave devem ser articulados a fim de torná-la significativa: ela deve fornecer uma quantidade suficiente de renda para se viver; deve ser universal, fornecida a todos incondicionalmente; e deve ser um complemento ao Estado de Bem-Estar e não uma substituição dele. O primeiro ponto é bastante óbvio: uma RBU deve fornecer uma renda materialmente adequada. O valor exato vai variar entre países e regiões, mas pode ser relativamente fácil chegar a ele com os dados existentes. O risco é que, se for definida num nível muito baixo, a RBU possa se tornar apenas um subsídio do governo para as empresas. Além disso, a RBU deve ser universal e dada a todos incondicionalmente. Como não haveria testes ou outras medidas necessárias para receber a RBU, ela se libertaria da natureza disciplinar do capitalismo de bem-estar social. [119] Além disso, uma concessão universal evita a estigmatização dos benefícios de bem-estar social, uma vez que todos a recebem. [120] Como argumentamos no Capítulo 4, [121] a invocação do “universalismo” também obriga a contínua subversão de qualquer aplicação restrita de uma Renda Básica (em termos do status dos indivíduos como cidadãos, imigrantes ou prisioneiros). A demanda por universalidade propicia a base para uma luta contínua para expandir o escopo e a escala da renda básica. Por fim, a RBU deve ser um complemento ao Estado de Bem-Estar Social. O argumento conservador por uma renda básica – que deve ser evitado a todo custo – é que ela deveria simplesmente substituir o Estado de Bem-Estar Social, fornecendo uma certa porção de dinheiro para cada indivíduo. Nesse cenário, a RBU seria apenas um vetor de maior mercadificação, transformando serviços sociais em mercados privados. Em vez de representar algum desvio em relação ao neoliberalismo, ela simplesmente estenderia seu gesto essencial ao criar novos mercados. Pelo contrário, a demanda feita aqui é pela RBU como um complemento a um Estado de Bem-Estar Social revitalizado. [122]
Baseando-se em argumentos morais e em pesquisas empíricas, há um grande número de razões para apoiar uma UBI: menor pobreza, melhor saúde pública e custos de saúde reduzidos, menos abandono escolar, redução nos crimes pequenos, mais tempo com familiares e amigos e menos burocracia estatal. [123] Dependendo de como a UBI for apresentada, ela é capaz de gerar apoio de todo o espectro político – de “libertarianos” [124], conservadores, anarquistas, marxistas e feministas, entre outros. A potência dessa demanda está em parte nessa ambiguidade, capaz de mobilizar amplo apoio popular. [125] No entanto, para nossos propósitos, a importância da UBI como demanda está em quatro fatores-chave inter-relacionados.
O primeiro ponto a se enfatizar é que a demanda pela RBU é uma demanda por uma transformação política, não apenas econômica. Muitas vezes pensa-se que a RBU é simplesmente uma forma de redistribuição dos ricos para os pobres, ou que ela é apenas uma medida para manter o crescimento econômico, estimulando a demanda dos consumidores. Nessa perspectiva, a RBU teria credenciais reformistas impecáveis ​​e seria pouco mais do que um sistema tributário progressivo glorificado. No entanto, o significado real da RBU reside na maneira como ela perturba a assimetria de poder que existe atualmente entre os trabalhadores e o capital. Como vimos na discussão sobre as populações excedentes, o proletariado é definido por sua separação dos meios de produção e de subsistência. [126] O proletariado é assim forçado a se vender no mercado de trabalho para obter a renda necessária para sobreviver. Os mais afortunados entre nós têm o espaço para escolher qual emprego adotar, mas poucos de nós têm a possibilidade de escolher por não ter nenhum emprego. Uma renda básica muda essa condição, ao dar ao proletariado um meio de subsistência sem dependência de um emprego. [127] Os trabalhadores, em outras palavras, passam a ter a opção de escolher se querem ou não ter um emprego (em muitos aspectos, levando a sério a palavra da Economia Neoclássica, [128] e tornando o trabalho verdadeiramente voluntário). A RBU, portanto, desvincula os aspectos coercivos do trabalho assalariado, desmercantiliza parcialmente a mão-de-obra e, assim, transforma a relação política entre os trabalhadores e o capital.
Essa transformação – tornar o trabalho voluntário em vez de coagido – tem várias conseqüências significativas. Em primeiro lugar, aumenta o poder de classe ao reduzir a disponibilidade no mercado de trabalho. Populações excedentes mostram o que acontece quando há grandes quantidades de sobra no mercado de trabalho: os salários caem e os empregadores estão livres para rebaixar os trabalhadores. [129] Por outro lado, quando o mercado de trabalho está apertado, os trabalhadores ganha vantagem política. O economista Michał Kalecki reconheceu isso há muito tempo, quando argumentou que isso explicaria por que o pleno emprego seria combatido a cada passo: [130] Se todos os trabalhadores estivessem empregados, a ameaça de ser demitido perderia seu caráter disciplinar – haveria empregos mais do que suficientes esperando do lado de fora. Os trabalhadores ganhariam força e o capital perderia seu poder político. A mesma dinâmica vale para uma renda básica: ao eliminar a dependência do trabalho assalariado, os trabalhadores ganham controle sobre a quantidade de trabalho a fornecer, dando-lhes poder significativo no mercado de trabalho. O poder de classe também é aumentado de várias outras maneiras. As greves são mais fáceis de se mobilizar, uma vez que os trabalhadores não precisam mais se preocupar com o pagamento sendo cortado ou com a redução dos fundos de greve. A quantidade de tempo gasto trabalhando por um salário pode ser modificada segundo o próprio desejo, com o tempo livre podendo ser gasto na construção de comunidades e no envolvimento com a política. Uma pessoa pode desacelerar e refletir, protegida com segurança das constantes pressões do neoliberalismo. As ansiedades que cercam o trabalho e o desemprego são reduzidas com a rede de segurança de uma RBU. [131] Além disso, a demanda por uma RBU combina as necessidades de empregados, desempregados, subempregados, trabalhadores migrantes, trabalhadores temporários, estudantes e deficientes. [132] Ela articula um interesse comum entre esses grupos e fornece uma orientação populista em torno da qual eles podem se mobilizar.
A segunda característica relacionada da RBU é que ela transforma a precariedade e o desemprego de um estado de insegurança para um estado de flexibilidade voluntária. Muitas vezes esquece-se que o impulso inicial para o trabalho flexível veio dos trabalhadores, como uma forma de demolir a permanência constrangedora do trabalho fordista tradicional. [133] A repetitividade de um emprego das-oito-às-cinco, combinada com o tédio da maioria dos trabalhos, dificilmente se constituem em uma perspectiva atraente para uma carreira para toda a vida. As demandas do trabalho de cuidados freqüentemente também exigem uma abordagem flexível, enfraquecendo ainda mais o apelo dos empregos tradicionais. O próprio Marx invoca os aspectos libertadores do trabalho flexível em sua famosa afirmação de que o comunismo “possibilita que eu faça uma coisa hoje e outra amanhã, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear o gado à noite, escrever críticas depois do jantar, assim como tenho uma mente, sem nunca me tornar um caçador, um pescador, um pastor ou um crítico ”. [134] Diante desses desejos por flexibilidade, o capital os adaptou e cooptou para uma nova forma de exploração. Hoje, o trabalho flexível simplesmente se apresenta como precariedade e insegurança, ao invés de liberdade. A RBU dá uma resposta a essa generalização da precariedade e a transforma de um estado a ser temido para um estado de liberação.
Terceiro, uma renda básica exigiria repensar os valores atribuídos aos diferentes tipos de trabalho. Dado que os trabalhadores não seriam mais forçados a aceitar um emprego, poderiam simplesmente rejeitar empregos que pagassem muito pouco, exigissem trabalho demais, oferecessem benefícios de menos ou que fossem humilhantes e indignos. Trabalhos de baixo salário são muitas vezes grosseiros e submetedores, e sob um programa da RBU é improvável que muitos quisessem realizá-los. O resultado seria que o trabalho perigoso, entediante e sem atrativos teria que ser melhor remunerado, enquanto o trabalho mais recompensador, revigorante e atraente seria menos bem pago – em outras palavras, a natureza do trabalho se tornaria uma medida de seu valor, não meramente a sua remuneração. [135] O resultado dessa reavaliação também significaria que, à medida que os salários dos piores empregos aumentassem, haveria novos incentivos para automatizá-los. A RBU, portanto, forma um ciclo de reforço positivo [136] com a demanda pela automação completa. Por outro lado, uma renda básica não apenas transformaria o valor dos piores empregos, mas também ajudaria a caminhar na direção do reconhecimento do trabalho não-remunerado da maioria dos trabalhos de cuidados. Da mesma forma que a demanda por salários pelo trabalho doméstico [137] reconhecia e politizava o trabalho doméstico das mulheres, a RBU também reconhece e politiza a maneira generalizada em que todos somos responsáveis ​​pela reprodução da sociedade: do trabalho informal para o formal, do trabalho doméstico para o público, do trabalho individual para o coletivo. O central não é o “trabalho produtivo”, definido em termos marxistas ou neoclássicos tradicionais, mas sim a categoria mais geral de “trabalho reprodutivo”. [138] Dado que todos contribuímos para a produção e para a reprodução do capitalismo, nossa atividade também merece ser remunerada. [139] Ao reconhecer isso, a RBU indica uma mudança da remuneração baseada na capacidade para a remuneração baseada na necessidade básica. [140] Todas as variações genéticas, históricas e sociais que tornam o esforço uma péssima medida do valor de uma pessoa são rejeitadas aqui e, em vez disso, as pessoas são valorizadas simplesmente por serem pessoas.
Finalmente, uma renda básica é uma proposta fundamentalmente feminista. Sua desconsideração pela divisão de trabalho com base no gênero supera alguns dos viéses das medidas do Estado de Bem-Estar Social tradicional, baseado em um chefe de família do sexo masculino. [141] Igualmente, ela reconhece as contribuições de trabalhadores domésticos não-remunerados à reprodução da sociedade e fornece-lhes uma renda em conformidade. A independência financeira que vem com uma renda básica também é crucial para o desenvolvimento da liberdade sintética das mulheres. Permite a experimentação de diferentes formas de estrutura familiar e comunitária que não estão mais vinculadas ao modelo da família nuclear privatizada. [142] E a independência financeira também pode reconfigurar os relacionamentos íntimos: uma das descobertas mais inesperadas dos experimentos com RBU têm sido que a taxa de divórcios tendeu a aumentar. [143] Comentaristas conservadores aproveitaram isso como prova da imoralidade da demanda, mas taxas mais altas de divórcio são facilmente explicadas como mulheres obtendo os meios financeiros para escapar de relacionamentos disfuncionais. [144] Uma renda básica pode, portanto, permitir uma experimentação mais fácil com a estrutura familiar, mais possibilidades para a provisão de cuidados infantis e uma transformação mais fácil da divisão do trabalho por gênero. Além disso, ao contrário da demanda por “salários pelo trabalho doméstico” nos anos 1970, a demanda pela RBU promete romper com a relação salarial em vez de reforçá-la.
Embora uma renda básica universal possa parecer economicamente reformista, suas implicações políticas são, portanto, significativas: Ela transforma a precariedade, reconhece o trabalho social, facilita a mobilização do poder de classe e amplia o espaço para experimentarmos com como organizamos comunidades e famílias. É um mecanismo de redistribuição que transforma as relações de produção; é um mecanismo econômico que muda a política do trabalho. E em termos de luta de classes, não há muito distinguindo o pleno emprego do “pleno desemprego”: ambos apertam o mercado de trabalho, dão poder aos trabalhadores e dificultam a sua exploração. O “pleno desemprego” tem as vantagens adicionais de não depender da divisão de trabalho por gênero entre o espaço familiar e a economia formal, de não manter os trabalhadores acorrentados à relação salarial e de permitir aos trabalhadores autonomia sobre as suas vidas. Por todas essas razões, a clássica demanda social-democrata pelo pleno emprego deveria ser substituída pela demanda orientada para o futuro pelo pleno desemprego.

O Direito à Preguiça [Sobre a Ética do Trabalho]

Quais são os impedimentos para se implementar uma renda básica? Embora o problema de financiar a RBU pareça imenso, a maioria das pesquisas sugere que seria relativamente fácil financiá-la com uma combinação de redução de programas duplicados, aumento de impostos sobre os ricos, impostos sobre a herança, impostos sobre consumo, impostos sobre carbono, corte de gastos militares, cortes nos subsídios à indústria e à agricultura e reprimindo a evasão fiscal. [145] Os obstáculos mais difíceis para a RBU – e para uma sociedade pós-trabalho – não são econômicos, mas políticos e culturais: políticos, porque as forças que se mobilizarão contra ela são imensas; e culturais, porque o trabalho está tão profundamente enraizado em nossa própria identidade. Examinaremos os obstáculos políticos nos próximos dois capítulos, [146] mas nos voltaremos agora para os obstáculos culturais.
Um dos problemas mais difíceis na implementação de uma RBU e na construção de uma sociedade pós-trabalho será a superação da pressão generalizada para nos submetermos à ética do trabalho. [147] De fato, o fracasso da tentativa anterior dos Estados Unidos de implementar uma renda básica se deu principalmente porque ela desafiava noções aceitas sobre a ética de trabalho dos pobres e dos desempregados. [148] Em vez de ver o desemprego como resultado de uma ética de trabalho individual deficiente, a proposta da RBU o reconhecia como um problema estrutural. No entanto, a linguagem que enquadrava a proposta mantinha rígidas divisões entre os que trabalhavam e os que recebiam assistência social, apesar do plano apagar tal distinção. Os trabalhadores pobres acabaram rejeitando o plano por medo de serem estigmatizados como beneficiários de assistência social. Os preconceitos raciais reforçavam essa resistência, uma vez que a assistência social no sistema de Bem-Estar Social era vista como uma questão negra e os brancos relutavam em serem associados a ela. E a falta de uma identificação de classe entre os trabalhadores pobres e os desempregados – a população excedente – significava que não havia base social para um movimento significativo em favor de uma renda básica. [149] A superação da ética do trabalho será igualmente central para qualquer tentativa futura de construir um mundo pós-trabalho. Como vimos no Capítulo 3, [150] o neoliberalismo estabeleceu um conjunto de incentivos que nos compelem a agirmos e identificarmo-nos como sujeitos competitivos. Orbitando em torno deste assunto há uma constelação de imagens relacionadas com autoconfiança e independência que necessariamente entram em conflito com o programa de uma sociedade pós-trabalho. Nossas vidas tem se tornado cada vez mais estruturadas em torno da auto-realização competitiva, e o trabalho se tornou a principal via para se alcançar isso. [151] O trabalho, não importa o quanto seja degradante, mal pago ou inconveniente, é considerado um bem supremo. Esse é o mantra tanto dos partidos políticos tradicionais quanto da maioria dos sindicatos, associado à retórica de se levar as pessoas de volta ao trabalho, à importância das famílias trabalhadoras e ao corte da assistência social, de modo que “sempre valha a pena trabalhar”. Acompanha isso um esforço cultural paralelo demonizando aqueles sem emprego: Jornais ressoam manchetes sobre a inutilidade dos beneficiários de assistência social; os programas de TV sensacionalizam e ridicularizam os pobres; e a sempre-iminente figura do fraudador do sistema de assistência social é continuamente evocada. [152] O trabalho tornou-se central mesmo para nossa autoconcepção – tanto que quando se deparam com a idéia de fazer menos trabalho, muitas pessoas perguntam: “Mas o que eu faria?” O fato de tantas pessoas acharem impossível imaginar uma vida com significado fora do trabalho demonstra até que ponto a ética de trabalho infectou nossas mentes.
Embora normalmente associada à ética do trabalho protestante, de fato a submissão ao trabalho está implícita em muitas religiões. [153] Essas éticas exigem que a pessoa se dedique ao seu trabalho, independentemente da natureza desse emprego, instilando um imperativo moral de que a labuta penosa deve ser valorizada. [154] Embora originária em idéias religiosas sobre garantir uma vida melhor após a morte, o objetivo da ética do trabalho acabou por ser substituído por uma devoção secular à melhoria nesta vida. Formas mais contemporâneas desse imperativo assumiram um caráter liberal-humanista, retratando o trabalho como o meio central de auto-expressão [155] – o trabalho veio a ser dirigido para o interior de nossa identidade, retratado como o único meio para a verdadeira auto-realização. [156] Em uma entrevista de emprego, por exemplo, todo mundo sabe que a pior resposta para “Por que você quer este trabalho?” é dizer “dinheiro”, mesmo que essa permaneça sendo a verdade reprimida. Os empregos contemporâneos no setor de serviços sublinham esse fenômeno: na ausência de métricas claras para a produtividade, os trabalhadores, ao invés, interpretam performances de produtividade – fingindo desfrutar de seu trabalho ou sorrindo enquanto recebem gritos de um cliente. Trabalhar por muitas horas tornou-se um sinal de devoção ao trabalho, mesmo conforme isso perpetua as disparidades salariais entre homens e mulheres. [157] Com o trabalho tão amarrado às nossas identidades, superar a ética do trabalho exigirá que superemos a nós mesmos.
O suporte ideológico central para a ética do trabalho é que a remuneração esteja ligada com o sofrimento. Em todo lugar que se olha, há um impulso para fazer as pessoas sofrerem antes que possam receber uma recompensa. Os epítetos atirados em mendigos sem-teto, a demonização dos que estão no seguro-desemprego, o sistema labiríntico de burocracia criado para o recebimento de benefícios, a ‘experiência de emprego’ não-remunerada imposta aos desempregados, a penalização sádica daqueles que são vistos como recebendo algo de graça – tudo revela a verdade de que para as nossas sociedades, a remuneração requer trabalho e sofrimento. Seja por um objetivo religioso ou secular, acredita-se que o sofrimento constitui um rito de passagem necessário. As pessoas devem suportar o trabalho antes que possam receber salários, elas devem provar seu valor diante dos olhos do capital. Este pensamento tem uma óbvia base teológica – onde o sofrimento é pensado como sendo não apenas significativo, mas na verdade a própria condição para a existência de significado. Uma vida sem sofrimento é vista como frívola e sem sentido. Essa posição deve ser rejeitada como um resquício de um estágio agora transcendido da história humana. O impulso para dar significado para o sofrimento pode ter tido alguma lógica funcional em épocas em que a pobreza, a doença e a fome eram características necessárias da existência; mas devemos rejeitar essa lógica hoje e reconhecer que ultrapassamos a necessidade de fundamentar o significado no sofrimento. O trabalho e o sofrimento que o acompanha não devem ser glorificados.
O que é necessário, portanto, é uma abordagem contra-hegemônica para o trabalho: um projeto que derrubaria as idéias existentes sobre a necessidade e a desejabilidade do trabalho, e a imposição do sofrimento como base para a remuneração. A mídia já está mudando as condições de possibilidade – apresentando a RBU não apenas como uma solução possível, mas cada vez mais como uma solução necessária para os problemas do desemprego tecnológico. Essas tendências hegemônicas devem ser amplificadas. O domínio da ética do trabalho também vai contra a mudança na base material da economia. O capitalismo exige que as pessoas trabalhem para ganhar a vida, mas o sistema é cada vez mais incapaz de gerar empregos suficientes. As tensões entre o valor atribuído à ética de trabalho e essas mudanças materiais só aumentarão o potencial para a transformação do sistema. Ações para tornar a precariedade e o desemprego um problema político cada vez mais visível contribuem de alguma maneira para gerar o apoio a uma sociedade pós-trabalho (da mesma forma com que o Occupy aumentou a conscientização sobre a desigualdade, e o UK Uncut deu destaque à evasão fiscal.) [158] Talvez ainda mais importante, já existe um ódio generalizado por empregos, o que pode ser aproveitado. Assim como a hegemonia neoliberal cooptou desejos reais e obteve consentimento ativo, assim também qualquer hegemonia pós-trabalho deve encontrar sua força ativa nos desejos reais das pessoas. A demanda generalizada de que os outros adotem a ética do trabalho é correspondida apenas pelo desdém que sentimos por nossos próprios trabalhos. Hoje, em todo o mundo, apenas 13% das pessoas dizem que acham seus trabalhos atraentes. [159] Fisicamente degradados, mentalmente esgotados e socialmente exaustos, a maioria dos trabalhadores encontra-se sob imensa quantidade de estresse em seus empregos. Para a grande maioria das pessoas, o trabalho não oferece significado, realização ou redenção – é só um jeito de pagar as contas. Aqueles que já foram excluídos do emprego não deveriam estar lutando pela sua inclusão em uma sociedade de trabalho e labuta, mas sim construindo as condições para reproduzir suas vidas fora do trabalho. Mudar o consenso cultural sobre a ética do trabalho significará adotar ações no nível do dia-à-dia, traduzindo esses objetivos de médio-prazo em slogans, memes e palavras de ordem. Exigirá a realização do trabalho difícil e essencial de organização e de campanha no local de trabalho – de mobilização das paixões das pessoas a fim de derrubar o domínio da ética do trabalho. O sucesso desses esforços ficará claro quando as discussões na mídia sobre a automação passarem do temor sobre os empregos perdidos para celebrações da liberdade em relação ao trabalho penoso. [160]

O Reino da Liberdade

Uma Esquerda do século XXI deve procurar combater a centralidade do trabalho para a vida contemporânea. No fim das contas, nossa escolha está entre glorificar o trabalho e a classe trabalhadora ou abolir a ambas. [161] A primeira posição encontra sua expressão na tendência da política folk [162] de valorizar o trabalho, a labuta concreta e o trabalho artesanal. No entanto, a segunda é a única posição realmente pós-capitalista. O trabalho deve ser recusado e reduzido, construindo nossa liberdade sintética [163] nesse processo. [164] Como estabelecemos neste capítulo, alcançar isso exigirá a realização de quatro demandas mínimas:
  1. Automação completa
  2. A redução da Semana de Trabalho
  3. O fornecimento de uma Renda Básica
  4. A diminuição da Ética do Trabalho
Embora cada uma dessas propostas possa ser tomada como um objetivo individual em si mesmo, seu verdadeiro poder se expressa quando elas são levadas em frente como um programa integrado. Não se trata de uma reforma simples e marginal, mas de uma formação hegemônica inteiramente nova para competir com as opções neoliberais e social-democratas. A demanda pela automação completa amplifica a possibilidade de reduzir a semana de trabalho e aumenta a necessidade de uma renda básica universal; uma redução na semana de trabalho ajuda a produzir uma economia sustentável e a alavancar o poder de classe; e uma renda básica universal amplifica o potencial de reduzir a semana de trabalho e expandir o poder de classe. Também aceleraria o projeto da automação total: conforme a força dos trabalhadores aumentasse e o mercado de trabalho se tornasse mais apertado, o custo marginal da mão de obra aumentaria, à medida que as empresas se voltassem para a maquinaria, a fim de se expandir. [165] Esses objetivos ressoam uns com os outros, ampliando seu poder combinado. E uma nova hegemonia pós-trabalho seria resistente à reversão, tendo criado um eleitorado de massa que se beneficiaria de sua continuação. [166] A ambição aqui é tomar de volta o futuro das mãos do capitalismo e construir, nós mesmos, o mundo do século XXI que queremos. É fornecer o tempo e o dinheiro que são centrais para qualquer concepção significativa de liberdade. O tradicional grito de guerra da Esquerda, exigindo o pleno emprego, deve, portanto, ser substituído por um grito de guerra exigindo o pleno desemprego. Mas sejamos claros: não existe solução tecnocrática e não existe um progresso necessário rumo a um mundo pós-trabalho. As lutas pela automação completa, por uma semana de trabalho mais curta, pelo fim da ética do trabalho e por uma renda básica universal são lutas essencialmente políticas. O imaginário pós-trabalho gera uma imagem “hipersticional” [167] de progresso – uma que visa tornar o futuro uma força histórica ativa no presente. As lutas que tal projeto enfrentará exigem que a Esquerda ultrapasse seu horizonte de política folk, reconstrua sua força e adote uma estratégia expansiva de mudança. É para essas questões que nos voltaremos agora. [168]
Tradução: Everton Lourenço

Notas

[1] O capítulo 5, “The Future Isn’t Working” [“O Futuro Não Está Funcionando”] trata de vários problemas atuais e de como eles têm se desenvolvido, principalmente em relação aos empregos sob o sistema atual. [N.M.]
[2] Explicitamente e implicitamente, este capítulo deve muito ao trabalho de Kathi Weeks. Ver Kathi Weeks, ‘The Problem with Work: Feminism, Marxism, Antiwork Politics, and Postwork Imaginaries‘ [“O Problema com o Trabalho: Feminismo, Marxismo, Políticas Anti-Trabalho e Imaginários Pós-Trabalho“] (Durham, NC: Duke University Press, 2011).
[3] Demandas no sentido de propostas, exigências, bandeiras, ideias sobre as mudanças que queremos na realidade e em torno das quais podemos nos organizar para exercer pressão política. [N.M.]
[4] ‘Communiqué from an Absent Future‘ [“Comunicado de um Futuro Ausente“], em ‘We Want Everything‘ [“Queremos Tudo”], 24 de setembro de 2009.
[5] Ben Trott, ‘Walking in the Right Direction?‘ [“Andando na Direção Certa?“], em Turbulence 1 (2007); Marco Desiriis e Jodi Dean, ‘A Movement Without Demands?‘ [“Um Movimento Sem Demandas?“], ‘Possible Futures‘ [“Futuros Possíveis”], 3 de janeiro de 2012, em possible-futures.org; Bertie Russell, ‘Demanding the Future? What a Demand Can Do‘ [“Exigindo o Futuro? O Que uma Demanda Pode Fazer“], ‘Journal of Aesthetics and Protest‘ [“Periódico de Estética e Protesto”], 2014.
[6] [no original, “utopianism without apology“] – Weeks, ‘The Problem with Work’ [“O Problema Com o Trabalho”], pp. 218–24, 175.
[7] Este é um aspecto que as distingue do conceito de “demandas de transição” articuladas por Trotsky. Veja Trott, ‘Walking in the Right Direction?‘ [“Andando na Direção Certa?“]; Leon Trotsky, “O Programa de Transição: Agonia de Morte do Capitalismo e as Tarefas da Quarta Internacional” (London: Bolshevik Publications, 1999).
[8]  “Social-Democracia”, “Keynesianismo”, “Estado de Bem-Estar Social”, “Liberalismo Embutido”: Esse consenso marcou o Capitalismo a partir do segundo Pós-Guerra, e ficou conhecido como sua “Era de Ouro”: foram vinte anos de crescimento ininterrupto nos países capitalistas centrais, praticamente sem crises, até meados dos anos 70 (mas os sinais de esgotamento do modelo já apareciam desde o final da década de 60). Nesses países o período ficou marcado pela melhora substancial das condições de vida e dos serviços públicos acessíveis a uma parte considerável dos trabalhadores, graças à força de pressão do sindicalismo e dos partidos social-democratas. Naquele momento pós-crise de 29, após o estabelecimento do keynesianismo como resposta à crise nos países desenvolvidos, de fato mesmo nos EUA e na Europa grande parte dos políticos e economistas aceitavam a necessidade de algum planejamento estatal, no mínimo orientando e regulando a atividade econômica privada, mas muitas vezes assumindo as próprias atividades diretamente através de estatais. Um dos mais conhecidos economistas estadunidenses da época, John Kenneth Galbraith, chegou a defender a tese “tecnocrática” de que o desenvolvimento das instituições tanto no Capitalismo quanto no mundo soviético caminhavam para se encontrar em um tipo de meio termo administrativo. Com a crise dos anos 70 e a incapacidade do keynesianismo de oferecer uma saída para a mesma, veio a resposta elitista e reacionária de recomposição do poder da classe capitalista através do Neoliberalismo É ainda celebrado no ideário de muita gente como um marco de como o Capitalismo poderia, sob regulação, gerar crescimento e ser “mais humano”. Ver “Nem Sempre Foi Assim“, de Frederico Mazzucchelli; “O Ponto de Ruptura da Social-Democracia”, de Peter Frase; e “Desabamento Contínuo: Neoliberalismo Como Estágio da Crise Capitalista, Rendição Social-Democrata, Revolta Popular Recente e as Aberturas à Esquerda“, de Robert Brenner. [N.M.]
[9] O consenso do Neoliberalismo dominou o espaço político e econômico das últimas décadas e só passou a mostrar sinais de fraqueza a partir da crise de 2008 – mas segue como o modelo absoluto de pensamento sobre nossa sociedade (mesmo que para alguns autores isso se dê agora apenas por inércia, como um “zumbi”, como chama Mark Fisher). Para quem não tem muita clareza sobre o que significa “neoliberalismo”, vale muito a pena ler a introdução de George Monbiot sobre o tema para o jornal The Guardian: ‘Neoliberalismo, a Ideologia na Raiz de Nossos Problemas’, além de ‘Desabamento Contínuo: Neoliberalismo Como Estágio da Crise Capitalista, Rendição Social-Democrata, Revolta Popular Recente e as Aberturas à Esquerda’, de Robert Brenner. ‘Como Vai Acabar o Capitalismo?’, de Wolfgang Streeck, também faz uma análise do desmonte trazido pelo período neoliberal e defende que seu sucesso pode estar levando o Capitalismo global a uma ruptura, mesmo na ausência de uma alternativa global organizada. Em ‘Realismo Capitalista e a Exclusão do Futuro’ e ‘Como Matar Um Zumbi: Elaborando Estratégias Para o Fim do Neoliberalismo’, Mark Fisher comenta a perda do impulso ideológico à frente que marcou o domínio do Neoliberalismo em suas décadas de certezas absolutas (dos  anos 80 até a crise de 2008) e também analisa questões que os movimentos da Esquerda precisarão resolver para derrubá-lo de vez. Outros textos interessantíssimos sobre o neoliberalismo podem ser acessados aqui. [N.M.]
[10] O capítulo seguinte do livro (“Um Novo Senso Comum”) trata de ideias como a construção de uma contra-hegemonia. Esperamos disponibilizá-lo no futuro. [N.M.]
[11] Sobre os critérios de desejabilidade, viabilidade e atingibilidade, ver Erik Olin Wright, ‘Envisioning Real Utopias‘ [“Visualizando Utopias Reais“] (Londres: Verso, 2010), pp. 20–5.
[12] Aqui n’O Minhocário já foram publicados vários textos muito interessantes sobre essa ideia de automação completa (e a busca por ela). Talvez o núcleo das reflexões sobre as possibilidades, os riscos e as questões políticas envolvidas com a ideia de automação completa postadas aqui esteja no pequeno livro de Peter Frase, “Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo”. Todos os capítulos do livro valem a leitura, mesmo que separada: “Tecnologia e Ecologia Como Apocalipse e Utopia”, “Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância”, “Rentismo: Um Futuro Automatizado de Abundância Bloqueada Pela Desigualdade”, “Socialismo Como Futuro Automatizado em Resposta à Crise Ambiental” e “Exterminismo: ‘Solução Final’ Num Futuro Automatizado de Desigualdade e Escassez”.
Ver também ‘Comunismo Verde Totalmente Automatizado’, de Aaron Bastani; ‘Lingerie Egípcia e o Futuro Robô‘, ‘Precisamos Dominá-la‘,  de Peter Frase; ‘Tecnologia e Estratégia Socialista‘, de Paul Heideman; ‘A Revolução Cybersyn’, de Eden Medina;  ‘Robôs e Inteligência Artificial: Utopia ou Distopia?‘, de Michael Roberts; ‘Os Robôs Vão Tomar Seu Emprego?‘ de Nick Srnicek & Alex Williams; ‘Rumo a Uma Sociedade Pós-Trabalho‘, de David Frayne; ‘Robôs, Crescimento e Desigualdade‘, de Andrew Berg, Edward F. Buffie, e Luis-Felipe Zanna; ‘Automação e o “Fim do Trabalho” na Mídia Internacional Dominante‘.
A expressão ”Comunismo de Luxo Totalmente Automatizado” /”Comunismo de Luxo Totalmente Automatizado”/“Comunismo Luxuriante Totalmente Automatizado”/ “Comunismo de Abundância Totalmente Automatizado” [do inglês “Fully Automated Luxury Communism” (ou “FALC”)]  vem sendo usada nos últimos anos por alguns grupos nas redes sociais para designar um cenário de abundância de recursos e de tempo livre democratizados num ambiente pós-trabalho, através da busca da automação completa como bandeira política. Ver ‘Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância‘, de Peter Frase. Ver também a página no Facebook “Comunismo de Luxo Totalmente Automatizado [N.M.]
[13] Para um exemplo do primeiro, ver o movimento stakhanovita, ou os comentários de Lenin sobre os métodos de gestão taylorista [ver ‘Tecnologia e Estratégia Socialista’, de Paul Heideman]: “O russo é um trabalhador ruim comparado com as pessoas em países avançados… Devemos organizar na Rússia o estudo e o ensino do sistema Taylor e experimentá-lo e adaptá-lo sistematicamente aos nossos próprios fins.” Vladimir Lenin, “As Tarefas Imediatas do Poder Soviético“, 1918, Marxists Internet Archive, em marxists.org; Lewis H. Siegelbaum, ‘Stakhanovism and the Politics of Productivity in the USSR, 1935–1941‘ [“Stakhanovismo e Política da Produtividade na URSS, 1935-1941“] (Cambridge: Cambridge University Press, 1990). Para uma crítica da idéia de liberdade sem abundância, ver: “Esse desenvolvimento das forças produtivas (…) é uma premissa prática absolutamente necessária, porque sem ela a privação, a necessidade são simplesmente tornadas gerais”. Karl Marx e Friedrich Engels, A Ideologia Alemã (London: Prometheus, 1976), p. 54
[14] Embora não tenhamos espaço para discuti-las aqui, há importantes questões éticas em torno das máquinas e do trabalho – particularmente na área de inteligência artificial. Tais questões deverão se tornar mais significativas nas próximas décadas. Para mais, veja Thomas Metzinger, ‘The Ego Tunnel: The Science of the Mind and the Myth of the Self ‘ [“O Túnel do Ego: A Ciência da Mente e o Mito do Ser“] (New York: Basic Books, 2009); Illah Reza Nourbakhsh, ‘Robot Futures’ [“Futuros Robôs”] (Cambridge, MA: MIT Press, 2013).
[15] Embora dar um fim ao trabalho seja é um tema comum da esquerda, a demanda pela automação total surpreendentemente encontra poucas expressões explícitas. Ver, por exemplo, Eldridge Cleaver, On Lumpen Ideology‘ [“Sobre a Ideologia do Lumpen-Proletariado“], ‘The Black Scholar‘ 4: 3 (1972) [“O Intelectual Negro”]; Valerie Solanas, ‘S.C.U.M. Manifesto (Society for Cutting Up Men)‘ [“O Manifesto S.C.U.M. (Sociedade Pelo Corte dos Homens)” – O nome brinca com a palavra ‘scum’ (‘escumalha’, ‘escória’ em inglês) como uma sigla”] (London: Verso, 2004), p. 3; J. Jesse Ramírez, ‘Marcuse Among the Technocrats: America, Automation, and Postcapitalist Utopias, 1900–1941’ [“Marcuse Entre os Tecnocratas: América, Automação e Utopias Pós-Capitalistas, 1900-1941“], ‘American Studies’ [“Estudos Americanos”] 57: 1 (2012). Mais recentemente, Aaron Bastani da NovaraMedia tem feito apelos por um “Comunismo de Luxo Totalmente Automatizado” [ver video abaixo] e os membros do coletivo ‘Plan C’ [“Plano C”] tem feito apelos de forma semelhante por um “Comunismo de Luxo” – discussões com as quais este livro tenta contribuir. [ver a página no Facebook “Comunismo de Luxo Totalmente Automatizado”. Ver também os textos da [[nota 12]]]
[16] “O desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social é a tarefa histórica e a justificação do capital. Essa é justamente a maneira pela qual ele cria inconscientemente os requisitos materiais de um modo de produção mais elevado. ” – Karl Marx, “O Capital: Crítica da Economia Política, Volume III” (London: Lawrence & Wishart, 1977), p. 259 [na edição inglesa]
[17] Marilyn Fischer, ‘Tensions from Technology in Marx’s Communist Society‘ [“Tensões da Tecnologia na Sociedade Comunista de Marx“], ‘Journal of Value Inquiry‘ [“Periódico de Investigação Sobre o Valor”] 16: 2 (1982), pp. 125-6; Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, ‘The Future of Employment: How Susceptible Are Jobs to Computerisation?‘ [“O Futuro do Emprego: Quão Suscetíveis São os Empregos para a Informatização?“] 17 de setembro de 2013, p. 8; Karl Marx, “O Capital: Crítica da Economia Política, Volume I“, trad. Ben Fowkes (Londres: Penguin, 1990), capítulos 13–15. [edição inglesa]
[18] Karl Marx, “Grundrisse: Introdução à Crítica da Economia Política“, tradução inglesa por Martin Nicolaus (Middlesex: Penguin, 1973), p. 693. [edição inglesa]
[19] Marx, “O Capital, Volume I”, p. 517 [edição inglesa]
[20] Maarten Goos, ‘How the World of Work Is Changing: A Review of the Evidence‘ [“Como o Mundo do Trabalho Está Mudando: Uma Revisão das Evidências“] (Genebra: Organização Internacional do Trabalho, 2013), pp. 10–12; Frey e Osborne, ‘Future of Employment‘ [“Futuro do Emprego“], p. 10
[21] Bruno Latour, ‘How to Write “The Prince” for Machines as Well as Machinations‘ [“Como Escrever ‘O Príncipe’ para Máquinas e Maquinações“], em Brian Elliot, ed., ‘Technology and Social Change’ [“Tecnologia e Mudança Social”] (Edimburgo: Edinburgh University Press, 1988), p. 27
[22] Fiona Tregenna, ‘Manufacturing Productivity, Deindustrialization, and Reindustrialization  [“Produtividade Industrial, Desindustrialização e Reindustrialização“], Instituto Mundial para Pesquisa em Economia do Desenvolvimento, 2011, p. 7
[23] [no original, “small-batch manufacturing“] – Colin Gill, ‘Work, Unemployment and the New Technology‘ [“Trabalho, Desemprego e a Nova Tecnologia“] (Cambridge: Polity, 1985), p. 95
[24] Tessa Morris-Suzuki, ‘Robots and Capitalism‘ [“Robôs e Capitalismo“], em Jim Davis, Thomas Hirschl e Michael Stack, Eds, ‘Cutting Edge: Technology, Information, Capitalism and Social Revolution‘ [“De Ponta: Tecnologia, Informação, Capitalismo e Revolução Social“] (London: Verso, 1997), p. 15; ‘World Robotics: Industrial Robots 2014‘ [“Robótica no Mundo: Robôs Industriais 2014”], Frankfurt: Federação Internacional de Robótica, 2014 p. 15   [Não encontrei a versão de 2014, apenas a de 2017]
[25] Globalmente, 45% dos trabalhadores estão empregados no setor de serviços, 32% na agricultura e 23% na indústria, com mais da metade do crescimento recente de empregos vindo do setor de serviços. ‘ILO, Global Employment Trends 2014: Risk of a Jobless Recovery?‘ [“OIT, Tendências Globais de Emprego 2014: Risco de uma recuperação sem empregos?“] (Genebra: Organização Internacional do Trabalho, 2014), p. 23
[26] Frey e Osborne, ‘Future of Employment‘ [“Futuro do Emprego“], p. 11
[27] Isso não inclui os numerosos robôs vendidos para entretenimento, serviços domésticos e pessoais. ‘World Robotics: Service Robots 2014‘ [“Robótica no Mundo: Robôs de Serviços 2014“], Frankfurt: Federação Internacional de Robótica, 2014, p. 20 [não encontrei a de 2014, apenas a de 2017]
[28] Empregos de rotina caíram de 60% para 40% do total de empregos nos Estados Unidos neste período. David Autor, Frank Levy e Richard Murnane, ‘The Skill Content of Recent Technological Change: An Empirical Exploration‘ [“O Conteúdo de Habilidades da Recente Mudança Tecnológica: Uma Exploração Empírica“], ‘Quarterly Journal of Economics‘ [“Periódico Quadrimestral de Economia”] 118: 4 (2003), p. 1,296; Stefania Albanesi, Victoria Gregory, Christina Patterson e Ayşegül Şahin, ‘Is Job Polarization Holding Back the Job Market?‘ [“A Polarização dos Empregos Está Retendo o Mercado de Trabalho?“] ‘Liberty Street Economics‘ [“Economia da Rua Liberdade”], 27 de março de 2013.
[29] Guido Matias Cortés, Nir Jaimovich, Christopher J. Nekarda e Henry E. Siu, ‘The Micro and Macro of Disappearing Routine Jobs: A Flows Approach‘ [“O Micro e o Macro dos Empregos de Rotina Desaparecendo: Uma Abordagem de Fluxos“], documento de trabalho, ‘National Bureau of Economic Research‘ [“Agência Nacional de Pesquisa Econômica”], julho de 2014.
[30] David Autor, ‘Polanyi’s Paradox and the Shape of Employment Growth‘ [“Paradoxo de Polanyi e o Formato do Crescimento do Emprego“], documento de trabalho, ‘National Bureau of Economic Research‘ [“Agência Nacional de Pesquisa Econômica”], setembro de 2014; Maarten Goos, Alan Manning e Anna Salomons, ‘Job Polarization in Europe‘ [“Polarização de Empregos na Europa“], ‘American Economic Review‘ [“Revista Econômica Americana”] 99: 2 (2009).
[31] “Big data” é uma expressão relacionada com o fato de que atualmente nossas ações geram toneladas de dados para as mais diversas empresas, que os usam, através de algoritmos avançados de reconhecimento de padrões em grandes massas de dados, para identificar perfis que podem ser a base para publicidade ou para o direcionamento de informações específicas, entre muitos outros usos. Há autores socialistas que embasam sua defesa de um novo socialismo justamente no potencial do uso desses dados como base para a produção de bens e serviços para satisfazer as necessidades de todos, utilizando novas formas de planejamento democrático.
Graças à má reputação atual do sistema soviético e à insistência dos neoliberais de vários matizes em criticar e recusar de antemão qualquer debate sobre as possibilidades do planejamento racional democrático como se fosse um anacronismo ridículo, este é um tema que muitas vezes mesmo na Esquerda acaba sendo deixado de lado. No entanto, conforme somos encarados pelos limites ambientais, tanto na forma de limites de reservas de diferentes matérias-primas, quanto na relação entre desperdício, poluição e mudanças climáticas, a irracionalidade da falta de planejamento da produção e da circulação dos bens vai ficando cada vez mais escancarada como uma organização insustentável para a reprodução social humana. Portanto, precisamos refletir sobre o potencial do planejamento democrático da produção e do consumo. Como normalmente a primeira objeção ao planejamento aparece num resgate acrítico da experiência soviética, sobre esse exemplo é necessário lembrar pelo menos que: 1) o que era chamado de planejamento no sistema soviético na prática muitas vezes não ía muito além do estabelecimento e a busca de metas brutas, principalmente para a produção de bens intermediários – e esse planejamento centralizado nos departamentos da GOSPLAN e da GOSNAB não cobria nem mesmo uma fração minúscula de todas as mercadorias produzidas na URSS. Um autor como Mészáros diria que é uma vergonha para a ideia de planejamento democrático que chamemos assim aquela estrutura em ação no sistema soviético; 2) mesmo com os limites desse sistema e sem contar com nem mesmo uma fração do poder computacional e das interconexões entre os pontos de produção e de distribuição dos produtos como hoje é possível, esse sistema foi capaz de, em poucas décadas, tornar a União Soviética na segunda potência industrial e política global – atravessada por contradições, mas ainda assim, o país com maior número de formados em nível universitário, um país sem analfabetos e, em seus melhores tempos, com uma taxa de consumo de calorias bem próxima daquela observada na população dos EUA. Considerar o sistema um “fracasso completo” não passa de um absurdo motivado pela propaganda ideológica. Mais detalhes sobre as características e os problemas do sistema soviético podem ser encontrados nos textos “Economia e Planejamento Soviéticos e as Lições na Queda” e ‘Socialismo, Mercado, Planejamento e Democracia’.
Como Paul Cockshott e Allin Cottrell no primeiro dos posts acima, há vários autores que apostam que o futuro do socialismo passa pelo planejamento democrático da produção e da circulação dos bens, e que apontam como a tecnologia necessária para desenvolver um sistema moderno capaz de calcular dinamicamente as necessidades de uma economia continental segundo o potencial industrial instalado teria se tornado possível, ironicamente, na mesma época em que a União Soviética ruía em crise – entre o final dos anos 80 e início dos 90. Com a universalização dos computadores, da internet e dos celulares, com os sistemas para lidar com grandes bancos de dados e técnicas de Big Data, e os sistemas de comunicação, gerenciamento e distribuição de empresas globais como Amazon, Google, etc, esse objetivo deixa de ser uma utopia futura para se tornar uma questão política. Esses autores inclusive apresentam algoritmos capazes de realizar a função de determinação das metas de produção necessárias para cada produto segundo os níveis atuais de demanda e mostram resultados que indicam como tais algoritmos seriam capazes de serem re-executados para economias continentais facilmente diante de alterações nos níveis de demanda, com a tecnologia de processamento disponível atualmente. Aqui no blog temos vários textos debatendo o potencial do planejamento democrático e os possíveis modelos para o desenvolvimento de uma economia e de uma democracia Socialista:  “Economia e Planejamento Soviéticos e as Lições na Queda” de Paul Cockshott e Allin Cottrell; ‘Socialismo, Mercado, Planejamento e Democracia’, de Seth Ackerman, John Quiggin, Tyler Zimmer, Jeff Moniker, Matthijs Krul, HumanaEsfera; ‘Votando Sob o Socialismo’, de Peter Frase;  ‘Bancos, Finanças, Socialismo e Democracia‘, de Ladislau Dowbor, Nuno Teles e J. W. Mason; ‘Democratizar Isso‘, de Michal Rozworski; Inovação Vermelha, de Tony Smith; A Revolução Cybersyn, de Eden Medina [N.M.]
[32] Morris-Suzuki, “Robots and Capitalism”, p. 17
[33] O significado da impressão 3D (ou manufatura aditiva) reside, em primeiro lugar, em sua capacidade genérica de criar complexidade com uma tecnologia simples – qualquer coisa, desde casas até motores à jato e órgãos vivos, pode ser criada dessa maneira. Em segundo lugar, sua capacidade de reduzir drasticamente os custos de construção (em termos de materiais e de mão-de-obra) anuncia uma nova era na construção de infraestrutura básica e de habitação. Finalmente, sua flexibilidade é um avanço significativo, superando os custos tradicionais associados à reestruturação do investimento fixo para novas linhas de produção. [N.M.: Ver ‘Todo Poder aos “Espaços de Fazedores”’, de Guy Rundle, e ‘Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo’, de Peter Frase]
[34] As empresas privadas facilmente serão as mais rápidas a adotar essa tecnologia, uma vez que podem obter economias de custo significativas. Governos e serviços públicos (como as ferrovias automatizadas do metrô em Londres) provavelmente serão uma segunda onda de adotantes. Eventualmente, com mudanças legais e em seguros, os consumidores serão forçados a adotar essa tecnologia.
[35] Isaac Arnsdorf, ‘Rolls-Royce Drone Ships Challenge $375 Billion Industry: Freight [“Navios-drones da Rolls-Royce Desafiam Indústria de Transporte de $375 bilhões“], Bloomberg, 25 de fevereiro de 2014; BBC News, ‘Amazon Testing Drones for Deliveries‘ [“Amazon Testa Drones Para Entregas“], BBC News, 2 de dezembro de 2013; Danielle Kucera, ‘Amazon Acquires Kiva Systems in Second-Biggest Takeover‘ [“A Amazon Adquire a Kiva Systems na Segunda Maior Aquisição“], Bloomberg, 19 de março de 2012; Vicky Validakis, ‘Rio`s Driverless Trucks Move 100 Million Tonnes‘ [“Caminhões Sem Motoristas da Rio Movem 100 Milhões de Toneladas“], Mining Australia, 24 de abril de 2013; Elise Hu, ‘The Fast-Food Restaurants that Require Few Human Workers [“Os Restaurantes de Fast-Food que Requerem Poucos Trabalhadores Humanos“], 29 de agosto de 2013; Christopher Steiner, ‘Automate This: How Algorithms Came to Rule Our World‘ [“Automatize: Como os Algoritmos Chegaram a Governar Nosso Mundo“] (Nova York: Portfolio / Penguin, 2012); Mark Levinson, ‘The Box: How the Shipping Container Made the World Smaller and the World Economy Bigger [“A Caixa: Como o Contêiner de Transporte Tornou o Mundo Menor e a Economia Mundial Maior“] (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2008); Daniel Beunza, Donald MacKenzie, Yuval Millo e Juan Pablo Pardo-Guerra,’Impersonal Efficiency and the Dangers of a Fully Automated Securities Exchange‘ [“Eficiência Impessoal e os Riscos de uma Bolsa de Valores Totalmente Automatizada“] (London: Foresight, 2011).
[36] Para um resumo um pouco desatualizado, mas ainda útil, de vários processos de automação, veja Ramin Ramtin, ‘Capitalism and Automation: Revolution in Technology and Capitalist Breakdown‘ [“Capitalismo e Automação: Revolução na tecnologia e Colapso Capitalista“] (London: Pluto, 1991), Capítulo 4.
[37] Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, ‘The Second Machine Age: Work, Progress, and Prosperity in a Time of Brilliant Technologies‘ [“A Segunda Era das Máquinas: Trabalho, Progresso e Prosperidade em uma Época de Tecnologias Brilhantes“] (Nova York: W. W. Norton, 2014), Capítulos 2–4.
[38] Ibid., Capítulo 1; Frey e Osborne,  ‘Future of Employment‘ [“O Futuro do Emprego“], p. 44
[39] Paul Lippe e Daniel Martin Katz, ‘10 Predictions About How IBM’s Watson Will Impact the Legal Profession‘ [“10 Previsões Sobre Como o Watson da IBM Afetará a Profissão de Advogado“], ABA Journal, 2 de outubro de 2014.
[40] Brynjolfsson e McAfee, ‘The Second Machine Age‘ [“A Segunda Era das Máquinas“], Capítulo 2.
[41] Dave Cliff, Dan Brown e Philip Treleaven, ‘Technology Trends in the Financial Markets: A 2020 Vision‘ [“Tendências Tecnológicas nos Mercados Financeiros: Uma Visão de 2020“] (London: Foresight, 2011), p. 36. O cronograma exato de automação dos mercados financeiros depende do produto em consideração. Para uma descrição da adoção desigual de automação de operações financeiras, ver Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, ‘Technology at Work: The Future of Innovation and Employment‘ [“Tecnologia no Trabalho: O Futuro da Inovação e do Emprego“], (Citi – Perspectivas Globais e Soluções, 2015), pp. 26–7.
[42] Vauhini Vara, ‘The Lowe’s Robot and the Future of Service Work‘ [“O Robô da Lowe e o Futuro do Trabalho no Setor de Serviços“], New Yorker, 29 de outubro de 2014.
[43] Frey e Osborne,  ‘Future of Employment‘ [“O Futuro do Emprego“], p. 19.
[44] Ibid., p. 42.
[45] Num inesperado ressurgimento de uma antiga teoria marxista, dois modelos recentes sugerem que a automação levará à miséria dos trabalhadores: Jeffrey Sachs, Seth Benzell e Guillermo LaGarda, ‘Robots: Curse or Blessing? A Basic Framework‘ [“Robôs: Maldição ou Bênção? Um Arcabouço Básico“], Documento de Trabalho, ‘National Bureau of Economic Research‘ [“Agência Nacional de Pesquisa Econômica”], abril de 2015; Seth Benzell, Laurence Kotlikoff, Guillermo LaGarda e Jeffrey Sachs, ‘Robots Are Us: Some Economics of Human Replacement‘ [“Os Robôs Somos Nós: Alguns Aspectos Econômicos da Substituição Humana“], Documento de Trabalho, ‘National Bureau of Economic Research‘ [“Agência Nacional de Pesquisa Econômica”], fevereiro de 2015. [N.M.: Estes modelos não se resumem aos ambientes do pensamento influenciado pelas bases teóricas marxistas: Mesmo em alguns grupos de pesquisa dentro do FMI modelos têm sugerido resultados semelhantes, como podemos ver em “Robôs, Crescimento e Desigualdade”, de Andrew Berg, Edward F. Buffie, e Luis-Felipe Zanna. Dois cenários de distopia futura derivada da automação sob o poder das classes dominante nesse sentido podem ser vistos em “Rentismo: Um Futuro Automatizado de Abundância Bloqueada Pela Desigualdade” e “Exterminismo: ‘Solução Final’ Num Futuro Automatizado de Desigualdade e Escassez”, de Peter Frase]
[46] Uma ótima série de reflexões sobre as possibilidades, os riscos e as questões políticas envolvidas com a ideia de automação completa está no pequeno livro de Peter Frase, “Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo”. tentam imaginar as possibilidades de futuro após o fim da produção de mercadorias através de trabalho assalariado e, com isso, do Capitalismo – partindo dos enormes avanços tecnológicos atuais e dos mais prováveis nas próximas décadas e imaginando que, no limite, essas tendências poderiam reduzir a um mínimo ou eliminar a necessidade de trabalho humano. O centro do argumento é que se chegarmos nesse ponto, o aspecto da sociedade vai depender basicamente de dois eixos principais: das futuras condições materiais (escassez ou abundância de recursos naturais e de fontes de energia limpa para os sistemas automatizados) e políticas (mais igualdade ou mais hierarquia, dependendo do sucesso ou do fracasso dos esforços das Esquerdas em domar a desigualdade e as hierarquias da sociedade atual). Da combinação de possibilidades nesses dois eixos temos os quatro futuros que o autor descreve, com o apoio de imagens da ficção científica e buscando as características de cada futuro em aspectos já verificados em nossa sociedade atual: Igualdade e Abundância (“Comunismo”), Igualdade e Escassez (“Socialismo”), Hierarquia e Abundância (“Rentismo”), Hierarquia e Escassez (“Exterminismo”) – basicamente, estamos falando de “dois socialismos” e “duas barbáries”. Todos os capítulos do livro valem a leitura, mesmo que separada: “Tecnologia e Ecologia Como Apocalipse e Utopia”, “Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância”, “Rentismo: Um Futuro Automatizado de Abundância Bloqueada Pela Desigualdade”, “Socialismo Como Futuro Automatizado em Resposta à Crise Ambiental” e “Exterminismo: ‘Solução Final’ Num Futuro Automatizado de Desigualdade e Escassez”. [N.M.]
[47] Lawrence Summers, ‘Roundtable: The Future of Jobs‘ [“Mesa Redonda: O Futuro dos Empregos“], apresentada em ‘The Future of Work in the Age of the Machine‘ [“O Futuro do Trabalho na Era das Máquinas“], Hamilton Project, Washington, DC, 19 de fevereiro de 2015. A OIT também defende que o lento crescimento global de empregos está relacionado, em grande parte, ao lento crescimento econômico – mas eles também observam que o crescimento da produtividade se recuperou mais rápido do que o crescimento dos empregos. OIT, ‘World Employment and Social Outlook: The Changing Nature of Jobs‘ [“Panorama Mundial de Empregos e de Condições Sociais: A Natureza Mutável do Emprego“] (Genebra: Organização Internacional do Trabalho, 2015), pp. 19, 23. [N.M. – ver também “Tecnologia e Ecologia Como Apocalipse e Utopia”, de Peter Frase]
[48] ‘Bank of International Settlements, Annual Report, 2013/2014‘ [“Banco de Compensações Internacionais, Relatório Anual, 2013/2014“] (‘Basileia: Bank for International Settlements‘ [“Basileia: Banco de Compensações Internacionais”], 2014), pp. 58–60; Robert Gordon, ‘US Productivity Growth: The Slowdown Has Returned After a Temporary Revival‘ [“Crescimento da Produtividade dos EUA: A Lentidão Voltou, Após um Reavivamento Temporário“], ‘International Productivity Monitor 25’ [“Monitor Internacional de Produtividade”] (2013); David Autor,  ‘Roundtable: The Future of Jobs‘ [“Mesa Redonda: O Futuro dos Empregos“], apresentada em ‘The Future of Work in the Age of the Machine‘ [“O Futuro do Trabalho na Era das Máquinas“], Hamilton Project, Washington, DC, 19 de Fevereiro de 2015.
[49] A ideia de que os baixos salários gerados pelas reformas neoliberais vem impedindo mais avanços de produtividade pode ser vista em Lingirie Egípcia e o Futuro Robô e em Tecnologia e Ecologia Como Apocalipse e Utopia, de Peter Frase. [N.M.]
[50] Susantu Basu e John Fernald, ‘Information and Communications Technology as a General-Purpose Technology: Evidence from U.S. Industry Data‘ [“Tecnologia da Informação e de Comunicação como uma Tecnologia de Propósito Geral: Evidências dos dados da Indústria dos EUA“] (São Francisco: documento de trabalho da ‘Federal Reserve Bank of San Francisco‘ [“Banco Federal do Tesouro de São Francisco”], 2006), p. 17.
[51] No entanto, pesquisas recentes sugerem que robôs industriais já contribuíram com cerca de 16% do crescimento recente da produtividade do trabalho. Georg Graetz e Guy Michaels, ‘Robots at Work‘ [“Robôs no Trabalho“] (Londres: ‘Center for Economic Performance‘ [“Centro Para Performance Econômica”], 2015), p. 21.
[52] Frey e Osborne, ‘Technology at Work‘ [“Tecnologia no Trabalho”], p. 40.
[53] Frey e Osborne,  ‘Future of Employment‘ [“O Futuro do Emprego“], p. 38; Stuart Elliott, ‘Anticipating a Luddite Revival’ [“Antecipando Um Renascimento Ludita”], ‘Issues in Science and Technology’ [“Questões Sobre Ciência e Tecnologia”] 30: 3 (2014).
[54] A resposta marxista padrão à automação completa é apontar para seus limites “objetivos”, argumentando que o capitalismo nunca eliminará sua fonte de mais-valia (ou seja, a mão-de-obra). Mas esse argumento confunde um resultado sistêmico com um incentivo individual, uma barreira interna com um limite absoluto e uma luta política com uma tensão teórica. Em primeiro lugar, os imperativos individuais são para aumentar a produtividade da tecnologia para obter mais-valia extra em relação a outros capitalistas; o resultado sistêmico disso é prejudicial para todos os capitalistas (menos mais-valia sendo produzida), mas continua sendo benéfico para os capitalistas individuais e, portanto, continuará sendo adotado. Em segundo lugar, os limites do modo de produção capitalista são considerados, erroneamente, como sendo os limites de qualquer mudança possível: Se o capitalismo não pode sobreviver com automação completa, considera-se que ela não deve ser possível. Tal posição torna o capitalismo o ponto final da história, rejeitando de antemão qualquer possibilidade pós-capitalista. Finalmente, a tensão derivada teoricamente entre o aumento da produtividade, o aumento da composição orgânica [de capital] e a redução da taxa de lucro é tomada como se representasse uma situação que o Capital nunca permitirá que ocorra, por causa de seus efeitos sistêmicos. O que falta nessa observação é um movimento político que lutaria para empurrar o capitalismo para além de si mesmo. Em outras palavras, o argumento de que a automação completa nunca ocorrerá simplesmente postula que a luta política é ineficaz. No final, essa linha de raciocínio desiste de todo relato crítico ao capitalismo e o aceita como o estágio final da História. Como coloca Ramin Ramtin sem rodeios, “o fato de que {a automação completa} resultaria em contradições socioeconômicas e políticas explosivas não a torna impossível” (Ramtin, ‘Capitalism and Automation‘ [“Capitalismo e Automação“] , p. 103). A simples aposta da demanda pela automação completa é em que a riqueza pode ser produzida de formas não capitalistas. Para críticas representativas à automação completa, ver Ernest Mandel, ‘Late Capitalism‘ [“Capitalismo Tardio” – na versão em espanhol, ‘El Capitalismo Tardio‘] (Londres: Verso, 1998), p. 205 [na versão inglesa]; George Caffentzis, ‘The End of Work or the Renaissance of Slavery? A Critique of Rifkin and Negri‘ [“O Fim do Trabalho ou o Renascimento da Escravidão? Uma crítica de Rifkin e Negri”] em ‘In Letters of Blood and Fire‘ [“Em Cartas de Sangue e Fogo”] (Oakland, CA: PM Press, 2012), p. 78
[55] Deve-se mencionar que, cada vez mais, tarefas de conhecimento tácito vêm sendo automatizadas através de controle do ambiente e de aprendizado de máquina, com inovações mais recentes eliminando até mesmo a necessidade de um ambiente controlado. Frey e Osborne, ‘Future of Employment‘ [“Futuro do Emprego“], p. 27; Autor, ‘Polanyi’s Paradox‘ [“Paradoxo de Polanyi“]; Sarah Yang, ‘New “Deep Learning” Technique Enables Robot Mastery of Skills via Trial and Error’ [“Nova Técnica de ‘Aprendizagem Profunda’ Permite Que Robô Domine Habilidades via Tentativa e Erro”], phys.org, 21 de Maio de 2015.
[56] Como observa Marx, por causa disso, “o campo de aplicação do maquinário seria, portanto, inteiramente diferente em uma sociedade comunista do que é na sociedade burguesa”. Marx, “O Capital, Volume I”, p. 515 n. 33. [edição inglesa]
[57] Silvia Federici, ‘Permanent Reproductive Crisis: An Interview’ [“Crise Reprodutiva Permanente: Uma Entrevista”], Mute, 7 de Março de 2013.
[58] Para uma excelente visão geral das experiências históricas de arranjos domésticos alternativos, ver Dolores Hayden, ‘Grand Domestic Revolution: A History of Feminist Designs for American Homes, Neighbourhoods and Cities‘ [“Grande Revolução Doméstica: Uma História de Projetos Feministas para Casas, Bairros e Cidades Estadundenses“] (Cambridge: MIT Press, 1996).
[59] No entanto, é importante reconhecer que, historicamente, dispositivos domésticos de economia de mão-de-obra tendem a colocar maiores demandas sobre a manutenção doméstica, ao invés de de permitir mais tempo livre. Ruth Schwartz Cowan, ‘More Work for Mother: The Ironies of Household Technology from the Open Hearth to the Microwave [“Mais Trabalho Para a Mãe: As Ironias da Tecnologia do Lar, da Lareira Aberta ao Micro-Ondas“] (New York: Basic Books, 1985); Leopoldina Fortunati, ‘The Arcane of Reproduction: Housework, Prostitution, Labor and Capital‘ [“O Arcano da Reprodução: Trabalho Doméstico, Prostituição, Mão de Obra e Capital“] (Brooklyn: Autonomedia, 1995), p. 145; Silvia Federici, ‘The Reproduction of Labor Power in the Global Economy and the Unfinished Feminist Revolution’ [“A reprodução da Força de Trabalho na Economia Global e a Revolução Feminista Inacabada“], em ‘Revolution at Point Zero: Housework, Reproduction and Feminist Struggle‘ [“Revolução no Ponto Zero: Trabalho Doméstico, Reprodução e Luta Feminista“] (Oakland, CA: PM Press, 2012), pp. 106-7.
[60] no original, “naturally nurturing”. [N.M.]
[61] Aqui queremos dizer “produtividade” no sentido estritamente marxista, e não como uma sugestão de que o trabalho doméstico é ocioso.
[62] ‘Robot Capable of Sorting Through and Folding Piles of Rumpled Clothes’ [“Robô Capaz de Classificar e Dobrar Pilhas de Roupas Amarrotadas”] Phys.org, 16 de Março 2015.
[63] Agradeço a Helen Hester por enfatizar esse ponto para nós.
[64] Shulamith Firestone, ‘The Dialectic of Sex: The Case for Feminist Revolution’ [“A Dialética do Sexo: Uma Defesa da Revolução Feminista”] (New York: Farrar, Straus & Giroux, 2003), pp. 180–1.
[65] E. P. Thompson, ‘Time, Work-Discipline, and Industrial Capitalism‘ [“Tempo, Disciplina de Trabalho e Capitalismo Industrial“], ‘Past & Present‘ [“Passado & Presente”] 38: 1 (1967), p. 85; Stanley Aronowitz, Dawn Esposito, William DiFazio e Margaret Yard, ‘The Post-Work Manifesto‘ [“O Manifesto Pós-Trabalho“], em Stanley Aronowitz e Jonathan Cutler, editores, ‘Post-Work: The Wages of Cybernation‘ [“Pós-Trabalho: Os Salários da Ciber-nação“] (Nova York: Routledge, 1998), pp. 60; David Graeber, ‘Revolution at the Level of Common Sense‘ [“Revolução no Nível do Bom Senso“], em Federico Campagna e Emanuele Campiglio, editores, ‘What We Are Fighting For: A Radical Collective Manifesto‘ [“Pelo Que Lutamos: Um Manifesto Coletivo Radical“] (London: Pluto, 2012), p. 171.
[66] Benjamin Kline Hunnicutt, ‘Work Without End: Abandoning Shorter Hours for the Right to Work’ [“Trabalho Sem Fim: Abandonando as Jornadas Mais Curtas Pelo Direito de Trabalho”] (Philadelphia: Temple University Press, 1988), p. 9.
[67] Roland Paulsen, ‘Non-Work at Work: Resistance or What?’ [“Não-Trabalho no Trabalho: Resistência ou O Quê?”], Organization, 2013.
[68] Witold Rybczynski, ‘Waiting for the Weekend’ [“Esperando Pelo Fim de Semana”] (New York: Penguin, 1991), pp. 115–17; Thompson, ‘Time, Work-Discipline, and Industrial Capitalism‘ [“Tempo, Disciplina de Trabalho e Capitalismo Industrial“], p. 76.
[69] Rybczynski, ‘Waiting for the Weekend’ [“Esperando Pelo Fim de Semana”], p. 133.
[70] Hunnicutt, ‘Work Without End’ [“Trabalho Sem Fim”], p. 1.
[71] Ibid., p. 155.
[72] Ibid., pp. 147–9.
[73] Paul Lafargue, ‘The Right to Be Lazy’ [“O Direito À Preguiça”], em Bernard Marszalek, editor, ‘The Right to Be Lazy: Essays by Paul Lafargue’ [“O Direito à Preguiça: Ensaios de Paul Lafargue”] (Oakland: AK Press, 2011), p. 34.
[74] John Maynard Keynes, Economic Possibilities for Our Grandchildren (1930),” [‘Possibilidades Econômicas para Nossos Netos’], em ‘Essays in Persuasion’ [“Ensaios em Persuasão”] (New York: W. W. Norton, 1963); Hunnicutt, ‘Work Without End’ [“Trabalho Sem Fim”], p. 155.
[75] Marx, “O Capital: Crítica da Economia Política, Volume III“, p. 820. [edição inglesa]
[76] [no original,”makework programmes in response to unemployment” – N.M.] Hunnicutt, ‘Work Without End’ [“Trabalho Sem Fim”], Capítulo 7.
[77] Um punhado de países da UE – mais notavelmente a França – chegou a reduzir a semana de trabalho para apenas trinta e cinco horas, mas a tendência geral tem sido por manter uma semana de trabalho de 40 horas. A década de 1970 também assistiu alguns setores fazendo greves em apoio explícito a uma semana de trabalho mais curta. Ibid., P. 198; Anders Hayden, ‘Patterns and Purpose of Work-Time Reduction: A Cross-National Comparison‘ [“Padrões e Propósito da Redução do Tempo de Trabalho: Uma Comparação entre Países“], em Anna Coote e Jane Franklin, ‘Time on Our Side: Why We All Need a Shorter Working Week‘ [“O Tempo do Nosso Lado: Por que todos precisamos de uma semana de trabalho mais curta“] (Londres: New Economics Foundation, 2013 ), p. 128; Aronowitz et al., ‘Post-Work Manifesto‘ [“Manifesto Pós-Trabalho“], p. 63; Chris Harman, ‘Is a Machine After Your Job? New Technology and the Struggle for Socialism‘ [“Tem Uma Máquina Atrás do Seu Emprego? Nova Tecnologia e a Luta pelo Socialismo“] (Londres, 1979), Parte 8.
[78] Hunnicutt, ‘Work Without End’ [“Trabalho Sem Fim”], p. 2.
[79] Notavelmente, isso parece ter atingido um ponto de virada nos EUA. Apesar da adição de 40 milhões de novos trabalhadores, o número total de horas de trabalho permaneceu o mesmo entre 1998 e 2013. Shawn Sprague, ‘What Can Labor Productivity Tell Us About the U.S. Economy?‘ [“O Que a Produtividade do Trabalho Pode Nos Dizer Sobre a Economia dos EUA?“], ‘Beyond the Numbers: Productivity‘ [“Além dos Números: Produtividade“] 3: 12 (2014), p . 1
[81] Nos EUA existem muitos empregos de meio período ou duração curta e variável. [N.M.]
[82] Lydia Saad, ‘The “40-Hour” Workweek Is Actually Longer – by Seven Hours’ [“A Semana de Trabalho de 40 Horas Na Verdade é Mais Longa – Em 7 Horas”], Gallup, 29 de Agosto 2014.
[83] Valerie Bryson, ‘Time, Care and Gender Inequalities’ [“Tempo, Cuidados e Desigualdades de Gênero”],em Coote e Franklin, ‘Time on Our Side’ [“O Tempo do Nosso Lado”], p. 56.
[84] ainda raros no Brasil, mas já bem conhecidos em países como a Inglaterra. [N.M.]
[85] Craig Lambert, ‘The Second Job You Don’t Know You Have’ [“O Segundo Emprego Que Você Não Sabia Que Tinha”], Politico, 20 de Maio 2015.
[86] Guy Standing, ‘The Precariat: The New Dangerous Class’ [“O Precariado: A Nova Classe Perigosa”] (London: Bloomsbury Academic, 2011), pp. 120–7.
[87] Os múltiplos argumentos por semanas de trabalho mais curtas têm sido repetidos ao longo da história: os benefícios para a saúde física e mental; a resposta ao desemprego tecnológico; a melhoria de produtividade que poderia gerar; e a melhor posição de barganha que geraria para os trabalhadores. Esses argumentos eram tão dominantes no início do século XX quanto são agora.
[88] David Rosnick e Mark Weisbrot, ‘Are Shorter Work Hours Good for the Environment? A Comparison of US and European Energy Consumption’ [“Jornadas de Trabalho Mais Curtas São Boas Para o Meio-Ambiente? Uma Comparação do Consumo de Energia Estadunidense e Europeu”], ‘Center for Economic and Policy Research’ [“Centro de Pesquisa Econômica e Política”], Dezembro de 2006, p. 7; Anders Hayden e John M. Shandra, ‘Hours of Work and the Ecological Footprint of Nations: An Exploratory Analysis’ [“Horas de Trabalho e a Pegada Ecológica das Nações: Uma Análise Exploratória”], ‘Local Environment’ [“Ambiente Local”] 14: 6 (2009).
[89] Juliet Schor, ‘The Triple Dividend’ [“O Triplo Dividendo”], em Coote e Franklin, ‘Time on Our Side’ [“O Tempo do Nosso Lado”], pp. 9–10.
[90] Denis Campbell, ‘UK Needs Four-Day Week to Combat Stress, Says Top Doctor’ [“O Reino Unido Precisa de Uma Semana de Trabalho de 4 Dias Para Combater o Estresse, Diz Um Dos Maiores Especialistas No Assunto”], Guardian, 1 de Julho de 2014. [N.M.: ver também Um Mundo Insano: Capitalismo e a Epidemia de Doenças Mentais, de Rod Tweedy e Mark Fisher]
[91] no original, “work to contract”. [N.M.]
[92]. Ibid., pp. 20–1.
[93] Mondli Hlatshwayo, NUMSA and Solidarity’s Responses to Technological Changes at the ArcelorMittal Vanderbijlpark Plant: Unions Caught on the Back Foot [“A Resposta do NUMSA e do Solidariedade às Mudanças Tecnológicas na Fábrica da ArcelorMittal em Vanderbijlpark: Sindicatos Pegos Desprevinidos”], ‘Global Labour Journal’ [“Periódico Sobre a Mão de Obra Global”] 5: 3 (2014); Ramtin, ‘Capitalism and Automation‘ [“Capitalismo e Automação“], p. 132.
[94] Essa foi uma posição em torno da qual flutuou a TUC no Reino Unido nos anos 70, e que conquistou algum sucesso com os metalúrgicos na Alemanha Ocidental. Gill, ‘Work, Unemployment and the New Technology‘ [“Trabalho, Desemprego e a Nova Tecnologia“], pp. 171–2.
[95] Foi isso que ocorreu na greve de caminhoneiros franceses de 1966. Alan Riding, ‘French Trucker Strike Ends with Indirect Defeat for Government’ [“Greve de Caminhoneiros Franceses Termina Com Derrota Indireta Para o Governo”], New York Times, 30 de Novembro de 1996.
[96] André Gorz, ‘Paths to Paradise: On the Liberation from Work’ [“Caminhos Para o Paraíso: Sobre a Libertação em Relação Ao Trabalho”], tradução para o inglês por Malcolm Imrie (Boston: South End Press, 1985), p. 46.
[97] Anna Coote, Jane Franklin e Andrew Simms, ‘21 Hours’ [“21 Horas: Argumentos Por Uma Semana de Trabalho Mais Curta”]  (London: New Economics Foundation, 2010); Tom Hodgkinson, ‘Campaigners Call for 30-Hour Working Week to Allow for Healthier, Fairer Society – and More Time for Fun’ [“Manifestante Demandam uma Semana de 30 Horas de Trabalho Para Permitir uma Sociedade Mais Saudável e Justa – E Mais Tempo Para Diversão”], Independent, 24 de Abril de 2014.
[98] Jo Littler, Nina Power e ‘Precarious Workers Brigade’ [“Brigada dos Trabalhadores Precários”], ‘Life After Work’ [“Vida Depois do Trabalho”], New Left Project, 20 de Maio de 2014.
[99] Will Dahlgreen, ‘Introduce a Four Day Week, Say Public’ [“Introduzam uma Semana de Quatro Dias, Diz o Público”], YouGov, 16 de Abril de 2014.
[100] Schor, ‘Triple Dividend’ [“O Triplo Dividendo”], p. 8.
[101] Anna Coote, ‘Introduction: A New Economics of Work and Time’ [“Introdução: Uma Nova Economia do Trabalho e do Tempo”], em Coote e Franklin, ‘Time on Our Side’ [“O Tempo do Nosso Lado”], p. xxi; Hayden, ‘Patterns and Purpose of Work-Time Reduction‘ [“Padrões e Propósito da Redução do Tempo de Trabalho“].
[102] O subcabeçalho acima [no original, “The Salary Doesn’t Fit”] é da canção de Sleaford Mods com o mesmo nome.
[103] Paul Mattick, ‘The Economics of Cybernation’ [“A Economia da Cibernação”], ‘New Politics’ [“Nova Política”] 1: 4 (1962), p. 30.
[104] no original, “underemployed” [N.M.]
[105] A ideia também tem sido chamada de ‘renda garantida‘, ‘dividendo social‘, ‘renda cidadã‘ e de ‘imposto de renda negativo‘. Cada um destes nomes invoca uma variação ligeiramente diferente. Preferimos o termo ‘renda básica universal‘ porque ele não limita imediatamente quem pode receber a renda (como a idéia de ‘renda cidadã’), e não depende de um teto de renda (como um ‘imposto de renda negativo’).
[Nota do MInhocárioVários textos aqui n’O Minhocário discutem diferentes aspectos e razões no debate sobre uma “Renda Mínima Universal”. Nas palavras de Peter Frase, “ Trata-se simplesmente da proposta de conceder a cada pessoa uma quantia garantida de dinheiro que ela receberia de forma absolutamente incondicional, independentemente de trabalho ou qualquer outra qualificação. Idealmente, a concessão seria estabelecida alta o suficiente para permitir que as pessoas vivam em um nível de decência básica, elas trabalhando ou não.” Ver  ‘Renda Básica e o Futuro do Trabalho‘, de David Raventós e Julie Wark ; ‘Políticas Para Se ‘Arranjar Uma Vida’‘,  ‘Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância‘ e ‘Socialismo Como Futuro Automatizado e Igualitário em Resposta à Crise Ambiental’, de Peter Frase; ‘Vivo Sob o Sol’, de Alyssa Battistoni;  ‘Rumo a Uma Sociedade Pós-Trabalho‘, de David Frayne; ‘Comunismo Verde Totalmente Automatizado’, de Aaron Bastani; ‘Automação e o ‘Fim do Trabalho’ na Mídia Internacional Dominante’; Robôs, Crescimento e Desigualdade, de Andrew Berg, Edward F. Buffie, e Luis-Felipe Zanna; ‘Os Robôs Vão Tomar Seu Emprego?’, de Nick Srnicek e Alex Williams; e  ‘O Socialismo Vai Ser Chato?‘, de Danny Katch]
[106] A RBU tem sido defendida por numerosos pensadores. Veja, entre muitas outras fontes, Thomas Paine, ‘Agrarian Justice‘ [“Justiça Agrária“], em ‘Rights of Man, Common Sense, and Other Political Writings‘ [“Direitos do Homem, Senso Comum e Outros Escritos Políticos“], ed. Mark Philp (Oxford: Oxford University Press, 2008); Bertrand Russell, ‘Roads to Freedom: Socialism, Anarchism and Syndicalism‘ [“Estradas Para a Liberdade: Socialismo, Anarquismo e Sindicalismo“] (Nottingham: porta-voz, 2006); Robert Theobald, ed., ‘The Guaranteed Income: Next Step in Economic Evolution?‘ [“A Renda Garantida: Próximo Passo na Evolução Econômica?“] (Garden City, NY: Doubleday, 1966); Martin Luther King, ‘Where Do We Go from Here? Chaos or Community?‘ [“Para Onde Vamos a Partir Daqui? Caos ou Comunidade?“] (Boston, MA: Beacon, 2010); Milton Friedman, ‘Capitalism and Freedom: Fortieth Anniversary Edition‘ [“Capitalismo e Liberdade: Edição do Quadragésimo Aniversário“] (Chicago: University of Chicago Press, 2002); Murray Bookchin, ‘Post-Scarcity Anarchism‘ [“Anarquismo Pós-Escassez“] (Edimburgo: AK Press, 2004); Michael Hardt e Antonio Negri, ‘Empire‘ [“Império“] (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2001); Weeks, ‘The Problem with Work’ [“O Problema Com o Trabalho”].
[107] Walter Van Trier, ‘Who Framed “Social Dividend”?’ [“Quem Se Enquadrou no ‘Dividendo Social’?”], apresentado na primeira Conferência USBIG, CUNY, Nova Iorque, 8 de Março de 2002, p. 29.
[108] Lynn Chancer, ‘Benefitting from Pragmatic Vision, Part I: The Case for Guaranteed Income in Principle’ [“Beneficiando-se de Uma Visão Pragmática, Parte I: Um Argumento pela Renda Garantida Como Princípio”], em Aronowitz e Cutler, ‘Post-Work‘ [“Pós-Trabalho“], p. 86.
[109] Evelyn Forget, ‘The Town with No Poverty: Using Health Administration Data to Revisit Outcomes of a Canadian Guaranteed Annual Income Field Experiment’ [“A Cidade Sem Pobreza: Usando Dados da Administração de Saúde Para Revisitar os Resultados de um Experimento de Campo Canadense Com uma Renda Anual Garantida”] (Winnipeg: University of Manitoba, 2011); Derek Hum e Wayne Simpson, ‘A Guaranteed Annual Income? From Mincome to the Millennium’ [“Uma Renda Anual Garantida? Do Mincome ao Millenium”], Policy Options/Options Politique, Fevereiro de 2001.
[110] Chancer, ‘Benefitting from Pragmatic Vision, Part I’ [“Beneficiando-se de Uma Visão Pragmática, Parte I”], em Aronowitz e Cutler, ‘Post-Work‘ [“Pós-Trabalho“], p. 86.
[111] Especificamente nos Estados Unidos, eles incluíam o Plano de Assistência à Família de Nixon [“Family Assistance Plan”] e o Programa de Melhores Empregos e Renda [“Better Jobs and Income Program”] de Carter, nenhum dos quais foi aprovado. Na Austrália, uma renda garantida também foi recomendada pela Comissão da Pobreza em 1973, mas o apoio a ela evaporou depois que as eleições trouxeram um novo governo. Ibid., Pp. 87-9; Barry Jones, ‘Sleepers Wake! Technology and The Future of Work‘ [“Dormentes, Acordem! Tecnologia e o Futuro do Trabalho“] (London: Oxford University Press, 1982), pp. 204–5.
[112] Um recurso indispensável para a história por trás dessa ascensão e queda em uma política de renda básica, juntamente com um guia essencial sobre como o enquadramento cultural afeta a viabilidade da política, está em Brian Steensland, ‘The Failed Welfare Revolution: America’s Struggle over Guaranteed Income Policy‘ [“A Fracassada Revolução do Bem-Estar: A Luta Estadunidense Sobre Uma Política de Renda Garantida“], NJ: Princeton University Press, 2007).
[113] Daniel Raventós, ‘Basic Income: The Material Conditions of Freedom’ [“Renda Básica: As Condições Materiais da Liberdade”], transl. Julie Wark (London: Pluto Press, 2007), p. 12.
[114] Paul Krugman, ‘Sympathy for the Luddites’ [“Simpatia pelos Luditas”], New York Times, 13 de Junho de 2013; Martin Wolf, ‘Enslave the Robots and Free the Poor’ [“Escravizar os Robôs e Libertar os Pobres”], Financial Times, 11 February 2014.
[115] A proposta acabou recusada – ver “The Swiss Universal Basic Income Vote 2016: What’s Next?” [“O Voto Suíço de 2016 Sobre a Renda Básica Universal: E Agora?”], de Che Wagner. [N.M.]
[116] Mais especificamente, o Partido Verde da Inglaterra e de Gales o incluiu em seu manifesto; o Partido Liberal do Canadá colocou a ideia em sua agenda, e seu líder pressionou por ela em 2001; no Canadá, a Comissão Permanente do Senado para Assuntos Sociais [“Standing Senate Committee on Social Affairs”] a recomendou como uma maneira de lidar com a pobreza; e os suíços votaram em um referendo sobre a idéia. [A proposta foi recusada por 77% dos participantes] Denis Balibouse, ‘Swiss to Vote on 2,500 Franc Basic Income for Every Adult‘ [“Suíça Votará Sobre 2.500 Francos de Renda Básica Para Todos os Adultos“], Reuters, 4 de outubro de 2013; Hum e Simpson, ‘A Guaranteed Annual Income?‘ [“Uma Renda Anual Garantida?“]; Rigmar Osterkamp, ‘The Basic Income Grant Pilot Project in Namibia: A Critical Assessment‘ [“O Projeto Piloto de Concessão de Renda Básica na Namíbia: Uma Avaliação Crítica“], ‘Basic Income Studies‘ [“Estudos de Renda Básica“] 8: 1 (2013); Davala et al., ‘Basic Income’ [“Renda Básica”]; Forget, ‘The Town with No Poverty’ [“A Cidade Sem Pobreza”] , p. 2.
[117] Davala et al., ‘Basic Income’ [“Renda Básica”]; Barbara Jacobson, ‘Basic Income Is a Human Right! A Report on the Demonstration in Berlin’, Renda Básica UK, 29 de Setembro de 2013; Alfredo Mazzamauro, ‘“Only One Big Project”: Italy’s Burgeoning Social Movements’ [“Apenas Um Grande Projeto: Movimentos Sociais Florescentes na Itália”], ROAR Magazine, 20 de Janeiro de 2014. A Rede da Terra Pela Renda Básica [“Basic Income Earth Network” (BIEN)], tem feito campanha pela Renda Básica Universal desde 1986.
[118] Optamos por traduzir como “libertariano” ao invés de “libertário” por razões políticas: 1) em respeito aos anarquistas e outros grupos que de fato defendem uma liberdade radical; 2) para diferenciar deles as posições de Direita relacionada à ideia de liberalismo econômico e expansão da esfera do Mercado de maneira radical. Há pela Esquerda muitas críticas à apropriação pela Direita “liberal” da ideia de Liberdade, juntamente de acusações de que a ordem defendida por tais “liberais” não corresponde à uma expansão da Liberdade para a maioria das pessoas – ver Pelo menos o Capitalismo é Livre e Democrático, né de Erik Olin Wright; As Perspectivas da Liberdade, de David Harvey; O Mercado é Mesmo Bom? de Luis Felipe Miguel; e Uma Filosofia Para o Proprietariado, de Rob Hunter.
Uma forma com que a Renda Básica Universal poderia ser o fundamento de uma distopia “libertariana” é descrita por Peter Frase em “Rentismo: Um Futuro Automatizado de Abundância Bloqueada Pela Desigualdade”, onde a automação quase completa gera um cenário de abundância bloqueado por “pedágios” artificiais criados através de leis duras de direitos autorais e taxas advindas delas. Nesse cenário, a Renda Básica pode ser um mecanismo para compensar a crônica falta de demanda pelos produtos criados pelos processos mais automatizados. A elite capitalista global começa a enxergar a Renda Básica nesse sentido, como podemos ver em “Robôs, Crescimento e Desigualdade”, de Andrew Berg, Edward F. Buffie, e Luis-Felipe Zanna, que é um relatório interno do próprio FMI. Vale a pena ver também “O Lamentável Declínio das Utopias Espaciais”, de Brianna Rennix, além de todos os capítulos  (disponibilizados aqui n’O Minhocário) do livro que inclui o capítulo sobre o futuro Rentista descrito acima, Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo, de Peter Frase.  [N.M.]
[119] Esta é uma escolha de projeto, no entanto – já que a proposta conservadora de uma RBU (ou o imposto de renda negativo, funcionalmente semelhante) frequentemente invoca checagens de condições. Ver por exemplo, Lewis Meriam, ‘Relief and Social Security’ [“Alívio e Segurança Social”] (Washington, DC: Brookings Institution, 1946); Friedman, ‘Capitalism and Freedom’ [“Capitalismo e Liberdade”].
[120] Em muitos países os benefícios de Bem-Estar Social são focados apenas numa pequena faixa mais necessitada da população, como no caso do Bolsa Família brasileiro, o que propicia essa estigmatização dos beneficiários. [N.M.]
[121] O capítulo 4 do livro defende a necessidade de criação de uma imagem de “modernidade de Esquerda”, que reivindique uma imagem de futuro, de universalismo, de progresso, razão, liberdade e democracia, que contrastem com os conceitos correlatos que estão no centro da visão capitalista (e neoliberal) e que fundamentam o seu próprio universalismo, limitado e contraditório como é. [N.M.]
[122] Um programa de RBU envolveria, idealmente, uma transformação do Estado de Bem-Estar Social. Programas que fornecem serviços devem ser mantidos e expandidos – por exemplo, sistemas de saúde, cuidados infantis, moradia, transportes públicos e acesso à Internet. Todos esses devem ser objetivos imediatos da esquerda, não apenas por seu bem inerente, mas também porque a expansão dos serviços públicos é necessária para reduzir o consumo geral de energia. Alyssa Battistoni, ‘Vivo Sob o Sol’, Jacobin 13 (2014); Wright, ‘Envisioning Real Utopias‘ [“Visualizando Utopias Reais“], p. 4.
[123] Forget, ‘The Town with No Poverty’ [“A Cidade Sem Pobreza”]; Hum e Simpson, ‘A Guaranteed Annual Income?‘ [“Uma Renda Anual Garantida?“]; Chancer, ‘Benefitting from Pragmatic Vision, Part I’ [“Beneficiando-se de Uma Visão Pragmática, Parte I”], pp. 99–109.
[124] Ver a nota 118.
[125] A ascensão da RBU nas décadas de 1960 e 1970 foi em grande parte resultado dessa capacidade de gerar apoio entre diferentes divisões políticas. Steensland, ‘The Failed Welfare Revolution‘ [“A Fracassada Revolução do Bem-Estar“], pp. 18–19.
[126] O “sistema global do capital” ou “Capitalismo” pode ser compreendido como sendo “um modo particular de produção, caracterizado por quatro conjuntos de arranjos institucionais e comportamentais: produção de mercadorias, orientada para o mercado; propriedade privada dos meios de produção; um grande segmento da população que não pode existir, a não ser que venda sua força de trabalho no mercado; e comportamento individualista, aquisitivo, maximizador, da maioria dos indivíduos dentro do sistema econômico.” – ver Uma Definição de Capitalismo, de E. K. Hunt e Mark Lautzenheiser. Ver também Por Que Socialismo?, de Albert Einstein; Capitalismo: Uma Introdução, do Coletivo LibCom; ‘O Projeto Socialista e a Classe Trabalhadora‘, de David Zachariah e ‘O Marxismo está ultrapassado? Ele só tinha algo a dizer sobre a Inglaterra do Século XIX, e olhe lá?‘, de Terry Eagleton;  e Por que Marx, no século 21?‘, de Yanis Varoufakis. Para mais textos sobre o Capitalismo ver Sobre Capitalismo – O que é? Quais são suas características, problemas e limites? [N.M.]
[127] Wright, ‘Envisioning Real Utopias‘ [“Visualizando Utopias Reais“], p. 218.
[128] A escola neoclássica é a linha dominante dentro dos estudos de Economia, e que, em sua maior parte, acredita-se que é possível modelar o comportamento dos seres humanos como se fossem agentes ultra-racionais capazes de estabelecer valores de satisfação numa escala para todos os diferentes produtos que poderiam consumir em cada linha de remuneração, e   que soluções baseadas em mercados são as mais apropriadas, racionais, e geram os melhores resultados possíveis de alocação de recursos para as sociedades como um todo e para cada indivíduo em particular. Apesar de muitos dos seus conceitos principais e dos estudos originais que os embasaram já terem sido provados inconsistentes ou parciais há muito tempo (para extensas listas de estudos que mostram os problemas e falhas teóricas em muitos desses fundamentos da economia dominante, ver os primeiros capítulos dos livros “Debunking Economics” [“Refutando a Economia”], de Steve Keen, e “Capitalism: Competition, Conflict, Crisis“ [“Capitalismo: Competição, Conflito e Crise”], de Anwar Shaikh), eles continuam compondo a maior parte do que se ensina na maioria dos cursos universitários de Economia.
A citação de Srnicek e de Williams é uma piada com o fato de que a maioria dos neoclássicos tratam o emprego e o consumo como escolhas individuais. Como afirma Alyssa Batistoni [em Vivo Sob o Sol]:
“[os economistas neoclássicos] afirmam que o equilíbrio entre consumo e lazer seria uma escolha feita pelos indivíduos, sendo que se as pessoas trabalharão ou não, em primeiro lugar, é claramente determinado por decisões feitas em um nível de sociedade em geral.”
Ver também ‘Neoliberalismo, a Ideologia na Raiz de Nossos Problemas’, de George Monbiot; Sua Majestade, a Teoria Econômica, de David Harvey; O Que Acontece Quando Você Acredita em Ayn Rand e na Teoria Econômica Modernade Denise D. Cummins; A Economia Tradicional Está Errada, de Joseph Stiglitz; A Economia Tradicional Não É Capaz de Ajudar, Precisamos Repensar o Crescimento e o Capitalismo, de Mariana Mazzucato; Pikettyismos, de Ladislau Dowbor; O Mercado é Mesmo Bom?, de Luis Felipe Miguel; As Perspectivas da Liberdade, de David Harvey; Economia e Planejamento Soviéticos e as Lições Na Queda – Texto 4 – Observações Sobre a Possibilidade de Coordenação e Planejamento Computadorizado de Toda Uma Economia Industrial, de Paul Cockshott e Allin Cottrel; Socialismo, Mercado, Planejamento e Democracia, de Seth Ackerman, John Quiggin, Tyler Zimmer, Jeff Moniker, Matthijs Krul, HumanaEsfera; “Existe Mesmo Algo Como um “Livre-Mercado”?”, “O Livre-Mercado Faz Países Pobres Ficarem Ricos?” e “A África Está Destinada ao Subdesenvolvimento?”, de Ha-Joon Chang   [N.M.]
[129] Cutler e Aronowitz, ‘Quitting Time’ [“Abandonando o Tempo”], ‘Post-Work‘ [“Pós-Trabalho“]  p. 8.
[130] Michał Kalecki, ‘Political Aspects of Full Employment’ [“Aspectos Políticos do Pleno Emprego”], Political Quarterly 14: 4 (1943).
[131] A influente escala de estresse de Holmes e Rahe descobriu que a perda de um emprego é um dos eventos da vida mais estressantes que um adulto pode encarar. Richard H. Rahe e Ransom J. Arthur, ‘Life Change and Illness Studies: Past History and Future Directions’ [“Estudos Sobre Mudanças de Vida e Doença: Histórias Passadas e Direções Futuras”], Journal of Human Stress [“Revista do Estresse Humano”] 4: 1 (1978).
[132] Uma Renda básica tem sido uma proposta central do ‘Blue Grass Collective’ [algo como “Coletivo Grama Azul”], um grupo japonês de ativistas sobre deficiência que tem se mobilizado pela ideia desde os anos 70. Toru Yamamori, ‘Una Sola Moltitudine: Struggles for Basic Income and the Common Logic that Emerged from Italy, the UK, and Japan’ [“Uma Única Multidão: Lutas Pela Renda Básica e a Lógica Comum Que Emergiu da Itália, Reino Unido e Japão”], apresentado em ‘Immaterial Labour, Multitudes and New Social Subjects’ [“Trabalho Imaterial, Multidões e Novos Sujeitos Sociais”], King’s College, Universidade de Cambridge, 29 April 2006, pp. 9–12.
[133] Paolo Virno, ‘A Grammar of the Multitude’ [“Uma Gramática da Multidão”] (Cambridge: Semiotext(e), 2004), pp. 98–9.
[134] Marx e Friedrich Engels, A Ideologia Alemã, p. 53 [da edição inglesa].
[135] Robert J. Van Der Veen e Philippe Van Parijs, ‘A Capitalist Road to Communism’ [“Um Caminho Capitalista Para o Comunismo”], ‘Theory and Society’ [“Teoria e Sociedade”] 15: 5 (1986), pp. 645–6.
[136] no original, “positive-feedback loop”. [N.M.]
[137] Nos anos 70 algumas autoras feministas apresentaram a demanda por salários pelo trabalho doméstico como uma forma de politizar o papel (executado na maior parte das vezes pelas mulheres) de reprodução da força de trabalho, sem o qual o capitalismo não poderia existir, e que é simplesmente ignorado pela economia política do sistema. [N.M.]
[138] Weeks, ‘The Problem with Work’ [“O Problema Com o Trabalho”], p. 230.
[139] Ailsa Mckay e Jo Vanevery, ‘Gender, Family, and Income Maintenance: A Feminist Case for Citizens Basic Income’ [“Gênero, Família e Manutenção de Renda: Um Argumento Feminista por Uma Renda Básica para os Cidadãos”], ‘Social Politics: International Studies in Gender, State and Society’ [“Política Social: Estudos Internacionais sobre Gênero, Estado e Sociedade”] 7: 2 (2000), p. 281; Gorz, ‘Paths to Paradise’ [“Caminhos Para o Paraíso”], p. 42.
[140] De maneira notável, isso também distingue fundamentalmente a posição aqui defendida de várias outras propostas (tais como o ‘Parecon’ ou o ‘Novo Socialismo’) que explicitamente identificam esforço e sacrifício como as bases para a recompensa. Michael Albert, ‘Parecon: Life After Capitalism’ [“Parecon: Vida Após o Capitalismo”] (London: Verso, 2004), p. 157; W. Paul Cockshott e Allin Cottrell, ‘Towards a New Socialism’ [“Rumo a Um Novo Socialismo”] (Nottingham: Spokesman, 1993), p. 27; Karl Marx, Crítica do Programa de Gotha (New York: International, 1966), pp. 8–10.
[141] Weeks, ‘The Problem with Work’ [“O Problema Com o Trabalho”], p. 149.
[142] Mckay e Vanevery, ‘Gender, Family, and Income Maintenance’ [“Gênero, Família e Manutenção de Renda”], p. 280.
[143] Hum e Simpson, ‘A Guaranteed Annual Income? [“Uma Renda Anual Garantida?“]’, p. 81. [Nota do Minhocário: Não deixa de lembrar alguns efeitos positivos em regiões mais pobres de um projeto tão menos ambicioso como o Bolsa-Família.]
[144] Essa é uma razão porque a RBU é uma demanda melhor que aquela de salários pelo trabalho doméstico. Weeks, ‘The Problem with Work’ [“O Problema Com o Trabalho”], p. 144.
[145] Raventós, ‘Basic Income’ [“Renda Básica”], Chapter 8; Chancer, ‘Benefitting from Pragmatic Vision, Part I’ [“Beneficiando-se de Uma Visão Pragmática, Parte I”], pp. 120–2; Guy Standing, ‘The Precariat Needs a Basic Income’ [“O Precariado Precisa de Uma Renda Básica”], Financial Times, 21 de Novembro de 2013; Gorz, ‘Paths to Paradise’ [“Caminhos Para o Paraíso”], p. 45.
[146] por enquanto, apenas no livro. [N.M.]
[147] Para uma polêmica eloquente contra a ética do trabalho, ver Federico Campagna, ‘The Last Night: Anti-Work, Atheism, Adventure’ [“A Última Noite: Anti-Trabalho, Ateísmo e Aventura”] (Winchester: Zero, 2013).
[148] Steensland, ‘The Failed Welfare Revolution‘ [“A Fracassada Revolução do Bem-Estar“], pp. 13–18.
[149] Ibid., p. 17.
[150] por enquanto, apenas no livro. [N.M.]
[151] Pierre Dardot e Christian Laval, ‘The New Way of the World: On Neoliberal Society’ [“A Nova Razão do Mundo: Ensaios Sobre a Sociedade Neoliberal”], transl. Gregory Elliot (London: Verso, 2014), p. 260.
[152] Como não relacionar com o tratamento dado ao Bolsa-Família no Brasil? [N.M.]
[153] Campagna, ‘The Last Night [“A Última Noite”] p. 16.
[154] Weeks, ‘The Problem with Work [“O Problema Com o Trabalho”], p. 44.
[155] Ibid., p. 46.
[156] Ibid., pp. 70–1.
[157] Youngjoo Cha e Kim A. Weeden, ‘Overwork and the Slow Convergence in the Gender Gap in Wages’ [“Sobre-Trabalho e a Lenta Convergência na Diferença de Gêneros nos Salários”], ‘American Sociological Review’ [“Revista Sociológica Estadunidense”] 79: 3 (2014).
[158] Keir Milburn, ‘On Social Strikes and Directional Demands’ [“Sobre Greves Sociais e Demandas Direcionais”], Plano C, 7 de Maio de 2015.
[159] ‘State of the Global Workplace: Employee Engagement Insights for Business Leaders Worldwide’ [“Estado da Força de Trabalho Global: Observações Sobre Engajamento dos Empregados para Líderes de Negócios ao Redor do Mundo’], Gallup, 2013, p. 12.
[160] Como de costume, o jornal satírico ‘The Onion’ [“A Cebola”] está à frente da curva, com uma manchete recente declarando que: “Funcionários das Fábricas Chinesas Temem Que Nunca Sejam Substituídos por Máquinas” (Chinese Factory Workers Fear They May Never Be Replaced with Machines’).
[161] Gáspár Miklós Tamás, ‘Telling the Truth About Class’ [“Falando a Verdade Sobre Classe”], Grundrisse 22 (2007).
[162] No livro os autores elaboram o conceito de “política folk” ou “folk-política” como o modelo dominante nos grupos de esquerda (pelo menos nos EUA, e talvez apenas antes da candidatura de Bernie Sanders iniciar um rearranjo nesse sentido) de uma oposição ao capitalismo que se coloca principalmente como uma defesa contra os ataques aos direitos, como uma negação do estabelecimento de demandas e um elogio à fuga do sistema, o elogio ao alternativo, àquilo que é local – um exemplo claro é o movimento “Occupy” de 2011. Os autores não criticam essa “política folk” como algo simplesmente inaceitável, e defendem que essa é também uma abordagem necessária em muitos sentidos e espaços – mas sim como uma abordagem limitada se nosso objetivo for enfrentar o capitalismo como um todo. [N.M.]
[163] Os autores apresentam o conceito de liberdade sintética como parte de um conjunto de ideias para uma “modernidade de Esquerda”, para enfatizar a ideia da liberdade como uma construção humana, cujo fim deve estar em aberto, pois podemos sempre decidir expandir a ideia de liberdade para englobar mais aspectos da sociabilidade humana –  e, na verdade, devemos sempre estar buscando o meio para tornar possível avanços nesse sentido que antes não estavam disponíveis à humanidade. Esse conceito reconhece também que um direito formal, sem a capacidade material para explorá-lo é inútil. [N.M.]
[164] Embora aderisse a práticas de política folk inescaláveis, o movimento “de volta à terra” [“back to the land”] dos anos 1970 foi, em muitos aspectos, uma expressão do desejo de escapar da ética de trabalho dominante. Bernard Marszalek, ‘Lafargue for Today’ [“Lafargue para a Atualidade”], em ‘The Right to Be Lazy’ [“O Direito À Preguiça”], p. 13.
[165] Gorz, ‘Paths to Paradise’ [“Caminhos Para o Paraíso”], p. 10.
[166] Steensland, ‘The Failed Welfare Revolution‘ [“A Fracassada Revolução do Bem-Estar“] p. 220.
[167] A ideia de “hipersticional” é uma ideia de futuro onde não existe “nenhum progresso necessário [automático] e nenhum caminho único pelo qual se medir a extensão dos avanços”; é a ideia de uma visão do futuro como “um tipo de ficção, mas que busca transformar a si mesmo em realidade, catalizando sentimentos dispersos numa força histórica capaz de trazer esse futuro à existência”. É uma ideia de futuro que reconhece o progresso como uma questão de luta política, não de se chegar a fins pré-estabelecidos. [N.M.]
[168] O próximo capítulo, “Um Novo Senso Comum”, que esperamos disponibilizar em breve, vai se concentrar na análise do conceito de hegemonia como abordado por Gramsci, e na ideia de estratégias para a construção de consentimento e participação popular num projeto como esse defendido pelos autores. [N.M.]

Leituras Relacionadas

  • A Gente Trabalha Demais, Mas Não Precisa Ser Assim [Peter Frase] – “Entre os séculos XIX e XX os trabalhadores conquistaram o dia de trabalho de 10 horas e então o de 8 horas, mas depois da Grande Depressão a tendência parou. Do que precisaríamos para recuperar nosso tempo livre?”
  • Rumo a Uma Sociedade Pós-Trabalho [David Frayne] – A ‘Política do Tempo’ oferece uma resposta à atual crise do trabalho, nos convidando a falar sobre as condições para a liberdade e o tipo de sociedade em que queremos viver. É uma oportunidade para finalmente cumprir a promessa original do desenvolvimento produtivo do capitalismo: nos permitir desfrutar coletivamente de mais tempo livre, para explorar essas aptidões e aspectos de nós mesmos que muitas vezes ficam marginalizados em um mundo centrado no trabalho. “Precisamos tomar de volta o futuro das mãos do capitalismo e construir, nós mesmos, o mundo do século XXI que queremos.”
  • Políticas Para Se ‘Arranjar Uma Vida’ [Peter Frase] – “O trabalho em uma sociedade capitalista é um fenômeno conflituoso e contraditório. Uma política para a classe trabalhadora tem de ser contra o trabalho, apelando para o prazer e o desejo, ao invés de sacrifício e auto-negação.
  • Renda Básica e o Futuro do Trabalho [David Raventós e Julie Wark] – “Não existe algo como a ‘dignidade do trabalho’. Não é o direito ao emprego, mas a uma existência material garantida que dá dignidade à vida humana.”
  • Viver, Não Apenas Sobreviver – [Alyssa Battistoni] “Os movimentos da classe trabalhadora devem colocar a reprodução social e ecológica no coração de sua visão do futuro.
  • Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo – [Peter Frase] “Crise climática”, “mudanças ambientais”, “robôs inteligentes”, “robôs tomando empregos”: os impactos da Crise Climática e de novas tecnologias de Automação de postos de trabalho para o nosso futuro comum vêm sendo cada vez mais discutidos. Se os avanços tecnológicos da “Quarta Revolução Industrial” (em especial em campos como Inteligência Artificial, Robótica avançada, fabricação aditiva, etc) forem o suficiente para automatizarmos a maior parte das atividades que hoje são empregos, reduzindo a um mínimo a necessidade de trabalho humano, a produção de mercadorias através de trabalho assalariado estará superada – e, portanto, estaremos falando do fim do Capitalismo; a questão então é o que virá depois. Será que a possibilidade de toda essa automação é o bastante para garantir que ela vai ocorrer? Qual seria o impacto disso sobre as vidas das pessoas? Como as questões ambientais/climáticas entram nesse quadro? E as relações de propriedade e produção capitalistas e a Política, especificamente a Luta de Classes? Que tipo de cenários podemos esperar à partir do fim do Capitalismo?
    • Tecnologia e Ecologia Como Apocalipse e Utopia [Quatro Futuros – Introdução] – [Peter Frase] “Muito se tem falado sobre os impactos da Crise Climática e de novas tecnologias de Automação de postos de trabalho para o nosso futuro em comum. Como as relações de propriedade e produção capitalistas e a Política, especificamente a Luta de Classes, se encaixam neste quadro? Será que a possibilidade de automação quase generalizada seria o bastante para garantir que ela ocorrerá? Qual seria o impacto dela sobre as condições de vida das pessoas? Com base nesses elementos, que tipo de cenários podemos esperar à partir do fim do Capitalismo?”
    • Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância[Quatro Futuros – Cap. 1 – Comunismo: Igualdade e Abundância] – [Peter Frase] “Um mundo em que a tecnologia tenha superado ou reduzido a um mínimo (e de forma sustentável) a necessidade de trabalho humano; em que esse potencial seja compartilhado com todos, eliminando a exploração e a alienação das relações de trabalho assalariado; onde as hierarquias derivadas do Capital tenham sido suplantadas por um modelo mais igualitário, agora capaz não só de sanar as necessidades de todos, mas de permitir o livre desenvolvimento de cada um, parece para muitos como um sonho de utopia inalcançável e ingênuo, onde não existiriam quaisquer conflitos ou hierarquias. Será mesmo?
    • Rentismo: Um Futuro Automatizado de Abundância Bloqueada Pela Desigualdade [Quatro Futuros – Cap. 2 – Rentismo: Hierarquia e Abundância] – [Peter Frase] Na penúltima parte da série sobre possíveis futuros após o fim do Capitalismo, – com o fim do uso de trabalho humano assalariado na produção de mercadorias, extrapolando as tendências atuais de aplicação de tecnologias como Inteligência Artificial, Robótica, Fabricação Aditiva, Nanotecnologia, etc – encaramos uma distopia em que as elites do sistema capitalista atual têm sucesso em manter seus privilégios e poderes, usando patentes e direitos autorais para bloquear e restringir para si o que poderia ser o livre-acesso universal à abundância possibilitada pelas conquistas do conhecimento humano num cenário em que a própria escassez poderia ser deixada para trás.
    • Socialismo Como Futuro Automatizado e Igualitário em Resposta à Crise Ambiental [Quatro Futuros – Cap. 3 – Socialismo: Igualdade e Escassez]– [Peter Frase] Se os avanços tecnológicos da Quarta Revolução Industrial (em campos como Inteligência Artificial, Robótica avançada, fabricação aditiva, etc) forem o suficiente para automatizarmos a maior parte dos empregos, reduzindo a um mínimo a necessidade de trabalho humano, a produção de mercadorias através de trabalho assalariado estará superada – e, portanto, também o capitalismo. Se isso for alcançado em uma sociedade mais igualitária, democrática, sustentável e racional, ainda assim é possível que teremos de nos organizar para lidar com o estrago deixado no planeta pelo sistema capitalista, planejando, executando e administrando  projetos gigantescos de reconstrução, geo-engenharia e racionamento de recursos limitados. Em outras palavras, provavelmente ainda precisaremos de algum tipo de Estado.
    • Exterminismo: ‘Solução Final’ Num Futuro Automatizado de Desigualdade e Escassez [Quatro Futuros – Cap. 4 – Exterminismo: Hierarquia e Escassez] – [Peter Frase] A cada semana somos bombardeados por notícias sobre avanços tecnológicos assombrosos, que prometem diminuir, e muito, a necessidade de trabalho humano nas mais diversas atividades. De fato, podemos imaginar que em algum momento no futuro teremos a necessidade de muito pouco trabalho humano na produção de mercadorias. Mas e se chegarmos nesse ponto ainda divididos entre podres de ricos e “a ralé”? E se os recursos naturais de energia e de matérias-primas não forem o bastante para garantir uma vida luxuriante para todos? E se, do ponto de vista dos abastados, os ex-trabalhadores passarem a representar apenas um “peso inútil”, ou até mesmo, um risco “desnecessário”? No último capítulo sobre possíveis futuros automatizados com o fim do Capitalismo, somos confrontados por uma distopia de desigualdade e crueldade cujas raízes já podemos notar em muitas tendências atuais.
    • Quatro Futuros [artigo original de 2011] – [Peter Frase] Uma coisa de que podemos ter certeza é que o Capitalismo vai acabar; a questão, então, é o que virá depois.
  • Comunismo Verde Totalmente Automatizado – [Aaron Bastani] [O desafio das mudanças climáticas precisa de uma resposta à altura, que reconheça a sua dimensão, amplitude e a necessidade de mudanças profundas em nossas tecnologias, relações de produção, relações com a natureza, em nosso dia-a-dia e em nossas visões de mundo. Felizmente, depois de décadas de dominação quase absoluta do “realismo capitalista” e de suas propostas vazias de respostas à crise climática via mercado, vai se abrindo o espaço para uma proposta “populista” pela construção de uma alternativa radical que abrace a expansão e a democratização das tecnologias de energias renováveis, robótica fina, inteligência artificial, e produção aditiva como um projeto político a ser disputado, para a construção de uma sociedade focada na sustentabilidade e na socialização da abundância, do lazer, do bem-estar e da maior disponibilidade de tempo para as mais diversas atividades.]
  • Lingirie Egípcia e o Futuro Robô [Peter Frase] – O pânico sobre automação erra o alvo – o verdadeiro problema é que os próprios trabalhadores são tratados feito máquinas.”
  • Inovação Vermelha [Tony Smith] – “Longe de sufocar a inovação, uma sociedade Socialista colocaria o progresso tecnológico a serviço das pessoas comuns.”
  • Todo Poder aos “Espaços de Fazedores” [Guy Rundle] – “A impressão 3-D em sua forma atual pode ser um retorno às obrigações enfadonhas do movimento “pequeno é belo”, mas tem o potencial para fazer muito mais.
  • A Revolução Cybersyn [Eden Medina] – Cinco lições de um projeto de computação socialista no Chile de Salvador Allende.
  • Planejando o Bom Antropoceno – [Leigh Phillips e Michal Rozworski] O mercado está nos levando cegamente a uma calamidade climática – o planejamento democrático é uma saída.
  • Socialismo, Mercado, Planejamento e Democracia [Seth Ackerman, John Quiggin, Tyler Zimmer, Jeff Moniker, Matthijs Krul, HumanaEsfera] – “O socialismo promete a emancipação humana, com o alargamento da democracia e da racionalidade para a produção e distribuição de bens e serviços e o uso da tecnologia acumulada pela humanidade para a redução a um mínimo do trabalho necessário por cada pessoa, liberando seu tempo para o seu livre desenvolvimento. Como organizar uma economia socialista para realizar essas promessas?”
  • Elon Musk Não é O Futuro [Paris Marx] – “Os dirigentes das grandes empresas de tecnologia estão nessa apenas por eles mesmos, não pelo bem público.
  • Bill Gates Não Vai Nos Salvar [E Nem Elon Musk] – [Ben Tarnoff] Quando se trata de tecnologia verde, apenas o Estado pode fazer o que o Vale do Silício não pode.
  • O Lamentável Declínio das Utopias Espaciais [Brianna Rennix] – “Narrativas ficcionais são um fator enorme moldando nossas expectativas do que é possível. Infelizmente, utopias estão atualmente fora de moda, como a tediosa proliferação de ficção distópica e filmes de desastre parece indicar. Por que só “libertarianos” fantasiam sobre o espaço hoje em dia?”
  • Obsolescência Planejada: Armadilha Silenciosa na Sociedade de Consumo[Valquíria Padilha e Renata Cristina A. Bonifácio] – O crescimento pelo crescimento é irracional. Precisamos descolonizar nossos pensamentos construídos com base nessa irracionalidade para abrirmos a mente e sairmos do torpor que nos impede de agir
  • O Mito do Antropoceno [Andreas Malm] – Culpar toda a Humanidade pela mudança climática deixa o Capitalismo sair ileso.
  • Precisamos Dominá-la [Peter Frase] – “Nosso desafio é ver na tecnologia tanto os atuais instrumentos de controle dos empregadores quanto as precondições para uma sociedade pós-escassez.
  • Tecnologia e Estratégia Socialista [Paul Heidmann] – “Com poderosos movimentos de classe em sua retaguarda, a tecnologia pode prometer a emancipação do trabalho, ao invés de mais miséria.
  • O Socialismo Vai Ser Chato? – “O Socialismo não é sobre induzir uma branda mediocridade. É sobre libertar o potencial criativo de todos.
  • Os Robôs Vão Tomar Seu Emprego? [Nick Srnicek e Alex Williams] – “Com a automação causando ou não uma devastação nos empregos, o futuro do trabalho sob o capitalismo parece cada vez mais sombrio. Precisamos agora olhar para horizontes pós-trabalho.”
  • Robôs e Inteligência Artificial: Utopia ou Distopia? [Michael Roberts] – “Diz muito sobre o momento atual que enquanto encaramos um futuro que pode se assemelhar ou com uma distopia hiper-capitalista ou com um paraíso socialista, a segunda opção não seja nem mencionada.”
  • Robôs, Crescimento e Desigualdade – Mesmo uma instituição como o FMIvem notando as tendências que a automação de empregos devem gerar nas próximas décadas, incluindo um crescimento vertiginoso da desigualdade social, e a necessidade de compartilhar a abundância prometida por essas inovações.
  • Automação e o ‘Fim do Trabalho’ na Mídia Internacional Dominante 
  • Votando Sob o Socialismo – [Peter Frase] Vai ser mais significativo – mas esperamos que não envolva assembleias sem-fim.
  • Democratizar Isso [Michal Rozworski] – “Os planos do Partido Trabalhista inglês para buscar modelos democráticos de propriedade são o aspecto mais radical do programa de Corbyn, e um dos mais radicais que temos visto na política dominante em muito tempo.”
  • Economia e Planejamento Soviéticos e as Lições na Queda – [Paul Cockshott e Allin Cottrel] “Desde os anos 90 temos sido bombardeados por relatos sobre como a queda da União Soviética seria uma prova definitiva da impossibilidade de qualquer forma de Economia Planejada racionalmente, de qualquer forma de Economia Socialista, de qualquer forma de Socialismo – e de que não existiria alternativa para organizar a produção e o consumo das sociedades humanas a não ser o Capitalismo de Livre-Mercado. Será mesmo?
  • Vivo Sob o Sol [Alyssa Battistoni] – “Não há caminho rumo a um futuro sustentável sem lidar com as velhas pedras no caminho do ambientalismo: consumo e empregos. E a maneira de fazer isso é através de uma Renda Básica Universal. “
  • Um Mundo Socialista Não Significaria Só Uma Crise Ambiental Maior Ainda? [Alyssa Battistoni] – “Sob o Socialismo, nós tomaríamos decisões sobre o uso de recursos democraticamente, levando em consideração necessidades e valores humanos, ao invés da maximização dos lucros.
  • Rumo a um Socialismo Ciborgue [Alyssa Battistoni] – “A Esquerda precisa de mais vozes e de críticas mais afiadas que coloquem nossa análise do poder e de justiça no centro das discussões ambientais, onde elas devem estar.”
  • A Fantasia do Livre-Mercado [Nicole M. Aschoff] – “Designar o mercado como ‘natural’ e o Estado como ‘antinatural’ é uma ficção conveniente para aqueles casados com o status quo. O “capitalismo consciente”, embora atraente em alguns aspectos, não é uma solução para a degradação ambiental e social que acompanha o sistema de produção voltado ao lucro. A sociedade precisa decidir em que tipo de mundo deseja viver, e essas decisões devem ser tomadas por meio de estruturas e processos democráticos.”
  • O Ano em Que o Capitalismo Real Mostrou a Que Veio – [Jerome Roós] “Tudo que nós um dia deveríamos temer sobre o socialismo — desde repressão estatal e vigilância em massa até padrões de vida em queda — aconteceu diante de nossos olhos
  • Bill Gates, Socialista? [Leigh Phillips] – “Bill Gates está certo: o setor privado está sufocando a inovação em energias limpas. Mas esse não é o único lugar em que o Capitalismo está nos limitando.
  • Os Ricos Não Merecem Ficar Com a Maior Parte do Seu Dinheiro? – “A riqueza é criada socialmente – a redistribuição apenas permite que mais pessoas aproveitem os frutos do seu trabalho.”
  • Contando Com os Bilionários [Japhy Wilson] – Filantropo-capitalistas como George Soros querem que acreditemos que eles podem remediar a miséria econômica que eles mesmos criam.
  • A Sociedade do Smartphone [Nicole M. Aschoff] – “Assim como o automóvel definiu o Século XX, o Smartphone está reformulando como nós vivemos e trabalhamos hoje em dia.”
  • Bill Gates e os 4 Bilhões na Pobreza [Michael Roberts] – “A pobreza global está caindo ou crescendo? Sabe-se que a desigualdade global vem aumentando rapidamente nas últimas décadas, mas muitos defensores do capitalismo se apressam para nos afirmar que, apesar disso, nunca estivemos melhor. Será mesmo?
  • Uma Economia Para os 99% – relatório da Oxfam apresentando dados sobre a situação atual das desigualdades sociais; os mecanismos que as vêm reproduzindo e aprofundando mundo à fora; sobre como isso destrói qualquer possibilidade de democracia; e sobre possíveis medidas para superar esta situação;
  • Pikettyismos [Ladislau Dowbor] – “O livro de Thomas Piketty [documentando toda a trajetória da desigualdade no mundo desenvolvido desde o século XIX e provando que ela vem crescendo rapidamente nas últimas décadas, desde a virada para o Neoliberalismo] está nos fazendo refletir, não só na esquerda, mas em todo o espectro político. Cada um, naturalmente, digere os argumentos, e em particular a arquitetura teórica do volume, à sua maneira.”
  • ABCs do Socialismo
  • Por Que Socialismo? – Albert Einstein explica, de maneira clara e objetiva, os problemas fundamentais que enxerga na sociedade capitalista e porque uma sociedade socialista poderia ser o caminho para superá-los.
  • Bancos, Finanças, Socialismo e Democracia – [Ladislau Dowbor, Nuno Teles e J. W. Mason] Os bancos são instituições centrais na articulação das atividades no sistema capitalista. Como essas instituições deixaram de cumprir suas funções básicas e passaram a estender seu domínio sobre toda a economia? Podemos ver o sistema financeiro como um ambiente “neutro” cujos resultados são os “naturais” gerados pelos “mercados”? Será que dividir os grandes bancos será o suficiente para resolver essa situação?
  • O Comunismo Não Passa de Um Sonho de Utopia? Só Funcionaria Com Pessoas Perfeitas? – [Terry Eagleton] “O Comunismo é apenas um sonho de ingenuidade, utopia e perfeição? Ele ignora a maldade e o egoísmo que estariam na essência da natureza humana? Um tal sistema precisaria que todos pensassem e agissem de uma única maneira, só poderia funcionar com pessoas perfeitas e harmoniosas como peças de relógio, nunca com os seres humanos diversos e falhos que realmente existem?”
  • Como Vai Acabar o Capitalismo? – [Wolfgang Streeck] “O epílogo de um sistema em desmantêlo crônico: A legitimidade da ‘democracia’ capitalista se baseava na premissa de que os Estados eram capazes de intervir nos mercados e corrigir seus resultados, em favor dos cidadãos; hoje, as dúvidas sobre a compatibilidade entre uma economia capitalista e um sistema democrático voltaram com força total.”
  • Neoliberalismo, A Ideologia na Raiz de Nossos Problemas – [George Monbiot] “Crise financeira, desastre ambiental e mesmo a ascensão de Donald Trump – o Neoliberalismo,  a ideologia dominante no ‘Ocidente’ desde os anos 80, desempenhou seu papel em todos eles. Como surgiu e foi adotado pelas elites a ponto de tornar-se invisível e difuso? Por que a Esquerda fracassou até agora em enfrentá-lo?”
  • Desabamento Contínuo: Neoliberalismo Como Estágio da Crise Capitalista, Rendição Social-Democrata, Revolta Popular Recente e as Aberturas à Esquerda – [Robert Brenner] Na fase atual do neoliberalismo, o capitalismo não é mais capaz de garantir crescimento e desenvolvimento semelhantes aos estágios anteriores. Nem mesmo se mostra capaz de garantir condições de vida aos trabalhadores e, assim, assegurar seu apoio ao sistema – passando a depender cada vez mais do medo imposto sobre os mesmos sobre a perda de seus empregos, sobre o futuro, e sobre repressão – e despertando revolta de massa à Esquerda e à Direita. O que se segue é uma tentativa inicial e muito parcial de apresentar como entendemos o panorama político de hoje; uma série de suas características notáveis; as aberturas que se apresentam aos movimentos e à Esquerda; e os problemas que a Esquerda enfrenta.
  • O Projeto Socialista e a Classe Trabalhadora – [David Zachariah] “As pessoas na Esquerda estão unidas em seu objetivo de uma sociedade em que cada indivíduo encontre meios aproximadamente iguais para o pleno desenvolvimento de suas capacidades diversas. O que distingue os socialistas é o reconhecimento de que a forma específica como a sociedade está organizada para reproduzir a si mesma também reproduz grandes desigualdades sociais nos padrões de vida, emprego, condições de trabalho, saúde, educação, habitação, acesso à cultura, meios de desenvolvimento e frutos do trabalho social, etc.
  • O País Já Não é Meio Socialista? – Não, Socialismo não é só sobre mais governo – é sobre propriedade e controle democráticos.
  • Pelo Menos o Capitalismo é Livre e Democrático, Né? – Pode parecer que é assim, mas Liberdade e Democracia genuínas não são compatíveis com o Capitalismo.
  • O Socialismo Soa Bem na Teoria, Mas a Natureza Humana Não o Torna Impossível de Se Realizar? – “Nossa natureza compartilhada na verdade nos ajuda a construir e definir os valores de uma sociedade mais justa.”
  • Os Ricos Não Merecem Ficar Com a Maior Parte do Seu Dinheiro? – “A riqueza é criada socialmente – a redistribuição apenas permite que mais pessoas aproveitem os frutos do seu trabalho.”
  • Os Socialistas Vão Levar Meus CDs do Calypso? – Socialistas querem um mundo sem Propriedade Privada, não Propriedade Pessoal. Você pode guardar seus discos.
  • O Socialismo Não Termina Sempre em Ditadura? – O Socialismo é muitas vezes misturado com autoritarismo. Mas historicamente, Socialistas tem estado entre os defensores mais convictos da Democracia.
  • O Socialismo Não É Só Um Conceito Ocidental? – O Socialismo não é Eurocêntrico por que a lógica do Capital é universal – e a resistência a ela também.
  • E Sobre o Racismo? Os Socialistas Não Se Preocupam Só Com Classe? – Na verdade acreditamos que a luta contra o Racismo é central para desfazer o poder da classe dominante. 
  • O Socialismo e o Feminismo Não Entram Às Vezes Em Conflito? – Em última análise, os objetivos do Feminismo radical e do Socialismo são os mesmos – Justiça e Igualdade para todas as pessoas.
  • Um Mundo Socialista Não Significaria Só Uma Crise Ambiental Maior Ainda? – “Sob o Socialismo, nós tomaríamos decisões sobre o uso de recursos democraticamente, levando em consideração necessidades e valores humanos, ao invés da maximização dos lucros.
  • Os Socialistas São Pacifistas? Algumas Guerras Não São Justificadas? – Socialistas querem erradicar a guerra por que ela é brutal e irracional. Mas nós pensamos que existe uma diferença entre a violência dos oprimidos e a dos opressores. 
  • Por Que os Socialistas Falam Tanto em Trabalhadores? – Os trabalhadores estão no coração do sistema capitalista. E é por isso que eles estão no centro da política socialista. 
  • Os Socialistas Querem Tornar Todos Iguais? Querem Acabar Com a Nossa Individualidade?
  • O Marxismo Está Ultrapassado? Ele Só Tinha Algo a Dizer Sobre a Inglaterra do Século XIX, e Olhe Lá?
  • O Marxismo é Uma Ideologia Assassina, Que Só Pode Gerar Miséria? – “O Marxismo é uma ideologia sanguinária e assassina, que só pode gerar miséria compartilhada? Socialismo significa falta de liberdade e uma economia falida?”


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