Covid-19: Como funcionam os
ventiladores e porque é que salvam vidas
Estes
aparelhos são a última esperança para grande parte dos pacientes gravemente
doentes com o Sars-CoV-2.
Contudo, e conforme avança uma investigação realizada pela BBC Mundo, nem os
sistemas de saúde dos países mais desenvolvidos e prósperos do mundo estão
equipados com a quantidade de ventiladores que a pandemia da covid-19 pode exigir.
O problema já levou médicos italianos e espanhóis a terem de
tomar a excruciante decisão de quais pacientes conectar a essas máquinas e
quais não, o que inúmeras vezes resulta na morte desses indivíduos.
Como explica a BBC, na tentativa desesperada e urgente para colmatar o
défice de ventiladores, governos de todo o mundo tem exigido que indústrias de
todos os tipos coloquem toda a sua capacidade de produção para fabricar o
aparelho salva vidas.
"Estamos com um problema sério, nunca antes visto,
anteriormente inimaginável, e a verdade é que estamos a assistir a isto com uma
preocupação extrema", afirmou à BBC Mundo Gustavo Zabert, pneumologista da Clínica Pasteur em Neuquén, na Argentina, e presidente da
Associação Latino-Americana do Tórax.
"Aqui não conseguiremos
suprir o problema de forma diferente do que está a ocorrer noutras partes do
mundo, a menos que consigamos amenizar o pico da epidemia",
manifestou.
Todavia, o que são afinal os ventiladores, como operam e por que
motivo desempenham um papel tão crítico na guerra que estamos a travar contra o
novo coronavírus?
Bomba de oxigénio
A necessidade imperativa dos ventiladores advém do facto de que
aproximadamente 5% dos pacientes com Covid-19 acabam por sofrer da síndrome do
desconforto respiratório agudo (SDRA).
"É a resposta inflamatória excessiva (dos pulmões) à
infecção, neste caso viral, por coronavírus", explica à BBC Oriol Roca, médico associado do serviço
de medicina intensiva do Hospital Vall d'Hebron, em Barcelona.
"Um tipo de membrana é criada e o oxigénio não consegue
passar, o que por sua vez provoca insuficiência respiratória", conta o
médico Ferran Morell, ex-chefe do serviço de pneumologia do mesmo hospital.
"É uma condição para a qual não há cura. A única solução é
colocar os pacientes em ventilação mecânica e esperar que a sorte esteja do
seu lado e que o organismo reaja", afirma.
"Dos que agora são admitidos por problemas respiratórios
agudos em terapia intensiva pela Covid-19, metade morre", acrescenta Morell.
Porém, o valor seria ainda
notoriamente mais elevado sem ventiladores artificiais, capazes de garantir a
chegada de oxigénio no sangue.
Oriol Roca, explica à BBC que esses dispositivos fazem isso de duas maneiras:
fornecendo ao paciente mais oxigénio do que o ar ao seu redor e trabalhando
como uma bomba capaz de superar a resistência da membrana que impede a sua
passagem.
"Em condições normais, respiramos porque o diafragma
contrai e deixamos entrar o ar nos pulmões. Mas, quando há inflamação, esse
processo que, em condições normais usa muito pouca energia, torna-se muito mais
difícil para o paciente e pode acabar esgotando-o", salienta o
especialista do Vall d'Hebron.
"Então, o que o
ventilador faz é transportar o ar para dentro do paciente e também fornecer não
apenas ar, mas até 100% de oxigénio, ou seja, muito mais oxigénio do que
respiramos normalmente", conclui.
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