O presidente Jair Bolsonaro, durante
pronunciamento na sexta-feira (24/04).EVARISTO SA / AFP
Bolsonaro fica nu ao se
despir das três bandeiras que o levaram ao poder
Os
próximos dias serão decisivos para saber se, mais uma vez, a Presidência da
República cairá nas mãos do vice-presidente
O presidente de extrema direita Jair Bolsonaro manteve ontem um duelo
histórico com seu ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que lhe fez graves acusações de
querer interferir na Polícia Federal para ficar a par de investigações de
corrupção sobre sua família.
Ainda
é cedo para saber quais serão as consequências jurídicas e legais sobre tais
acusações, mas o que ficou claro é que Bolsonaro vai ficando nu ao rasgar
durante seu mandato as três grandes bandeiras com as quais se cobriu durante a
campanha e o levaram à vitória.
Era a luta
dura contra a corrupção política que naquela época envergonhava o país e que o
candidato à Presidência jurou combater. Foi assim que aceitou que o paladino
naquele momento de luta contra a corrupção, o à época juiz da Lava Jato, Sergio Moro,
entrasse em seu Governo como um superministro da Justiça. Foi seu primeiro gol.
Ele foi
perdendo essa bandeira à medida em que foram aparecendo possíveis escândalos de
corrupção dentro de sua própria família. Hoje, Bolsonaro, com sua Presidência
acossada, está se refugiando até mesmo nos velhos deputados que também estão envolvidos em
escândalos de corrupção para que possam salvá-lo de um possível
impeachment no Congresso. E acaba de perder sua melhor espada, o ministro da
Justiça, Moro, que decidiu deixar o Governo e lançar contra ele acusações tão graves que
serão agora analisadas pelo Supremo e podem acabar forçando-o a renunciar.
A segunda
bandeira era a de acabar no Brasil com a chamada velha política que governava
fazendo acordos pouco republicanos com os deputados oferecendo-lhes cargos e
benefícios para conseguir aprovar os projetos do Governo.
Bolsonaro
havia jurado acabar em seu mandato com aquele velho estilo de governo para
governar “escutando mais o povo” do que os deputados e senadores.
Tal bandeira,
que lhe rendeu muitos votos nas eleições até mesmo de brasileiros que não
gostavam de seu aspecto militar totalitário, mas que estavam aborrecidos com as
tais maneiras de governar de costas às pessoas, foi ao chão. E está tentando
formar uma maioria que nunca teve no Congresso e sem a qual viu que era
impossível governar. E o está fazendo com os métodos da mais rançosa velha política.
Resta a ele,
prestes a cair, a última bandeira, a de realizar uma política neoliberal, de
menos Brasília e mais Brasil, menos Estado e mais capital privado. Para essa bandeira
escolheu o economista da Escola de Chicago, o superliberal Paulo Guedes. Uma bandeira que pretendia
reverter a desastrosa política econômica dos governos de Dilma Rousseff, que deixou 14 milhões de
trabalhadores na rua.
Essa bandeira
neoliberal também já está praticamente murcha e a imprensa fala abertamente que
após a saída do popular ministro Moro, já estaria sendo preparada a saída da
estrela econômica Guedes, que teria perdido a confiança do Presidente que
pretende reverter a política econômica para dar lugar a um populismo que possa
ajudá-lo na reeleição.
Ontem foi
significativo que durante seu discurso para responder às acusações de Moro,
durante o qual esteve cercado por todos os outros ministros, o único sem terno
e gravata, de camisa e com a máscara contra o coronavírus, tenha sido
justamente o ministro da Economia. Guedes com a máscara mostrava seu
contraponto ao Presidente, que insiste em minimizar a epidemia e
continua abraçando as pessoas nas ruas e pedindo que tudo volte à vida normal
enquanto o número de mortos já se multiplica em
maior proporção do que a Espanha.
Despojado das
três bandeiras que lhe deram a vitória, o Presidente, cujo Governo faz água por
todos os lados, aparece a cada momento mais nu e sozinho. Restam a ele os
ministros generais do Exército cuja reação diante das graves acusações lançadas
por Moro, ninguém ainda sabe se decidirão abrigar o Presidente nu, ou se farão
algum malabarismo para cobrir sua nudez com seu voto de confiança.
Os próximos dias serão decisivos para saber
se, mais uma vez, a Presidência da República deste país cairá nas mãos do
vice-presidente eleito com ele nas urnas que no Brasil, hoje, é o general
Mourão. A última palavra agora será do Congresso e do Supremo, as duas
instituições que podem colocar em andamento o impeachment de um Presidente da
República.
Um momento
que para o Brasil não poderia ser mais crítico, já que o coronavírus, além de a cada dia levar
mais vidas, está produzindo uma grave crise econômica com milhões de brasileiros que
sem poder trabalhar voltam aos anos terríveis da fome e da miséria.
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