PAIS DEVEM ACOMPANHAR E LIMITAR PRESENÇA DOS FILHOS NA INTERNET


A administradora Viviane Oliver e o cirurgião plástico Jefferson de Oliveira, com os filhos Matheus e Thiago: família conectada, mas com regras e combinados cumpridos à risca(foto: Alexandre Rezende/Encontro)

Pais devem acompanhar e limitar presença dos filhos na internet

Se proibir não resolve, a melhor saída é negociar e não descuidar da segurança online, sobretudo nas redes sociais.


Nem sempre quem usa as redes sociais e a internet de forma exagerada, percebe. As crianças, principalmente, não conseguem ter a exata noção do tempo que ficam online e é comum não resistirem à sedução do mundo virtual, uma tarefa difícil até mesmo para os adultos. Uma hora navegando pelas redes ou site de jogos pode facilmente se multiplicar e ocupar o lugar das tarefas da escola, de uma volta de bike, de um bate-papo real. Apesar disso, os pequenos querem navegar na internet e nas redes sociais cada vez mais cedo. Ambientes como Facebook, Instagram e Whatsapp têm regras claras, com indicação de faixa etária para maiores de 13 anos. Mas as crianças estão lá, abreviando o tempo da lei. Desde o segundo semestre do ano passado, o Instagram tira do ar perfis que não atingirem a idade mínima e estiverem usando a rede social sem o acompanhamento de um adulto.

Monitoramento. Para os especialistas, essa é a senha para um relação saudável com o virtual. "Mundo novo, regras novas. A vida é corrida, mas não há desculpas para não monitorar o uso das crianças", diz o advogado Alexandre Atheniense, especialista em leis da internet pela Universidade de Harvard. A decisão sobre permitir ou não a presença de crianças nas redes sociais cabe às famílias, mas algumas regras podem melhorar a segurança na internet - e não são tão duras assim.




O advogado Alexandre Ateniense alerta: "O brasileiro costuma ser ingênuo quanto aos riscos da internet"(foto: Alexandre Rezende/Encontro)

Especialistas consideram que os brasileiros ainda são ingênuos quanto à utilização dos meios digitais e por isso acabam expondo os pequenos mais que o necessário. Segundo levantamento da Safernet, organização que recebe denúncias e combate crimes na internet, em 2018 as denúncias online cresceram 110% em relação ao ano anterior. Entre as que mais chamam atenção, com alta de 80%, está a pedofilia. A faixa etária mais assediada está entre 9 e 11 anos, o que acende um alerta para as famílias. "O brasileiro precisa estar mais atento em relação aos riscos da internet", diz Alexandre. "Já as escolas devem  assumir um protagonismo para promover a segurança, mas a maioria ainda não consegue fazer isso." O advogado desenvolveu cartilhas para instituições de ensino com boas práticas no uso da rede mundial. Para ele, além de ficar de olho na navegação dos filhos é missão dos pais conversar para explicar os riscos e saber como agir e pedir ajuda.

Alexandre critica atitudes como bebês ganharem perfis nas redes sociais ao nascer. "É uma exposição grande demais para as crianças, que devem ser protegidas." Segundo ele, fotos com uniforme do colégio, por exemplo, também devem ser evitadas, pois fornecem informações muito precisas da rotina infantil. "Saber que vídeo as crianças assistem, quais jogos elas mais gostam e quem são os influenciadores que elas seguem também é essencial", diz Alexandre. As crianças precisam ser alertadas que nem todo perfil é verdadeiro, sobre como lidar com bullying e porque não devem compartilhar fotos intimas ou ofensas. "Existe uma razão para a faixa etária estipulada pelas redes sociais", diz Alexandre. "Não aconselho abreviar o tempo. Vale a pena aguardar."



A pediatra Mariana Pogialli: "Para se desenvolverem ativas, inteligentes, as crianças precisam do movimento, do contato olho no olho e da interação real. Isso não existe quando estão sentadas diante da tela"(foto: Arquivo pessoal)

Pais de dois meninos, Matheus, de 10 anos, e Thiago, de 6, a administradora Viviane Oliver e o cirurgião plástico Jefferson de Oliveira são fãs da tecnologia inovadora e de ponta, mas, apesar de serem conectados ao mundo digital, eles acreditam que estão conseguindo alcançar equilíbrio e o uso saudável das telas pelas crianças. O segredo da família? Os dois sempre estão atentos ao conteúdo acessado pelos filhos. Regras e combinados da casa são cumpridos à risca e o tempo para os jogos é limitado. "Com despertador ligado para não ter erro", reforça Viviane. A família também reservou um local onde os eletrônicos devem ser deixados, antes das refeições. "Na mesa é proibido o uso de qualquer tela." Um dado muito importante, a família também evita o uso dos dispositivos à noite, o que preserva o tempo de convivência e a qualidade do sono. "Somos muitos tecnológicos, mas sabemos que os pais devem dar o exemplo", diz Viviane. Ela conta que recentemente reduziu também suas postagens nas redes sociais, exatamente para reforçar a segurança. Outro ponto interessante da família é que não há proibições, mas a exigência para o cumprimento do que foi acordado por todos, crianças e adultos. Matheus, o mais velho, chegou a ter Whatsapp por um ano. Na escola do garoto, os grupos de crianças são corriqueiros, mas Viviane preferiu cancelar a rede social do filho depois de avaliar que seria melhor para ele esperar um pouco mais para assumir tamanha responsabilidade. "Conversamos, ele concordou em deixar o grupo e não sente falta."

A saúde das crianças também correm riscos. A internet pode provocar dependência, sedentarismo, comprometer o desenvolvimento integral dos pequenos, principalmente até os 2 anos de idade. "O tempo diário de telas não deve ultrapassar duas horas para os maiores de 5 anos", alerta a pediatra Mariana Pogialli, que desenvolve no Hospital Mater Dei cursos para pais e babás, nos quais um dos temas é aprender a lidar de forma saudável com o sedutor mundo digital. "Para se desenvolverem ativas, inteligentes, as crianças precisam do movimento, do contato olho no olho e da interação real." Uma das frentes dos pediatras tem sido a prevenção. "Percebemos que quando a queixa chega ao consultório é porque o problema já foi instalado", diz Mariana. Ela também reforça que a melhor saída é a conversa franca e a construção de regras para a casa.Suspender o uso é uma medida que vale desde que faça parte do combinado da família. E então, prontos para definir as regras da sua casa?

Evite os exageros

  • Negocie o tempo diário do acesso das crianças. Dessa forma, eles podem organizar os horários para estudos e outras atividades que também são prazerosas, como passear, estar com a família e amigos e praticar uma atividade física

  • Liberdade com responsabilidade. As crianças não devem compartilhar qualquer imagem que possa se arrepender depois. A Internet não guarda segredo

  • Ao acessar algum conteúdo que cause medo ou desconforto, solicite que eles conversem com você e busquem ajuda

  • Proibir o uso não educa, nem previne. Diálogo e negociação são palavras-chave para estabelecer regras e limites

Tempo de tela por dia

  • Crianças até 2 anos: 0

  • Até 5 anos: 1 hora

  • Maiores de 5 anos: 2 horas
  • Não use telas duas horas antes de dormir. O hábito prejudica o sono e o descanso

  • Menores de 6 anos devem ser mais supervisionados, pois não sabem ainda a distinguir realidade e fantasia

  • Nunca leve os eletrônicos para a mesa, durante as refeições

Quando está demais

  • Fique atento a alguns sinais: aumento da irritabilidade, violência, transtornos do sono, sedentarismo, ansiedade, piora da postura, queda no rendimento escolar e não cumprimento das tarefas de casa e da escola

Como usar com segurança

  • Incentive as crianças a conversar com os pais quando receberem qualquer proposta de aproximação de um estranho

  • Explique que nem sempre os perfis são verdadeiros

  • Supervisione o uso das crianças, já que sozinhas elas não conseguem dosar e nem perceber os riscos

  • Evite abreviar a idade estabelecida para o uso das redes sociais, ou seja 13 anos para o Facebook, Instagram, Twitter e Whatsapp

  • Não poste foto de suas crianças com uniforme escolar

  • Saiba que perto de 90% dos usuários da internet estão na rede para observar tendências, cruzar dados e também praticar crimes de toda natureza

Fontes: Safernet,  Alexandre Ateniense, Mariana Pogialli

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