EGITO, MÍSTICO E MÁGICO,UM LEGADO FARAÔNICO


EGITO, MÍSTICO E MÁGICO,UM LEGADO FARAÔNICO

Místico. Denso. Mágico. O Egito tem uma força inexplicável. A história da Terra dos Faraós contabiliza mais de cinco mil anos e merece ser reverenciada. Testemunhar os tesouros arqueológicos egípcios é a certeza de mergulhar no passado de uma das civilizações mais poderosas e intrigantes de que se tem notícia. O Egito ostenta a única das Sete Maravilhas do Mundo Antigo ainda existente: as pirâmides de Giza. Você precisa conhecer!
Pirâmides de Giza.

CHEGANDO AO CAIRO

Seja bem-vindo a um dos cantos do mundo com mais história para contar. A porta de entrada para esse mergulho ancestral costuma ser a cidade do Cairo, capital do Egito e uma das maiores cidades do continente africano. Uma megalópole de mais de 9 milhões de habitantes, deliciosamente barulhenta, poluída, empoeirada, monocromática, suja, antiga, caótica e simpática, às margens do rio Nilo.

É exatamente esse rio que divide o Cairo de Giza, duas cidades que foram crescendo e acabaram por formar o Grande Cairo, juntamente com Heluã e Shubra El-Kheima, totalizando “módicos” 20 milhões de habitantes.
Cairo e Giza cada uma de um lado do rio Nilo. 

Pelas ruas do Cairo.

Não há voo direto do Brasil para o Cairo. É preciso fazer escala em algum país da Europa ou mesmo da África. O aeroporto do Cairo é novo e organizado. Tem até um hotel Le Meridien Cairo Airport bacana caso você tenha algum voo de conexão em horário complicado, como foi meu caso no retorno ao Brasil.

O visto para brasileiros pode ser feito na chegada “Visa on Arrival”. É um procedimento rápido. Não há fila no guichê do banco onde se compra por 25 dólares por pessoa o selo que será colado no passaporte para apresentar na Aduana.

Contrate previamente um transfer para ter tranquilidade na chegada e saiba que o serviço de Uber funciona direitinho no Cairo. Para circular pelo Egito recomendo guia e motorista. O Egito não é um daqueles países onde se pode circular com muita liberdade.
Contratar um carro com motorista e guia é a melhor opção para explorar o Cairo.

SOBRE O CAIRO

A região onde fica a cidade do Cairo começou a ser povoada no século VII, quando os árabes introduziram o islamismo no Egito. Depois do século XIII, a cidade prosperou como centro comercial e de ensino do islã. Em 1860, muitos prédios de arquitetura europeia foram feitos na cidade durante o domínio Britânico. Em 1922 o Egito conquistou sua independência do Reino Unido e o Cairo passou a ser a capital, dando início ao Egito Moderno. Desde então, o Cairo vem crescendo sem parar.
O caos é uma constante no trânsito do Cairo.

Nas partes mais antigas da cidade há superlotação. Basta observar que na Cidade dos Mortos, uma vasta área de cemitérios “ainda em funcionamento” foram construídos casebres ao redor dos túmulos e muita gente mora ali como se fosse um bairro qualquer. A Cidade dos Mortes hoje divide espaço com a Cidade dos Vivos. Uma tremenda confusão. Coisas do Cairo!
Uma névoa cobre constantemente o Cairo.

Além disso, os sinais de trânsito são mera figuração, ninguém respeita. O caos impera no trânsito. Para atravessar é preciso habilidade e sorte. Se sair das ruas centrais você vai se deparar com galinhas, burricos e carroças circulando entre os carros por ruelas esburacadas. A poeira e o lixo se misturam a vida cotidiana de uma cidade em tom ocre que já foi um grande centro cultural e intelectual do mundo árabe e continua sendo o fio condutor para uma volta ao passado.
Menos de 20 quilômetros separam o centro do Cairo das pirâmides de Giza.

O QUE VER NO CAIRO

A agitada capital do Egito merece pelo menos 3 dias para que você possa explorar:
  • Pirâmides de Saqqara (Pirâmide Escalonada de Djoser, Pirâmide de Unas, Tumba da Princesa Idut filha favorita do rei Teti, Tumba do Sacerdote Inefret)
  • Enigmático Complexo de Giza (Pirâmide de Quéops, Quéfren, Miquerinos e a Grande Esfinge)
  • Colosso de Ramsés II (em Memphis)
  • Museu do Cairo
  • Cidadela de Saladino e a mesquita de Mohamed Ali
  • Mercado Khan El Khalili

Mapa do Egito com os principais sítios arqueológicos.

As pirâmides de Quéops, Quéfren, Miquerinos e a Grande Esfinge, que compõe o Complexo de Giza, estão localizadas em Giza, como o próprio nome diz, no Grande Cairo. Foi pela proximidade com as pirâmides (meu interesse número um no Egito) que escolhi ficar hospedada no hotel Four Seasons at The First Residence. Vale lembrar que há outro Four Seasons no Cairo, numa área mais central, chamado de Four Seasons Cairo at Nile Plaza, que é inclusive mais novo. Os dois hotéis ficam às margens do Nilo, sendo que um de cada lado do rio, um no Cairo e outro em Giza. Os dois são excelentes.
Quartos imensos no Four Seasons at The First Residence e serviço excelente.

OS FARAÓS E AS PIRÂMIDES

A Civilização Egípcia se estabeleceu no nordeste da África, a partir de uma mistura de povos entre eles os núbios, semitas e hamíticos, por volta de 4.000 a.C., exatamente onde as águas do rio Nilo levavam vida e fertilidade ao solo desértico.

Ao redor de 3.200 a. C. Menés (ou Narmer, em grego) se tornou o primeiro faraó ao unificar os reinos do Alto Egito e Baixo Egito. Os faraós se autoproclamavam como “deuses vivos”. Tinham poder absoluto. Ele teria sido o primeiro governante humano do Egito, dando lugar ao reinado mítico do deus Hórus, deus dos céus (o Templo de Hórus pode ser visitado na cidade de Edfu).
Templo de Hórus.

O COMPLEXO DE SAQQARA

Vários reinados se sucederam após o governo do faraó Menés até a construção da primeira pirâmide no Egito. De acordo com os egiptólogos, a Pirâmide Escalonada de Djoser foi construída pelo vizir e arquiteto real Imhotep para o faraó Djoser ao redor de 2640 a.C., no complexo funerário de Saqqara, em Memphis, a 30 quilômetros do centro do Cairo. Ele foi considerado o primeiro engenheiro-arquiteto da história do Egito e até serviu como fonte de inspiração para um personagem do filme “A Múmia”.
Pirâmide Escalonada de Djoser, a primeira a ser construída no Egito.

A Pirâmide de Djoser é a construção principal de uma zona arqueológica de nove quilômetros quadrados. Não perde em importância para o Vale dos Reis, em Luxor. Para chegar à Pirâmide Escalonada é preciso passar por um portal e seguir um corredor ladeado por 40 colunatas. Ao final, há uma grande área plana e ao fundo se vê a belíssima pirâmide com 140 metros de comprimento e 62 de altura desse faraó que reinou de 2667 a 2648 a. C. Ela foi construída com blocos de calcário e sua importância está exatamente no fato de ter servido como modelo para as demais pirâmides do imenso Complexo de Giza.

Colunatas na entrada do Complexo de Sacara.

A poucos passos fica a Pirâmide de Unas, a primeira a ter textos fúnebres sagrados entalhados nas paredes. O faraó Unas iniciou seu reinado em 2345 a.C. Segundo dizem, alguns dos desenhos serviam para guiar o faraó em seu caminho para a nova vida após a morte. 

    
 Pirâmide do faraó Unas, ainda com sarcófago e muitos hieróglifos.
O interior dessa pirâmide pode ser visitado. O acesso é fácil. Um pequeno corredor de 20 metros e você estará ao lado de um sarcófago, em uma sala repleta de hieróglifos.

Entrar nas pirâmides é incrível.

Os hieróglifos egípcios foram decifrados no século XIX pelo egiptólogo francês Champollion. Havia dois tipos de escrita no Egito Antigo: a demótica que era simplificada e a hieroglífica, mais complexa formada por desenhos e símbolos. Nas paredes das pirâmides havia registros sobre a vida do faraó e inscrições sagradas.

Desenhos da Pirâmide de Unas.

No complexo há outras pirâmides menores, tumbas de nobres e governantes. Uma tumba que chama atenção é a da Princesa Idut, filha preferida do rei Teti que teria governado depois do faraó Unas.
Tumba de Idut.

Os registros levam a crer que ela morreu ainda criança e supostamente teria sido sepultada na tumba destinada a um homem, cuja imagem foi raspada. No interior da tumba há belas pinturas de crocodilos e de muitos alimentos.
Pinturas nas paredes da tumba da pequena princesa Idut. 

Ao lado, fica a Tumba do Sacerdote Inefret com desenhos de instrumentos musicais e porta falsa para a ressurreição. É tudo muito misterioso e instigante. Uma experiência única. Vá cedinho e terá esse tesouro todo só para você.
   
 Na entrada da tumba do sacerdote Inefret tem o seu desenho e 
lá dentro uma porta falsa levaria o sacerdote para sua outra vida.

O COMPLEXO DE GIZA

Alguns quilômetros de Saqqara e você se depara com as inacreditáveis as pirâmides de Giza. Imagina-se que tenham sido construídas entre 2.600 e 2.500 a.C. E desde então os três grandes túmulos feitos para os faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos que eram avô, pai e filho e a Grande Esfinge continuam desafiando a lógica com seus mistérios e causando muita especulação.
Pirâmide de Quéops.

Espantosamente, a pirâmide de Quéops foi a maior encontrada no Egito, onde há 115 pirâmides (apenas como curiosidade, saiba que no Sudão há mais de 200 pirâmides). Por isso, ela é chamada de a Grande Pirâmide. Sua altura original era de 146 metros, o que corresponde a um prédio de 50 andares e hoje, com a ação do tempo, tem 139 metros. Foi construída com 2.3 milhões de blocos de granito com peso médio de 2 toneladas cada, sendo que alguns pesam até 80 toneladas e vieram de Aswan, a mais de 900 quilômetros dali. Surpreendente mesmo para os dias atuais, imagine para a época. Estima-se que tenha sido feita em menos de 20 anos, por homens qualificados e não por escravos. Mas, não há como afirmar a veracidade dessas especulações acima. Lendo em diferentes fontes, as informações nem sempre batem, inclusive sobre as técnicas de construção. O que se pode afirmar é quão incrível é o Complexo de Giza onde está a Grande Pirâmide.
O tamanho dos blocos de pedra das pirâmides, do Complexo de Giza, é surpreendente.

DICA: Se entrar em lugares apertados não for um problema para você, suba pelo túnel que conduz até a parte interna da Grande Pirâmide onde está a Câmara Mortuária, local em que o faraó foi sepultado com todos os seus tesouros (que não estão mais lá, muita coisa foi saqueada e o que foi recuperado está no Museu do Cairo ou em museus da Europa). Caso você sinta claustrofobia, opte por entrar na Pirâmide de Unas, de fácil acesso e bem preservada por dentro, em Saqqara.

Ainda no Complexo de Giza ficam as pirâmides de Quéfren e Miquerinos, além da Grande Esfinge, uma bela figura com corpo de leão e rosto humano, esculpida em um único bloco gigantesco de pedra, que dizem representar os traços do faraó Quéfren. A escultura chamada de Pai do Terror é supostamente a guardiã das pirâmides. Tem 20 metros de altura e aproximadamente 70 de comprimento.
Pirâmide de Quéfren e a Esfinge.

Tudo pode ser explorado a pé ou de carro. Só não vale usar as charretes, pois os animais são tratados sem cuidado. Não dê força para essa exploração. As pirâmides de Giza podem ser visitadas de dia ou ao anoitecer quando acontece um espetáculo de som e luz.
A Grande Esfinge com os traços de Quéfren e a pirâmide ao fundo. 

Na época em que as pirâmides foram construídas pouca coisa havia por ali. O antigo isolamento das pirâmides no deserto ficou no passado. Os subúrbios do Cairo praticamente cercaram o complexo arqueológico e continuam a crescer. O hotel mais próximo das pirâmides é o Marriott Mena House. Vale para almoçar ou jantar já que fica distante demais do centro, mais de 20 quilômetros e com o trânsito insano da cidade, os deslocamentos se tornam complicados.
Observe na lateral esquerda da foto os prédios da cidade.

Para contextualizar a história, vale lembrar que entre 1800 e 1700 a.C. os hebreus saíram da Palestina devido a uma grande seca e foram em direção ao Egito, andaram mais de 700 quilômetros. Na nova terra conseguiram prosperar até serem perseguidos e escravizados pelos faraós. Por volta de 1250 a.C. conseguiram fugir sob a liderança de Moisés no episódio conhecido como Êxodo relatado no Antigo Testamento. Foi no caminho de retorno para a Palestina, indo para Jericó, que Moisés recebeu as tábuas com os Dez Mandamentos.

Conjugar a viagem do Egito com Israel e Cisjordânia faz com que as peças do quebra-cabeça histórico se encaixem e façam sentido. Recomendo!

Durante a fuga dos hebreus, a civilização egípcia estava no auge com o reinado do faraó Ramsés II, filho do faraó Set I e da esposa Tuya. O poderoso faraó viveu mais de 90 anos, governou de 1292 a 1225 a.C., ou seja, durante 67 anos. Teve uma legião de esposas e concubinas (mais de 50 mulheres), sendo Nefertari sua favorita, com as quais dizem que teve mais de 100 filhos.
Ramsés II foi o faraó de reinado mais longo no Egito.

COLOSSO DE RAMSÉS II

Em Memphis, nas proximidades do Cairo, visite o Colosso de Ramsés II onde uma estátua de 100 metros de altura do faraó, esculpida em calcário foi encontrada caída e de tão pesada, um museu foi criado a sua volta, sem modificar a posição da estátua no solo.
A imensa estátua de Ramsés, em Memphis.

Para comemorar o aniversário de 34 anos do seu reinado, o nada modesto Ramsés II mandou construir um templo talhado na pedra para ele, às margens do Lago Nasser, o maior lago artificial de água doce do mundo, e outro, ao lado, para sua amada Nefertari. Na entrada do templo há quatro imagens do faraó de 20 metros de altura cada, esculpidas num único bloco rochoso e no seu interior os desenhos relatam as glórias obtidas nas tantas batalhas do faraó. A obra levou 36 anos para ser concluída. Recomendo visitar o Templo de Ramsés II e de Nefertari em Abu Simbel, na fronteira com o Sudão. Vale fazer um bate e volta de avião a partir do Cairo ou percorrer de carro os 300 quilômetros – pelo deserto - que conectam Aswan até Abu Simbel. Atualmente, uma região delicada, uma pena. Por isso, sugiro que opte pelo avião. Os templos são imperdíveis e ficam lado a lado.
Templo de Ramsés II, em Abu Simbel.

Os Templo de Ramsés II e Nefertari fazem lembrar a cidade de Petra, na Jordânia, reino dos Nabateus, construído ao redor de 300 a. C. também esculpido nas pedras.

Em Luxor, antiga cidade de Tebas, não deixe de visitar a Tumba de Nefertari, no Vale das Rainhas. É a tumba mais bonita e mais cara de todas. Vale cada centavo. Imperdível!
Valor do ingresso para a Tumba de Nefertari.

Após o reinado de Ramsés II, a força dos faraós começou a declinar. Houve várias batalhas e invasões até que no ano 525 a. C. Os persas derrotaram definitivamente os egípcios na Batalha de Pelúsio. O Egito deixou de ser independente por 2.500 anos e o trono do faraó foi transferido para o território macedônio (comandado por Alexandre, o Grande). Depois disso, o Egito também pertenceu aos romano, árabes e ingleses.

Cleópatra foi a última rainha do Reino Ptolemaico do Egito e uma das mulheres mais famosas do mundo. Ela era egípcia de nascimento, nasceu em Alexandria, mas pertencia a uma dinastia macedônia que se estabeleceu no Egito em 305 a.C. Ela nunca foi detentora única do poder no Egito, co-governou de 51 a.C. a 30 a.C. sempre com um homem ao seu lado. Mas, era ela quem dava as cartas. Subiu ao trono aos 17 anos, após a morte do seu pai Ptolomeu XII, um aliado do Império Romano. Enigmática, cativante, inteligente e sensual conquistou dois homens poderosos da sua época, os romanos Julio Cesar e Marco Antonio.

Conforme consta nos registros, o Egito Antigo foi liderado por 404 faraós, durante 31 dinastias. De um poder sem igual na história. No entanto, a roda gira e tudo muda. Assim, esse capítulo da história chegou ao fim. Mas, o legado dessas dinastias continua fazendo a história voltar no tempo, seja nas pirâmides, nas tumbas, nos templos, nos hieróglifos ou nos museus.
Esfinge de Alabastro no Museu de Ramsés II possivelmente com o rosto de Hatshipsut.

MUSEU DO CAIRO

E por falar em museu, não deixe de colocar o Museu Egípcio do Cairo no seu roteiro. É fascinante. Ele tem um acervo histórico riquíssimo. Sugiro visitar com um egiptólogo para melhor aproveitar, já que a coleção passa de 100 mil peças. O legado de Tutankamon é impressionante. A tumba do “faraó-menino” que nasceu em 1346  a.C. e morreu aos 19 anos foi encontrada intacta em 1922, no Vale dos Reis, com mais de cinco mil objetos entre eles: joias, artigos pessoais, esculturas, armas, ornamentos... O corpo do faraó foi encontrado mumificado dentro de um sarcófago, com uma máscara mortuária de 45 quilos de ouro maciço, que é uma verdadeira obra de arte. Há muita especulação a respeito de sua morte tão precoce. Durante seu curto reinado, ele levou a capital do Egito para Memphis (nos arredores do Cairo, onde Ramsés II viveu) e retomou o politeísmo que havia sido abandonado pelo seu pai, o faraó Akhenaton. O politeísmo se refere a adorar diversos deuses como Amon-Rá, deus do sol; Anúbis, deus da mumificação; Maat, deusa da justiça; Isis, deusa do amor; Thot, deus da sabedoria; Horus, deus dos céus; Osíres, deus da vida além da morte...

      
Acervo riquíssimo no Museu do Cairo.

Ainda no museu, as salas das múmias são imperdíveis. Eles acreditavam na vida após a morte, por isso mumificavam os faraós e os colocavam nas pirâmides para preservar o corpo e facilitar a conexão com o deus sol, Rá. Era o deus Osíris, segundo as crenças egípcias, que julgava como seria a trajetória de cada um, conforme a leveza do coração. Há muitos animais mumificados no museu pois eles eram considerados sagrados: o gato pela agilidade, o jacaré pela destreza nos pântanos, a serpente pelo poder de ataque, o chacal pela esperteza, a águia pela capacidade de voar, o escaravelho por estar ligado ao deus sol e ao renascimento.

O processo de mumificação usado pelos egípcios era muito sofisticado. 

Muitos animais mumificados no Museu do Cairo.

Algumas seções do Museu do Cairo são tão entulhadas que parecem depósito. Espera-se que em breve o museu seja transferido para a nova sede, que dizem que não ficará atrás do Louvre nem do British Museum onde também estão expostas muitas relíquias do Egito Antigo.

O Museu do Cairo fica exatamente em frente a Tahir Square onde era a sede do partido do ditador Hosni Mubarak, que foi atacada em 2011 durante a Primavera Árabe, um movimento de protestos nos países árabes em favor da democracia. Ao lado do museu está o novo hotel The Nile Ritz-Carlton Cairo.

MERCADO KHAN EL-KHALILI

Perto dali, explore o colorido e bagunçado Mercado Khan El-Khalili. Ele começou a funcionar em 1832 como hospedagem para as caravanas que atravessavam o deserto. Hoje é um mercado imenso, um labirinto de bazares, onde se vende de tudo: artesanato, papiro, roupas de cama de algodão egípcio, bijuterias, luminárias, pashminas, túnicas, perfumes... E por falar em vender, saiba que basta você demonstrar o mínimo de interesse e terá dificuldade em se livrar dos vendedores insistentes. Se realmente quiser comprar alguma coisa, negocie! Se não tiver interesse, sorria, diga “Salam Aleikum” (a paz esteja com você) e agradeça com um belo “shukran” (obrigado). Estratégia simpática e infalível.

 Vendedor de papiro no mercado.

Especiarias são a cara do mundo árabe.

Aproveite para almoçar ali mesmo no tradicional Café Naguib Mahfouz. Peça o tradicional Koshari, um prato feito com arroz, lentilha, grão de bico, massa, molho de tomate e cebola frita. Delicioso!
Café Naguib Mahfouz.

CIDADELA DE SALADINO E A MESQUITA MOHAMED ALI

Para testemunhar as heranças do passado árabe visite a Cidadela de Saladino, fundada no século XII sobre uma colina fortificada pelo líder muçulmano Saladino, inimigo dos cruzados. O bastião serviu como sede do governo egípcio por 700 anos.

Cidadela de Saladino.

Na Cidadela está a Mesquita Mohamed Ali ou Mesquita de Alabastro que foi construída no século XIX. Seu projeto tem como inspiração a Santa Sofia de Istambul. A mesquita tem uma grande cúpula central de 21 metros de diâmetro e 52 de altura. Seus dois minaretes em estilo otomano tem altura de 84 metros e podem ser vistos de vários pontos da cidade. Suas paredes são revestidas de alabastro, daí o nome Mesquita de Alabastro. No pátio central encontra-se uma belíssima fonte de ablução, local onde os muçulmanos se lavam antes das cinco orações do dia. Hoje a mesquita funciona como monumento histórico e pode ser visitada.
    
Mesquita Mohamed Ali.

DO CAIRO PARA ASWAN

Uma viagem ao Egito precisa incluir, além do Cairo, as cidades de Luxor e Aswan e se possível, um cruzeiro de 2 ou 3 dias pelo Nilo para ir de uma até a outra com várias paradas em sítios arqueológicos impressionantes no caminho.

A EgyptAir tem voos regulares do Cairo até Aswan, com duração de uma hora e meia. Aswan fica 900 quilômetros ao sul do Cairo quase na divisa com o Sudão. Viajar de carro pelo Egito não é recomendado. Ao chegar no aeroporto de Aswan tenha um transfer agendado pois não há Uber, apenas alguns motoristas de taxi que cobram preços aleatórios.

O QUE FAZER EM ASWAN

Essa é a melhor cidade do Egito para curtir uns dias de descanso às margens do Nilo. Hospede-se no histórico hotel Sofitel Legend Old Cataract e você vai entender sobre o que estou falando. Escolha a suíte 1120, da ala antiga e sua viagem ganhará contornos inesquecíveis. Você vai se sentir entrando num filme de Agatha Christie. O hotel fica às margens do Nilo, na parte mais bonita do rio onde tem ilhotas salpicadas de palmeiras e por onde barcos à vela ziguezagueiam para lá e para cá. Além disso, um dos templos mais bonitos do Egito fica numa ilhota de Aswan, o Templo de Philae. E quer saber mais uma curiosidade? Aqueles obeliscos enormes encontrados em Paris, Londres e Roma, incluindo aquele famoso do pátio do Vaticano saíram todos de uma pedreira de granito de Aswan que abastecia o Egito e a Europa. O local hoje é chamado de Obelisco Inacabado por manter há centenas de anos no chão, um obelisco que rachou e não pode ser aproveitado.
Vista da varanda do Sofitel Legend Old Cataract.

Para saber mais sobre esse hotel maravilhoso entre no link a seguir: SOFITEL LEGEND OLD CATARACT

Recomendo que fique dois ou três dias em Aswan, antes de embarcar no cruzeiro até Luxor. Inclua no seu roteiro em Aswan:
  • Templo de Philae, dedicado a Ísis, a deusa do amor
  • Obelisco Inacabado, pedreira de onde eram retiradas as rochas e os obeliscos que abasteciam o Egito e a Europa
  • Vilarejo núbio
  • Passeio de felucca (barco à vela) pelo rio Nilo avistando a ilha de Elefantina e o Mausoléu de Aga Khan
  • Se tiver interesse, conheça a Grande Barragem construída para domar a fúria do rio Nilo e abastecer a região de água e eletricidade

O INCRÍVEL TEMPLO DE PHILAE

Eis um dos sítios arqueológicos mais surpreendentes do Egito. Philae era uma ilha localizada a sete quilômetros do centro de Aswan, onde havia um templo dedicado a Ísis, deusa do amor e da fertilidade. O templo foi construído durante a dinastia Ptolomaica, a dinastia Macedônia que governou o Egito de 305 a 30 a.C. após o comando de Alexandre, o Grande. Essa dinastia teve muito respeito pela cultura egípcia antiga e adotou várias divindades da mitologia. Assim, o faraó Ptolomeu II decidiu construir um templo dedicado à deusa Ísis.
Templo de Philae dedicado a deusa Ísis.

Com a construção da barragem de Aswan em 1950, a ilha começou a submergir e o templo corria o risco de desaparecer. Como parte de um projeto da UNESCO para preservar o sitio arqueológico, em 1970 ele foi desmembrado em 40 mil peças e totalmente transferido para a ilha vizinha de Agilika, onde está hoje.
Os barquinhos partem de um vilarejo núbio para ir ao Templo de Philae.

Chegar ao templo já garante uma certa magia. É preciso tomar um barquinho para fazer uma travessia de cinco minutos. Além disso, o templo é cercado de lendas. Ísis (a deusa do amor) era casada com Osíris seu irmão (deus da vida além da morte) e tiveram um filho, Hórus (deus dos céus, deus da ordem). Set (deus do caos, deus da desordem) e também irmão de Ísis e Osíres, sentia muito ciúme de Ísis e decidiu matar Osíres. Mandou construir um sarcófago com as medidas do irmão e num certo dia desafiou os presentes a entrarem ali para ver quem cabia. Vários entraram e não couberam. Na vez de Osíres, o sarcófago foi fechado imediatamente e jogado no rio Nilo. Ísis entrou em desespero e começou a procurar pelo marido-irmão. Quando Set soube que o corpo tinha sido encontrado, mandou esquartejá-lo e espalhar os pedaços pelo Egito. Ísis conseguiu reunir todas as partes, com exceção do pênis que havia sido comido por um peixe. Ela fez um outro a partir de uma planta e mumificou o corpo. Dizem que a tradição da mumificação vem daí. A lenda diz que as lágrimas de Ísis provocaram a primeira enchente do Nilo. Mais tarde, Hórus matou Set para vingar o pai. E toda a história está registrada nas paredes do Templo de Philae. Também dizem que Cleópatra costumava frequentar o templo em reverência à deusa do amor. Não é uma história incrível?
Templo de Philae e suas lendas.

Um templo que precisa ser visitado no Egito.

A noite tem um show de som e luzes no templo que dizem ser lindo. Não cheguei a conferir. Estive duas vezes no templo, uma de manhã cedinho e outra ao entardecer.
Ísis, deusa do amor.

Para os viajantes mais independentes, categoria na qual me incluo, é preciso tomar um taxi, negociar para que ele espere até seu retorno e tomar um barquinho até o templo. Muitas empresas tem operação com guia e motorista para conduzir grupos de visitantes de forma mais cômoda. Só depende do seu perfil.

No dia seguinte embarquei num cruzeiro de quatro dias de Aswan até Luxor. Optei pelo barco Nile Adventurer Sanctuary, da empresa Sanctuary Retreats, por ser menor e mais exclusivo. Adorei a escolha.




Comentários