O poder da
oração: especialistas e religiosos falam sobre os benefícios da boa 'conversa
com Deus'
Conversa, pedido, agradecimento, manifestação
de fé, ato de louvor ou adoração diante do que é transcendente ou divino. A
oração é um ato humano de encontro ao sagrado
“Se eu quiser falar com Deus. Tenho que ficar a
sós. Tenho que apagar a luz. Tenho que calar a voz. Tenho que encontrar a paz
(...)”, a canção do mestre Gilberto Gil pode ser interpretada como uma ode à
crença de cada um. Pessoas de fé. Crentes a uma
divindade. Agnósticos. Ateus. Não importa. Professando uma oração ou
simplesmente conversando com um Deus, a força de uma prece ou de uma
reza faz parte do ser humano e tem o poder de acalentar, apaziguar, encorajar,
se autoconhecer, despertar a esperança e tornar a vida mais leve e o fardo do
viver menos pesado.
Não é necessário seguir uma religião para
orar. A religiosidade, o sentimento do sagrado, do saber da existência de algo
maior também pode se apresentar em forma de oração, que está presente em todas
as religiões e é um sopro essencial para o homem se manter sano. Seja na fé
cristã, dos católicos, dos judeus, dos budistas, das religiões de matriz
africana, como na umbanda, enfim, o Bem Viver hoje nos convida a uma conexão
com as palavras que nos fazem bem, tragam paz e nos coloquem no lugar do outro,
respeitando-o em comunhão com todos e com as diferenças.
O mundo está precisando de oração. Não
importa o credo. E não há regras. Todo Deus prega paz, amor e respeito. Guiado
por esse caminho, que cada um encontre o conforto nas palavras que irão
traduzir seus anseios, apelos e buscas. Ao invocar uma oração, o homem crê em
algo superior que comanda toda a complexidade do Universo e, assim, cria um
diálogo permanente sentindo a presença da Providência, da suprema sabedoria de
um Deus, da transcendência.
"A
oração é um conforto muito grande, até para quem perdeu a esperança, porque,
tomada pelo poder da oração, ela irá renascer, reencontrar o amor, que é o que
importa nesta vida"
(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press %u2013 1/3/17)
Lúcia Maria dos Santos,
aposentada, de 79 anos, que tem a umbanda como religião
“Curvo diante
a força, dobro diante a luz. Ó força poderosa do mundo, envia uma centelha até
esses pequenos que somos prostrados aos vossos pés! Afastai de nós as vibrações
malignas, as palavras que ferem, os olhares que aniquilam, os pés que perseguem
e os desejos que nos maltratam de longe. Ó todo-poderoso, abre para nós a senda
do bem, a estrada do amor com a vossa força e a vossa luz. Que assim seja.” A
oração do Divino Espírito Santo das Almas, trazida pela hierarquia espiritual
da família da aposentada Lúcia Maria dos Santos, de 79 anos, é a força que a
guia dentro da sua fé na umbanda, religião brasileira que sintetiza vários
elementos das crenças africanas, do sincretismo católico, do cristianismo, da
cultura afro-brasileira, somada aos costumes indígenas, além de influências
orientais, esotéricas, místicas e kardecistas.
Para Lúcia, a oração na umbanda é igual a todas as
outras. Ainda que use outras palavras, ela clama profundamente, sempre
invocando Deus: “É o que fazemos. Pedimos por este mundo, que amoleça o coração
das pessoas revoltadas, que nos abençoe, nos una mais e dê paz aos corações.
Acredito que temos de orar diariamente, não só na hora em que precisamos. E não
podemos, jamais, esquecer de agradecer”.
O AMOR Lúcia enfatiza que a oração entrega paz ao
coração: “Imediatamente nos sentimos melhor, nos traz alento e tenho certeza de
que é uma forma de cura. Tenho fé em Nossa Senhora Aparecida, faço minhas
orações e as recebo. Sinto vontade, tenho necessidade de orar. E como me faz
bem. Acredito que Deus dá a oportunidade da graça para as pessoas de fé. A
oração é um conforto muito grande, até para quem perdeu a esperança, porque,
tomada pelo poder da oração, ela irá renascer, reencontrar o amor, que é o que
importa nesta vida”.
Não interessa o caminho, no fim de tudo, o amor é o
refúgio da humanidade. Para Bruno Gimenes, conhecido como um dos responsáveis
pela expansão da espiritualidade no Brasil, diretor de Conteúdo e cofundador da
instituição Luz da Serra, ainda que muitos enxerguem a oração sempre dentro de
uma doutrina, ela também existe fora. Para ele, não importa o caminho religioso
que a pessoa tenha escolhido, a oração é um meio universal de se conectar com o
planeta, com um Deus ou, até mesmo, um momento de introspecção e
autoconhecimento. “Palavras que proporcionam alívio para um sofrimento ou com o
objetivo de ter paz interior são bem-vindas, independentemente de credo. Há
religiões que seguem ritos, mas o que importa é a busca interior por respostas
que, muitas vezes, vêm em momento de oração e meditação.”
Hoje, o Bem Viver conversou com representantes e
seguidores de várias religiões ou filosofias de fé para entender como a oração
se apresenta para cada uma delas. Procurou enxergar como o ato de orar é
presente e tem força no momento de introspecção e conexão com o divino.
Expressão
divina do ser humano
A oração, canal de comunicação com Deus, faz
parte da humanidade. Para o espiritismo, dita com o coração só faz bem. No
judaísmo, é um processo reflexivo e de reencontro consigo mesmo
“Quanto
mais simplicidade, naturalidade, confiança, humildade, mais nossa mente vibra
num processo de luminosidade que alcança paragens inimagináveis"
Juselma
Maria Coelho, presidente da Sociedade Espírita Maria Nunes (Seman)
A oração não precisa de local, hora ou
dia apropriado para ser proferida. A mente e o coração de cada um o conduz a
Deus quando for necessário. E o grande desafio é fazer da “nossa intimidade o
verdadeiro altar de comunicação com Deus, nosso Pai”, na percepção de Juselma
Maria Coelho, presidente da Sociedade Espírita Maria Nunes (Seman), da
Sociedade Espírita Joanna de Ângelis (Seja) e do conselho administrativo do
Instituto Assistencial André Luiz.
Para ela, por meio da prece todos buscam se elevar
até Deus e, para o espiritismo, todas as preces de todos os cultos são boas se
forem ditas com o coração, e não com os lábios. “Na sua infinita misericórdia,
Deus não rejeita a voz que lhe pede ajuda ou lhe agradece só porque a pessoa
faz a prece de um jeito ou de outro. O que entendemos é que a prece deve ser
sempre simples e conter poucas e sinceras palavras. Aquele que não ora e
desconhece a ação benfeitora da prece se sente distanciado da vida e das
manifestações de real alegria que ela proporciona. Não há como desprezar a
oração que funciona como um processo de iluminação do ambiente, que ela seja
feita sem exageros, sem fanatismo, sem lamentações sem sentido. Orar é
trabalhar no coração para que todos os sentimentos de ódio desapareçam,
deixando de existir a vingança. É perdoar as ofensas, é doar sem esperar
recompensa, é amar constantemente.”
Juselma Maria Coelho destaca que a oração, canal de
comunicação com Deus, sempre foi utilizada em todas as épocas da humanidade,
variando a forma de expressão, mas sempre concretizando um diálogo do filho (o
ser humano) com o Pai (Deus). “Quanto mais cresce o homem no seu conhecimento
técnico e científico, mais ele tem oportunidade de identificar uma razão
suprema que rege todas as coisas do Universo. É exatamente aí, quando ele
identifica que existe um ser maior, que eleva seu pensamento e dialoga com este
ser da forma que sabe dialogar: ele se emociona, ele admira, ele se surpreende,
ele se alegra e expressa esses sentimentos com os recursos que tem, que não
deixa de ser uma forma de oração. Aquele que ora e busca ser coerente com seu
sentimento expresso na oração vive em maior harmonia, suavizando as relações
com seus semelhantes, familiares, com a natureza enfim.”
ESTADO INTERNO
Conforme Juselma, para que as
pessoas aprendam a orar, elas precisam antes identificar a existência de Deus,
entendendo-o como Pai. “Ao se conscientizar, elas passam a se voltar ao Pai
para agradecer, louvar, pedir e se orientar. E é nessas buscas que aprenderão a
orar. No início, às vezes, a pessoa usa de formalidades para se dirigir a Deus,
mas quando percebe o quanto ele é amor, ela se enche de confiança e
naturalidade, sempre com respeito.” Para ela, a verdadeira oração depende
apenas do estado interno que vibra em nós. “Quanto mais simplicidade,
naturalidade, confiança, humildade, mais nossa mente vibra num processo de
luminosidade que alcança paragens inimagináveis. Orar é um ato elevado no reino
dos homens. E saber orar é expressão divina no seio humano. Então, orações
especiais, repetidas diariamente, só surtirão efeito se ao pronunciá-las a
pessoa estiver num estado interno de vibração de amor. Não basta balbuciar
maquinalmente as palavras.”
Em tempos conturbados, Juselma acredita que, “às
vezes, andamos distraídos e nos empolgamos ou nos perturbamos com a violência
que grassa em todo o planeta. Enquanto nos distraímos com os fatos, nos
esquecemos de que nosso Pai é todo amor e bondade, e que nada ocorre sem que
Ele permita. Temos de identificar a vigência das leis divinas e entender que
tudo o que ocorre tem uma razão de ser e que todos os fatos, por mais complexos
e confusos, vão nos proporcionar com o passar do tempo a progressão para a luz.”
HIGIENE DA ALMA
Muitos se esquecem do poder da
oração ou só lembram nas horas de dificuldade. Para Juselma, “se todos
lembrássemos da oração nos momentos difíceis, já teríamos dado um grande passo,
que é a confiança na existência de um Pai que protege o filho. Bom seria,
entretanto, se a oração fosse um belíssimo hábito de amor, automatizado pela
crença e pela convicção em relação à existência de Deus, nosso Pai de amor.
Assim como temos hábitos diários de higiene do corpo físico, deveríamos ter os
hábitos diários de higiene da alma, que seria a oração”.
Juselma, que também é presidente da editora
espírita Fonte Viva, escreveu a obra Linha direta com Deus, que é uma
compilação de orações que orientam o pensamento diante das dificuldades que
qualquer um pode vivenciar. “Busquei embasar a fundamentação da oração em Jesus
e em outros amigos espirituais, deixando um modelo de oração para as mais
diversas situações nas quais possamos ser envolvidos no dia a dia. As dores
contribuem para a evolução, sob a regência da lei de causa e efeito. Isso não
deve impedir que a gente faça o que depender de nós para melhorar a nossa
condição atual.”
Se não há dia, horário e local, também não há hora
para começar a orar. E toda oração tem o seu valor, como bem destaca Juselma:
“Aquele que canta, dança e fala em louvor a Deus manifesta o reconhecimento da
sua dependência constante do Pai. À medida que adentramos na compreensão da
importância da vida e do valor que temos diante da grandeza de Deus, vamos
mudando a forma de orar.
A oração sai das simples manifestações concretas
para vibrações cada vez mais sutis e elevadas, que nos levam a entender que o
silêncio também passa a ser prece profunda, cuja força é capaz de alterar a
estrutura até de ambientes físicos.
É fácil notar isso quando convivemos com alguém que
ora naturalmente e se submete a Deus, na grandeza da vida, independentemente da
linha religiosa que abraça”, finaliza.
Oferenda a Deus
O judaísmo é a mais antiga tradição religiosa
monoteísta, originou-se por volta do século 18 a.C, e a base está na obediência
aos mandamentos divinos estabelecidos no livro sagrado: o Torá. A oração para
os judeus, segundo o rabino Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira,
é o esforço humano de se ligar a Deus por meio de palavras, pensamentos e
emoções. “É também uma oferenda não material com a qual o presenteamos.”
(foto: Arquivo Pessoal)
Para o rabino
Leonardo Alanati, da Congregação Israelita Mineira, a oração é o esforço humano
de se ligar a Deus por meio de palavras, pensamentos e emoções
O rabino Leonardo Alanati afirma que a oração é um
dos elementos positivos no processo de cura, mas não é o único. “Nossos sábios
nos orientam a sempre procurar tratamentos médicos comprovados e adicionar a
esses tratamentos a prática da oração e o cumprimento de outros mandamentos.”
Assim como, para ele, a fé potencializa o poder da oração, mas não é
fundamental. O rabino destaca que Deus está atento às palavras e pensamentos de
qualquer pessoa, independentemente de sua fé.
Um pensador do mundo atual, o rabino Leonardo
Alanati explica que, “antigamente, quando o ser humano tinha menos poder e
tecnologia, as pessoas recorriam mais à oração. O judaísmo é uma religião de
atos, de não depender apenas de orações. Quando Moisés estava diante do Mar
Vermelho rezando, existe uma lenda que Deus lhe comanda: para de rezar e
levanta os braços! Ele levantou os braços e o mar se abriu. A oração no
judaísmo é também um processo reflexivo, de autoavaliação, de reencontro
consigo mesmo, além de se ligar a Deus”.
RELIGIÃO DE ATOS
No judaísmo, o rabino Leonardo
Alanati conta que há orações especiais, que todos devem saber e repetir
diariamente, e concorda que a oração pode ser uma conversa com Deus, própria,
particular, ainda que haja as preces prescritas para a religião: “O judaísmo
evoluiu de orações espontâneas para orações prescritas, por diversas razões
complexas. Atualmente, a maior parte das orações já está pronta, é só ler. No
entanto, os judeus são convidados a acrescentar algo pessoal às orações
tradicionais”.
O rabino lembra que existem orações de louvor, de
pedidos e de agradecimento (além da confissão de pecados). “Mas quem só reza
para pedir, traz uma oferenda incompleta.” Ele lembra ainda que “muitas orações
no judaísmo estão ligadas a atos específicos. Orar deve nos inspirar a agir. O
judaísmo é uma religião de atos”. O que tem a ver com a divisão da palavra
oração: orar + ação, ou seja, há quem defina a oração como o momento de falar
com Deus e agir, e não pedir. Mas é, sim, uma conversa para perceber e
expressar o que sente e, por meio da intuição, agir, mudar e agradecer pelas
coisas boas e ruins, que também são aprendizados.
Nos ensinamentos do rabino Leonardo Alanati, ele
enfatiza que existem dois outros componentes na oração judaica: comunidade e
estudo. A oração superior, mais elevada, é a comunitária. A oração individual
pode ocorrer, mas é incompleta. “A liturgia combinou alguns textos sagrados bíblicos
e pós-bíblicos entre as orações para que esta seja também uma oportunidade de
aprendizado.” (LM)
"O
respiro da alma"
Para a Igreja Católica, a oração é a forma de
comunicação, linguagem e unidade com Deus. E nãohá religião sem essa dimensão
espiritual. No Budismo, a fé está na identificação com a natureza
Padre Marcelo
Carlos da Silva, pároco e reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração
Perpétua Nossa Senhora da Boa Viagem, lembra que muitos só se lembram de Deus
nos momentos difíceis(foto:
Patricia Ribas/Divulgação)
A oração faz parte da vida cristã. Com mais de dois
mil anos de história, a mais antiga instituição do mundo em funcionamento, hoje
sob a liderança do papa Francisco, a religião católica, portadora da
integralidade e totalidade do depósito da fé, é constituída por ensinamentos
como amor, compaixão, fraternidade, solidariedade provenientes das ideias de
Jesus Cristo, fundador e o maior apóstolo do cristianismo. Padre Marcelo Carlos
da Silva, pároco e reitor do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua
Nossa Senhora da Boa Viagem, explica que a oração é o “respiro da alma” sedenta
da transcendência, como nos recorda todos os teólogos da igreja primitiva.
“Ela é a forma de comunicação com Deus, de
linguagem e unidade. Para nós católicos, não existe religião sem essa dimensão
da vida espiritual. Por isso, a oração como forma de diálogo e comunicação com
Deus pode ter vários formas, ou métodos, como o da Inaciano, de Santo Inácio; a
Lectio Divina (leitura orante), que é feita por meio da escuta e meditação da
palavra de Deus; a Leitura Centrante; a meditação; a oração diante da
Eucaristia (adoração), o método mais inserido na meditação na natureza, com a
música... Ou seja, em se tratando de método orante, tem vários estilos.”
Padre Marcelo acredita que a oração é a forma ou
meio de comunhão e conexão com Deus e acrescenta que a melhor forma e o
conteúdo do método “é a vida das pessoas, o que vivem e sentem. Jesus um dia
disse 'a oração que agrada a Deus é aquela que brota do coração', de dentro da
vida e nos devolve pra própria vida”. Assim, é natural dizer que a oração tem
poder: “Sim, já que a força que alimenta a oração é a fé. E onde o ser humano
põe fé, ele põe a força que transforma a vida”.
SUPERMERCADO DA FÉ
Mas é triste que muitos só
pensam em rezar em momentos de angústia. Mas, para padre Marcelo, a verdade é
que muitos só se lembram de Deus nos momentos difíceis, de necessidades, e usam
da oração para “acessá-lo”, fazendo nascer uma compreensão equivocada de Deus
como se ele fosse “um produto de supermercado”, onde as pessoas vão buscar o
que precisam, em geral coisas, quase sempre... e não a força do alto para
enfrentar os desafios. “O que Deus nos deu de mais importante é a salvação, a
vida eterna. Tudo o mais está abaixo. mas nesta lógica materialista religiosa,
Deus se torna essa espécie de fonte materialista (supermercado da fé) onde as
pessoas não vão a Ele pelo que ele é, mas pelo que Ele dá. Essa relação é
interesseira e perigosa, já que Deus vira mais um produto no mundo do
consumismo em que o que importa é o que Ele me dá e não as pessoas, a
comunidade, a sociedade, a vida em todas as suas variedades. Uma fé madura nos
coloca em comunhão com as dores do mundo, do próximo, dos seres e não só com o
meu 'mundinho pessoal'”, ensina.
Para padre Marcelo, o mundo está precisando de uma
vida espiritual orante, que leve as pessoas ao próximo e não só a ela mesmas:
“A solidão é sintoma do vazio e do isolamento, do individualismo. Deus nos leva
ao outro e a outros infinitos da vida em sua ampla realidade. O mundo está
precisando de 'pessoas orantes', homens e mulheres, mas que levem a oração para
a vida e a vida para a oração. Onde o orante por essa via se torne um ser
humano melhor, mais compassivo e solidário. Um homem ou mulher religioso que
usa a religião, a oração e Deus para segregar, para polarizar, para agredir e
reproduzir a intolerância como tem ocorrido não se encontrou com o verdadeiro
Deus, mas com um 'deus – com d minúsculo mesmo – que foi criado à sua própria
imagem e semelhança' e não a de Jesus Cristo que nos ensina que 'Deus é amor'”.
VIDA ORANTE
No entanto, padre Marcelo é otimista.
Ele crê que, mesmo em uma sociedade marcada pela cultura do individualismo e do
consumismo num mundo tecnologizado, a oração e a religião têm o seu lugar e
importância pessoal, inclusive para os jovens: “Aplicativos que promovem a
oração e a palavra de Deus existem com variedade. Por ser a Boa Viagem uma
igreja 24 horas, Santuário da Adoração Perpétua, temos muitos fenômenos juvenis
aqui presentes. Temos, por exemplo, os 'Amigos Adoradores', que às
sextas-feiras, às 23h, depois da faculdade e de um dia de trabalho, em vez de
irem pra balada, veem para a igreja rezar. Ou seja, eles vão buscar um momento
de oração pessoal com Cristo. A oração faz parte também da vida de muitos que
não têm filiação religiosa (igreja) e que buscam a vida espiritual sem laço com
as instituições. Isso quer dizer, tem uma vida orante mas sem pertença
religiosa”.
Padre Marcelo explica que a oração está
correlacionada com a fé: “Não há fé sem vida orante, oração. Bem como não há
oração sem que seja alimentada pelo princípio da fé, do ato de acreditar em um
Deus que lhe escuta. A fé está para a oração e vice-versa assim como o mar está
para os peixes. retire o peixe do mar, da água e ele morrerá. Retire a fé do orante
e ele desparece”. Como não há prazo ou hora para começar e encontrar sua fé e
oração, no fim de ano, quando as emoções estão mais afloradas, padre Marcelo
conta que “nesta época parece que as pessoas se dispõem a fazer o bem a tudo
aquilo que não fizeram ao longo dos 365 dias. Mas chega o ano novo e essa
sensibilidade humana e espiritual parecem desaparecer. Mas é bem verdade que
tem pessoas que rompem com essa cultura superficial do bem e da
espiritualidade. Aqui mesmo na igreja da Boa Viagem temos projetos de amor ao
próximo e compaixão o ano inteiro: grupo de pastoral de rua, de acolhimento de
refugiados, da cultura, da pessoa idosa, de terapias individuais e grupais...
Enfim, ao longo dos anos, mais de 40 grupos dão vida a essa comunidade. Já na
virada do ano, mais de 500 pessoas de vários lugares da Grande BH veem para a
Boa Viagem para a vigília da paz. Em vez de fazer ritos de crendices e
superstições, eles rezam pela paz no mundo e pedem as bênçãos de Deus para o
novo ano. É uma energia, uma espiritualidade sublime a de passarmos o ano em
oração”.
Energia do amor
Ele conta que desde pequeno foi estimulado a ver a
vida de uma forma espiritualista, bem aberta. A visão da espiritualidade sem
cunho religioso sempre foi um padrão da educação que recebeu. Bruno Gimenes é
conhecido como um dos responsáveis pela expansão da espiritualidade no Brasil,
especialista em desenvolvimento pessoal e prosperidade. Diretor de conteúdo e
cofundador da Instituição Luz da Serra, é professor, palestrante e destaque no
canal Luz da Serra no YouTube, com mais de 1 milhão de seguidores no qual
aborda assuntos de bem-estar, desenvolvimento pessoal e espiritualidade que
impactam a vida de milhares de pessoas diariamente.
Para Bruno, “a oração é a conexão capaz de
manipular as forças balsâmicas para curar tudo que precisa ser curado. A única
recomendação é que, ao iniciar uma prece com gratidão, a energia do amor seja
emitida. Ela é capaz de se conectar com outras energias de luz pelo mundo, já
que tem a mesma frequência. Esse processo, de agradecer e conectar-se na mesma
vibração, são duas das quatro etapas que proponho para realizar a oração mais
poderosa de todos os tempos, descrita em meu livro. Uma orientação que dou para
quem costuma fazer uma reza específica (Pai-Nosso, Ave-Maria), entoar mantras
ou qualquer outro ritual religioso, é incluir a oração mais poderosa durante as
práticas diárias”.
Bruno explica que a única direção da oração é a
gratidão. “No livro, ensino a conexão de quatro etapas. O primeiro passo é expandir
a sua energia por meio da gratidão. Onde quer que você esteja, do jeito que
for, sozinho ou acompanhado, na sua casa ou na igreja, em um lugar barulhento
ou no silêncio absoluto, acreditando ou não em Deus. Nada disso importa. Comece
a oração agradecendo. Agradecer não é ignorar o que está ruim, mas enaltecer o
que está bom. A segunda é a conexão, é se conectar com outras pessoas que estão
nessa mesma vibração de gratidão que você. A próxima fase é direcionar a
energia. Com toda essa força de luz em mãos, é o momento de guiar essa energia
para todas as causas do mundo que você acha que precisam de ajuda. E, por
último, vem a etapa 'eu mereço'. Depois que você utilizou as suas emoções e
elevou a sua energia, se conectou com a luz de todos, na mesma vibração, e
mandou essa força para o mundo, chega o momento que chamo de 'eu mereço'. É
agora que você vai pedir o que quer; é aqui que você expressa e entrega para o
universo os desejos mais profundos do seu coração.”
Na crença de Bruno, há outro momento-chave
essencial para fazer uma oração preciosa: o fim. “Nos segundos finais da prece,
a conexão está no melhor nível de energia. Por isso, esse instante não deve ser
quebrado ao abrir os olhos imediatamente. O ideal é manter os olhos fechados,
seja por um minuto ou 10 minutos. É no período pós-conexão que as maiores
inspirações acontecem.”
Para ler...
l Uma oração para todas as religiões
Oração é a conexão capaz de manipular as forças
balsâmicas para curar tudo que precisa ser curado. Ao iniciar uma prece com
gratidão, a energia do amor é emitida. Ela é capaz de se conectar com outras
energias de luz pelo mundo, já que tem a mesma frequência. Esse processo, de
agradecer e conectar-se na mesma vibração, são duas das quatro etapas propostas
pelo auto para realizar a oração mais poderosa de todos os tempos. Em 11
capítulos, Bruno Gimenes esclarece como descobriu essa forma de orar e explica por
que as pessoas rezam errado. Além de revelar em detalhes as quatro etapas para
uma prece poderosa, o autor ainda oferece uma oração conduzida – que pode ser
feita por meio da leitura ou áudio por meio do qrcode disponível na obra – e
apresenta uma rotina de oração para cada área da vida.
Título: A oração mais poderosa de todos os tempos
Autor: Bruno Gimenes
Editora: Luz da Serra Editora
Páginas: 160 Preço: 34,90
Abade Mokugen, do Templo Zen das
Alterosas, explica que quando oramos nos harmonizamos com a grande natureza
representada por Buda(foto: Arquivo Pessoal)
Momento de iluminação
O budismo é uma religião baseada nos ensinamentos
deixados pelo Shakyamuni Buda há mais de 2.600 anos. Ele nasceu com o nome de
Siddhartha Gautama, na Índia, e viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. em
uma região que hoje pertence ao Nepal. A prática parte da constatação do
sofrimento como a condição fundamental de toda existência e afirma a
possibilidade de superá-lo por meio da obtenção de um estado de bem-aventurança
integral, o nirvana. O budismo é uma religião que não professa a existência de
nenhum Deus.
Até os dias de hoje, o Dharma budista (dharma,
palavra em sânscrito que significa aquilo que mantém elevado) é transmitido por
todas as gerações de budas e patriarcas. Peculiarmente, o zen é transmitido de
coração a coração, de corpo a corpo, além das escrituras, transcendendo o mundo
das palavras. O abade Mokugen, do Templo Zen das Alterosas, fundado há 15 anos,
no Bairro Serra, missionário e diretor-assistente da Escola Soto Zen da América
Latina, que morou e fez seu treinamento no Japão por 22 anos, explica que
quando oramos nos harmonizamos ou nos identificamos com a grande natureza que é
representada pelo Buda. Com a energia mais elevada, obtemos benefícios porque,
interiormente, todas as pessoas têm natureza divina ou budica.
No budismo, destaca abade Mokugen, por meio da
oração o praticante alcança o estado de consciência mais profundo e, com essa
identificação, eleva-se o espírito e a mente universal se expressa. “Tanto a
oração quanto a meditação despertam a natureza adormecida e divina e, assim,
temos um momento de comunhão com o mesmo nível de energia. Não há dogma no
budismo e qualquer pessoa quando ora ou medita se identifica e harmoniza com o
estado de consciência de Buda. Assim, a pessoa se torna iluminada ao,
simplesmente, despertar a natureza original que já tem ao nascer.”
Conforme o abade Mokugen, a comunhão por meio da
oração se apresenta quando cada um passa a praticar o desapego dos
egocentrismos. É preciso se libertar do material, da visão errônea de sim
mesmo. No budismo, há um ditado do mestre japonês Dogen, fundador da Escola
Soto Zen, que diz assim: “Estudar o budismo é estudar a si próprio. Estudar a
si próprio é esquecer de si próprio. E esquecer de si próprio é estar em
harmonia com todas as coisas do universo”, que é a iluminação.
A oração é o caminho da transcendência. Abade
Mokugen, em outro ditado, ensina que “classificar a questão da vida e da morte
é a mais importante de todas. Tudo é impermanente e o tempo passa rapidamente.
Não desperdice a sua vida em vão”, ou seja, busque a transcendência.
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