DO MÉDICO DOS PÉS DESCALÇOS À ACUPUNTURA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Um Médico de pés descalços aplicando acupuntura na visita domiciliar

Médicos de pés descalços

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Médico de Pés Descalços (Chinês: 赤脚医生; pinyin: chìjiǎo yīshēng) é um profissional de saúde que não cursou clássica formação em medicina. No Brasil corresponderia a um profissional de nível médio, ou seja com o ciclo básico completo mais três anos de curso técnico. Algo equivalente à Auxiliares de Enfermagem, Inspetores Sanitários ou de Saneamento, os atuais Agentes de Controle de Zoonoses ou Agentes de Vigilância em saúde e os conhecidos Agentes Comunitários de Saúde. A importância de compreendermos sua formação vêm da necessidade de desenvolvimento de serviços de saúde com ênfase na medicina preventiva e promoção de saúde o que no Brasil vêm se denominando Programa de Saúde da Família.
Na China, os médicos de Pés Descalços são também conhecidos como médicos camponeses, instituídos pelo governo pós revolucionário chinês que organizou a China a partir de 1º de outubro de 1949. Nesta data, o bibliotecário auxiliar da Universidade de Pequim (1918), que participou da fundação do Partido comunista Chinês (1921), Mao Tsé Tung, proclama, por decisão do Conselho Popular, a Republica Popular da China, após o sofrido processo revolucionário que ficou conhecido como “a grande marcha”. O progressivo reconhecimento internacional dessa nova nação consolidou-se com a revolução cultural (1966) que caracterizou a revolução comunista chinesa. A China comunista só veio ser reconhecida pelos Estados Unidos da América do Norte e admitida na ONU em 1972.

Necessidade de Saúde na China

quadro sanitário da população chinesa era lastimável, ignorando-se as baixas da guerra e tribunais revolucionários, que já foram estimadas entre 750.000 e 16 milhões pelo governo chinês e americano respectivamente, as condições de vida eram péssimas, o comércio, exportação de mulheres escravas para prostituição era uma prática comum; a sífilis atingia índices entre 35 e 50% da população em algumas regiões; estimavam-se cifras em torno de 20 milhões de habitantes expostos ao risco imediato de inanição. A esquistossomose e outras doenças transmitidas pela água, assumiam proporções de grandes endemias, como nos países subdesenvolvidos da África, Terceiro Mundo e estavam associadas à falta de saneamento e utilização de excrementos humanos, sem prévio tratamento, como adubo nas plantações.
Analisando-se a mortalidade infantil nesse país continental, observa-se que esta caiu de 160, 200 óbitos por cada 1000 nascidos vivos, em 1935, para 34 por mil, na década de 80; e o coeficiente bruto mortalidade de 30 a 40 por 1000 habitantes, para 7/1000 habitantes, no mesmo período, ou ainda, a ampliação da média de vida de 28 anos, em 1935, para uma expectativa de vida entre 68 e 70 anos, em 1990.
Entre as diretrizes para instituição desse profissional elaboradas na I Conferência Nacional de Saúde estavam: a) Atenção prioritária de serviço de saúde na zona rural, onde residiam 80% da população sem por isso desatender a população urbana; b) Integração da Medicina tradicional chinesa com a Medicina Ocidental.
Não havia um sistema obrigatório de registro médico, estima-se que nessa segunda metade do início do século XX havia cerca de 400.000 médicos tradicionais incluindo desde os eruditos, formados nas escolas imperiais, com caligrafia irretocável e capazes de recitar os textos clássicos de medicina, até os práticos itinerantes, que mal sabiam ler e aprenderam com médicos das diversas pequenas escolas/clínicas como auxiliares ou em relações “formais” de mestres discípulos.
Nessa época o número de médicos ocidentais correspondia à 1 para 1.000.000 habitantes, as centenas de médicos tradicionais limitavam-se às famílias de mais posses, a grande maioria da população rural estava desassistida. Com a revolução cultural em cerca de 30 anos já se registrava nas estatísticas nacionais, 1.463.406 médicos camponeses, escolhidos por local de residência com a participação da comunidade. Cada médico camponês destinava-se ao acompanhamento entre 176 (na brigada de Cai Liang) e 334 pessoas (no distrito de Yexian). No Brasil uma Agente Comunitário é responsável por 50 - 100 famílias na área rural e 150 - 250 famílias na área urbana, com aproximadamente 1000 famílias por Unidade ou Posto de Saúde da Família.

Formação do Médico de Pés Descalços

A formação do médico camponês, no início da concepção dessa prática de saúde, durava 3 anos de teoria e prática em períodos intercalados. Os aprendizes residiam inicialmente por 5 meses próximos à clínica -escola e, nos períodos de colheita, voltavam para sua região de origem. Havia uma preferência na seleção dos candidatos que possuíssem níveis mais elevados de instrução formal, além do conhecimento e participação na política socialista.
O período inicial incluía anatomia e fisiologia, dissecação de animais (geralmente porcos) e utilizavam mapas e modelos em aulas teóricas, elementos de patologia, bacteriologia (utilização de microscópio para identificar ovos de parasitas e microorganismos da água) e higiene. Essa última além do aprendizado da esterilização de agulhas e seringas incluía noção dos processos de saneamento, tratamento de esgotos, compostagem agrícola (com utilização de biodigestores) e tratamento para obtenção de água potável. Além do aprendizado de utilização do estetoscópio, diagnóstico de doenças transmissíveis, vacinação e sinais da gravidade de enfermidades, que aprendiam acompanhando rondas de rotina.
Também deveriam ser capazes de memorizar dosagem e utilização de cerca de 40 substancias medicinais e um mínimo de 50 pontos de acupuntura associados ao complexo de sintomas que esses pontos controlavam. Concentravam-se, inclusive para prática da acupuntura, nas doenças comuns da vizinhança. Entre suas atribuições estava a recepção e realização de exames preliminares antes de chamar o médico.
No segundo momento de aprendizagem em tempo integral, médico de pés descalços que havia estudado as doenças mais comuns, estuda então o espectro de patologias de cada órgão bem como sua anatomia e fisiologia. Além da aprendizagem das patologias por sistemas orgânicos o futuro o médico camponês estuda as divisões da prática médica em especialidades e visitam os hospitais escolas das regiões mais próximas.
Ao término de sua formação incluíam ainda conhecimento sobre Planejamento Familiar, Campanhas Patrióticas, conhecimento das equipes médicas itinerantes e da hierarquização do Sistema de Saúde. Havia uma formação diferenciada para auxiliares de saneamento e parteiras, que podiam ser jovens interessadas ou mães experientes, com cursos sucessivos sobre princípios da obstetrícia e pré natal acompanhando médicos em exames pré concepcionais e partos.
O manual médico da província de Hunan incluía mapas de aurículo-acupuntura e acupuntura sistêmica, massagem terapêutica, relação de plantas medicinais conforme efeito descritos na teoria do yin/Yang e 5 elementos incluindo algumas pesquisas sobre princípios ativos e farmacologia de algumas plantas selecionadas, incluídas em formato de artigo científico no anexo do manual como um modelo de estudo

Bibliografia

  • Horn, J S. Medicina para Milhões: A experiência Chinesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
  • Organização Mundial da Saúde. Atencion primaria de salud, La esperiencia china. Informe de un seminario interregional. Genebra: OMS, 1984.
  • PC GLOBE (Software). USA, INC. Tempe, A2, 1990
  • Revolutionary, Health, Hunam Committee. A Bare Foot Doctor’s Manual.: Londres: Routledge & Kegan Paul, 1978.
  • Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Beijing; Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Shanghai; Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Nanjig; Academia de Medicina Tradicional Chinesa. Fundamentos essenciais da acupuntura chinesa. São Paulo:Ícone, 1995.
  • Taylor, Kim. Chinese Medicine in Early Communist China, 1945-1963. EUA: 2004. Disponível em http://www.jcm.co.uk/product.php?catID=499&opener=0-499&productID=7842
  • IISH Stefan R. Landsberger Collection Stefan Landsberger's Chinese Propaganda Poster Pages. Disponível em http://www.iisg.nl/~landsberger/
Acupuntura médica 
É a prática da acupuntura por profissionais médicos. Segundo AAMA - American Academy of Medical Acupuncture, a acupuntura médica é um termo usado para descrever a acupuntura realizada por um profissional treinado e licenciado em medicina ocidental, que também teve uma formação em acupuntura exercendo esta como uma especialidade (assim como se tem o especialista apontado pelos conselhos federais CFP e CFE [3]).
Um médico pode usar a medicina ocidental, a acupuntura tradicional chinesa ou uma combinação de ambas [Nota 1], em caso de necessidade, para tratar uma patologia.[1] No entanto, a adjetivação da acupuntura com qualquer outro termo, incluindo o termo "médico", é perigosa, pois descaracteriza este saber milenar e cria limitações que não estão associadas ao saber original. Poucos países limitaram a acupuntura dentro do campo médico e os que fizeram limitaram a acupuntura à utilização apenas de casos de analgesia. Isto fez com que a acupuntura perdesse sua importância fundamental de ser uma terapêutica sistêmica e se limitasse a ser um apêndice da medicina ocidental. Por este motivo, a acupuntura tem sido regulamentada pela maioria dos países como multiprofissional, sendo uma profissão independente com formação própria em vários países, incluindo os EUA. Razão igual motivou a Organização Mundial de Saúde a recomendar uma formação multiprofissional para a acupuntura, o que foi acompanhado no Brasil pelo Conselho Nacional da Saúde, ligado ao Ministério da Saúde.[2]
Na perspectiva da AMBA - Associação Médica Brasileira de Acupuntura seus integrantes tem por princípio defender e manter sempre a prática da Medicina Chinesa-Acupuntura em perfeito equilíbrio com a Medicina Ocidental e reafirmar em suas atividades e gestões os compromissos assumidos perante a sociedade.[3]
Moderna agulha de acupuntura.

Relevância

Desde que foi introduzida na Europa e na América, a acupuntura permaneceu à margem da corrente principal da medicina científica, sendo sua prática acusada pela classe médica de curandeirismo. Tratando-se de medicina tradicional, ou seja, tendo fontes históricas e etnicamente definidas, e lidando com a energia vital, portanto fora do alcance da ciência médica, considerando-se ainda que seus diagnósticos e prescrições diferiam radicalmente dos da medicina ocidental, foi regulamentada a profissão de acupunturista em alguns países, como por exemplo os Estados Unidos, completamente à parte da profissão de médico.
Entretanto, observando na prática a eficácia da acupuntura, foram realizados estudos acerca de seu funcionamento e, após os primeiros resultados, os médicos passaram a se utilizar de parte dos recursos da acupuntura descartando um pouco da base tradicional; e (os pioneiros[4]) cunharam o termo acupuntura médica, que passou a se definir como a prática de acupuntura por médicos considerando-a como um método terapêutico cujo território é também o sistema nervoso e a resposta imunitária, que visa a produzir mudanças funcionais de repercussão local e/ou sistêmica, com os objetivos de restaurar a normalidade fisiológica e produzir analgesia nas condições dolorosas.
Ao contrário da acupuntura somente tradicional, que avalia e opera sobre o fluxo de diferentes tipos de energia vital (Qi), a acupuntura médica se orienta também pela fisiopatologia detectável por semiologia clínica e exames laboratoriais ou de bio-imagem. Em comum, observam a anatomia, não havendo uma carta de pontos de acupuntura específica para acupunturistas médicos; constando em alguns clássicos da Medicina Tradicional Chinesa "pontos proibidos" por serem perigosos por questões anatômicas, e muitos cursos de formação dos acupunturistas não-médicos possui, por recomendação da OMS [5] uma carga horária maior, bem como aulas específicas de suplementação em função dessa demanda (também científica). Também são observadas evidências clínicas por ambos profissionais, mas o objeto da observação de um e de outro pode diferir radicalmente.
No Brasil, a profissão de acupunturista não é regulamentada, sendo, portanto, de livre exercício. Desta forma, devemos distinguir os acupunturistas cientistas/médicos (que são necessariamente registrados no Conselho Federal de Medicina / ou outro conselho profissional/científico, de profissões de saúde cuja prática da acupuntura é reconhecida) dos acupunturistas não-médicos/cientistas, formados apenas numa relação mestre - discípulo tradicional (como no caso dos Médicos de pés descalços). Não existindo ainda um conselho regulamentador para todas as profissões e práticas da acupuntura.

Um Médicos de pés descalços aplicando acupuntura na visita domiciliar
Apesar de ainda tramitar no legislativo brasileiro Projeto de Lei que regulamenta a profissão de acupunturista, há também um reduzido grupo de Cursos Técnicos de Acupuntura reconhecidos pelo Ministério da Educação e Cultura que formam profissionais mais voltados aos moldes tradicionais (o que poderia se dar de modo pouco científico). Já o curriculum dos cursos de especialização em acupuntura, reservados a profissionais graduados na área de saúde, que não ensinam a acupuntura médica propriamente dita (com medicamentos alopáticos), ensinam - com carga horária que pode ser até mais reduzida - a mesma acupuntura científica, só que respeitando/dialogando mais com a base da Medicina Tradicional Chinesa; isto sendo mais semelhante/confundido com a maneira aplicada nos cursos técnicos.
Os médicos praticantes de acupuntura estão autorizados pelo Conselho Federal de Medicina e podem auto designar-se como praticantes de acupuntura médica desde que deixem claro que no que exercem há uma diferença [6], onde não se limitam às práticas unicamente baseadas no conhecimento tradicional (utilizando medicamentos associados ou técnicas de acompanhamento diagnóstico, por exemplo) caracterizando-se como acupuntura médica contemporânea, baseada em evidências (além de parte da base tradicional[7]) e tendo como referencial a neurociência (como em aulas de neurologia de faculdade de Medicina[8][9]). Isso (com políticas, por vezes, unidas à Psicologia[10]) assim como psicólogos praticantes de acupuntura estão autorizados, pelo que divulgou o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo[11] (ou Conselho Federal de Psicologia, após modificações da orientação [12]; e até segundo outros conselhos de classe, científicos[13][14]), podendo tais cientistas designar-se como psicólogos também acupunturistas, que respeitam práticas do conhecimento tradicional voltadas à academia, ou seja, há um diálogo com a ciência[15], caracterizando-se assim tal prática como acupuntura científica contemporânea (seguindo normas definidas pelo Órgão Federal brasileiro CIPLAN – Comissão Interministerial de Planejamento[16]).

Mecanismos de ação da Acupuntura


Aplicação de agulhas de acupuntura.
Dentro do conhecimento atual de fisiologia, a Acupuntura é um método de estimulação neurológica em receptores específicos, com efeitos de modulação da atividade neurológica em três níveis – local, espinhal ou segmentar, e supra-espinhal ou suprasegmentar.
Já em 1921, Goulden concluiu sobre a participação do Sistema nervoso autônomo na Acupuntura, através dos nervos simpáticos, observando também que os pontos de Acupuntura possuem impedância menor entre si que os pontos próximos ou circunjacentes[17]
Chiang e Cols, em 1973, demonstraram que o efeito da Acupuntura é conduzido através dos nervos, ao constatarem que o estímulo acupuntural não surtia efeito quando aplicado em área bloqueada por anestésico local..[18]
Chan, 1984,[19] concluiu que muitos dos pontos de Acupuntura correspondem a locais de penetração das fibras nervosas na fáscia muscular, 309 pontos estão localizados sobre terminações nervosas e 286 pontos localizados sobre os principais vasos sanguíneos, rodeados pelos Nervi vasorum, a inervação própria dos vasos sanguíneos. Alguns pontos de Acupuntura correspondem aos pontos gatilhos (Trigger points, em inglês), que são pontos localizados na musculatura, sensíveis ao toque e que condicionam o surgimento de sintomas à distância, como dores de cabeça, por exemplo.[20]
Em 1985, foi descoberto que a aplicação de agulhas de Acupuntura estimulava fibras nervosas específicas[21] e que as sensações produzidas pelo estímulo por acupuntura correspondem àquelas experimentadas pelo estímulo das fibras nervosas do tipo A delta (A δ), como choque, sensação de peso ou parestesia.
A Acupuntura aplicada em áreas de pele acometidas por Neuralgia pós-herpética não se mostrou eficaz (Embora o efeito analgésico possa ser obtido puncionando-se outras áreas) .[22] E foi demonstrado que, na Neuralgia pós-herpética, a sensação típica da estimulação de fibras A δ está ausente.[23]

Esquema mostrando as conexões neurais da Ação Segmentar da Acupuntura.

Ação segmentar da Acupuntura

Ação segmentar da Acupuntura é o conjunto de mecanismos fisiológicos que ocorrem do local do estímulo com agulha até a medula espinhal. Compreende-se esse segmento como um dermátomo ou zonas de organização reflexa do sistema nervoso periférico. O estímulo de fibras nervosas "A δ" por agulhas de Acupuntura ativa o interneurônio inibitório, ou célula pedunculada, na lâmina II do corno posterior da medula espinhal. A célula pedunculada, com a liberação de metencefalina, bloqueia, na área conhecida como Substância Gelatinosa, a transmissão do sinal da dor conduzido pelas fibras tipo "C" para os tratos ascendentes da medula. Por outra via ascendente, o trato espinotalâmico, o estímulo da fibra "A δ" é conduzido ao Córtex cerebral, onde são interpretadas, ou "percebidas" as sensações de peso, distensão, calor ou parestesia que ocorrem durante o estímulo por acupuntura.

Ação supra-segmentar da Acupuntura

O estímulo das fibras A δ prossegue através do trato espinotalâmico até o córtex cerebral, onde é percebido conscientemente e à medida que segue neste trajeto, há colaterais para os diversos níveis da medula espinhal, com liberação de Beta-endorfina, um dos tipos de Morfina do próprio organismo, e afetando vias neurológicas descendentes que terminam por reforçar a estimulação da célula pedunculada, com efeito analgésico sobre o estímulo das fibras tipo C, e que usam o neurotransmissor Serotonina, o chamado "Hormônio do bem-estar", o que explica bem os efeitos da Acupuntura não só no tratamento da dor, como também da depressão e dos estados de ansiedade.

Ação Central da Acupuntura

O estímulo da agulha de Acupuntura atinge áreas do encéfalo mais elevadas, como o Hipotálamo e a Hipófise, promovendo o equilíbrio do funcionamento destes centros. Como a Hipófise é uma Glândula, ocasionalmente chamada de Glândula Mãe, que coordena a função de diversas outras glândulas do corpo, o efeito da Acupuntura sobre este órgão afeta o funcionamento das Glândulas supra renais, da Tireóide, dos ovários, dos testículos, e assim tem ação terapêutica sobre a Hipertensão arterialDismenorréiaTensão pré-menstrual, disfunções da Libido, e outras patologias. 

Neurotransmissores na Acupuntura

Até o presente momento, sabe-se que a Acupuntura afeta a expressão e ou liberação de serotonina, e dos peptídeos opióides beta-endorfina, meta-encefalina, e dinorfina induzidos pelos mecanismos bioquímicos da ação inflamatória local (bradicininahistaminaprostaglandina entre outros [24]) ou efeito "farpa" consequentes à micro-lesão tecidual das agulhas. A colecistocinina, peptídeo envolvido no processo digestivo, é antagonista da acupuntura.[25] Considerando que a colecistocinina é estimulante da secreção ácida do estômago, temos daí a compreensão do efeito benéfico da acupuntura sobre as gastritesúlceras e na Doença de refluxo gastroesofágico. A Naloxona, inibidor da ação de opióides, muito utilizada em Medicina antagoniza os efeitos da Acupuntura.[26] Em dado momento, postulou-se que a ação da Acupuntura seria fruto apenas da liberação de endorfinas, entretanto, a rápida instalação da analgesia e sua duração maior que o tempo de aumento da quantidade de opióides pela Acupuntura liberados demonstra que outros mecanismos estão envolvidos. Outra evidência de alteração induzida pelas agulhas de acupuntura são as modificações na composição de elementos figurados da sangue e reação imunitária.[27]

Avaliação dos efeitos da acupuntura

Além de experimentos de fisiologia com animais e ensaios realizados com acupuntura veterinária, tem-se proposto estudos de caso-controle e estudos de revisão sistemática (metanálise) de ensaios clínicos realizados e publicados em revistas científicas. Denominam-se acupuntura SHAM os estudos de caso-controle para verificação do efeito/ eficácia dos pontos de acupuntura, onde se compara o efeito da aplicação em um ponto específico com estimulação em um não-ponto de acupuntura.[28]
Entre a avaliação dos efeitos positivos ou benéficos há também a preocupação de avaliação de efeitos colaterais, entre os quais se destacam as infecções e/ou os requisitos necessários ao seu controle. Segundo estudo da Universidade de Hong Kong, as agulhas utilizadas na acupuntura - mesmo as de uso estritamente individual - podem aumentar a possibilidade de transmissão de microorganismos patológicos do ambiente para o paciente ou de um paciente para outro, caso sejam reutilizadas[29].

Interação com medicamentos

A possibilidade de substituição da utilização de medicamentos por acupuntura para: redução dos quadros dolorosos de qualquer natureza; controle da hipertensão arterialasma e outras patologias que já possuem uma recomendação de tratamento pela acupuntura, propicia evitar os efeitos colaterais relacionados aos tratamentos farmacológicos, a exemplo, de gastrites, lesões hepáticas e renais a longo prazo, no uso de anti-inflamatórios, ou tipo sonolência e disfunção erétil no caso de algumas drogas utilizadas para controle da hipertensão arterial. Porém, a redução de prescrições farmacêuticas de um paciente cabe exclusivamente a profissionais médicos.
A analgesia por eletroacupuntura pode, mesmo em procedimentos cirúrgicos, substituir integralmente a utilização de drogas. Mesmo nos casos em que seja imprescindível a aplicação de anestésicos, o uso concomitante da eletroacupuntura reduz a dose prescrita e, consequentemente, os efeitos colaterais. Tal recurso tem se mostrado de grande valia no caso de pacientes alérgicos e/ou gravemente debilitados, que poderiam sofrer dificuldades ao enfrentar efeitos colaterais.
Na formação clássica em medicina tradicional chinesa inclui-se a prática de fitoterapia inclusive nos profissionais de nível médio denominados médicos de pés descalços, contudo nem todo acupunturista recebe ou considera relevante atuar integrando a fitoterapia à acupuntura. Há, porém, um consenso na redução progressiva da utilização de medicação na medida em que avança o tratamento da acupuntura.

Visão tradicional chinesa


Ciclo de geração dos cinco elementos: Fogo gera Terra, Terra gera Metal, Metal gera Água, Água gera Madeira, Madeira gera Fogo
A visão tradicional da medicina chinesa está profundamente ligada a teorias baseadas no Taoísmo, sobre a dualidade Yin/Yang, sobre meridianos e outros conceitos estranhos à ciência médica ocidental. Contudo, contribuições da Antropologia, mais especificamente da Antropologia Médica, vem facilitando o entendimento destes conceitos à luz da interpretação lógica das explicações mítico-religiosas compreendidas como sistemas etnomédicos capazes de dar respostas às demandas por cuidados de saúde de uma determinada população.
O Yin e o Yang são aspectos opostos de todo movimento no universo. É um conceito hoje considerado quântico que os médicos chineses antigos conseguiram adaptar para a medicina.No corpo do homem existe um equilíbrio que pode ser alterado por diversos tipos de influências, como alimentar, comportamental e muitas outras.
Existem muitas formas de diagnóstico na medicina tradicional chinesa. Algumas delas são a pulsação, a observação e aspectos da língua, a cor e aspectos da pele. Um médico chinês costuma dizer que não se deve olhar apenas o paciente, mas escutá-lo, tocá-lo, cheirá-lo, examinar sua urina e conhecer as suas fezes.
Uma consulta baseada no modelo tradicional chinês pode levar de vários minutos a algumas horas. O terapeuta questiona vários aspectos da vida incluindo a infância, expressão das emoções, a alimentação, hábitos e costumes.
A natureza das explicações tradicionais da medicina chinesa não tornam essa prática essencialmente distinta de outros sistemas etno - médicos, exceto porém por sua notável semelhança com a medicina hipocrática - a quem se atribui a origem da moderna medicina cosmopolita. O estudo de sua história revela seu rompimento com algumas tradições "mágicas" e incorporação do conhecimento empírico proveniente de cuidadosas observações, consolidado no que vem sendo chamado do paradigma do Yin - Yang e dos 5 movimentos descrito nos livros clássicos para os orientais ou documentos etnológicos brutos para a antropologia estrutural. Entre os livros clássicos o mais conhecido é, sem dúvida o "Livro do Imperador Amarelo" cujo exemplar mais antigo foi encontrado em um túmulo da dinastia Han (Fu Weikang) [30].

Leituras sugeridas

  • Acupuntura Médica : Um enfoque científico do ponto de vista ocidental / Editado por Jacqueline Filshie, Adrian White; São Paulo : Roca. 2002
  • Carneiro, Norton Moritz - Fundamentos da Acupuntura Médica. Florianópolis : Editora Sistema, 2001.
  • Cirilo, Antonio Carlos Martins - Acupuntura: Ciência, legalidade e prática médica - Goiânia; Kelps, 2006. ISBN 85-7766-012-5 CDU: 615.814.1(035)
  • Lacerda, P. Manual de laser acupuntura em medicina e odontologia. SP, Ícone, 1995.

Revisões sistemáticas

Referências

  1.  AAMA - American Academy of Medical Acupuncture "Doctor, What's this acupuncture all about?" AAMA Jul. 2011
  2.  Rosseto, Suzete Coló. Acupuntura multidisciplinar. SP, Phorte, 2012
  3.  AMBA - Associação Médica Brasileira de Acupuntura. Valores da AMBA. AMBA Jul. 2011
  4.  Como pioneiros da acupuntura médica no Brasil, que chefiam ambulatórios de acupuntura, como o do Centro de Dor, na Neurologia/HC-FMUSP. http://www.ceimec.com.br/materias.asp?materia=1025 - outubro 2015; e coordenam tais cursos médicos, fundamentados em especializações, como na da Faculdade de Medicina Tradicional de Beijin (Pequim/China). http://www.ceimec.com.br/materias.asp?materia=971 - outubro 2015.
  5.  WHO Regional Offices; World Federation of Acupuncture and Moxibustion Societies (WFAS). Guidelines on Basic Training and Safety in Acupuncture. http://whqlibdoc.who.int/hq/1999/WHO_EDM_TRM_99.1.pdf - abril 2012
  6.  http://www.einstein.br/hospital/reabilitacao/Paginas/acupuntura-medica.aspx
  7.  http://www.ceimec.com.br/materias.asp?materia=971
  8.  http://neurofepar.com/zang_fu.pdf
  9.  http://neurofepar.com/neurofilatelia/tratamentos.html
  10. http://www2.unifesp.br/centros/cehfi/bmhv/index.php/documentacao/doc_details/109-delvo-ferraz-da-silva
  11.  http://www.crpsp.org.br/portal/midia/fiquedeolho_ver.aspx?id=881
  12.  http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2014/11/Ofc-0155-14-Acupuntura.pdf
  13.  http://site.cfp.org.br/evento/curso-de-formao-de-especialista-em-acupuntura-tradicional/
  14.  http://portal.crfsp.org.br/comissoes-assessoras/comissoes/1156-acupuntura.html
  15.  http://revistas.ung.br/index.php/saude/article/download/726/1146
  16.  http://www.abapuntura.com.br/pagina_simples.php?titulo=%C1REA%20DA%20SA%DADE&pagina=area_saude
  17.  Goulden E A 1921 The treatment of sciatica by galvanic acupuncture. British Medical journal 1:523-524
  18.  Chiang C Y, Chang C T, Chu H L, Yang L F 1973 Peripheral afferent pathway for acupuncture analgesia. Scientia Sinica 16:210-217.
  19.  Chan S H. What is being stimulated in acupuncture: evaluation of the existence of a specific substrate. Neurosci Biobehav Rev. 1984 Spring;8(1):25-33.
  20.  Melszack R, Stillwell D M, Fox E J 1977 Trigger points and acupuncture points for pain: correlations and implications. Pain 3:3-23
  21.  Wang K M, YaoS M, Xian Y L, Hou Z 1985 A study on the receptive field of acupoints and the relationship between characteristics of needle sensation and groups of afferent fibres. Scientia Sinica 28:963-971
  22.  Levine J D, Gormley J, Fields H L 1976 Observations on the analgesic effects of needle puncture (acupuncture). Pain 2:14W159
  23.  Nurmikko T, Bowsher D 1990 Somatosensory findings in postherpetic neuralgia. Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry 53:135-141.
  24.  SIQUEIRA JR, José F.. ; DANTAS, Carlos José S.. Mecanismos celulares e moleculares da inflamação. RJ, Medsi, 2000
  25.  Han J S, Ding X Z, Fan S G 1986 Cholecystokinin octapeptide (CCK-8): Antagonism to eletroacupuncture analgesia and a possible role in eletroacupuncture tolerance. Pain 27:101-115
  26.  Mayer D J. Price D D, Rafii 1977 Antagonism of acupuncture analgesia in man by the narcotic antagonist naloxone. Brain Research 121;368-372
  27.  LUNDEBERG, Thomas. Efeitos da estimulação sensorial (acupuntura) nos sistemas circulatório e imunológico. in: ERNEST, Edzard; WHITE, Adrian. (org.) Acupuntura, uma avaliação científica. SP, Manole, 2001
  28.  Rebecca Saray Marchesini Stival, Patrícia Rechetello Cavalheiro, Camila Stasiak, Dayana Talita Galdino, Bianca Eliza Hoekstra, Marcelo Derbli Schafranski. Acupuntura na fibromialgia: um estudo randomizado‐controlado abordando a resposta imediata da dor. Revista Brasileira de Reumatologia, V 54, n 6, Nov–Dez 2014, Pages 431-436 PDF Aces. Out. 2015
  29.  Agulhas da acupuntura podem transmitir infecções, diz revista - Folha de S.Paulo, 20 de março de 2010 (visitado em 20-3-2010)
  30.  Weikang, Fu. Acupuntura y moxibustion - bosquejo histórico. Ediciones em lenguas extranjeras, Beijing, China, 1983

Notas

  1.  O diálogo da Tradição com a Ciência [1] (como divulgado em um Lato Sensu/MEC [2]) deveria ser mantido sempre, em respeito a este Conhecimento de Medicina Chinesa, caminhando em conjunto com o Ensino e a Pesquisa.

Ligações externas


Fonte:Wikipédia

Capa do Mapa de Evidências da Acupuntura

Mapa de Evidências da Acupuntura

Programa de Síntese Baseada em Evidência
Investigadores:  , PhD,  , PhD,  , PhD,  , BA,  , BS,  , MS,  , MS,  , BS, e  , MD, PhD.
Washington (DC): Departamento de Assuntos de Veteranos (EUA) ; 

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