TUDO SOBRE A CURA ESPIRITUAL: O QUE DIZ A CIÊNCIA E QUANDO A CURA É UM BOM NEGÓCIO !

Cura Espiritual – Tratamento de fé

Para os cientistas, as sessões de cura espiritual têm mais chance de surtir resultado em algumas doenças do que em outras.



A SESSÃO PODE INFLUIR POSITIVAMENTE NA CURA 
1. DOR CRÔNICA 
É possível que, durante a sessão, o paciente passe por uma espécie de transe, o que aumenta as concentrações sanguíneas de endorfina – um analgésico natural. Ou ele pode ficar hipnotizado, tirando o foco de sua atenção da dor. Por isso, é bem provável que a sessão alivie dores, mesmo que temporariamente.
2. TPM E MENOPAUSA 
Estudos mostram que a concentração alcançada durante sessões de oração, meditação ou cura espírita pode reduzir em até 59% os sintomas da TPM e refrear as violentas ondas de calores da menopausa.
3. CIRROSE 
Há relatos de cura de cirrose em seções espíritas. Para os cientistas, a explicação é que os pacientes se sensibilizam pelos rituais e conselhos do médium e finalmente param de beber. Ou seja, o crente teria mais confiança na orientação do guia espiritual do que na de um médico tradicional.
5. DEFICIÊNCIA FÍSICA 
A cena é comum em cultos evangélicos na TV: depois da sessão, o fiel que era paraplégico levanta da cadeira de rodas e, literalmente, corre para o abraço. Mas nenhum estudo aponta influência das curas espirituais sobre lesões na medula.
6. CÂNCER E DOENÇAS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO 
A sensação de proteção atribuída à fé pode estimular a produção de linfócitos T, que ajudam o corpo a reagir a tratamentos agressivos, como a quimioterapia. Ou seja, as sessões espirituais podem melhorar a qualidade de vida do doente de câncer ou aids, mas não há indícios de influência na chance de cura.
NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE A SESSÃO E A POSSÍVEL CURA 
4. DOENÇAS CARDÍACAS 
Num estudo, 700 pacientes submetidos a angioplastia foram divididos em dois grupos. Para um deles foram “encomendadas” preces a rabinos, padres, pastores etc. Para o outro, quem rezava eram apenas os próprios pacientes, seus amigos e familiares. Depois de um tempo, as mortes e ataques cardíacos foram iguais para ambos os grupos.
RECEITUÁRIO MÉDICO Pesquisadores acreditam que a chamada cura espiritual depende menos da competência dos doutores – não importa a religião deles – e mais da fé do paciente. Sabe-se que a espiritualidade está ligada à qualidade de vida e, portanto, à saúde. Mas mesmo os guias espirituais costumam concordar que o melhor é associar a ajudinha dos céus aos métodos tradicionais de tratamento. 
FEITO EM CASA 
Religiosidade é saudável mesmo para quem não procura rituais de cura:
ALEGRIA, ALEGRIA 
Pessoas que sofrem de depressão e possuem fé têm 75% mais chances de se recuperar do que os deprimidos céticos.
SEM PRESSÃO 
Tanto a meditação como a repetição de orações podem reduzir a pressão arterial e os ritmos respiratório e cardíaco. Um estudo com 3 963 pessoas revelou que hábitos espirituais podem reduzir em até 40% as chances de desenvolver hipertensão.
VIDA LONGA 
Um estudo de revisão de pesquisas realizadas nas Universidades de Iowa, Stanford e Duke mostrou que quem tem vida religiosa ativa vive, em média, 29% mais do que as pessoas que não creem em nada.
Cura pelo correio 
Um exemplo de cura espiritual na Igreja Católica é a distribuição das pílulas de Frei Galvão (1739-1822), o primeiro santo brasileiro. Os fiéis recebem os comprimidos de papel no Mosteiro da Luz, em São Paulo, ou mesmo pelo correio. Um dos milagres atribuídos a esse método aconteceu em 1999, quando Sandra Grossi de Almeida, que tinha uma anomalia no útero, conseguiu levar adiante uma gravidez após sofrer três abortos espontâneos. Ela passou toda a gestação de risco tomando as pílulas de papel. E o bebê nasceu – com graves problemas respiratórios, mas que logo foram superados.

A ciência da fé

A ciência se curvou aos fatos: dezenas de estudos mostram que fiéis são mais felizes, vivem mais e são mais agradáveis. Mas também não há mais dúvidas de que é possível reproduzir esses efeitos em ateus e pessoas sem religião. Acredite.


“Como você professa sua fé?”, pergunta o médico Paulo de Tarso Lima a seus pacientes na primeira consulta. Conversar sobre isso virou rotina no setor de oncologia em um dos mais conceituados hospitais do Brasil, o Albert Einstein, em São Paulo, onde Lima é coordenador do Serviço de Medicina Integrativa. Se o doente vai à missa, ele anota na receita: aumentar a frequência aos cultos. Se deseja a visita de um padre, rabino ou pastor, o hospital manda chamar. Se quiser meditar, professores de ioga são convocados. No hospital, a fé é uma arma no tratamento de doenças graves.
A Santa Casa de Porto Alegre também trabalha nesse sentido. O hospital está realizando uma pesquisa inédita, em parceria com a Universidade Duke, nos Estados Unidos, para mensurar os benefícios biológicos da fé. O objetivo é descobrir se os pacientes espiritualizados submetidos à cirurgia de ponte de safena têm menos inflamações no pós-operatório – hipótese já levantada por outros estudos. “Existe um marcador de inflamação que parece apresentar menores níveis em religiosos”, explica o cardiologista Mauro Pontes, coordenador do Centro de Pesquisa do Hospital São Francisco, um dos sete hospitais do complexo Santa Casa da capital gaúcha.
Hoje, as principais faculdades de medicina americanas dedicam uma disciplina exclusiva ao assunto. E, na última década, uma série de estudos mostrou que os benefícios da fé à saúde têm embasamento científico. Devotos vivem mais e são mais felizes que a média da população. Após o diagnóstico de uma doença, apresentam níveis menores de estresse e menos inflamações. “O paciente com fé tem mais recursos internos para lidar com a doença”, diz Paulo Lima. Fé tem uma participação especial no que médicos e terapeutas chamam de coping: a capacidade humana de superar adversidades. “Não posso prescrever bem-estar, mas posso estimular que o paciente vá em busca de serenidade para encarar um momento difícil”, explica o médico. É por isso que mais profissionais têm defendido essa relação. “Atender às necessidades espirituais tem de ser, sim, tarefa do médico”, defende o cirurgião cardíaco Fernando Lucchese, que está escrevendo o livro A Revolução Espiritual com o psiquiatra americano Harold Koenig, autoridade no assunto.
Há um século, o canadense William Osler, ícone da medicina moderna, já defendia isso. Em 1910, ele escreveu um artigo cheio de floreios elogiosos às crenças das pessoas: “a fé despeja uma inesgotável torrente de energia”.
A designer Juliana Lammel, 33 anos, vivenciou isso. Em 2005, cansada de tantas operações sem sucesso para corrigir um estreitamento no ureter, canal que liga os rins à bexiga, ela resolveu fazer uma cirurgia espiritual, mesmo sem ter nenhuma ligação com o espiritismo. “Para mim, era sinônimo de filme de fantasma”, lembra. Ela topou – e sem ceticismo. Para ter resultado, Juliana teria de acreditar piamente, já que o tratamento espírita exige fé do paciente.
Uma vez por semana, por um mês, na mesma hora, ela deitava na própria cama por 30 minutos, ao mesmo tempo em que o grupo espírita fazia a concentração. Ela em São Paulo, eles no Rio de Janeiro. No fim, Juliana voltou ao médico com novos exames. Ele viu os resultados e não conseguia explicar por que os componentes alterados do rim tinham voltado a níveis quase normais. Juliana foi operada mesmo assim, mas o procedimento foi bem menos agressivo do que o previsto, graças, segundo ela, à cirurgia espiritual. O episódio mudou a forma como a designer lida com a fé. “Antes, me forçava a acreditar em algo. Depois disso, passei a acreditar de verdade”.
Vantagens no dia a dia
Uma das maiores pesquisas feitas até hoje, divulgada em 2009, revisou 42 estudos sobre o papel da espiritualidade na saúde, que envolveram mais de 126 mil pessoas. O resultado mostrou que quem frequenta cultos religiosos pelo menos uma vez por semana tem 29% mais chances de aumentar seus anos de vida em relação àqueles que não frequentam. Não é intervenção divina. Não é feitiçaria. É comportamento. Os entrevistados que são religiosos apresentaram um comprometimento maior com a própria saúde. Iam mais ao dentista, tomavam direitinho remédios prescritos, bebiam e fumavam menos. A pesquisa confirmou ainda os dados de um estudo populacional feito em 2001 pelo Centro Nacional de Adição e Abuso de Drogas dos EUA: adultos que não consideram religião importante em suas vidas consomem muito mais álcool e drogas do que os que acham os credos relevantes. É a versão real dos Simpsons e seus exageros estereotipados. Homer faz pouco de qualquer fé, é obeso e alcoólatra. Já seu vizinho, o carola Ned Flanders, é regrado, tem saúde perfeita e corpo sarado.
Andar na linha é mais comum entre os crentes, e a razão está no poder de autocontrole, dizem os cientistas. É o que defende o psicólogo Michael McCullough. Professor da Universidade de Miami e parceiro de Harold Koenig em pesquisas sobre espiritualidade, ele diz que a fé facilita a árdua tarefa de adiar recompensas, algo fundamental para muita coisa, de fazer dieta a estudar para concursos.
A fé também tem uma relação íntima com a felicidade. Um estudo feito na Europa mostrou que pessoas espiritualizadas se dizem mais satisfeitas do que aquelas que não se consideram como tal. Parte disso se explica na natureza de ateus e céticos em geral. Quem não acredita em nada pode ter mais propensão ao pessimismo porque faz uma leitura objetiva da vida, sem crer em algo divino que mude as coisas. Por outro lado, a certeza da existência de uma recompensa divina muda a vida das pessoas. E não é questão somente de otimismo. Tem algo pragmático aí.
Religiões estimulam algo essencial para o ser humano: o espírito de comunidade. Devotos normalmente não estão sozinhos, o que ajuda nos problemas da vida. Para Andrew Clark, um dos autores desse estudo europeu e professor da Escola de Economia de Paris, as religiões ajudam as pessoas a superar choques ou a pelo menos não se desesperar tanto com os tropeços da vida. Por exemplo, segundo a pesquisa, a queda no indicador de bem-estar foi menor entre os desempregados religiosos do que entre os não religiosos. “A religião oferece ‘proteção’ contra o desemprego”, diz Clark. Na hora do aperto, há sempre alguém para estender a mão. Outra pesquisa, feita pela Universidade de Michigan, EUA, comparou duas formas de amparo recebidas por idosos: o oferecido pelas igrejas e o proporcionado por serviços sociais estatais. A discrepância a favor do suporte religioso foi tão significativa que o autor do estudo, o gerontologista Neal Krause, acredita haver algo de único nesse tipo de apoio.
Até mesmo os ateus são beneficiados pelo espírito solidário oferecido pelas instituições religiosas. Um estudo feito por Clark investigou o efeito da religiosidade dos outros sobre o bem-estar de uma comunidade. A descoberta foi intrigante. As pessoas sem religião de regiões de maioria ateia são menos felizes do que aquelas sem religião de áreas onde a maior parte da população professa uma fé. “Isso não é nada bom para os ateus: eles parecem menos felizes e também fazem os outros menos felizes”, concluiu Clark. A explicação para isso pode estar na compaixão incentivada pelas religiões. A escritora e ex-freira inglesa Karen Armstrong, autora de mais de 20 livros sobre o tema, acredita que o princípio da compaixão está no centro de todas as tradições religiosas. É ela que nos leva a pensar no próximo e a fazer de tudo para aliviar o sofrimento e as angústias dele.
Antônio Gilberto Lehnen, 78 anos de catolicismo ativo, sentiu os efeitos dessa rede de apoio após enfrentar duas cirurgias que quase lhe custaram a vida. Aos 67 anos, ele teve de passar por um transplante cardíaco. Na lista de espera por um novo coração, sem saber ao certo se aguentaria, sua atitude era de gratidão. “Lembro de ele me dizer, com toda a tranquilidade: ‘Planeja tudo aqui que o papai do céu está cuidando de mim’. Era uma atitude confiante”, lembra o cirurgião Fernando Lucchese, que fez a operação. Antônio é grato até hoje. “Não sei quem foi o doador, mas não deixo nem um dia de rezar por ele e pela felicidade da sua família”, diz.
O que é a fé
Na Antiguidade, as religiões eram essenciais para unir uma comunidade. “Nas sociedades primitivas, a religião sempre exigiu tanto esforço (de união) que não pode ser encarada só como um acidente evolutivo”, diz Nicholas Wade, autor de The Faith Instinct (“O instinto da fé”, sem edição no Brasil). Essa união foi questão de sobrevivência por milênios. É o que afirma Karen Armstrong em Os 12 Passos para uma Vida de Compaixão. Organizado em pequenos grupos, o homem primitivo precisava partilhar os parcos recursos a mão. Muito antes do surgimento das grandes religiões, altruísmo e generosidade já eram características primordiais a um bom líder tribal.
A genética também ajuda a explicar a origem da fé. O geneticista americano Dean Hamer causou rebuliço no meio científico em 2004 ao anunciar a descoberta dos genes da fé – ou, como ele preferiu chamar, o gene de Deus. Batizado de VMAT2, trata-se de um conjunto de genes que ativam substâncias químicas que dão significado às nossas experiências. Eles atuam no cérebro regulando a ação dos neurotransmissores dopamina, ligada ao humor, e serotonina, relacionada ao prazer. Durante a meditação, por exemplo, esses neurotransmissores alteram o estado de consciência. “Somos programados geneticamente para ter experiências místicas. Elas levam as pessoas para algo novo, ouvem Deus falar com elas”, explica Hamer. O pesquisador aplicou um questionário para medir o grau de espiritualidade em um grupo de 1.001 voluntários. Desenvolvido pelo psiquiatra Robert Cloninger, da Universidade de Washington, o levantamento trazia perguntas ligadas a crenças e rituais. Hamer avaliou os genes dos voluntários e percebeu que as diferenças nas respostas estavam relacionadas com as variações no gene de Deus. Essas variações explicariam por que algumas pessoas são mais espiritualizadas que outras.
Dá para visualizar isso, literalmente. Exames de neuroimagem mostram a atividade de crenças espirituais no cérebro. O time de cientistas liderado por Andrew Newberg, professor da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, e autor do livro How God Changes Your Brain (“como Deus muda o seu cérebro”, sem edição no Brasil), demonstrou que Deus é parte da nossa consciência: quanto mais pensamos nele, mais nossos circuitos neurais são alterados. No primeiro de seus estudos a respeito, Newberg avaliou o impacto da fé ao analisar imagens cerebrais de freiras rezando e budistas meditando. Ele detectou aumento de atividade em áreas relacionadas às emoções e ao comportamento e redução na zona que dá senso de quem somos. A diminuição de trabalho nessa região específica, segundo Newberg, representa a possibilidade de atingir com a meditação um estado em que se perde a noção de individualidade, espaço e tempo. “Você se torna um único ser com Deus ou com o Universo”, escreveu. É o mesmo efeito descrito por Hamer. A ciência não pode provar que Deus existe, mas consegue medir os efeitos da crença no divino nas pessoas.
Seria possível, então, transformar esses efeitos da fé em um botão no cérebro, que poderíamos ativar quando quiséssemos? O canadense Michael Persinger quis provar que sim ao criar o “capacete de Deus”. Trata-se de um aparelho que estimula uma área específica do cérebro, onde nascem pensamentos místicos e espirituais. Persinger queria saber se dava para simular a sensação de uma prece intensa ou da meditação apenas estimulando essa região cerebral. Ele recrutou voluntários religiosos e não religiosos para o teste. Depois de ficarem uma hora com o capacete, quatro de cada cinco pacientes relataram sentir um estado de transe, com uma sensação de deslocamento para fora do corpo. A maioria dessas pessoas tinha uma predisposição à fé, mas, mesmo assim, o aparelho conseguiu simular experiências religiosas em laboratório. Ou seja, com ele não é preciso rezar para sentir os mesmos efeitos benéficos descritos na reportagem. Da mesma forma que não é preciso seguir uma religião para ter esses benefícios.

Como trabalhar sua fé
Que fique claro, fé e religião são coisas diferentes. A religião é uma maneira institucionalizada para se praticar a fé, por meio de regras específicas e dogmas. Já a fé é algo pessoal, ligado à espiritualidade, à busca para compreender as respostas a grandes questões sobre a vida, o Universo e tudo mais. Isso pode ou não levar a rituais religiosos. Você pode buscar essas respostas pulando sete ondinhas, acendendo velas, consultando o horóscopo da Susan Miller, pregando faixas de Santo Expedito ou investigando quilos de livros de física quântica. Cada um tem seu jeito próprio.
Vale até ficar louco de cogumelo. Foi o que Roland Griffiths, professor da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, propôs. Sua equipe deu a 36 voluntários cápsulas com altas doses de psilocibina, substância presente em cogumelos alucinógenos. O grupo deitou em sofás com olhos vendados ao som de música clássica. Depois de uma sessão de seis horas, passado o efeito, a maioria relatou ter experimentado uma forte conexão com os outros, um sentimento de união, amor e paz. Até aí, parecia papo de doidão. Mas o professor voltou a falar com os voluntários um ano depois. Eles disseram que se sentiam diferentes. A experiência os tornou pessoas melhores, o que foi confirmado pelas famílias deles. “Se a psilocibina pode causar sensações místicas idênticas àquelas que ocorrem naturalmente, isso prova que esse tipo de experiência é biologicamente normal”, disse Griffiths no fórum de palestras TED. Mais que isso: talvez, drogas alucinógenas tenham benefícios.

Mesmo sem cogumelos alucinógenos ou um capacete de Deus, é possível atingir artificialmente as benesses da fé. Cientistas garantem que basta ter uma forte crença em algo – e nem precisa ser uma divindade ou força superior. Pode ser qualquer coisa realmente importante para a pessoa. “Se para os crentes é Deus, para os ateus pode ser família ou amigos”, diz Michael Shermer, diretor da Sociedade Cética e autor do livro The Believing Brain (“o cérebro crente”, sem edição no Brasil). “Teoricamente, um ateu pode ter uma poderosa experiência mística”, endossa Andrew Newberg. O pai do gene de Deus, Dean Hamer, segue a mesma linha. “Algumas das pessoas mais espiritualizadas que conheço não acreditam em divindade nenhuma”, escreveu no trabalho em que relatou a descoberta genética. Outra grande autoridade no assunto, o psicólogo Kenneth Pargament, do Instituto de Espiritualidade e Saúde do Centro Médico do Texas, sugere cultivar a espiritualidade exercitando o que ele chama de santificação ateísta. Significa dar a algo importante da vida um status sagrado, mesmo sem acreditar em Deus. A foto do seu filho quando bebê pode ser muito mais sagrada para você que a imagem de Santo Antônio, por exemplo.
Não se trata de banalizar a sacralização, mas o contrário: exercitar a fé dessa forma é uma postura antibanalização da vida, qualquer aspecto pode assumir um caráter divino. E esse hábito de sacralizar aspectos do cotidiano é capaz até de alterar nosso comportamento, segundo uma pesquisa que acompanhou recém-casados. Os casais que consideravam o casamento e o sexo sagrados estavam mais felizes – e transavam mais! No trabalho é a mesma história. Outro estudo, realizado no ano passado, avaliou 200 mães de família que haviam acabado de concluir uma pós-graduação. Apesar da dupla jornada, aquelas que encaravam a carreira como parte de algo maior (e não só a fonte de renda para pagar as contas do mês) se disseram muito mais felizes profissionalmente – e menos cansadas.
Em tese, portanto, é possível usufruir de benefícios semelhantes aos proporcionados pelas crenças divinas apenas focando as energias naquilo que faz bem a você. O psicólogo Elisha Goldstein, autor do best-seller The Now Effect (“o efeito ‘agora'”, sem edição no Brasil), desenvolveu um método que consiste em cultivar momentos sagrados. Primeiro, você escolhe objetos que trazem boas lembranças. Valem fotos de infância, o relógio do avô, uma carta de amor, o primeiro gibi. Todos os dias, preste atenção a esse amuleto por no mínimo cinco minutos. Deixe que os pensamentos invadam sua mente. Relaxe. Após três semanas, avalie suas emoções. Segundo Goldstein, os voluntários que participaram do experimento relataram sentimentos de gratidão, humildade e empatia. Isso porque eles se reconectaram àquilo que realmente importa. Consequentemente, se sentiram menos ansiosos e pessimistas e mais dispostos a ajudar quem precisa. Isso sem ter de orar ou meditar seguindo preceitos religiosos.

Esses benefícios dependem da intensidade da crença. Quem vai à igreja e fica jogando Candy Crush Saga no celular dificilmente vai usufruir das vantagens da fé. Newberg resolveu passar isso a limpo e pediu a um grupo de ateus que pensassem em Deus. Nenhuma mudança significativa ocorreu. Para eles, não fazia o menor sentido. Então, o melhor é se engajar em atividades em que você realmente acredita. Se seu negócio não é integrar uma igreja, o psicólogo Michael McCullough lembra que algumas ONGs têm regras de conduta e convivência semelhantes, reproduzindo os mesmos mecanismos das religiões que incentivam compaixão, autocontrole, senso de comunidade e comportamento ético.
Da mesma forma que é possível ter os benefícios da fé mesmo sem religião, há ocasiões em que ela faz mal – e nem precisamos entrar no mérito das guerras religiosas. Atribuir a Deus poderes milagrosos pode levar pacientes a abandonar tratamentos. Há também um outro componente preocupante. Em algumas pessoas, ocorre o que os especialistas chamam de conflito religioso, sentimento que leva a acreditar que a doença ou os sofrimentos são punição divina. Nesses casos, a religião tem um efeito desastroso. Um estudo publicado na revista científica americana Archives of Internal Medicine mostrou que esse conflito está associado a depressão, ansiedade e maior índice de mortalidade. Se fosse bom, fé cega não teria esse nome.
Fotos: Arthuzzi


PESQUISAS EM SAÚDE PÚBLICA INVESTIGAM RELAÇÃO ENTRE ESPIRITUALIDADE E RECUPERAÇÃO DE PACIENTES

Por Graciele Almeida de Oliveira e Bruno Moraes
Estudos relacionados ao controle da dor e da hipertensão mostram que de 30% a 40% dos pacientes tratados com efeito placebo apresentam melhora, o que indicaria algum papel da sugestão e da mente sobre a fisiologia. Mas a medicina baseada na ciência não tem substitutos, e não há previsibilidade em relação à eficácia do efeito placebo para cada pessoa.
Amedicina busca, em fármacos e tratamentos, resultados que tenham eficácia maior que a do chamado “grupo placebo”. Ainda assim a ocorrência de melhoras de diversos quadros clínicos apenas pelo efeito placebo é intrigante. Adicionalmente, grupos de pesquisa que se debruçam sobre a questão do quanto o otimismo ou a fé de pacientes em algum tipo de proteção sobrenatural influencia seus prognósticos sugerem que crenças mantidas pela mente podem afetar, de forma positiva, a saúde geral de uma pessoa.
Na maior parte das culturas humanas tradicionais, estados de saúde ou de doença do corpo estão intimamente ligados a questões sobrenaturais. Curas espirituais, consultas a ancestrais a respeito de enfermidades e da morte, pajelanças, orações, amuletos, cânticos e mentalizações estiveram — e ainda estão — no centro de crenças sobre o tratamento de inúmeras doenças, não apenas da mente. Essas crenças existem há milênios e estão presentes nas  origens da medicina ocidental na Mesopotâmia, Egito e na Grécia.
papiro de Edwin Smith, nome dado em referência ao seu descobridor,  é considerado um dos mais antigos textos relacionados à medicina. O papiro foi datado por volta de 1600 a.C. e contém uma parte com instruções cirúrgicas e feitiços mágicos. Alexander Brawanski, professor de neurocirurgia da University Hospital Regensburg, discute a relação entre a medicina e a magia presente no papiro de Edwin Smith em seu artigo “On the myth of the Edwin Smith papyrus: is it magic or science?”. Nele, contextualiza a obra no Egito antigo, em que a magia e o sobrenatural faziam parte da sociedade da época e eram usados para explicar os fenômenos ainda desconhecidos relacionados à medicina da época.
Mesmo o “pai da medicina”, Hipócrates (470 A.C – 377 a.C), trabalhava com a noção de que deuses e espíritos estariam envolvidos na causa e na cura de enfermidades. Se no passado acreditava-se que as doenças eram originadas da vontade dos deuses, demônios, magia e influência dos astros, com o passar do tempo a ciência vem desvendando suas origens e trazendo grandes avanços nos processos de cura.
Evidências recentes de pesquisas na área de saúde pública têm sugerido uma relação mais íntima entre a vida espiritual de pacientes, o avanço de seus prognósticos e seu bem-estar geral no processo de conviver e superar seus quadros de doença. Por trás dessas pesquisas, métodos derivados do mesmo racionalismo científico são aplicados para entender o que acontece no organismo das pessoas durante essa interação entre o metabolismo cerebral, as crenças em relação a uma doença e o avanço da doença em si.
Mas será que a fé e a religiosidade são fatores essenciais para uma boa saúde? Natália Pasternak, bióloga, pesquisadora colaboradora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP) e diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), discorda: “Fé não necessariamente promove o bem-estar. Por fé suponhamos que a pessoa acredita em alguma coisa sobrenatural. Isso não quer dizer que só por ter fé ela vai se sentir melhor ou mais otimista, pelo contrário, algumas pessoas religiosas podem se sentir extremamente pessimistas, especialmente quando estão doentes temendo o pós-vida. O contrário também é válido, ou seja, existem vários ateus extremamente positivos em relação à vida sem ter fé nenhuma.”.
Ana Paula Rodrigues Cavalcanti, professora do curso de ciência das religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), estuda a interface entre religião, religiosidade, espiritualidade e saúde. Em uma das suas pesquisas ela estudou a relação entre o controle da pressão arterial e a religiosidade. Nos pacientes, a religiosidade apresentou um papel importante no controle da hipertensão.
Então, o que levaria à melhora nesses pacientes que se apegaram à fé durante o tratamento? Uma das mais prováveis respostas pode estar no efeito placebo. Natália, que recentemente escreveu um artigo sobre isso, explica que “a fé pode gerar um efeito placebo no paciente, todo baseado em condicionamento. Se a pessoa está condicionada a acreditar que, se ela reza, ela vai melhorar, isso gera um efeito placebo. É a mesma coisa que ela tomar uma pílula de açúcar, como na homeopatia. Se ela está condicionada a acreditar que isso vai fazer passar a dor, isso vai passar a dor até certo nível.”.
O efeito placebo também foi levado em conta nos estudos realizados pelo grupo de estudos de Draulio Araújo, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Draulio vem estudando os efeitos neurais associados à ayahuasca. “A ayahuasca é um composto originário dos índios da América do Sul que a utiliza como parte de processos de cura.  Em 1930, os centros urbanos menores do norte do Brasil, como no Acre, passaram a ter mais contato com o composto. Foi quando foi fundada a Igreja do Santo Daime, que passou a usá-la em seus rituais. Outras religiões que usam a ayahuasca em seus rituais foram fundadas mais tarde”, explica o pesquisador.
Para avaliar o efeito antidepressivo da ayahuasca em quadros de depressão severa, Draulio e sua equipe realizaram um ensaio aberto, recrutando pacientes que não estavam respondendo ao tratamento medicamentoso convencional para a depressão e os submeteram a uma única dose de ayahuasca, avaliando em escala clínica seu impacto agudo e subagudo na depressão.
O grupo de pesquisa de Draulio teve também uma preocupação com o impacto da religiosidade em sua pesquisa: “Começamos um estudo clínico dentro de um hospital. Nossa proposta era desvincular o processo religioso, que acreditamos ter um impacto no terapêutico, provavelmente ligado ao efeito placebo”.
“Todo tratamento médico tem um efeito placebo associado. Nós somos condicionados a sermos medicados, tratados, passar por intervenções. Cada vez que somos submetidos a esse tipo de tratamento somos submetidos ao efeito placebo.”, aponta Natália, do IQC.
Draulio explica que, em estudos clínicos, aproximadamente 40% de pacientes que estão em um grupo que fez uso de uma substância placebo vão melhorar. Para estudos relacionados à depressão resistente ao tratamento, complementa: “Boa parte desses pacientes tem um quadro de depressão muito longo e vem convivendo com a doença por 10, 15, 20 anos, testando diferentes medicamentos sem sucesso. De repente, esse paciente se encontra em um ambiente com uma equipe de profissionais supercompetentes, todos com o objetivo de criar uma solução para o problema dele. Ele chega com a perspectiva de que ‘dessa vez vai dar certo’.”.
No estudo da equipe de Draulio, embora o efeito placebo esteja presente e seja elevado, o efeito antidepressivo da ayahuasca foi superior e se manteve com o tempo, enquanto no grupo placebo foi diminuindo.
“São poucas as pessoas que têm a possibilidade de observar o efeito placebo. Eu tive a chance de ver pessoas que chegaram ao laboratório que praticamente não andavam, pessoas que tinham um quadro de depressão havia 25 anos e que em uma sessão com placebo saíram do hospital sem sintomas. É o efeito mais lindo que eu já vi como cientista, o mais impressionante.”, conta Draulio.
Carlos Orsi, jornalista e diretor no IQC, é mais cético: “O efeito é real e fisiológico, mas não se justifica por si só. Edzard Ernest, professor emérito da University of Exeter, no Reino Unido, apresentou três razões pelas quais terapias baseadas em efeito placebo são deletérias: ele é inconsistente, ou seja, as pessoas não têm a mesma suscetibilidade ao efeito placebo;  ele é limitado, funciona com analgesia de curto prazo e não na cura para todas as patologias, como o câncer; induz pessoas a acreditar em práticas não confirmadas pela ciência e dessa forma é antiético”.
Tratamentos alternativos e o Sistema Único de SaúdeAna Paula, da UFPB, explica os resultados encontrados em um dos seus estudos: “Nós mostramos e argumentamos que o recurso da religiosidade era uma estratégia importante que deveria ser considerada na hora de se estabelecer políticas, ou mesmo na forma como o profissional da área médica vai lidar com o paciente. Isso tudo no contexto da saúde pública.”.
Desde 2006, está implantada no Brasil a Política Nacional de Práticas Integrativas Complementares no SUS que atualmente conta com uma grade de 29 práticas (PICs). Dessas, apenas duas, a homeopatia e a acupuntura, são reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Em nota de 13 de março de 2018, o CFM afirmou que a inserção de dez modalidades de PICs não apresentam comprovação científica. Ainda de acordo com o conselho, prescrição e uso de procedimentos sem comprovação científica são proibidos aos médicos brasileiros.
“Se pegássemos todo o investimento feito na implementação das PICs no SUS e investíssemos no aumento do tempo de consulta e na capacitação dos profissionais teríamos uma melhora no atendimento e na saúde pública. As PICs não apresentam nada de concreto cientificamente”, afirma Natalia. “Elas endossam práticas que não são eficazes, não funcionam e podem levar a população a se desviar da medicina de verdade. A longo prazo podem trazer prejuízos.”.
Orsi chama atenção para o uso da bandeira da humanização da relação médico-paciente como pretexto para implementação das PICs. E ressalta que é possível fazer humanização sem recorrer a essa infiltração das chamadas práticas complementares. O jornalista lembra que artigos publicados recentemente mostram que a adesão a terapias alternativas diminui a expectativa de vida do paciente em tratamento de câncer. Um exemplo é o estudo publicado no Journal of the National Cancer Institute, que mostrou que o uso de práticas alternativas no câncer leva à diminuição da sobrevida dos  pacientes na comparação com os que optam pelo tratamento convencional.
Trabalhando nas fronteirasPesquisadores vêm apontando a importância da dimensão das crenças para a saúde, o que abre espaço para novas perspectivas na ciência. A pesquisa pode levar a uma compreensão mais ampla sobre o funcionamento do cérebro, representando ganhos substanciais na qualidade de vida de pacientes.
“Eu comecei a me interessar pelo controle emocional de sintomas físicos. Ou seja, como aquilo que te ajuda a mudar um padrão emocional vai mudar, consequentemente, um padrão de resposta física. Junto a uma colega da UFPB, especialista em psiconeuroimunologia, fiz leituras a respeito e começaram a ficar mais claras as bases biológicas e psicobiológicas dessa dinâmica de emoções e estado mental levando a um padrão biológico em outras partes do corpo.”, conta Ana Paula. Com base em seus estudos, a professora formou um novo olhar para o fenômeno da saúde. Hoje, está convencida de que estratégias de saúde que visem entender um quadro clínico e dar o suporte e tratamento a pacientes devem partir de pontos de vista interdisciplinares.
“A área da antropologia médica está interessada em entender o que as pessoas procuram [para cuidar de sua saúde]. Porque tem uma dimensão de crença, de cultura, que é algo que não é possível produzir artificialmente em laboratório para conseguir estudar. O que se faz é ir a campo e estudar o que acontece [em termos de crença e percepção dos envolvidos, sejam pacientes ou figuras religiosas]. Esses relatos costumam ser mais descritivos. A parte exploratória, e a de se tentar fazer ligações com conhecimentos na área médica ainda está por ser levada adiante no Brasil.”, ressalta a pesquisadora.
Em consonância com essa abertura de portas, a Organização Mundial de Saúde publicou, em 1998,  as diretrizes específicas para a abordagem das crenças, religiões e espiritualidade das pessoas para a elaboração do questionário a respeito de qualidade de vida.
Ana Paula não vê a religião como única fonte para o bem-estar e afirma: “Para a área da saúde é muito cara a ideia de que você não precisa ser devoto de uma religião ou ter práticas religiosas para que apareçam consequências na saúde física e mental. Há inclusive estudiosos que apontam que o movimento ambientalista e a relação [de seus membros] com a natureza representaria uma forma de vivência espiritual, com uma crença no bom resultado para a saúde do empenho das pessoas em preservar, recuperar e proteger outras vidas.”

Estudos sinalizam que a fé pode, sim, ajudar a superar doenças
Resultados que vão da diminuição da depressão a algo tão inexplicável que acaba classificado como milagre fazem com que a eficácia da crença em algum poder superior seja aceita com mais facilidade
Cientistas de todas as partes do planeta se debruçam em estudos na tentativa de entender melhor a relação entre a fé e a superação de doenças. Constantemente alvo de controvérsias, a influência da espiritualidade no processo de tratamento de pacientes já é admitida até mesmo por médicos que sempre adotaram uma postura cética em relação ao assunto. Um estudo realizado na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, mostrou que a religiosidade fortalece pacientes que lutam contra o câncer. Nos Estados Unidos, uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Duke, na Carolina do Norte, comprovou que pacientes que se valem de práticas religiosas apresentam 40% menos chances de sofrerem depressão durante o tratamento não apenas do câncer, mas das doenças em geral. Ao que tudo indica, a fé representa um reforço para o sistema imunológico.

O trabalho na USP foi coordenado pela psicóloga Joelma Ana Espíndula, que entrevistou pacientes em tratamento contra o câncer e profissionais da oncologia do Hospital Beneficência Portuguesa, de Ribeirão Preto. A proposta era entender de que maneira a vivência da religiosidade e da fé influencia no destino de quem enfrenta o mal. “Também apuramos como as equipes médicas enxergam esse aspecto que, sem dúvida, revigora o paciente. O estudo foi qualitativo, trabalhamos com um universo de 30 pessoas, mas analisamos a fundo o valor e o efeito dessa virtude na vida delas”, explica.

Para a psicóloga, os relatos demonstram que os pacientes encaram a religião como um apoio, um fortalecimento espiritual que atenua incertezas, dores e conflitos. A pesquisadora observa que a fé, como o sentimento que faz a mediação entre Deus e as pessoas, ainda não é totalmente compreendida pela ciência, mas é um mecanismo constatado diariamente pelos médicos nos hospitais. “Todo homem carrega dentro de si o sentido religioso. Pacientes com câncer não perdem somente a saúde. A autoestima, autonomia, integridade e inúmeras qualidades pessoais e sociais são abaladas. Mesmo aqueles que não têm religião passam a sentir necessidade de buscar uma crença, porque sabem que ela pode dar poder ao corpo e à alma”, diz.



A ciência agora comprova o poder de cura através da fé e oração 

Para uma pessoa de fé, nunca houve qualquer dúvida de que a fé e a oração tem o poder de curar. Porém, pesquisas feitas com vários médicos nos principais hospitais e universidades em todo os EUA mostraram conclusivamente que a crença em Deus é realmente boa para uma pessoa, fazendo-a mais saudável e feliz, e também contribui para uma vida mais longa.
Estudos têm demonstrado que a oração pode evitar que as pessoas fiquem doentes – e quando ficam doentes, a oração pode ajudá-las a melhorar mais rápido, disse o doutor Harold G. Koenig, MD, da Universidade de Duke à revista NewsmaxHealth
Uma exaustiva análise de mais de 1.500 estudos médicos respeitáveis “indica que as pessoas que são mais religiosas e oram mais, têm melhor saúde mental e física, continua Dr. Koenig
E de 125 estudos que analisaram a relação entre saúde e adoração regular, 85 mostraram que os “fiéis regulares” vivem mais tempo, ressalta Dr. Koenig
Há um monte de provas lá fora, Afirma Dr. Koenig – diretor do Centro de Espiritualidade, Teologia e Saúde da Universidade de Duke. Ele também é autor de vários livros sobre fé e cura.
Um estudo impressionante publicado no Southern Medical Journal demonstrou que a oração tem um efeito notável em pacientes com deficiência auditiva e deficiência visual. Depois sessões de oração,
Eles mostraram melhorias significativas com base em testes de áudio e visual, disse Koenig.
Ele ainda acrescentou:
Os benefícios da prática religiosa devota, particularmente envolvimento em uma comunidade de fé e compromisso religioso, são de que as pessoas a lidam melhor, em geral, com o estresse. Eles experimentam um bem-estar maior, porque eles têm mais esperança, eles estão mais otimistas, eles experimentam menos depressão, menos ansiedade, e eles cometem menos suicídio.
Também possuem sistemas imunológicos mais fortes, baixa pressão arterial, e, provavelmente, um melhor funcionamento cardiovascular.
A prova do poder da oração é esmagadora, diz o pesquisador e escritor Tom Knox, um ex ateu que se converteu depois de fazer um estudo aprofundado sobre os benefícios médicos da fé.
O que eu descobri me surpreendeu, admite Knox. Ao longo dos últimos 30 anos, um crescente e largamente despercebido corpo de trabalho científico vem mostrando que a crença religiosa é- médica, social e psicologicamente- benéfica, concluiu.
Knox continua a listar alguns dos experimentos que já foram realizados e seus resultados:
Estudo após estudo, permite-se ter um “banco de dados” sobre os benefícios de ter fé, especialmente no prolongamento da vida. Em 2006, pesquisadores de populações, da Universidade do Texas, descobriram que quanto mais vezes você vai à igreja, quanto mais tempo você vive.
A participação religiosa está associada a mortalidade de adultos de uma forma gradual. Há uma diferença de sete anos na expectativa de vida entre aqueles que nunca vão à igreja e os que frequentam semanalmente.
O American Journal of Public Health estudou  quase 2.000 dos californianos mais velhos durante cinco anos e constatou que aqueles que participaram de serviços religiosos (ou caridade) eram 36% menos propensos a morrer durante esse período do que aqueles que não participavam de serviços religiosos.
Um estudo de quase 4.000 adultos mais velhos para os E.U. Journal of Gerontology revelou que os que eram ateus tinham significativamente maior probabilidade de morrer durante um período de seis anos antes do que os fiéis.
Crucialmente, pessoas religiosas viveram mais do que ateus, mesmo que eles não fossem regularmente para um lugar de adoração.
A Sociedade Americana de Hipertensão estabeleceu em 2006 que os crentes têm pressão arterial mais baixa do que os não-crentes.
Os cientistas também revelaram que crentes recuperam-se de câncer de mama mais rápido do que os não-crentes, têm melhores resultados de doença coronária e artrite reumatoide e são menos propensos a ter filhos com meningite.
Uma pesquisa realizada no Hospital Geral de São Francisco (EUA) averiguou o efeito da oração em 393 pacientes cardíacos. Metade recebeu oração de um estranho que tinha apenas o nome dos pacientes. Estes pacientes tiveram menos complicações, menos casos de pneumonia e precisaram de menos tratamentos com remédios.
Knox então conclui:
Os ateus podem zombar da fé da forma como eles gostarem, mas eles não podem presumir que a ciência está do lado deles.

Fonte: Traduzido e adaptado de: NewsmaxHealth

O que a ciência vê na espiritualidade

Algumas pesquisas indicam que a prática da espiritualidade pode facilitar os caminhos da cura. Instigados, médicos se especializam nos estudos dos benefícios que advêm do Sagrado

A dona de casa Kayve Fugiwara tinha um tipo grave de câncer e acredita que participar de uma rede de fé a ajudou a superar a doença

Logo na primeira consulta, o cirurgião e cardiologista Fernando Lucchese, do Hospital de São Francisco da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, faz a seguinte pergunta aos pacientes: “Você tem alguma religião?”. A informação faz parte do que ele chama de “anamnese espiritual”. Se o paciente professar alguma crença, a orientação do médico é buscar fortalecer a “rede espiritual” nos dias antes da cirurgia. Não importa qual. “Se for evangélico, eu peço pra conversar com o pastor. Os católicos, com os padres. Os umbandistas, com os pais de santo. Essa força não deve ser desconsiderada”, defende.

Lucchese coordena o Núcleo de Pesquisas do Hospital de São Francisco, que, em parceria com a Universidade Duck, nos Estados Unidos, realiza pesquisas que tentam explicar as influências da religiosidade nos tratamentos de saúde. Cinco pesquisadores e três médicos participam dos estudos. Em recente pesquisa realizada com 260 pacientes do hospital gaúcho, 96% das pessoas atendidas disseram acreditar em Deus. Dessas, 88,2% usam a fé como conforto na doença. O resultado, segundo o doutor, abriu caminho para tentar perceber como essa crença se reflete no corpo.

Outras evidências levam o médico a acreditar numa relação entre a saúde e a religiosidade. Estudos já comprovaram que a religiosidade reduz de algum modo as possibilidades de inflamação no corpo. Lucchesi explica que esse efeito é causado pela redução da substância interleucina 6 no organismo. “As doenças inflamatórias se caracterizam pelo aumento dessa substância no corpo. Em pessoas que mantêm hábitos religiosos, ela tende a diminuir. A partir de então, a gente começou a tatear uma explicação para as doenças da alma”, considera.

Segundo ele, a principal vantagem da espiritualidade é “apaziguar o espírito”. O fato de tranquilizar os pacientes, reverbera na eficiência do tratamento. A relação entre o paciente e o médico também melhora. “É uma espécie de senha entre os médicos e os enfermos. Nós deixamos de ser doutores, simplesmente, quando enxergamos essas outras possibilidades neles”, acrescenta.
Humanização
Para a professora Eliane Oliveira, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), a humanização do tratamento e das relações entre os médicos e os pacientes é uma das principais vantagens dessa abordagem. “O cuidado deve ser centrado no sujeito”, assevera.

Segundo a especialista, os médicos precisam identificar se os pacientes valorizam a espiritualidade. “É preciso ter sensibilidade para saber se a crença tem uma repercussão na vida do paciente e tomá-la como aliada nesse processo”, explica. A professora também fala da importância de se identificar as redes de apoio, que pode vir da família, mas também das comunidades religiosas.

“Isso faz parte da identidade de muitas pessoas, por isso é importante valorizar. Nas pessoas que tem uma religiosidade mais acentuada tem uma rede de apoio mais significativa e são importantes nos momentos difíceis”, comenta. (Rômulo Costa)

“É preciso ter sensibilidade para saber se a crença tem uma repercussão na 
vida do paciente”

SAIBA MAIS
Apoio
O serviço de capelania faz parte da política de alguns hospitais brasileiros como forma de dar apoio aos pacientes e humanizar o tratamento. A professora Eliane Oliveira (UFC) defende que essa alternativa pode contribuir para o tratamento de quem tem uma crença. 

Capelania
O Hospital de São Francisco, em Porto Alegre, dispõe do serviço. São cinco capelães que atuam na unidade entre católicos e evangélicos. Os profissionais são acionados pela equipe médica e intermedeiam a relação entre os doutores e o paciente recém-operados. 




 Francisca das Chagas (de preto) recebe o cuidado da voluntária Ana Célia

Para cuidar da alma e do corpo

Iniciativas como o projeto 4 Varas ampliam a visão de tratamento médico, com abordagem mais holística. Espiritualidade e medicina se unem em serviços ofertados em Fortaleza
O cuidado com o ser humano não deve se centrar apenas em exames e medicamentos. É o que pensa o doutor Adalberto Barreto, professor da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e criador do projeto 4 Varas. Lá, o médico une todas as dimensões do humano em prol da cura. O caráter espiritual aparece como um dos fatores que podem contribuir para o bem-estar das pessoas, aliando-se às dimensões biológicas, psicológicas e sociais.


“Temos, no mínimo, essas quatro dimensões. Elas devem ser levadas em consideração diante do sofrimento, das doenças e das crises da vida. Reduzir a cura a apenas um aspecto é um desserviço”, defende o médico. No projeto 4 Varas, Barreto desenvolveu a terapia comunitária, em que a parte espiritual é valorizada no tratamento. “Nós fazemos uma dinâmica. Em determinado momento, a gente pede para que cada pessoa se conecte com a sua espiritualidade”, explica. Os cerca de 90 participantes realizam a atividade em silêncio, “buscando os seus valores”, como descreve Barreto.

Nesse caso, também não é levada em consideração uma religião específica. O médico diz que o importante é tentar estabelecer essa conexão com a fé, seja ela qual for. “A espiritualidade ajuda as pessoas a acreditarem primeiro em si. É isso que ajuda na saúde”, ele defende. Barreto ressalta que a espiritualidade pode ser um dos caminhos para o tratamento, mas nunca o único. “É importante que todas as dimensões estejam interligadas. Ninguém deve se tratar só com medicamentos, assim como não deve se tratar só com espiritualidade”, assevera. A medicina e a espiritualidade se unem no projeto 4 varas de modo holístico. Na massoterapia, se o paciente professar alguma fé, as massagistas realizam orações enquanto executam o trabalho. As curandeiras e as rezadeiras, seis no total, também auxiliam no trabalho médico.

Cleinha Rodrigues, 78 anos, é uma delas. De acordo com a rezadeira, há uma ligação entre as “doenças da alma” e o corpo. “É uma questão de energia”, assegura. “Nas mãos da gente tem uma energia curadora. A fé ajuda nisso. À medida que estou fazendo as massagens, vou rezando. Isso faz bem”.

Rede pública
O 4 Varas é um projeto de extensão da UFC que recebe apoio da Prefeitura de Fortaleza. Possui especialistas para tratar diversos tipos de enfermidades, mas os pacientes da rede pública só são encaminhados para lá quando tratados pelos Centros de Assistência Psicossocial (Caps).

“Dentro da rede, a gente não trabalha em uma perspectiva voltada para a espiritualidade. A gente, no entanto, mescla a biomédica e a psicossocial”, explica a assessora técnica da célula de saúde mental de Fortaleza, Andrea Maluf. De acordo com a gestora, alguns pacientes são encaminhados para tratamentos em projetos como o 4 Varas ou as Ocas Terapêuticas, que oferecem meditação e outros métodos que aproximam a espiritualidade e a saúde.

Os serviços fazem parte da rede substitutiva, que, segundo Andrea, ainda precisa de ampliação. “Essa rede ainda não tem as pernas que deveria ter para dar conta da demanda, que ainda é grande”, afirma. (Rômulo Costa)

"É importante que todas as dimensões estejam interligadas. Ninguém deve se tratar só com medicamentos, assim como não deve se tratar só com espiritualidade"

Serviço

Projeto 4 Varas
Onde: Rua Profeta Isaías, 456 - Pirambu
Informações: 3286 6041
 
Oca Terapêutica
Onde: Rua Contorno Norte, s/nº - São Cristóvão
Informações: 3488 3301 / 3256.8791

Fé que transcende a escolha da religião

Glória Marília Medeiros, aposentada
Em julho de 2002 fui submetida a uma cirurgia de hérnia de disco na região lombar. O resultado clínico foi excelente. Porém, em 2015, as dores reapareceram fortes, insuportáveis mesmo. Uma ressonância magnética indicou a necessidade de uma nova cirurgia. O médico chegou a indicar um cirurgião. Mas antes mesmo que eu conseguisse marcar o procedimento, e sofrendo com tantas dores, fui convidada a conhecer o Grupo Espírita Ana Amélia Bezerra de Menezes, que naquele dia receberia o médium João Berbel. 

Ali, fui submetida a uma cirurgia espiritual.

Sou católica praticante, formada em Teologia, e nunca havia cogitado a possibilidade de passar por tal experiência. A dor foi meu guia e, naquele momento, ela não me permitia fazer questionamentos. O fato é que, no dia seguinte àquele atendimento, acordei sem qualquer dor, nenhuma mesmo. E exatamente como o pós-operatório da cirurgia tradicional de 2002, senti meu pé mole, reflexo da intervenção na coluna.

Continuo com acompanhamento médico convencional, mas não tenho dúvida de que minha fé foi determinante para minha cura. Não aderi à doutrina espírita. A fé de cada um transcende a escolha da religião.

Histórias de quem se viu curado pela fé

A dona de casa Kayve Fugiwara sentia fortes dores no braço. Com muito tempo de investigação dos médicos, descobriu que ali existia um nódulo. Em seus dois pulmões também havia. Foi diagnosticada com um grave tipo de câncer — sarcoma nível 5. Os médicos a desenganaram. O tratamento seria paliativo, para aumentar seu tempo de vida, mas jeito não tinha mais.

Foi quando Kayve, católica, apegou-se mais à religião. O diagnóstico não lhe trouxe revolta ou desespero. Ela atribui isso ao apoio que teve na comunidade cristã que frequenta. “Eu sempre fui medrosa com procedimentos médicos, mas dessa vez eu não fui. Eu tinha confiança que eu podia ser curada”, narra.

Paralelo ao tratamento com quimioterapia, radioterapia e cirurgias, Kayve fortificou a rede de fé que estava à sua volta. Participava de grupo de orações e encontrava força onde pudesse existir também esperança. “Muitas vezes eu desanimei. Ficava triste mesmo. Mas eu me renovava quando ia para a Igreja ou recebia visita de amigos da comunidade. Era uma injeção de ânimo que eu recebia”. Tempos depois refez os exames e viu-se curada da doença. Ela mesma não foi em busca de explicações, mas acha que a rede de apoio que formou e a confiança no tratamento foram um dos fatores que auxiliaram na recuperação.

O apoio da comunidade religiosa contribuiu para o tratamento do aposentado Blaudecy César Pinto, 71. Ele foi diagnosticado com um tipo raro de doença degenerativa que causava tumores pelo corpo. Enquanto os médicos buscavam resposta para o problema, o paciente buscou apoio dos colegas da igreja evangélica. “Eu sabia que estava doente e que poderia ser grave. Ainda não sabia o que era, mas nunca desacreditei na cura”, comenta.

Quando foi diagnosticado, seu Blaudecy precisou fazer intenso tratamento com antibióticos que, tempos depois, trouxeram-lhe de volta a saúde do corpo. Os médicos e os medicamentos sempre foram vistos por ele como “instrumentos de Deus” para a cura. “A nossa fé tem que estar em Deus, mas não se pode confiar em um tratamento só de fé. Eu consagrava meus comprimidos a Ele porque sabia que dali vinha minha cura”. (Rômulo Costa)

A CURA PELA FÉ

Hoje em dia, Jeff Levin é considerado um dos principais nomes nos estudos científicos a respeito da relação entre as práticas religiosas ou espirituais e a saúde.

Gilberto Schoereder
Várias pesquisas vêm sendo realizadas nos últimos anos envolvendo o que alguns chamam de “o poder da oração”. Uma das grandes autoridades mundiais nesse campo é o dr. Jeff Levin, um epidemiologista social formado em religião, sociologia, saúde pública, medicina preventiva e gerontologia na Universidade Duke, na Universidade da Carolina do Norte, na Divisão Médica da Universidade do Texas e na Universidade de Michigan.

Ele é pesquisador do National Institute for Healthcare Research e seus estudos podem ser definidos como epidemiologia da religião – o estudo científico de como fatores espirituais previnem a incidência de enfermidades em determinadas regiões e a mortalidade, e promovem a saúde e o bem-estar - estabelecendo o relacionamento existente entre ciência, medicina e espiritualidade.

Seu trabalho estabelece pontes entre diferentes campos de atividade, como epidemiologia, gerontologia, sociologia, psicologia e medicina alternativa e complementar.

As perguntas básicas que seus estudos apresentam são: Como a fé religiosa atua como um recurso na prevenção de doenças e na promoção do bem-estar?; Um relacionamento de amor com Deus é uma característica das pessoas saudáveis?; A religiosidade é um fator de proteção contra doenças ao longo do processo de envelhecimento?; Existem efeitos terapêuticos ou preventivos de energias sutis ou estados alterados de consciência?

O resultado de suas pesquisas foi publicado no livro Deus, Fé e Saúde (Editora Cultrix). Entrevistamos o dr. Levin por e-mail para que ele nos falasse mais sobre seu trabalho e as mais recentes descobertas nessa área, assim como sua relação com teorias e posturas mais conservadoras da medicina, que ainda resistem em aceitar as evidências científicas coletadas nos últimos vinte anos.



A relação entre a oração ou as preces e a saúde se tornou um dos assuntos mais comentados da atualidade. Essa relação positiva entre ambas está definitivamente comprovada ou ainda estamos no campo das evidências? Em que ponto se encontram as pesquisas científicas?

O campo da pesquisa em espiritualidade e saúde compreende, na verdade, três áreas de estudo diferentes. Uma delas, aquela em que minha pesquisa se focou nos últimos vinte anos, envolve investigações epidemiológicas de como a fé ou o envolvimento religioso influencia a saúde física e mental. Já foram feitos mais de mil estudos com esse enfoque e, hoje, a idéia de que aspectos da vida religiosa podem ser benéficos para a saúde ou o bem-estar de algumas pessoas é aceita de forma geral e não controversa.

As duas outras áreas de pesquisa em espiritualidade e saúde envolvem: 1) estudos experimentais de laboratório, como em psicofisiologia, explorando os correspondentes espirituais de estados alterados de consciência; 2) testes clínicos investigando os efeitos da oração à distância. Em contraste com a pesquisa epidemiológica, esses estudos encontram muito mais resistência. Pessoalmente, acredito que existem boas evidências para ambas, mas os temas e conceitos levantados por esses estudos desafiam a estreiteza da visão de mundo de muitos cientistas das correntes estabelecidas.



Tem se falado na influência de fatores espirituais ou religiosos no processo de cura. Foi realizada alguma tentativa no sentido de determinar se se trata, de fato, de fatores espirituais, ou pode se tratar da ação da mente, como ocorre em tantos dos chamados “fenômenos parapsicológicos”? Em outras palavras, a crença de uma ou mais pessoas daria início a um processo ou uma ação mental. O que o senhor pensa a esse respeito?

Eu não estou certo de que usando os métodos naturalistas da ciência empírica poderemos algum dia desemaranhar esses dois conceitos. Aqui, nos Estados Unidos, médicos religiosamente muito conservadores opuseram muita resistência a essa pesquisa. Eles vêem os resultados de estudos de oração e cura, e quer atribuir qualquer cura subseqüente à intervenção “sobrenatural” de Deus. Outros reconhecem a possibilidade de que o ato de rezar envolva criar uma intenção mental positiva que pode ter, por si mesma, um efeito curativo. Mas isso é interpretado pelo primeiro grupo como blasfemo e até mesmo, acredite ou não, satânico – porque parece implicar efeitos que são inerentemente parapsicológicos, e a parapsicologia é considerada maligna.

Considero essa reação perturbadora por duas razões. Em primeiro lugar, fez muitos médicos cristãos conservadores rejeitar efetivamente os resultados de estudos de oração e cura, porque os estudos implicavam que as orações de qualquer um podem ser efetivas, independentemente de religião, talvez devido a algum tipo de mecanismo paranormal. Isso ameaça as reivindicações de exclusividade que alguns fazem para sua própria religião e para os resultados de orações dessa religião.

Em segundo lugar, se os resultados forem devidos “apenas” à parapsicologia – em vez de a Deus, por assim dizer -, por que isso seria um problema? Em última instância, todos esses efeitos vêm de Deus. Eu acredito que o Criador dotou os seres humanos com todo tipo de aptidão, algo que os grandes místicos conhecem há milhares de anos e que cientistas ocidentais só agora procuram entender. Mais de cem anos de pesquisa parapsicológica confirmaram isso, para satisfação minha e de muitos outros.



Durante suas pesquisas, o senhor teve conhecimento da ação dos chamados “médiuns de cura”? De alguma forma, esses casos podem estar relacionados? Já ouvimos falar que a cura não provém exatamente dos médiuns, mas da crença das pessoas que os consultam.

Pessoalmente, nunca pesquisei sobre médiuns, mas tenho uma posição a respeito. Acredito que, quando se trata de orações, cura pelas mãos ou por energia, ou qualquer outra forma sutil de terapia bioenergética ou relativa à consciência, todos os elementos da interação curativa podem ser importantes; em outras palavras, as habilidades, características e intenções de quem cura, o método da cura e as crenças do paciente. Tudo isso pode entrar em jogo até certo ponto, mas pode variar de acordo com a situação.

Quanto a uma condição sine qua non para o sucesso da cura, já ouvi muitos curandeiros dizendo que descobriram, por experiência própria, que é indispensável haver uma intenção amorosa por parte do curandeiro ou rezador; independentemente de outros elementos (método, técnica, expectativas de paciente, etc.). É fundamental haver uma intenção sincera e abnegada de amor fraterno, que deseje o melhor benefício para a pessoa, de acordo com a vontade de Deus.



Já ouvimos falar de experiências de “prece a distância”, com resultados positivos. Inclusive, as pessoas que realizavam as preces não sabiam a quem elas se dirigiam. O que o senhor pode nos dizer sobre esse assunto?

Como muitos leitores já devem saber, houve vários estudos recentes que investigaram os efeitos da oração a distância. Alguns desses estudos foram, de fato, bem controlados, com método duplo-cego e amostragem criteriosa; foram testes clínicos de certa forma similares aos testes farmacológicos que avaliam os efeitos de novas drogas. Para horror de muitos médicos acadêmicos convencionais, alguns desses estudos mostraram resultados, com índices de recuperação que foram melhores entre os pacientes que foram alvo de orações sem o saberem do que entre os pacientes dos grupos de controle.

Acredite ou não, já houve quase duzentas investigações desse tipo. E não só em pessoas, mas outros organismos, como animais e plantas. A pesquisa foi compilada de forma muito abrangente em um livro soberbo chamado Spiritual Healing (Cura Espiritual), escrito por meu amigo Dr. Dan Benor, um médico norte-americano. Ele descobriu que cerca de um quarto dos estudos foi realizado com uma metodologia de pesquisa impecável, e que, desse um quarto, aproximadamente três quartos constataram resultados positivos. Em outras palavras, isso é evidência e que orações a distância tiveram um efeito mensurável e benéfico.



Em seu livro Deus, Fé e Saúde, o senhor estabelece uma relação entre o modo como o compromisso religioso influencia o comportamento, e o modo como o comportamento influencia a saúde. No entanto, o comportamento de uma pessoa não está necessariamente ligado ou necessariamente dependente de um compromisso religioso. Foi feita alguma pesquisa no sentido de determinar o comportamento de pessoas não-religiosas, para ver se aquelas que têm comportamento saudável têm uma saúde melhor, como as religiosas ou espiritualizadas? O senhor diz em seu livro que as pesquisas mostram que o comportamento não-saudável não relacionado à postura religiosa ou espiritual?

É claro que as pessoas podem ser perfeitamente saudáveis sendo ou não sendo religiosas ou espiritualizadas. O que tentei fazer no meu livro foi examinar os “mecanismos” subjacentes às relações entre espiritualidade e saúde observadas em pesquisas. Essas associações existem, eu concluí, exatamente porque a religiosidade pode motivar comportamentos saudáveis, pode gerar relações sociais de apoio e solidariedade, pode produzir sentimentos ou emoções poderosos, etc. E já se sabe que cada um desses fatores – hábitos saudáveis, relacionamentos, sentimentos – é importante para a saúde.



Existem diferenças visíveis entre “estar associado a uma religião” e ter o que se poderia chamar de uma “atitude espiritual independente”? Faz diferença se a pessoa reza numa igreja ou em qualquer outro tipo de templo, ou se ela reza em casa, e segundo suas próprias regras? O que conta, afinal, é o comportamento, é o modo de pensar, é uma sintonia especial, ou outro fator?

Eu não acredito que faça qualquer diferença. Um dos primeiros fatos básicos que descobri quando comecei minha pesquisa, vinte anos atrás, é que um efeito saudável da religiosidade ou da espiritualidade parecia ser uma constante universal na natureza. Isto é, quando se toma como referência ou pessoas sem um caminho espiritual ou a população como um todo, efeitos epidemiologicamente protetores ou preventivos foram observados em católicos, protestantes, judeus, budistas, hindus, muçulmanos, zoroastristas, etc. Além disso, uma quantidade considerável de estudos mostrou um benefício às pessoas que, mesmo não sendo formalmente religiosas, estão envolvidas com meditação ou outras buscas espirituais.

O Institute of Noetic Sciences, uma esplêndida organização na Califórnia, publicou um relatório excelente chamado The Physcal and Psychological Effects of Meditation (Os Efeitos Físicos e Psicológicos da Meditação) documentando esses estudos.



O senhor entende que essa aproximação da ciência com a religião é uma tendência para o futuro? O filósofo Ken Wilber já vem se manifestando há anos a respeito da necessidade de se desenvolver aproximando as visões científica e espiritual. O que o senhor pensa a esse respeito?

Nos últimos trinta anos, os acadêmicos dos Estados Unidos têm demonstrado um considerável interesse em explorar a interface entre religião e ciência. Porém, muito desse discurso aconteceu dentro do contexto rígido das filosofias e visões de mundo adotadas pelos acadêmicos e pelas religiões predominantes. Um “novo paradigma” que unifique as abordagens científica e espiritual seria certamente um desdobramento bem-vindo. Mas precisamos nos perguntar: Qual paradigma? Qual abordagem científica? Perspectiva espiritual de quem?

Ken Wilber fala para muitas pessoas que têm interesse intelectual na consciência e em caminhos espirituais alternativos, mas eu não diria que o mundo acadêmico ortodoxo esteja pronto para isso. Para boa parte da comunidade acadêmica, o diálogo entre ciência e religião é um diálogo entre uma visão muito materialista e mecanicista de ciência e uma versão cartesiana de espiritualidade, baseada num paradigma muito antigo.



Já existe alguma tentativa de se desenvolver uma teoria a respeito dessa ação da prece na melhora da saúde das pessoas, ou ainda é muito cedo para isso? O senhor entende que uma tória desse gênero deverá estar ligada a teorias desenvolvidas pela parapsicologia, envolvendo a atuação da mente sobre a matéria?

Uma das críticas que os céticos organizados fazem incessantemente à literatura científica sobre oração e cura é que esses estudos não podem ser verdadeiros porque não existe uma teoria que explique as descobertas. Assim, de acordo com essa crítica, os resultados são impossíveis.

A crítica é errônea por dois motivos distintos. Primeiro, a pesquisa clínica estabelece uma distinção entre eficácia e mecanismo de ação. A eficácia de uma terapia pode ser demonstrada muito tempo antes de se compreender o mecanismo subjacente de ação. É o caso da aspirina, que sabíamos que funcionava antes de entendermos por quê. Ignorar ou condenar os resultados de pesquisas metodologicamente sólidas porque eles não se enquadram nas atuais teorias seria a morte da ciência. Qualquer grande novo avanço, por definição, será gerado pela necessidade de se formular uma nova perspectiva teórica que responda a dados inesperados. É assim que as coisas têm funcionado ao longo da história da ciência.

Mas a segunda razão que invalida as objeções dos céticos é muito mais básica: existem, de fato, teorias e perspectivas para nos ajudar a entender como e por quê a oração pode curar. Sobre esse tópico já foi escrito mais do que eu poderia abordar aqui, mas basta dizer que há muitos anos têm surgido livros acadêmicos e artigos científicos com esse enfoque.

Propuseram-se muitos mecanismos de ação possíveis, aproveitando trabalhos estimulantes nas áreas da física, do estudo da consciência, da psicofisiologia e da parapsicologia. Todo tipo de força, energia ou campos foi cogitado, inclusive conceitos como os de mente estendida, campos mórficos, mente não-local, psi, energias sutis, etc. O pesquisador alemão, Dr. David Aldridge, escreveu muito sobre esse tópico, assim como meu amigo Dr. Larry Dossey, o médico norte-americano, em muitos de seus livros, como Palavras que Curam (Healing Words, Editora Cultrix).

Acredito que a parapsicologia guarda uma riqueza de demonstrações empíricas e de proposições teóricas no que tange à oração a distância e seus efeitos de cura. Mas, infelizmente, muitos cientistas e médicos acadêmicos ortodoxos desdenham e não acreditam nesse trabalho, ao mesmo tempo em que o conhecem tão pouco. Essa postura vem principalmente da ignorância e de uma necessidade corporativista de proteger o próprio território. É pena, mas isso também parece ser uma constante na história da ciência e da medicina.



Para Saber Mais:

Deus, Fé e Saúde - Jeff Levin -
Editora Cultrix
Fone : (11) 6166-9000
Site de Jeff Levin: / www.religionandhealth.com/index.htm

(Extraído da revista Sexto Sentido 52, páginas 26-31)


Pesquisadores debatem relação entre ciência e espiritualidade
Nova perspectiva científica da natureza humana aponta para o papel da fé nos cuidados com a saúde

Conversar sobre as crenças espirituais que o paciente tem é algo que já não parece tão distante da realidade de um consultório médico. Se a temática ainda é reprimida pelo ceticismo de alguns cientistas, cada vez mais novas pesquisas procuram entender a importância de abordar a dimensão espiritual da pessoa no tratamento.
O assunto deve ser debatido no primeiro Simpósio Internacional de Espiritualidade na Prática Clínica, nos dias 11 e 12, organizado pelo Núcleo de Psiquiatria e Espiritualidade (Nupe) da Associação de Psiquiatria do RS, em Porto Alegre. Pesquisadores de renome, como o psiquiatra e geneticista da Washington University Claude Robert Cloninger, conhecido por pesquisas em neurobiologia e desenvolvimento de transtornos de personalidade, participam do evento.
Na Santa Casa de Porto Alegre, uma pesquisa inédita realizada junto à Universidade Duke, nos Estados Unidos, coordenada pelo cardiologista Mauro Pontes, já mostrou que a fé causa uma melhora em pacientes submetidos à cirurgia de ponte de safena. A revisão da literatura e as amostras comprovaram que, para os pacientes suportarem melhor a doença, lançar mão da fé é um caminho natural. O desafio, agora, é descobrir os mecanismos em atuação na melhora:
- Queremos mostrar por que a fé diminui fatores que poderiam causar a morte.
Hipertensão, câncer e dor estão entre os casos influenciados pela fé
Segundo a médica psiquiatra Anahy Fagundes Dias Fonseca, coordenadora do simpósio, uma investigação do National Institutes of Health mostra a religião como responsável pela melhora em até 80% diferentes desfechos clínicos, principalmente casos de hipertensão, doenças cardíacas, cerebrovasculares e gastrointestinais, disfunção imunológica, câncer e dor.
Ao examinarem a relação entre o consumo de álcool e atividades religiosas, pesquisadores como Harold Koenig constataram que pessoas que frequentavam a igreja e engajadas em preces tinham índices menores de alcoolismo.
- Crenças e valores são determinantes para o estilo de vida, personalidade e temperamento do paciente. Podem influenciar na forma de encarar o tratamento - diz Anahy.
Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, Alexander Moreira-Almeida explica que há mais 3,3 mil estudos publicados investigando as relações entre religiosidade/espiritualidade e saúde. Os resultados apontam menos depressão, suicídio, abuso de álcool e drogas e melhor qualidade de vida.
Almeida alerta que as crenças religiosas também podem atuar de modo negativo, quando enfatizam a culpa e a aceitação acrítica de ideias, transferem responsabilidades e estimulam a intolerância.
Corpo são, espírito são
Manter o equilíbrio entre as dimensões biológica, emocional e espiritual é o desafio perseguido pela médica homeopata Ana Rosa e de sua filha, a bióloga e estudante de Psicologia Aline, tanto na rotina de trabalho quanto na vida pessoal.
As duas concordam que, para tratar da saúde na integralidade, é impossível deixar de lado as crenças espirituais - no caso delas, a doutrina espírita.
A busca de respostas para questões existenciais e a vontade de compreender comportamentos próprios e externos faz com que as duas frequentem a psicoterapia e participem, semanalmente, de sessões em centro espírita. Como trazem na carga genética um componente para a depressão, mãe e filha também costumam consultar com psiquiatra e tratam o problema específico com medicação.
Como médica, Ana considera muito ortodoxa a visão de seus colegas a respeito do tema. Segundo ela, é importante que os profissionais da saúde saibam perguntar sobre as crenças e valores dos pacientes, pois isso pode ser determinante nos componentes do tratamento:
- Um paciente em doença terminal pode se apoiar na fé para aceitar melhor sua condição. Nem sempre sairá curado, então, a fé pode ser uma forma de aceitar a doença de forma menos dolorosa.
Para elas, a sensibilidade espiritual é como uma ferramenta que pode ser usada em favor da própria evolução. Ana acredita que as pessoas querem comprovações científicas, mas há muitas questões não materiais que ainda não se pode comprovar de forma material. Para Aline, a fé é fundamental, mas não deve ser o único fator da cura em casos de desequilíbrio orgânico ou psíquico. Por isso, considera importante equilibrar quimicamente o corpo e espiritualizar a alma.
>> ENTREVISTA: Claude Robert Cloninger
Psiquiatra e geneticista norte-americano da Washington University
Renomado professor de Psiquiatria, Psicologia e Genética, conhecido por suas pesquisas sobre a base biológica, psicológica, social e espiritual da saúde mental, Cloninger será o responsável pela conferência magna Uma Nova Perspectiva Científica da Natureza Humana do simpósio internacional que ocorre em Porto Alegre.
A espiritualidade é aceita hoje como cotratamento para algumas doenças?
Existem muitos estudos sobre a eficácia da oração e do toque terapêutico que indicam haver benefícios. Há relatos mais positivos do que negativos.
Há estudos que indicam aspectos psíquicos na cura?
Desde os primórdios, os seres humanos tinham fé em algo imortal que permeia todas as coisas. Virtudes como esperança, amor e fé são autotranscedência e, assim, envolvem conexões entre todas as esferas das quais temos conhecimento pela psique ou pela alma.
Qual a explicação dos psiquiatras para casos de pessoas que dizem escutar vozes e incorporar espíritos? Estes comportamentos podem ser associados a doenças psíquicas, como a esquizofrenia?
Psiquiatras que ignoram ou negam a dimensão espiritual do ser não têm explicação adequada para observações como reencarnação, estados de possessão que exigem exorcismo, clarividência ou desencarnar almas. Tais fenômenos são considerados como síndromes ligadas à cultura ou pensamento mágico, ou delírios e alucinações. Eles são atribuídos a pessoas com psicoses, transtornos de personalidade, estados dissociativos e outras síndromes ligadas à cultura. No entanto, isso não explica como tais fenômenos podem ocorrer em pessoas que são mentalmente saudáveis.
Há algum estudo mostrando isso?
Trabalho realizado no Brasil mostrou que a espiritualidade saudável pode ser distinguida de transtornos mentais pelos perfis dos traços de caráter medidos pelo temperamento. Se a pessoa é boa tanto em autodirecionamento quanto em autotranscedência, ela é considerada racional e intuitiva e, por consequência, saudável. Se ela é rica em autotranscedência, mas pobre em autodirecionamento, então é vulnerável ao pensamento mágico ou ilusão. Como resultado, o estudo da espiritualidade não é confiável a menos que a avaliação da personalidade seja cuidadosamente feita.
NA CONSULTA
Como o tema da espiritualidade pode ser tratado durante atendimento médico
- A abordagem deve ser pouco invasiva para não deixar o paciente constrangido
- O médico não precisa convencer o paciente a ser religioso. Trata-se de perguntar e saber ouvir
- Procure achar uma maneira suave para tratar o assunto e observe a reação
- Faça com que ele se sinta respeitado em sua necessidade espiritual
- Deixe de lado os preconceitos. Mesmo que você não se importe com o tema, o paciente pode se importar
Fonte: Mauro Pontes, cardiologista da Santa Casa de Porto Alegre

CIÊNCIA, FÉ E CURA DA DOENÇAS ESPIRITUAIS

A fé faz com que o improvável, talvez mesmo o obscuro, seja aceitável, talvez até real.
Em A ciência (ou não) dos milagres[1], o físico Marcelo Gleiser afirma: ''em ciência, deve-se ver para crer, ou seja, somente após prova concreta, confirmada por grupos diversos de cientistas, pode-se afirmar que um fenômeno é real. Já em religião, ao menos na sua versão mais comum, é o oposto: deve-se crer para ver, ou seja, a fé faz com que o improvável, talvez mesmo o obscuro, seja aceitável, talvez até real''.
Com base no pressuposto acima, não tenho dúvida que fé e ciência devem andar juntas. Aparentemente, ambas caminham em direções opostas. Porém, uma explica a outra e se completam. Exemplifico: há coisas que a ciência pode explicar, outras não.  O mesmo ocorre com a religião.    
Não é novidade que todo e qualquer distúrbio de natureza emocional tem origem no perispírito [1], que ''une o corpo e o Espírito é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro, o Espírito conserva o segundo, que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, mas que pode, acidentalmente, tornar-se visível e mesmo tangível, como ocorre no fenômeno das aparições'' (2008, pág.15).
Por isso, é fundamental o equilíbrio das emoções. Dessa forma, o hábito de orar e atitudes - éticas e cristãs - no dia-a-dia, são essenciais para o bem-estar de cada um. Por quê? Explica Gerber [2]: ''Nossos corpos de energia sutil desempenham um importante papel na manutenção da nossa saúde. (...) As doenças se manifestam no corpo físico depois que as perturbações de energia já tiverem cristalizado nos padrões estruturais sutis dos corpos de frequências superiores. Uma das melhores maneiras de corrigir disfunções nos corpos sutis é a administração de doses terapêuticas de energias sutis de frequências específicas na forma de remédios vibracionais'' (1988, pág. 197).
Sem dúvida, a oração mais a prática atitudinal ético-cristã, funcionam como valiosos recursos espirituais que promovem o equilíbrio da energia sutil[2] de cada indivíduo. Ou melhor, despertam a homeóstase[3]. A prece está para o doente, assim como, as sinapses para os neurônios do cérebro. Através dela [oração], o ser cria em torno de si um espectro energético favorável à cura espiritual que, de acordo com Gerber, atua nos níveis físico e etérico e corrige desequilíbrios nos níveis emocional, mental e espiritual superiores.  
Elucida Kardec [3]: ''O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé colocada em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos que antigamente eram qualificados como milagres'' (1997, pág. 216). Afirma Leadbeater [4]: ''Que infunde o magnetizador ao paciente? Fluido nervoso ou também vitalidade, ou ambas as coisas ao mesmo tempo. Se o paciente está tão sumamente débil e esgotado que é incapaz de especializar a vitalidade, o magnetizador pode ministrar-lhe a necessária, infundindo-lhe a sua nos trêmulos nervos, para o enfermo recuperar rapidamente a saúde. Esse processo é análogo ao da nutrição'' (1995, pág. 86 e 87).
Em uma palavra, o equilíbrio energético é a diferença fundamental entre a vida e a morte do paciente. Finalmente, a fé à luz da razão, a vivência evangélica e o conhecimento científico, funcionam como um tripé de forças na cura de doenças cuja origem é energética.       
Referências:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Araras, IDE, 2008.
GERBER, Richard. Medicina Vibracional: Uma Medicina para o Futuro. São Paulo, Cultrix, 1988.
KARDEC. Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. São Paulo, Petit, 1997.
LEADBEATER, Charles Webster. Os Chakras. São Paulo, Pensamento, 1995.


[1] Jornal Folha de S. Paulo, de 4/12/2005, caderno Ciência.
[2] Energias que frequentemente existem fora da estrutura/tempo comum ou positivo. A energia magnetoelétrica, que se desloca mais rápido do que a luz, é um exemplo de energia sutil. 
[3] Processo de regulação pelo qual um organismo mantém constante o seu equilíbrio e seus benefícios são estendidos ao corpo físico.


Publicado por: RICARDO SANTOS

Fonte:https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/saude/ciencia-fe-cura-das-doencas-espirituais.htm



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Jesus salva e parcela no cartão: quando a cura é um bom negócio
Igrejas neopentecostais incentivam fiéis a abandonar tratamento médico e quem paga a conta é o Estado

 (Foto: TOMÁS ARTHUZZI)

No altar, uma senhora em uma cadeira de rodas, com a pele amarelada causada por um câncer no fígado, era exorcizada. Com a mão na cabeça da enferma, o bispo gritava ao demônio responsável pela doença que saísse daquele corpo imóvel e aparentemente sem forças.
Outra mulher participava daquela sessão de cura: ajoelhada e com os braços torcidos para trás, como se estivesse possuída, ela deveria receber os espíritos ruins da senhora da cadeira de rodas. Feita a transferência, foi a vez de exorcizar a segunda participante, que se contorcia como em um filme de terror. Por fim, ela cedeu. “Você estava sentindo alguma coisa?”, perguntou o bispo. “Dores, muitas dores”, respondeu a mulher. “Pode ir ao médico que garanto: o seu sofrimento acabou. A senhora está curada em nome de Jesus.”
Centenas de fiéis, que até então assistiam à cena de mãos dadas e em silêncio, comemoraram em uníssono: “Amém!”.
Localizada na região central da cidade de São Paulo, a Catedral do Brás realiza dois cultos de cura todas as terças-feiras, um pela manhã e outro à tarde. À noite, a celebração é no Templo de Salomão, que fica a menos de cem metros dali e pertence à mesma congregação religiosa, a Igreja Universal do Reino de Deus. Exorcismos acontecem em quase todos os cultos, assim como depoimentos de pessoas que foram curadas e participaram de rituais para tirar a doença do corpo.
 
Se a fé faz parte do processo de cura, também não se pode esquecer das contribuições para a igreja feitas por meio do dízimo
O bispo distribui bênçãos e conselhos sobre como levar a vida, que incluem sempre a premissa de obediência a Deus. Ao final da celebração, os fiéis recebem um pacote com um lenço umedecido com a água do Rio Jordão e são instruídos a passá-lo na cabeça, nas costas, no peito, nas mãos e nos pés todos os dias — isso deve ser feito em casa, após a leitura de um salmo.
Mas se a fé faz parte do processo de cura, também não se pode esquecer das contribuiçõespara a igreja feitas por meio do dízimo ou de doações avulsas que assistentes recolhem em sacos de veludo ainda durante os cultos. De acordo com o discurso das principais lideranças religiosas, Deus retribuirá a oferta com recompensas sem fim, uma vida de prosperidade e realizações financeiras e pessoais.

Nos cultos, um dos momentos mais valorizados é o dos testemunhos. É ali que são contadas as histórias de sucesso que inspiram e incentivam os fiéis, como a de Dona Lurdes Matos, de 60 anos, que participa da Igreja Universal como obreira, ajudando os pastores durante os cultos.

Ela foi diagnosticada com câncer no reto e submetida a uma cirurgia para retirar o tumor em janeiro. Depois de 46 dias internada, recebeu alta do médico para “morrer em casa”. Em uma terça-feira, faltou ao tratamento para ir ao culto. O bispo, então, pediu a ela que comesse um pedaço de pão. “Há quanto tempo a senhora não comia pão?”, perguntou, enquanto ela colocava pequenos pedaços do alimento na boca.

Duas semanas depois, a fiel estava de volta: animada, subiu sozinha até o altar e contou ter ganhado cinco quilos desde o último depoimento. “O médico disse que, se melhorar um pouco mais, posso deixar de fazer o tratamento. Há duas semanas, se tivesse ido ao hospital em vez de vir aqui, não teria saído mais”, afirmou. Satisfeito, o bispo perguntou: “Paguei alguma coisa para a senhora falar isso aqui?”. Dona Lurdes e os fiéis riram. “Nada”, ela respondeu.
VAI E VOLTA
A 750 metros do Templo de Salomão, a Unidade Básica de Saúde (UBS) do Brás atende mais de 12 mil pacientes pelo Programa de Saúde da Família — o bairro, conhecido pelas confecções de roupas e pela presença de comércio popular, conta com uma população de cerca de 30 mil pessoas.

Os cadastrados, moradores daquela região, são acompanhados por uma equipe que inclui médico, enfermeiro e nutricionista, entre outros especialistas. Em uma área com mais de 14 igrejas pentecostais e neopentecostais em seu entorno, o discurso de cura e salvação dos cultos torna-se um problema de saúde pública: são frequentes os casos de pacientes que pararam de tomar remédios, deixaram de comparecer a consultas ou não receberam os agentes de saúde em casa motivados pela religião.

Há quatro anos trabalhando na UBS, o médico Victor Hugo Vallois se lembra de pacientes que recusaram o tratamento: os sintomas da doença retornaram com mais intensidade, e eles tiveram de voltar ao serviço de saúde de emergência. “Impressionam esses casos porque são pacientes que iniciam o tratamento, têm uma boa resposta e, de repente, por alguma razão, acabam assumindo esse discurso da crença de forma impregnada”, afirma o médico.

A região do Brás, por sinal, foi o berço das primeiras igrejas pentecostais brasileiras: com uma proposta muito menos liberal que o protestantismo clássico, o missionário ítalo-americano Luigi Francescon chegou ao bairro paulistano em 1910 para fundar a Congregação Cristã no Brasil.
 
Se as filas nos hospitais são enormes e marcar uma consulta demanda uma espera de meses, nas igrejas, os pastores estão sempre à disposição
AutorA partir de então, o compromisso de evangelização cristã em defesa da cura divina ganhou popularidade e se espalhou pelo país com diferentes grupos e lideranças religiosas — dados do Censo de 2010 indicam que mais de 25 milhões de brasileiros se declaram como evangélicos pentecostais.

Presentes em cidades de todos os tamanhos e nos bairros mais distantes, essas igrejas conquistam fiéis não somente pela popularidade dos cultos de cura, mas por uma proximidade que muitas vezes o Estado não é capaz de alcançar: se as filas nos postos de saúde e hospitais são enormes e marcar uma consulta demanda uma espera de meses, nas igrejas, os pastores estão sempre à disposição para conversar, abençoar e “tirar” a doença.

A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo não tem estatísticas que apresentem a quantidade de pacientes que abandonaram o tratamento ou os motivos para essas desistências. Porém, em visita a 12 unidades de saúde em diferentes regiões da capital, a reportagem ouviu em pelo menos sete delas relatos de médicos, enfermeiros e agentes de saúde que já lidaram com situações semelhantes. “Muitas vezes, não é o líder religioso que orienta a abandonar o tratamento — é o próprio paciente que, em um processo de negação de sua doença, negligencia os cuidados médicos”, afirma Alexander Moreira-Almeida, professor de Psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Para Elder Cerqueira-Santos, professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), é o discurso religioso que leva as pessoas a abandonar a medicina. “Se a causa é espiritual, a cura também é. Para alguém que está em sofrimento, o discurso dogmático da igreja é mais consolador.”

A questão não é exclusiva ao Brasil: um estudo divulgado em 2011 pela Universidade do Texas indicou que a taxa de mortalidade infantil era maior em comunidades com fiéis que frequentavam igrejas pentecostais e outras congregações cristãs mais conservadoras.

Em 2012, o adolescente Austin Sprout, de 16 anos, morreu por causa de uma infecção causada por apendicite depois que a família se recusou a ir ao hospital. Eles frequentavam uma igreja neopentecostal do estado do Oregon. Os pais, Russel e Brandi Bellew, foram condenados a cinco anos de liberdade condicional.

E esse não foi o primeiro caso envolvendo a mesma igreja. Também em 2012, uma mulher foi sentenciada a dois anos de prisão depois de escolher tratar o diabetes do filho de nove anos com orações. E, em 2011, o casal Dale e Shannon Hickman foi condenado a pouco mais de seis anos de prisão depois de não buscar auxílio médico para o filho prematuro, que faleceu em casa em poucas horas.
CONCORRÊNCIA DESLEAL
Infectologista especializado no tratamento de Aids, o médico Artur Timerman já presenciou o abandono de vários pacientes, inclusive de pessoas próximas do seu convívio familiar. “Muitas vezes, parte do interesse dessas igrejas é econômico. Eles encaram o médico como concorrente pelo dinheiro daquela pessoa. O que ela vai gastar com tratamento é um dinheiro que não vai entrar na igreja.”

Na opinião de Timerman, quando o discurso de embate religioso é maior que o de conciliação, o único prejudicado é o paciente. “Estamos todos no mesmo barco. Temos que remar para a frente, não para trás.”
Quando o discurso de embate religioso é maior que o de conciliação, o único prejudicado é o paciente"
Diagnosticada com epilepsia, Joana (nome fictício), de 56 anos, está há três meses em um centro especial de acolhimento para mulheres na região do Belenzinho, também em São Paulo. Quando chegou, ela recusava todos os remédios anticonvulsivos, além daqueles que controlavam sua pressão arterial. “Ela sabe que tem epilepsia e que se não tomar remédios pode convulsionar.

Mas, ao mesmo tempo, diz que o problema é espiritual, e não médico, e que a única forma de tratá-lo é na igreja”, conta a psicóloga do centro, Monique de Almeida. Após duas crises recentes, em que foi necessário chamar o Samu para resgatá-la, Joana aceitou tomar um dos remédios obrigatórios.

“Chamamos a equipe de saúde aqui, porque se depender dela, ela não vai até a UBS”, diz. “Não podemos obrigar ninguém a tomar remédio, mas tentamos conversar, dizemos que Deus deu a inteligência ao homem para que ele possa ajudar pessoas como ela.” Há duas semanas medicada, Joana não teve nenhuma outra crise, mas continua frequentando a igreja e, diariamente, verifica quais são os remédios administrados, para não tomar nenhum a mais do que o acordado.

Apesar de ser uma área negligenciada por parte dos pesquisadores, há explicações e estudos científicos que comprovam a melhora da condição de pacientes que possuem alguma espiritualidade, especialmente em casos de depressão, tentativas de suicídio, abuso de substâncias químicas, estresse e ansiedade.

Recentemente, a Associação Mundial de Psiquiatria declarou a importância de incluir o assunto no ensino, pesquisa e prática clínica. De acordo com Alexander Moreira-Almeida, há duas explicações para como a religião pode colaborar ou promover a cura de um paciente: pela promoção de comportamentos saudáveis e pelo fato de que o envolvimento religioso pode ocasionar a diminuição de hormônios de estresse e o melhor funcionamento imunológico. “A dúvida é se essas duas vias explicam tudo ou se há realmente algum outro mecanismo que ocorra por vias ainda não bem compreendidas pela ciência atualmente”, afirma Almeida.

Em algumas igrejas, entretanto, o discurso dos celebrantes é menos conciliador. Valdemiro Santiago, ex-integrante da Universal e fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, tem fama de milagreiro entre os fiéis, que querem abraçá-lo, tirar fotos ou pegar uma peça de roupa do autoproclamado apóstolo.
Em quem você deve confiar: em Deus ou nos médicos?
“Me conhecer não muda nada na sua vida. A vida de uma pessoa muda quando ela conhece Deus. Se Deus quiser derrotar a ciência, ele derrota”, diz. E continua pregando: “Eu só ouço o que Deus fala: nunca li na Bíblia que tenho de viver pela lógica ou pela ciência, vivo pela fé. Até posso acreditar, mas não como regra. Regra é o que Deus diz”.

Em um culto celebrado em uma terça-feira na Catedral do Brás, da Igreja Universal, o discurso de um bispo era ainda mais incisivo. “Quem é maior: Deus ou o cardiologista? Quem é maior: Deus ou o oncologista? Em quem você deve confiar: em Deus ou nos médicos?”

O maior problema é que, para as lideranças das maiores igrejas neopentecostais brasileiras, a lógica do “quanto pior, melhor” apresentada nos cultos é fundamental para manter uma estratégia que alia o crescimento econômico gerado pelas doações, o prestígio político por meio do aumento das bancadas de congressistas ligados a grupos evangélicos e a influência nos meios de comunicação.

Em nome de Deus, projetos de leis são criados e embasam os votos de deputados federais em momentos de definição do futuro do país. “Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus a oportunidade de ser eleito por um estado tão maravilhoso como Minas Gerais. Nesse estado nasceu uma pessoa que admiro muito, que é o apóstolo Valdemiro Santiago, e aquela Igreja maravilhosa me ajudou neste trabalho”, disse o deputado Franklin Lima (PP-MG) durante a sessão da Câmara dos Deputados que dava prosseguimento ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Lima foi um dos 367 deputados que votou a favor do impedimento da presidente.

A CURA E O ESTADO

Nascido nos Estados Unidos nos primeiros anos do século 20, o movimento pentecostal cresceu como uma tentativa de resgatar o cristianismo primitivo, com as experiências vividas pelos primeiros apóstolos de Jesus. “O pentecostalismo tenta resgatar esse cristianismo milagreiro e que envolve a eterna luta entre Deus e seus anjos e o diabo e seus demônios pela posse da humanidade”, explica Ricardo Mariano, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo.
Desde a chegada dos primeiros missionários ao Brasil, esses movimentos cresceram de maneira autônoma e ganharam força a partir da década de 1950, com o surgimento das igrejas Deus É Amor Brasil para Cristo, com concentrações de fiéis em tendas e campos de futebol e por se pautarem na cura divina. A partir da década de 1970, o pentecostalismo assumiu nova forma com a criação de igrejas que pregavam a Teologia da Prosperidade e ficaram conhecidas como neopentecostais. De acordo com esse movimento, o cristão tem direito a uma vida abundante, com saúde e sucesso material.

Maior expoente da Teologia da Prosperidade no Brasil, a Igreja Universal do Reino de Deus foi fundada em 1977 por Edir Macedo e seu cunhado, Romildo Ribeiro Soares (ou RR Soares, para os mais chegados) — que atualmente conta com a própria congregação, a Igreja Internacional da Graça de Deus.

Ao contrário das primeiras igrejas, as neopentecostais são mais liberais em termos de costumes e têm uma estrutura hierárquica rígida. “Já podemos falar de um transpentecostalismo, porque temos igrejas que imitam todas as ondas, elas copiam o que interessa”, afirma Gerson Leite de Moraes, doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Para ele, o que conecta todas essas igrejas não é protestantismo clássico, mas o catolicismo popular. “Eles têm a água benta e os objetos manuseados que promovem cura, entre outras práticas. Os protestantes e evangélicos fazem parte dos que romperam com o monopólio católico, mas o protestantismo segue uma tendência e o pentecostalismo, outra”, diz o professor.
 
Isentas de impostos, as igrejas movimentam uma quantidade enorme de dinheiro, que até deve ser declarado, mas não é tributado
Para ganhar corações e mentes, o projeto de expansão dessas igrejas depende de três pilares: a aquisição de espaços na televisão e no rádio para propagação de seus princípios; a construção de catedrais em cidades de médio e grande portes para ter reconhecimento público de legitimidade; e a eleição de representantes políticos para garantir a influência conquistada. Gerson Leite de Moraes explica que o campo religioso depende da mídia para falar com um maior número de pessoas. E, para conseguir esse espaço, é necessária a influência política. “São três esferas que se alimentam e se relacionam: o campo religioso precisa do campo midiático, que só pode ser conseguido pelo campo político”, diz.

Isentas de impostos, as igrejas movimentam uma quantidade enorme de dinheiro, que até deve ser declarado, mas não é tributado. Em 2015, Edir Macedo foi incluído pela segunda vez na lista dos bilionários da Forbes. De acordo com a publicação, o patrimônio dele era estimado em US$ 1,1 bilhão. Mas se atualmente Macedo conta com um conglomerado de comunicação, o prestígio dos quase 2 milhões de fiéis brasileiros da Igreja Universal e o respeito nos diferentes círculos políticos do Estado — em abril, a presidente Dilma Rousseff ligou para ele em busca de apoio político —, nem sempre as coisas foram tão abençoadas assim: em 1992, o bispo foi preso (e ficou na cadeia durante pouco mais de uma semana) após denúncia do Ministério Público por “delitos de charlatanismo, estelionato e lesão à crendice popular”.

Livre dessas acusações, também teve sua imagem questionada depois de uma reportagem exibida em 1995 pelo Jornal Nacional em que aparecia ensinando os colegas a aumentar as arrecadações dos fiéis. “Você tem que chegar e se impor: ‘Você vai ajudar na obra de Deus. Se quiser, bem, se não quiser, que se dane. Ou dá ou desce’. Você tem que ser o super-herói do povo!”, diz, após uma partida de futebol com seus colegas.

Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo em 2013 conseguiu, por meio da Lei de Acesso à Informação, dados da Receita Federal sobre o faturamento das igrejas no Brasil — o que inclui católicas, evangélicas e protestantes.

As informações se referem a 2011, quando as denominações arrecadaram R$ 20,6 bilhões, dos quais R$ 14,2 bilhões foram doados pelos fiéis. Como comparação, o orçamento aprovado em 2016 para o Fundo de Saúde da Prefeitura de São Paulo foi de R$ 7,6 bilhões.

Fabio Lanza, Coordenador do Laboratório sobre Estudos das Religiões da Universidade de Londrina (UEL), afirma que, para o fiel, tanto a contribuição financeira quanto o voto em um candidato evangélico são resultado da atividade religiosa. “Para os fiéis, essa lógica de exploração não existe, porque, em sua visão, isso é uma consequência da prática religiosa”, destaca.

Nos cultos da Universal há a coleta do dízimo e doações avulsas, que podem ser feitas em nome de uma pessoa que está doente. A cura, afirma o bispo Francisco Decothé em um culto, também está condicionada à honestidade do fiel. “Vocês estão vendo as notícias de corrupção? Vocês querem ser corruptos com Deus? Pois Deus sabe quando você doa menos do que pode”, diz. Na Igreja Mundial há carnês para cada tipo de necessidade. Para “tirar uma pedra” do caminho, a contribuição é de R$ 153. Para conseguir um carro, são R$ 366. O sonho da casa própria fica mais salgado: são necessários R$ 1.000 para “abrir as portas dos caminhos”.
HIT DO TRIPADVISOR

O Templo de Salomão, os cultos passam uma sensação de serem mais “sagrados”. Muito disso se deve à imponência do lugar. Para entrar ali, o visitante deve passar antes pelo estacionamento. Lá, é obrigado a deixar todos os objetos eletrônicos em um guarda-volumes e enfrenta uma revista com detectores de metal.

Só então é autorizado a subir as escadas que dão acesso ao local do culto, onde mulheres e homens vestidos com túnicas brancas passam gotas de azeite na testa, nas costas, no peito, nas mãos e nos pés de todos que chegam. Sérios, eles indicam o caminho a seguir, pedem silêncio e repreendem quem segue conversando. Uma vez acomodado na cadeira, resta esperar, em oração, a entrada do bispo.

Inaugurado em 2014 com a presença da presidente Dilma Rousseff, do vice Michel Temer, do governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do prefeito da capital Fernando Haddad e do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, o Templo de Salomão é a joia da coroa da Igreja Universal do Reino de Deus.

São 74 mil metros quadrados construídos, que incluem a nave principal, salas de estudo, apartamentos e quitinetes, estúdios de rádio e televisão, estacionamento para quase 2 mil carros e um museu. Por dentro, ele é ainda mais impressionante. Seis menorás — candelabros de sete braços, conhecidos como um dos principais símbolos do judaísmo — enfeitam as paredes de cada lado.

Uma réplica da Arca da Aliança do Antigo Testamento e a frase “Santidade ao Senhor” ocupam o altar de ponta a ponta. “O Templo de Salomão veio coroar essa ideia de ocupar o espaço público em busca de reconhecimento e legitimidade”, diz Ricardo Mariano, da USP. Para Fabio Lanza, esse projeto fez com que a Universal conseguisse sintetizar características da religiosidade nacional em um grande produto, construindo um monumento religioso capaz de se equiparar às maiores referências da Igreja Católica brasileira, o Cristo Redentor e a Basílica de Nossa Senhora Aparecida.

“Há também a prática das ‘romarias’, com pessoas saindo do Brasil inteiro para conhecer o templo”, conta. No serviço online TripAdvisor, a construção é a 18ª atração mais indicada para turistas que querem conhecer São Paulo.

Há um mês frequentando cultos de cura no Templo de Salomão, o marceneiro Ricardo Costa Alves, de 45 anos, já conseguia enumerar as melhoras que teve desde que sofreu um AVC. “Agora eu consigo andar sem bengala, já tomo banho e me visto sozinho.”

Ele não atribui a evolução do seu estado aos oito remédios que toma todos os dias, nem à acupuntura que começou a fazer e já pretende abandonar. “Com certeza é resultado das orações. As correntes que fiz foram muito importantes. Da igreja eu não saio mais. Só o remédio não adianta nada para mim”, diz.

Contatada, a assessoria de imprensa da Igreja Universal afirmou que não recomenda que os fiéis negligenciem os tratamentos convencionais: “Ao defender preceitos religiosos e atos de fé no auxílio aos enfermos, a Universal sempre destaca a importância da rigorosa observância dos tratamentos médicos prescritos. Jamais devem ser desprezadas as recomendações dos profissionais da saúde”.

Mas nem todos os pastores parecem concordar com o posicionamento oficial. Em um dos cultos presenciados pela reportagem, o bispo Francisco Decothé fez questão de dar a sua opinião sobre a medicina ao conversar com uma fiel que havia recebido diagnóstico fatal de câncer de pulmão. “Existem muitos médicos que têm o demônio. Não são todos, mas são muitos”, disse o religioso.
 
Após ir a cultos, orar e ofertar bens a igreja – ele doou uma TV e um computador – J.N.M. procurou um pastor e foi aconselhado a abandonar os remédios
AutorEm setembro do ano passado, a Igreja Universal foi condenada a indenizar o fiel J.N.M., portador do vírus HIV, em R$ 300 mil por danos morais. Ele procurou a igreja após o conselho de amigos. “Ele viu na igreja a saída para um problema que a medicina não conseguia solucionar”, conta o advogado Guilherme Pavanello Ortiz.

Após ir a cultos, orar e ofertar bens a igreja – ele doou uma televisão e um computador – J.N.M. procurou um pastor e foi aconselhado a abandonar os remédios e a deixar de usar camisinha nas relações sexuais. Dois meses depois, foi internado com pneumonia e passou 40 dias em coma induzido.

A esposa também foi infectada pelo vírus. Na ação impetrada no Rio Grande do Sul, a defesa alegou que a Universal se aproveitou do estado de fragilidade do fiel. A igreja, no entanto, negou que o tivesse orientado a abandonar o tratamento e entrou com um recurso, que foi negado. “É um caso exemplar, uma decisão importante que vai abrir os olhos da Universal para o fato de que não é qualquer pratica que sairá impune”, diz Ortiz.

Acostumado a lidar com pacientes que unem a cura religiosa ao tratamento, Rodrigo Lima, da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, afirma que o médico precisa respeitar a posição do paciente. “Se o médico assume uma posição de confronto com a crença da pessoa, ela vai abandonar o tratamento. A crença é muito mais forte do que a relação do paciente com o médico. O grande ponto é ter um discurso conciliador.”

Mas se a fé é ferramenta importante, mais essencial é a presença do Estado em lugares negligenciados. “Muitas pessoas são levadas pelo desespero e buscam qualquer coisa para diminuir o sofrimento”, diz o médico Abrão José Cury, presidente do Departamento de Clínica Médica da Associação Paulista de Medicina. “Médico não é delegado nem juiz, tem que ser claro e tem que ter compaixão. Não devemos abandonar o paciente.”

Quando deixam o tratamento e apresentam piora no quadro, é quase sempre ao sistema público de saúde que os pacientes recorrem. Quem financia esse serviço básico é o mesmo Estado que isenta as igrejas de impostos e é condescendente com construções de templos em situações irregulares.

“Quando se tem um sistema público frágil, com uma enorme quantidade de pessoas sem acesso à saúde, faz sentido vender a ideia de prosperidade”, afirma Elder Cerqueira, da Universidade Federal do Sergipe. E tudo isso tem pouco a ver com o discurso de liberdade associado à fé. “A cura é um mercado e a saúde é uma grande mercadoria.”
UMA FORÇA POLÍTICA 

bancada evangélica, uma das maiores do Congresso com seus 92 parlamentares, entre deputados e senadores, é responsável por projetos conservadores, como a definição de que “família” é apenas a união entre mulher e homem, além de uma lei que cria empecilhos para mulheres vítimas de abuso sexual realizarem aborto.

Se fosse um partido, seria o maior em número de representantes, ultrapassando o PT e o PMDB. Deputados evangélicos ocupam 19 cadeiras da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. É nessa comissão que são analisadas concessões de rádio e televisão. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Câmara, também é da frente parlamentar.
Isso para não mencionar o próprio ex-presidente da Casa, o deputado Eduardo Cunha. Em 2015, além dos projetos polêmicos que ainda não foram ao plenário, os parlamentares aprovaram uma emenda constitucional que amplia as isenções fiscais para as comissões recebidas por pastores e um projeto de lei que isenta do IPTU os imóveis alugados por igrejas.

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