Uso dos Cinco Shen na Psicoterapia
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo conhecer a possibilidade do uso da Psicoterapia e a Medicina Tradicional Chinesa, nos seus aspectos mentais e emocionais, (Cinco Shen), buscando um paralelo teórico que corrobore com a Psicologia em um novo olhar psicoterapêutico viabilizando um fazer científico na busca da melhoria da qualidade de vida das pessoas no mundo contemporâneo. A pesquisa se deu através de um estudo de Revisão Bibliográfica, buscado conhecer fundamentos da Psicoterapia e da Medicina Tradicional Chinesa à luz do que se têm produzido atualmente em relação às duas temáticas, de modo a estruturar uma discussão acerca das possibilidades e desafios que constituem esta modalidade de atuação do profissional psicoterapeuta. Observou-se, deste modo, que ambas as teórica se convergem e torna possível e viável aos psicólogos conhecedores da Medicina Tradicional Chinesa agregar novos conhecimentos e práticas, enriquecendo o seu fazer profissional. A soma de ambas as ciências proporciona ao profissional uma visão de homem transcendendo sua natureza animal em busca de um ser humano integral e, quando assim considerado, capaz de viver melhor porque os cuidados a ele dirigidos se tornam mais qualificados.
Palavras-chave: Psicoterapia, Medicina Tradicional Chinesa, Cinco Shen.
1. Introdução
Este trabalho surgiu a partir de inquietações acerca dos limites impostos na visão psicoterápica a qual limita o profissional na busca de tratamento somente com o uso da palavra, muito embora tenham obtido bons resultados em muitos casos. Tendo em vista que o homem é composto não somente pelo biológico, mas também pelo social, cultural, emocional e espiritual em sua totalidade, abriu-se uma nova compreensão a partir do contato com a Medicina Tradicional Chinesa e suas contribuições no fazer psicológico. Tendo em mente a intensa necessidade da interdisciplinaridade na saúde em busca de um diagnóstico mais assertivo junto aos pacientes da psicoterapia, surgiu a proposta do uso dos cinco Shen (Shen, Yi, Po, Zhi e Hon), como um objetivo de obter resultados terapêuticos com maior ênfase no tratamento do paciente através da associação do conhecimento psicológicos tradicionais e a Medicina Tradicional Chinesa.
2. Metodologia
O método percorrido para a produção da corrente pesquisa foi o de cunho bibliográfico buscando uma associação no uso dos cinco shen com a psicoterapia apoiando-se em livros e artigos científicos publicados em site tendo como teóricos principais Maciocia (1996), Cordióli (1998), Hicks (2007), Yamamura (1995), Maslow (1968), Frankl (1979), Papalia (2000), Ross (2003) dentre outros. O desenrolar do artigo se deu com uma discussão paralela entre ambas as ciências no intuito de compreender a possibilidade de sua associação terapêutica ampliando os resultados de tratamento alcançado junto aos pacientes.
Essa pesquisa se justifica com a Resolução n° 005/2002, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhece, dentre outras práticas, a Acupuntura como instrumento possível à atuação do psicólogo e conforme consta na Portaria GM nº 853 de 17 de novembro de 2006, as Práticas Integrativas e Complementares foram inclusas à Tabela de Serviços Classificações do Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - SCNES de Informações do SUS, o serviço de código 068, consideramos que esta portaria estabelece de maneira importante uma possibilidade para além dos tratamentos farmacológicos.
Em 2002, a Organização Mundial da Saúde - OMS publicou o documento “Acupuncture: Review and analysis of reports on controlled clinical trials”, fundamentado em mais de duas décadas de pesquisas efetuadas em renomadas instituições mundiais. Esse documento apresenta analises devidamente verificada pela medicina científica a eficácia da acupuntura, assim como de outras técnicas da Medicina Tradicional Chinesa, em comparação com o tratamento convencional (medicamentoso) para lá de uma centena de doenças, sintomas e condições de saúde. Sendo assim, o conhecimento sobre o que se têm produzido oficialmente no Brasil sobre temáticas que relacionam Psicologia e Acupuntura, apesar de limitado, oportunizou-nos uma ampliação do olhar sobre estas questões e estimulou ainda mais nossa vontade de realizar pesquisas pertinentes a união destas ciências.
3. Breve Histórico da Psicologia
Tem-se afirmado que a Psicologia é uma ciência com um longo passado, mas com uma curta história. No entanto o fato dos povos de todos os tempos e de todas as culturas terem se ocupado dos problemas da alma e da vida humana, e que desde a época de Platão e Aristóteles (Sec. a.C.) já existiam questionamentos acerca da natureza e conduta humana onde se especulava sobre a memória, a aprendizagem, a motivação, percepção e o comportamento normal e anormal do ser humano. Porém, em sua maioria, foram especulações sem embasamento científico, se resumindo à intuição. Assim sendo, ao se questionar o comportamento humano, a filosofia possibilitou a abertura para o surgimento de uma nova Ciência, a Psicologia. Podemos também salientar que outra importante contribuição para a ascensão da Psicologia foi os estudos da fisiologia, o qual possibilitou compreender os mecanismos corporais e os processos mentais. Desta forma, o que diferencia a Filosofia da Psicologia são as técnicas e abordagens, no qual a Psicologia se fundamenta em explicações mais consistentes visando à objetividade e cientificidade.
As ciências humanas e de suas relações tornaram-se incessantes, abrangendo várias áreas. A própria área da Psicologia se dividiu em diferentes abordagens, mantendo em comum a evolução histórica e a busca pela cientificidade. Foi a partir do positivismo do século XIX que se iniciaram os primeiros experimentos em laboratórios. Em 1879, na Alemanha, Wilhelm Wundt implantou o 1º laboratório de Psicologia no mundo, onze anos depois foi fundada a primeira revista de relatos experimentais, a Philosophische Studien (estudos filosóficos). Em 1888, na Universidade da Pensilvânia iniciou-se a primeira docência em Psicologia, sendo reconhecida como disciplina independente. Em 1892 reuniu-se a primeira associação psicológica americana (APA). Esta associação atualmente ultrapassa o número de cem mil associados. Desde então, os estudos acerca do comportamento tem se tornado acirrado, na busca de uma melhor compreensão dos fatos que desencadeiam os diversos tipos de comportamentos. Outro fato importante foi o desenvolvimento da psicologia moderna durante as duas grandes guerras mundiais, as quais forçaram os grandes estudiosos da mente humana que se agrupavam na Alemanha e Áustria a buscarem asilos nos Estados Unidos transferindo assim o foco de desenvolvimento dos estudos psicológicos para a América do Norte. Nesta época aceleraram-se os estudos da psicologia aplica à seleção de pessoal, testes psicológicos entre outros. Logo após testemunharem a carnificina vária estudiosa desenvolveram estudos sobre a personalidade e o comportamento humano e sua agressividade.
Pode-se definir Psicologia como um estudo científico dos processos mentais e do comportamento do humano e as suas interações com o ambiente físico e social. A palavra tem sua gênese nos termos gregos psico (alma ou atividade mental) e logía (estudo). Segundo o psicólogo austríaco H. Rohracher (1967), psicologia "é a ciência que investiga os processos e estados conscientes, assim como as suas origens e efeitos". Esta definição indica bem a dificuldade de abranger em um só conceito todos os fenômenos psíquicos, porém, são possíveis e justificáveis dois aspectos fundamentalmente distintos: o das ciências naturais, que procura uma explicação causal, e o das ciências filosóficas, que pede uma explicação de sentido. No entanto, a Psicologia procura descrever sensações, emoções, pensamentos, percepções e outros estados motivadores do comportamento humano. Assim, grande parte das investigações em Psicologia é realizada através do método de observação, sendo esta sistemática, delimitada pelas condições do que se pretende observar, tem sido a mais utilizada. Em alguns casos, a observação é ocasional, isto é, não segue um plano pré- estabelecido buscando encontrar explicações a respeito de tudo que nos cerca, sendo essas explicações lógicas ou não utilizando a maior característica da filosofia, o indagar, questionar e refletir acerca de determinado fenômeno o qual se procura mensurar.
3.1 A Psicoterapia como uma das Principais Ferramentas da Psicologia
Segundo Massimi (1990), na função terapêutica o psicólogo tem na palavra um dos pilares fundamentais da intervenção a qual se constitui num aspecto muito importante de sua formação. A autora, citando Freud, elucida no texto Tratamentopsíquico que: “Tratamento psíquico quer dizer tratamento que parte da alma, pelos meios que atuam em primeiro lugar e de maneira direta, sobre o que é anímico no ser humano. Um desses meios é, sobretudo a palavra, e as palavras são também a ferramenta essencial do tratamento anímico”. (1905, p. 271). Portanto busca-se a cura da alma através da palavra, sendo está, uma expressão que elucida o interior da própria alma. Para a área da psicologia (Cordioli,1998) a psicoterapia é um método de tratamento centrado nos problemas psicológicos e emocionais tendo como base o conhecimento científico do funcionamento psicológico.
Em primeiro lugar o terapeuta visa estabelecer um clima de confiança e segurança entre ele e o paciente que permita ao mesmo expor as suas dificuldades de um modo franco e livre, assim como recordar e abordar memórias dolorosas da sua história de vida tendo como base o conhecimento teórico do desenvolvimento psicológico, o psicoterapeuta formula as intervenções (interpretações, reformulações, confronto, etc.), com objetivo em ajudam o paciente a tomar consciência da origem dos seus problemas, a elaborar e lidar de um modo mais adaptativo com situações dolorosas do passado ou do presente de sua vida. Deste modo, a psicoterapia percebe o homem como um ser mecânico e busca promover alterações de seu comportamento e autoconhecimento, levando-o a uma maior adaptação pessoal e social ampliando assim a liberdade interior. Os diversos tipos de psicoterapia diferem quanto aos objetivos a serem atingidos, podendo ir desde o reforço de mecanismos defensivos adaptativos e a promoção do crescimento através do reforço de aspectos positivos da personalidade, às mudanças de comportamento focalizadas, até à reorganização da própria estrutura de personalidade sem levar em conta a natureza transcendente e espiritual do indivíduo.
Parafraseando Ysao Yamamura (1995) as emoções reprimidas tem sido uma das principais causas de adoecimento, sendo estas emoções advindas desde o momento da concepção, levando em consideração a saúde dos pais naquele momento, e prolongando após natal no relacionamento com seus familiares no decorrer da vida. Quando estas emoções são excessivamente reprimidas causa o desequilíbrio entre o yin e yang os quais são considerados pela Medicina Tradicional Chinesa “os principais agentes causadores de adoecimento”. Portanto neste estado de desequilíbrio o sujeito expressa comportamentos de estado de raiva, nervosismo, irritabilidade e agressividade os quais lesam o Fígado, que por sua vez em desequilíbrio de suas funções energéticas podendo desencadear adoecimento físico.
Segundo Goleman (2001), retrata que as emoções tem sido sábios guias na evolução de novas realidades que a humanidade tem se defrontado. Desde as primeiras leis e códigos de Humurabi, os dez mandamentos dos hebreus os éditos dos imperadores tudo pode ser interpretado como tentativa de conter e domesticar as emoções. Parafraseando Freud em sua obra O Mal-estar na Civilização elucida o aparelho social já tentando impor ordens para conter os excesso emocional que emerge de dentro de cada ser humano. Ainda Goleman (2001), todas as emoções são em essência impulsos para uma ação imediata que necessita de planejamento imediato da própria vida. No entanto cada emoção desempenha uma função especifica. No estado de raiva o sangue flui para as mãos, os batimentos cárdicos se tornam mais rápidos, uma onda de hormônios, e adrenalina entre outros entram em ação, gerando uma pulsação mais energética para uma atuação mais vigorosa. No medo o sangue corre para os músculos buscados facilitar uma fuga se necessário. Na sensação de felicidade a atividade cerebral é biologicamente incrementada para inibir os sentimentos negativos favorecendo assim o aumento da energia existente silenciando os pensamentos de preocupações. Já a tristeza tem como função principal a de regular e propiciar o ajustamento em uma grande perda, quando se torna profunda transforma em depressão e a velocidade metabólica fica reduzida. “Na dicotomia emoção versos razão “cabeça” e ‘coração” a uma “acentuada gradação na proporção entre controle emocional e racional da mente; quanto mais intenso o sentimento, mais dominante é a mente emocional – e mais inoperante a racional”.
Frente as colocações de Goleman podemos observar a relação emocional envolvida nos Cinco Shen e perceber a evolução do ser humano possuidor dos sentimentos transformados em energia expressadas em saúde ou doença ou equilíbrio e desequilíbrio entre o yin e yang e que quando associadas essas duas ciências, Medicina Tradicional Chinesa e Psicologia tradicional, no tratamento dos pacientes, podem intensificar os resultados de cura.
3.2 Os Cinco Shen Associados à Psicoterapia
Sob o ponto de vista Medicina Tradicional Chinesa, Helena Campiglia (2004), explica que o entendimento de Shen, que significa Espírito o (homem superior) teve seu início com a filosofia tauista onde, a compreensão desta é fundamental para unir, no diagnóstico, o homem, como um ser que transcende além do corpo. Primeiramente ficaram conhecidos por o TAO (trajetória, caminho) em seguida como os cinco aspectos mentais e espirituais do ser humano. Enfatizando esta citação de que o homem transcende é possível observar segundo Hicks (2007) que, por isso a necessidade do exercício da concentração e meditação durante a pratica do Tai Chi “o corpo segue o espírito”, pois sem a devida concentração é impossível este contato. Nessa mesma linha de raciocínio também Vasconcelos (1998) elucida que o ser humano é Biológico-psicológico-social-espiritual e ecológico indo além do que se é determinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como biológico Psicológico e Social.
Uma visão parcial reducionista e incompleta do homem gera sistemas e esforços à saúde necessariamente incompletos. A Concepção integral do ser humano se faz essencial na formação do profissional da psicologia e de si mesmo enquanto ser humano, leva à compreender a raiz de muitos de seus problemas de relacionamentos, bem como ter uma visão ampliada em sua formação intelectual. Maslow (1968), no período do surgimento da Terceira Força da Psicologia, têm defendido que as quatro áreas de necessidades básicas tem sido negligenciadas ou vista de forma superficial. Dentre as quatro áreas de necessidades apresentadas por Abraham Maslow (1968) uma é essencialmente fenomenológica e espiritual, porém todas são importantes para a saúde plena do ser humano tais como:
Em seu discurso o autor afirma que, habitualmente, uma necessidade não atendida ganha em poder de motivação; a falta de amor, por exemplo, intensifica a necessidade de afeição. Quando uma necessidade essencial não é satisfeita de maneira natural, ou seja, através de seu objeto natural, ela é buscada de maneira perversa, através de um objeto substitutivo. Por exemplo, quando uma criança não é tocada com carinho, sua necessidade de contato físico fará com que se comporte mal, para então receber um castigo físico como um puxão de orelha ou uma bofetada, pois deixar de ser tocada é pior do que ser tocada com agressão. É razoável esperar que todas as nossas necessidades essenciais sejam supridas num modo de vida maduro. Não é razoável esperar que todos os nossos desejos sejam supridos num modo de vida maduro.
Os anúncios comerciais da imprensa, rádio e televisão contestam essa visão ora dizendo que o homem é um ser material que deve satisfazer todos os seus gostos, comprando novas coisas a cada dia. Consideram, portanto, o ser humano somente como um consumidor de produtos. Outras pensam que o homem é como um animal mais evoluído e que, como tal, deve preocupar-se unicamente em satisfazer sua fome, sua sede e seus apetites sexuais. Este homem deve lutar durante sua vida terrena para acumular a maior quantidade de riquezas possíveis e assim alcançar à tão desejada felicidade. Porém, para Frankl (1979), de forma alguma podemos falar do homem [apenas] em termos de uma unidade psicossomática. “O corpo e a psique podem formar uma unidade – uma unidade psicofísica – mas esta unidade ainda não representa o todo do homem. Sem o espiritual como base essencial, esta unidade não pode existir. Enquanto falarmos apenas do corpo e psique, a integridade ainda não está dada.”
Figura 1: Estrutura do Ser humano segundo Fonte: Frankl (1979)
Foi pouco a pouco que a Psicologia surgiu como uma Ciência que investiga algo de transcendental dentro do ser humano, algo como um princípio existencial, uma identidade essencial de todos nós, ou, em outras palavras, uma Ciência que investiga as dores não do cérebro, mas da alma humana. O próprio Freud utiliza-se do conceito de alma de uma maneira explícita. Claro que quando tais homens das ciências falam de alma, não estão se referindo exatamente aos conceitos mais ou menos fantásticos construídos no passado pelas diversas tradições religiosas. E, no início, faziam muita questão de evidenciar suas diferenças conceituais, sob pena de seus textos serem classificados como “pouco científicos”.
Com o passar do tempo, porém, a Psicologia cada vez mais passou a identificar, investigar e explicitar os aspectos transcendentais da natureza humana. Foi especialmente no pós-guerra que grandes nomes da Psicologia Humanista, Transpessoal e Transcendental deram passos corajosos no sentido de enfocar detidamente a natureza metafísica dos seres humanos. Atualmente, há centros de pesquisa importantes nas principais universidades do mundo, como Harvard, Oxford, e Standford, no exterior, e como o Centro de Estudos da Mente e da Espiritualidade da Universidade Federal do Sergipe, no Brasil, que atuam permanentemente nesta investigação.
Numa visão da Medicina Tradicional Chinesa é possível olhar o ser humano mais ou menos assim:
Figura 2: Na visão da Medicina Tradicional Chinesa (Fonte: http://jcdangelis.blogspot.com.br/2013/08/aprendendo-ser-sabio-ver-no-escuro.html cessado em 28/01/2014)
Traçando um paralelo sobre a visão do ser humano enquanto essência, encontramos um ponto em comum na Medicina Tradicional Chinesa conforme Maciocia, (1996), “a mente (Shen) é uma das substancia vitais do corpo é o mais sutil e não substancial tipo de Qi” (energia) o qual, chamamos de espirito um fenômeno que não é possível pegar segurar ou medir. Trata-se do complexo de todos os cinco aspectos mentais e espirituais do ser humano, isto é, Alma Etérea (Hun), Alma Corpórea (Po), Inteligência (Yi), Força de Vontade (Zhi), Mente (Shen) propriamente dita. Conforme este autor o Shen indica a atividade do pensamento, nível de pensamento e consciência onde surgem os insight e memória, todas estas atividades depende do coração para se ter um desenvolvimento normal, ou seja equilibrado.
Fonte: MACIOCIA. A Pratica da Medicina Chinesa, 1996, p.211
Nesse sentido a associação do Shen com a psicoterapia poderá proporcionar um diagnóstico mais preciso bem como potencializar o tratamento do paciente.
William Bonnet (2010) Jean Martin Charcot (1825-1893), neurologista no Hospital La Salpêtrière (França), estudou a histeria e tentou demonstrar o poder do espírito sobre o corpo. Josef Breuer (1842-1925) descobriu que no caso dos histéricos o traumatismo inicial provocado por uma emoção anterior desaparecia quando o paciente via-se novamente a situação traumatizante. Tornado ele o inventor do conceito de catarse. E Sigmund Freud (1856-1939), incorporou a e criou a psicanálise em 1896. Um século depois Maciocia, (1996) publica sua pesquisa trazendo à baila os cinco Shen como o responsável para o equilíbrio ou desequilíbrio da psique do indivíduo. Segundo Hicks, (2007), o Elemento Zang (órgão) é o Guardião das Características do Espírito saudável quando em equilíbrio caso contrário poderá se tornar o Guardião das Características da Depressão. Para que se tenha uma saúde em equilíbrio é necessário um bom funcionamento dos três tesouros, Mente (coração) Qi (pulmões, Estomago e Baço Pâncreas), Essência (Rins). Portanto estes três tesouros representam diferentes estados de condensação de Qi, sendo a essência a mais densa, o Qi o mais rarefeito e a mente a mais sutil e não substancial, Se a Essência é forte o Qi é próspero; se o Qi é próspero, a mente é perfeita.
Continuando a explanação sobre os elementos contidos no ser humano podemos observar Hicks (2007) apresenta que, no elemento “ÁGUA”, Rins Zhi que é a Raiz do Yin e Yang, trazendo consigo a essência, a iniciativa, o poder de decidir, a confiança, também medos e fobias sendo causa aparente e em situações de deficiência ocasionando falta de iniciativa, falta de confiança na sua capacidade de resolver situações. Tornando aparente a sensação de impotência e apatia. Paciente com estas características podem ter problema geniturinário, carecendo fortalecer e harmonizar o elemento água. Partindo de uma revisão bibliográfica foi possível observar numa sucinta explanação dos conceitos, tipos de medos e fobias. Abordando costumes e crendices da cultura popular sobre o medo. Tornou possível enfatizar percepções da psicologia com uma abordagem psicanalítica sobre a construção dos medos e/ou fobias que estão presentes em muitos dos indivíduos que buscam os serviços de psicólogos e psicanalistas. Apontam como base no que fora levantado, muitos dos medos e fobias vivenciados por indivíduos, sejam eles de qualquer faixa etária, estão associados à passagem do Complexo de Édipo e o processo de castração.
No entanto na visão da Medicina Tradicional Chinesa segundo, Maciocia (1996), os medos e fobias, podem ter como causa um déficit na formação constitucional da essência do ser no momento de concepção pré-natal e no pós-natal, evidenciando assim uma psicossomática com o ambiente em qual o sujeito está inserido gerando assim o estado psicopatológico, pronunciado no órgão “Rim Zhi que é a Raiz do yin e do yang”.
No elemento madeira o Zang Fígado, Hon, neste a movimentação e a liberdade decorre do excesso de tensão e pressão. Quando em desequilíbrio pode acompanhar estresse e/ou um fracasso, frustração, sensação de opressão, acarretando a falta de movimento, desgosto, irritabilidade, perda do sentido e do propósito de viver. Podem apresentar falta de visão perspicaz, colapso e prostração.
Portanto no elemento “FOGO” zang Coração; Shen, o qual tem como característica elucidar a alegria, o amor, razão, harmonia, perfeição ou a falta de alegria de viver, pouco entusiasmo, pouco interesse, falta de inspiração incapacidade de julgamento equilibrado. Apatia ou agitação excessiva e frieza para novos relacionamentos. Apontando assim problemas ligados a rejeição e desapontamento sem relacionamentos duradouros.
Elemento “TERRA” zang yin Baço-Pâncreas Yi responsável pela reflexão, calma, simpatia, claridade de pensamento-antipatia, Desarmonia do Intelecto. Sensação de Opressão, Profusão de pensamentos confusão e preocupação, excessiva-dificuldade de reflexão sobre si dificuldade de concentração matemática. Quando apresenta desejo ou aversão por doce precisa fortalecer e harmonizar o elemento Terra. Elemento “METAL” Pulmão, (Po) trazendo consigo a capacidade de aceitação, reverência, proteção do indivíduo normalmente decorre de perdas materiais. Também pode ocasionar sensação de desproteção, problemas em aceitar o inevitável, melancolia e resignação, pessimismo e remorso.
Figura 4: Ciclos Shen e Ko dos Cinco Elementos (Fonte: http://jcdangelis.blogspot.com.br/2013/08/aprendendo-ser-sabio-ver-no-escuro.html acessado em 28/01/2014)
Com relação a possível associação das duas ciências na busca de um melhor tratamento dos processos emocionais, mentais e espirituais correlacionado aos cinco elementos da Medicina Tradicional Chinesa, torna evidente um olhar meticuloso sobre a complexidade do fenômeno do que é o ser humano, em seu processo, nem totalmente são, nem totalmente doente.
Deutsch e Murphy citado por MASLOW, (1968), se refere à psicoterapia da seguinte forma:
Mas também aqui a finalidade terapêutica é, como no caso de personalidades múltiplas, fundi-las numa unidade integrada e harmoniosa, tanto no paciente como no terapeuta. Isso pode ser igualmente descrito como tornar-se cada vez mais um ego puramente experiente, com a auto-observação sempre acessível como uma possibilidade, talvez pré-conscientemente. Nas experiências culminantes, tornamo-nos egos multo mais puramente experientes.
4. Os cinco elementos e as psicopatologias
4.1 A associação da MTC com a Psicologia tradicional no tratamento das psicopatologias
Na psicologia moderna busca-se o diagnostico através da escuta, observação e questionamentos com o intuito de levantar as causas mais prováveis das queixas apresentadas pelo paciente, enquanto que na Medicina Tradicional Chinesa também são utilizadas essas mesmas técnicas dentre outros tais como: sinais sensoriais em especial no equilíbrio emocional, na cor facial, odor e tom de voz. É também de fundamental importância a personalidade do paciente na busca de um tratamento eficaz e adequado. Isso demonstra que o trabalho do profissional da psicologia está em consonância com a Medicina Tradicional Chinesa para diagnosticar e tratar as causas e sintomas trazidos pelo indivíduo, porém, existem algumas características especificas para o diagnostico dentro da Medicina Tradicional Chinesa dentre as quais estão os fatores constitucionais, além da queixa principal trazida pelo paciente, e que são de suma importância para uma anamnésia mais precisa no tratamento das psicopatias apresentadas.
Fato interessante citado por Ross (2003) ele questiona sobre as capacidades intuitivas do homem, sem elas se torna difícil o equilíbrio do ser humano, e num mundo moderno onde se exige a analise, mas a capacidade intuitiva esta embotada cresce o número das incertezas e o aumento do estresse é inevitável. Frente a este aspecto na psicoterapia é buscado as técnicas necessárias para o sintoma apresentado, uma delas é o relaxamento a meditação e o exercício físico. Enquanto que na acupuntura soma-se a essas técnicas o equilíbrio energético fundamentando nas causas e prevenindo um desgaste maior.
Conforme Maciocia (1996), quando o fator constitucional predominante madeira, Fígado e vesícula biliar em desordem podem ter causa manifesta como paranoias, delírios, distúrbio bipolar, depressões reativas e ansiosas, agressividade patológica, choro contido, irritabilidade, reações agressivas (decorrentes de frustração ou de fatores externos), raiva destrutiva, pode variar da resignação ao desespero. O Fígado regula o fluxo livre das emoções. O desequilíbrio de sua energia está presente em toda psicopatologia. O movimento da Madeira é expansivo e direcionado e simboliza o crescimento, o desenvolvimento e a confiança podem estar ligados aos relacionamentos. A deficiência da energia do Fígado pode ter sido gerada logo nos primeiros dias ou anos de vida da criança, pela má amamentação ou pela falta de um adulto como sustentação ou ponto de referência, isso pode ocasionar a perda do foco e os contatos conseguem mesmos ou com a realidade externa. Maciocia aponta que neste elemento está alojado o Hun (alma Etérea) a qual por um lado traz movimento a mente, e por outro proporciona quietude e retém a Alma Etérea junto a mente, com estas em harmonia o indivíduo apresentará visão serena, discernimento e sabedoria.
Nessa mesma linha de pensamento com relação a formação da personalidade da criança, Segundo Papalia, (2006).
Assim sendo se percebe na sociedade, visivelmente, a concepção de filhos por pais severamente debilitados, gerando novos indivíduos com baixíssimo fator constitucional o qual pode agravar outra geração com Shen doentios, sendo estes inconscientes e muitos deles não encontram forças espirituais para mudanças durante seu desenvolvimento bio-psíquico e emocional. Nos indivíduos de fator constitucional Fogo predominante, conforme Ross (zang fu 2ª Edição), onde o Zang Fu acoplados são: Coração e Intestino Delgado em desequilíbrio pode acarretar em distúrbios do sono, sexuais, ansiedade, Síndrome do pânico, hipocondrias e incapacidade de compreensão profunda e simbólica, dramaticidade dificuldades com limites e com amor, falsa generosidade. O elemento Fogo é o pivô central das doenças emocionais e mentais. A alteração do Shen (consciência), muitas vezes é o aspecto final de uma cadeia de eventos. Na psicologia moderna esses sintomas são vistos, segundo Cordioli (1998) como “conflitos de sentimentos inconscientes inaceitáveis, baseados em mecanismos de defesa como de negação, repressão, deslocamento e racionalização que os impede de simbolizar, conscientizar e finalmente verbalizar seus conflitos, dificultando seu manejo e consequente resolução”. O elemento Fogo é um dos responsáveis para os momentos de insights. Sua deficiência causa alterações da cognição. Deficiência do Coração por problemas na fase de desenvolvimento da fala, da expressão ao mundo, da sensualidade e da sexualidade. Também podem apresentar problemas na fase do complexo de Édipo e possíveis patologias nesse contexto.
Maciocia (1996) afirma que a inteligência reside no Baço/Pâncreas. Quando estes dois elementos, Baço-Pâncreas e Estômago em desequilíbrio podem gerar distúrbio ansioso de separação, obsessão, astenia, depressão, anorexia / bulimia, obesidade, cansaço, sonolência, dificuldades de concentração e de relacionamento, depressão menor, incapacidade de percepção do agora, distração, perda de consciência corporal e do ambiente, vazio interno, dificuldades para se mover, estagnação, mucosidade mental (falta de clareza), portanto a energia do Baço-Pâncreas é fundamental no aproveitamento da energia dos alimentos sendo o responsável em transformar e transportar o QI. O movimento da Terra é de conexão com os outros, demonstrando paciência, cuidado, estabilidade, capacidade de focar e ater-se ao momento, de apreciar a vida. A energia deste elemento depende da qualidade da alimentação durante toda a vida. Porém a deficiência na energia do Baço-Pâncreas, gerada por uma nutrição deficiente durante a vida intrauterina, a amamentação (falta de conexão com a mãe) e depois pela falta do carinho e do contato que se tem por meio da alimentação da criança.
“Os transtornos do comportamento alimentar, anorexia nervosa (AN) e bulimia nervosa (BN) são todos como patologias difíceis de ser abordadas em função de sua complexa etiologia. A interação de fatores biológicos, familiares, socioculturais e psicológicos é responsável pelo desencadeamento e perpetuação desses quadros. AN e BN são transtornos estreitamente relacionados, expressos por distúrbios severos no comportamento alimentar em função da intensa preocupação com a forma e com o peso do corpo” (NUNES, 1995. Apud. CORDIOLI). Nessas duas condições o tratamento mais utilizado tem sido a “psicoterapia cognitiva e comportamental, empregando técnicas especificas para modificar o comportamento” (AGRAS e cols.1989; Mitchell, 1991). Sob o ponto de vista da MTC, segundo Maciocia (1996), distúrbio alimentar tem como fundo o desiquilíbrio de estomago e baço pâncreas e que o tratamento pode ser através do equilíbrio do elemento terra tonificando o Zang Fu.
Neste elemento está configurado o Zang fu Pulmão e Intestino Grosso, e quando estes estão em desequilíbrio o sujeito podem apresentar tristeza profunda e pesar crônicos, transtorno obsessivo compulsivo. Patologias que incluem: Inveja, ciúmes, egoísmo, distração e sensibilidade excessiva. Medos das mudanças apegam a atitudes, padrões rígidos e estereotipados, dificuldades em fazer e manter vínculos, apego ao conhecido, vive no passado, autocomiseração. O Pulmão está associado à tristeza e participa com todos os elementos, da formação da identidade pessoal do EU. O Metal está ligado à transformação, ao apego/desapego, a introspecção e confere a capacidade de se desprender materialmente em situações emocionais. Portanto a deficiência do Pulmão gerada por problemas nas separações e mudanças, por exemplo: parto, desmame, escola, casamento. Podendo apresentar problemas na fase de formação das fezes e retenção de energia. Segundo Maciocia (1996) no Pulmão a Alma corpórea (Po) se aloja em nível físico e nesta está relacionada à vida como indivíduo a qual nos faz sentir dor, lagrimar quando sujeitos a situações de desgosto e tristeza. A alma corpórea também responsável pelo QI de defesa do pulmão em nível físico protege o corpo de fatores patogênicos externos e nos níveis mentais de influencias psíquicas externas, algumas pessoas são facilmente afetadas negativamente quando o Qi da alma corpórea está enfraquecida.
Segundo Campiglia (2004) o elemento água, órgão Rins quando em desequilíbrio é o responsáveis pelos medos e fobias, síndrome do pânico, psicopatias, sociopatias, más formações neurológicas, doenças genéticas tais como autismo, psicoses retardo mental, esquizofrenia, depressão maior, perda de direção, incapacidade de completar ações, medo, fixação, radicalismo, sentimento de desproteção. A Energia do Rim é fundamental como força de coesão do Ego. O movimento da Água é o da força primordial que mantém a integridade e o equilíbrio, estabelece as raízes, junta as forças e faz suas reservas. Isso reflete na capacidade de adaptação a mudanças do sujeito. Quando a deficiência de energia do Rim vem da fecundação tendo como causa deficiência energética dos pais, ou durante a gravidez, no parto (por estresse). Disso pode advir má formação cerebral ou alterações de atividades cognitivas, ocasionando impossibilidade de estruturarem a Personalidade e cisões na estrutura psíquica. Nestes alguns autores afirmam que aumentar a energia do Rim nas doenças Psiquiátricas ajudará a amenizar e diminuir o número de crises, e melhorar as condições do paciente para que tolerem maiores variações do meio externo. Por exemplo, sessando o medo - cessa a crise.
Todos os sintomas acima relacionados, apresentados como resultado do desequilíbrio dos cinco elementos da Medicina Tradicional Chinesa MTC, é de conhecimento do profissional de psicologia que, engloba diversas linhas de tratamento tais como: Psicanálise, Cognitiva Comportamental, Psicodrama, Humanistas, Fenomenologia Existencial dentre tantas outras existentes atualmente que buscam compreender as psicopatias humanas. Todos estes profissionais buscam compreender o seu paciente com suas técnicas especificas dentro da psicologia convencional visando um resultado que pode ser de curto médio e longo prazo. Dependendo da gravidade de cada sintoma apresentado pelo paciente o profissional psicólogo vai definir o tratamento ou recorrer ajuda de outros profissionais da medicina. Portanto o profissional psicólogo com formação de acupuntura (Medicina Tradicional Chinesa) onde a mesma pode proporcionar uma associação de técnicas eficazes para o tratamento das psicopatologias apresentadas pelos pacientes.
O profissional psicólogo capacitado com conhecimentos da Medicina Tradicional Chinesa MTC observa o paciente depressivo, com características de embotamento afetivo, apatia, poucos movimentos pode idêntica que suas características predominantemente é Yin, neste, pode ocorrer o quadro obstrução do fluxo do Qi do Rim. Já o paciente com sintomas maníaco, em que há excesso de atividade mental e motora podendo ter explosões de ânimo, eventualmente comportamento agressivo ou perigoso à sociedade, esse quadro pode ocorrer pela alteração da mente pelo fogo. Em um quadro clinico geral com início insidioso, onde a pessoa prefere ficar quieta e parada, não expressando emoções, introversão, tristeza, choro abundante, superstição, hábitos repetitivos, pensamentos persecutórios, diminuição do apetite, tem preferência pelo escuro, histórico de experiências emocionais traumatizantes tais como frustrações profundas, impossibilidade de realizar desejos importantes, perda de uma pessoa querida. Usuário de álcool e drogas. Doenças prolongadas de fundo genéticas e congênitas com agravantes mais frequente em adolescente e mulheres na menopausa. Tais quadro advêm de um estado yang, ou seja de dento para fora.
Na MTC conforme Campiglia (2004) as emoções são consideradas fatores internos de adoecimento, e podem provocar desarmonia nos Zang Fu (órgão e a víscera associados), levando à doença. Por outro lado, os Zang Fu desarmônicos podem gerar emoções alteradas e distorção da realidade. As mais frequentes alterações emocionais encontram se nas desarmonias do Fígado e do Coração. Por exemplo, a insônia: deficiência do Coração e do Baço, desarmonia entre o Coração e os Rins, deficiência de Yin levando ao aumento do Yang do Fígado, deficiência do Qi do Coração, estase do Qi do Fígado, gerando Fogo, formação de mucosidade e calor, prejudicando o Coração e a Vesícula Biliar, tendo como consequência Irritabilidade, tensão pré-menstrual, depressão ansiosa e alterações emocionais do climatério: Estase do Qi do Fígado, - Fogo do Fígado, Deficiência do Coração e do Baço, Deficiência do Qi do Coração.
No entanto como apontado por Maciocia (1996) o problema com o aumento do Yang do Fígado pode gerar raiva, mágoa, frustração e ressentimento por período prolongado. A dieta gordurosa e frituras causando desarmonia dos outros Zang Fu, por exemplo, a diminuição do Yin do Rim, trazendo como consequência agitação e insônia, vertigens e cefaleia. A alteração do Shen, agitando as emoções causando dificuldade de concentração e de memória, manter acalma, Irritabilidade, zumbidos, pesadelos, sonhos em excesso, palpitação, membros pesados, olhos ressecados, dor lombar, língua vermelha com pouco revestimento, pulso fino, tenso e rápido. -Harmonizar o Fígado, quando se tem deficiência Yang e aumentar Yin pode ter como consequência, raiva, mágoa, frustração, uma dieta gordurosa, frituras, álcool, carnes vermelhas, invasão de vento e calor externos, no entanto a diminuição de Yin pode causar agitação com insônia e pesadelos acompanhado de cefaleia, zumbidos e até surdez, gerando irritabilidade, Explosões de raiva, alucinações visuais e auditivas, olhos vermelhos, boca amarga, garganta seca, obstipação, urina escura, dor nas costas, mamas e hipocôndrios apresentando língua vermelha com revestimento amarelo pegajoso, com pulso tenso e rápido.
Hicks (2007 salienta que o acupunturista deve focar seus valores terapêuticos na saúde do indivíduo e os sintomas físicos são secundários, pois estes são vistos quando crônicos como a manifestação da doença e que se origina na raiz e estas muitas vezes pode estar na mente ou no espírito. Isso não quer dizer seja para todos os sintomas, citando por exemplo os traumáticos de origem física ou alguma infecção aguda suas origens estão fixadas nas causas externas. Elucida ainda que a maioria dos pacientes no ocidente que buscam tratamento sofrem basicamente de desequilíbrio espirito. Quando as pessoas apresentam com problemas no seu espirito tem maior probabilidade de sofrer com estresse e dificuldade de lidar com sua própria vida.
Maciocia (1996) menciona que a agitação do Vento do Fígado no Interior surge raiva, mágoa, frustração, ressentimento por período prolongado. Quando a aumento do Yang do Fígado e vira vento ou calor extremo, que vira vento com a diminuição do Yin ou do sangue. Podendo ocorrer instabilidade com mudança rápida de atitude. As maiores gravidades dos sintomas são: mania, tiques, espasmos, podendo ocasionar convulsões, perda de consciência, tontura, tendência a desmaios, com cefaleia latejante, surgindo ai formigamento nos membros, Opistótono e Trismo. A língua vermelha escura, trêmula, torta, com revestimento fino e amarelo. O pulso tenso, filiforme e rápido, intermitente.
A estase do Qi do Fígado pode ter como consequência, raiva, mágoa, frustração, ressentimento por período prolongado, emoções reprimidas, irritabilidade, com sensação de estar impedido de realizar algo, impaciência, apresenta depressão, melancolia que alivia com choro, plenitude e opressão torácica, suspiros, Dor e distensão no hipocôndrio e no ventre, Menstruação irregular, Dismenorreia, TPM, sensação de bola na garganta, alterações de humor, náuseas, gases. Língua com revestimento fino e branco, com pontos de estase e pulso tenso. A Deficiência do Yin do Rim pode ter como causa, doenças crônicas ou agudas graves. O uso de antibióticos ou quimioterápicos, deficiência constitucional, excesso de trabalho e de atividade sexual. Perda de memória, zumbido, insônia ou sono irregular, suor noturno, rubor malar, tontura, vertigem, febre vespertina, diminuição da força de vontade, sede com secura na garganta e língua, queda da acuidade visual, espermatorréia, diminuição do fluxo menstrual ou amenorréia. Língua vermelha, fina, com pouco ou nenhum revestimento (careca), pulso filiforme, fraco, vazio, podendo estar rápido.
A deficiência da essência (Jing) dos Rins geralmente tem causa de hereditariedade, doenças genéticas, deficiência congênita, excesso de trabalho e de atividade sexual, desarmonia de outros Zang Fu com profundo consumo de energia, desnutrição, doenças crônicas prolongadas, excesso de atividade sexual, partos, abortos dificuldades em realizar seus projetos, perda de motivação, falta de coragem para fazer mudanças, diminuição da memória e da libido, tontura, fraqueza, debilidade física e mental, envelhecimento precoce em adultos e retardo Psicomotor em crianças, alterações genéticas, esterilidade, alteração óssea na criança, com retardo no fechamento das epífises, alopecia, surdez, zumbido, perda prematura de dentes. Língua pálida e mole, pulso profundo, fraco e vazio.
Maciciocia (1996) afirma que os distúrbios psíquicos e os Zang Fu tem fundamentos com Problema Etiologia Quadro Clinico Tratamento Deficiência de Qi do Coração-Tristeza, Excesso de excitação e irritação, mudança brusca do estado emocional, vômitos, diarreia ou sudorese excessiva, hemorragia, doenças crônicas e/ou prolongadas, doenças febris, senilidade, apatia e Tristeza, podendo levar ao estado depressivo, taquicardia, ansiedade, amnésia, sobressalto e temor, dificuldades com sono, Cansaço, fala mole, transtornos psíquicos, dispneia, angina, palidez, sudorese espontânea, entre outros.
Segundo Maciocia (1996) a deficiência de Yang do Coração pode ocasionar tristeza, excesso de excitação e irritação, mudança brusca do estado emocional, vômitos, diarreia ou sudorese excessiva, hemorragia, doenças crônicas e/ou prolongadas, problemas febris, taquicardia, ansiedade, amnésia sobressalto e temor, sono, cansaço, fala mole, transtornos psíquicos, dispneia, angina, palidez, sudorese espontânea e fria, dificuldades circulatórias, com frio nas extremidades e aversão ao frio, língua edemaciada, pálida ou violácea, revestimento esbranquiçado, pulso lento, fino e fraco.
Quando há deficiência de Yin do Coração surge ansiedade, excesso de excitação e irritação, emoções que esgotam o Yin e o sangue, vômitos, diarreia, doenças febris com suor, abuso do álcool, dieta gordurosa e condimentada causando deficiência da produção de sangue pelo baço pâncreas, provocando assim taquicardia, ansiedade, irritabilidade, insônia, sonhos excessivos, pesadelos, incapacidade de relaxar, angústia, desconfiança, perda de memória o Shen fica obnubilado. Calor nos cinco palmos, vertigens, boca e garganta secas, rubor malar, sudorese noturna, obstipação, urina amarelada, língua vermelha, revestimento fino e seco, pulso fino, fraco, rápido, intermitente.
Na deficiência de sangue do coração pode surgir ansiedade, excesso de excitação e irritação, emoções que esgotam o yin e o sangue, tendo como causa a hemorragia, parto, doenças prolongadas que consomem muito sangue. Problemas no baço pâncreas causados por uma dieta inadequada ocasionando assim, taquicardia, ansiedade, Irascibilidade, insônia, sonhos excessivos, pesadelos, incapacidade de relaxar, angústia, desconfiança, perda de memória, palidez, lábios e unhas pálidas, quando o Shen obnubilado pode ter como consequência vertigens, formigamento nos pés e mãos, polução noturna, amenorreia, menstruação curta em períodos muito espaçados, língua pálida e ressecada com pulso fino.
Quando há mucosidade obstruindo os orifícios do Coração pode evidenciar ansiedade, excitação, depressão, emoções que levam à estase do Qi, depois, formam mucosidade. A transformação da umidade em mucosidade normalmente é causada por uma dieta gordurosa e crua, também por abuso de Álcool, evidenciando comportamento incoerente e anormal, acompanhado por taquicardia, confusão mental, depressão, convulsões, tontura, náuseas, vômitos, angina, gases, dificuldades de concentração e memória, insônia, sonhos excessivos, mania, histeria, psicose, esquizofrenia, perda dos sentidos, a língua é edemaciada com revestimento branco, pegajoso e Pulso deslizante.
Fogo do Coração hiperativo causa emoções intensas, facilidade para choques emocionais, ansiedade crônica, preocupações que se transformam em fogo, provocadas por uma dieta quente, Álcool, evidenciando assim desarmonia de outros Zang Fu , principalmente Fígado (Fogo do Fígado) ocasionando agitação profunda e Possíveis atos de loucura, atitudes destrutivas e violentas, acompanhada de irritabilidade, angústia, dificuldades em ficar parado, insônia e pesadelos, excitação emocional e delírio, risos e choro. Alucinações visuais e auditivas, sensação de calor e opressão no peito, angina, crise hipertensiva, taquicardia, mania, cólera, convulsão, sede, boca seca, urina escura. A língua escarlate com rachaduras e com ou sem revestimento amarelo com pulso forte, rápido e escorregadio.
No ano de 2003, foi publicado o I Consenso Brasileiro de Insônia, o qual relacionou a frequência das consequências e co-morbidades da insônia com o seu tempo de duração. Na insônia crônica, de longa duração, observam-se mais sintomas cognitivos e alteração do humor, irritabilidade, redução do desempenho acadêmico e profissional, redução da concentração e da memória. Além do que, a insônia e a fadiga aumentam significativamente o risco de acidentes de trabalho, domésticos e de trânsito. (Revista Neurociência, 2007, p.184).
5. Discussão
A associação da prática da Medicina Tradicional Chinesa com a psicologia contemporânea ainda é um verdadeiro devir no mundo ocidental. A busca constante do entendimento do homem e sua relação com meio em que vive, ainda é mistério para muitos. A simplicidade e, ao mesmo tempo, a complexidade metodológico da Medicina Tradicional Chinesa leva a pensar sobre as questões e às origens de nosso entendimento da saúde, do equilíbrio e do contato com os fenômenos da natureza e suas relações.
A psique humana pode elucidar muitos traços capazes de revelar indicações para uma vida com qualidade e equilíbrio entre as duas naturezas, animal e espiritual. As nossas ações, atitudes, comportamento e sentimentos, estão ligados com o que vivenciamos frente as condições energéticas dos elementos constituídos na Medicina Tradicional Chinesa. Na visão, de homem integral de corpo e espírito na Medicina Tradicional Chinesa, abre espaço para um entendimento do que é saúde de uma maneira mais integrada e dinâmica. Hoje temos o entendimento de que não somos somente corpo, temos algo além de nossas percepções visuais e de análises clínicas. As formações do temperamento, das atitudes, das ações e dos próprios sentimentos, dependem de fatores internos e externos, que se pode ser observados desde o desenvolvimento uterino, as relações interpessoais, o ambiente familiar, profissional e social.
A discussão desenvolvida no presente trabalho entre as áreas da Medicina Tradicional Chinesa – MTC e a psicologia contemporânea demonstraram que a natureza humana não consiste simplesmente de um corpo e uma mente. O cérebro, como órgão do pensamento, e o corpo, que permite que estes pensamentos adquiram vida e forma, são apenas manifestações externas de uma identidade mais essencial, algo indefinida, que jaz nos mistérios da existência de cada um de nós. Somos nossos corpos. Somos nossas mentes. Mas também somos algo mais, com um quê de transcendência, se não de eternidade, que se evidencia de tempos em tempos, e que pode ser cultivado e aprimorado.
Os autores utilizados fundamentando esta breve pesquisa, tanto na Psicologia quanto na Antropologia, Sociologia e Filosofia, têm tratado de investigar de forma científica aquilo que antigamente ficava apenas no campo da fé: a realidade da alma humana e suas manifestações de extraordinária transcendência, inclusive estudando os estados alterados de consciência obtidos pela oração, meditação e outras práticas religiosas. A alma passou a ser um conceito incorporado no discurso científico, assim como o corpo e o psiquismo. Muitas vezes fica difícil perceber a diferença entre a psique e a alma, ou identidade essencial.
Fazendo uma analogia, a alma é como o sol, e a psique como os raios do sol. A alma humana é uma realidade que pensa e sente, influenciada pelo corpo, e a psique é a ação deste pensar e deste sentir. A alma é como a árvore, e a psique são como o fruto desta árvore enquanto que na psicanálise o homem se torna consciente do instintual, na logoterapia ou análise existencial ele se torna consciente de algo espiritual ou existencial. Espiritual, nesse sentido, é utilizado sem nenhuma conotação religiosa, mas simplesmente para indicar que estamos lidando com um fenômeno especificamente humano (em contraposição aos fenômenos subumanos que compartilhamos com os animais). Em outras palavras, o espiritual é o que há de humano na pessoa. O que vem à consciência, então, na análise existencial, não é nem o impulso nem o instinto, nem os impulsos do id nem os do ego, mas o próprio eu (self). Não é o ego que se torna consciente do id, mas o próprio eu que se torna consciente de si mesmo – encontra-se a si mesmo.
6. Resultado
No Brasil a acupuntura ainda é vista como uma terapêutica complementar, mesmo assim tem contribuir e muito para o entendimento das questões existências na saúde do ser humano, atuando com simplicidade porem de forma abrangente, humana, atuante, eficaz e preventiva. Quando observamos as propostas de saúde no SUS está lá, “cuidar preventivamente”, no entanto ainda é uma política que muitas nações ainda não aprenderam a desenvolver. Portanto as questões biológicas, psicológicas e emocionais abordadas, segundo a Medicina Tradicional Chinesa, nos levam além das questões meramente físicas ou comportamentais.
Durante o desenvolvimento desse estudo teórico sobre as duas ciências, Psicologia contemporânea e Medicina Tradicional Chinesa, tornou-se possível observar que ambas, buscam tratar o homem além do seu intelecto. Na psicoterapia contemporânea tem como objeto de estudo a subjetividade humana, a qual não se é possível pegar palpar ter uma exatidão de medida. Na Medicina Tradicional Chinesa os Cinco Shen (espirito, alma, intelecto) e seus ciclos energéticos e sua atuação no corpo fazem concluir que, somo complexos demais e muito pouco sabemos sobre nós mesmos. Acima de tudo, buscar desenvolver conhecimentos qualitativos que possam beneficiar a coletividade significativamente, deve ser uma missão de todo acupunturista que se dedica a cuidar de pessoas em situações adversas e diversas.
7. Conclusão
O presente trabalho teve como principal objetivo a realização de comparações teóricas, especificamente bibliográficas, entre a Psicologia e a MTC. Em seu decorrer foram mostradas diversas relações possíveis de serem feitas entre a Psicologia contemporânea de base ocidental e a Acupuntura, sendo esta um ramo da MTC, no entanto sem, pretender esgotar o tema.
No decorrer da pesquisa foi possível observar aproximações teóricas entre Psicologia e MTC, notando-se que estas, são duas fontes de conhecimentos e duas vertentes terapêuticas tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes. As diferenças são vistas principalmente em nível cultural, na distância geográfica e cronológica, que separam estas duas tradições. As semelhanças, vistas fundamentalmente em seus objetivos, sendo o principal deles auxiliar as pessoas a viverem com mais qualidade de vida, saúde, equilíbrio e harmonia, consigo mesmo, com os outros, a natureza, o universo em geral, enfim com toda a vida contida neste imenso sistema do qual somos seres integrantes.
Durante o processo da pesquisa verificou-se que são vários os textos, pesquisas e estudos presentes hoje no Brasil a respeito da Psicologia, da MTC e também da Acupuntura. Mas ainda são pouquíssimos, ou seja, quase não existem pesquisas de bases científicas relacionando estas duas abordagens, estas duas ciências. Nota-se que este campo de pesquisa ainda é uma floresta virgem repleta de conhecimentos a serem explorados por pesquisadores afoitos em desbravarem esta área enriquecendo o fazer científico.
Observou-se também a necessidade de uma maior aproximação entre psicologia ocidental com cultura oriental, possibilitando assim conhecer com mais profundidade a maneira oriental de ver o mundo e enriquecer o fazer psicológico. No entanto quando perfazemos uso destas duas linhas ou abordagens terapêuticas, torna possível presenciar esta relação, esta interação entre os conhecimentos orientais e ocidentais, embora diferenciadas em suas compreensões, em suas visões de mundo, mas, enxergando o homem, enxergando os seres humanos, enxergando a natureza e o universo de uma maneira mais abrangente, mais integral, e pode-se dizer também de maneira mais holística.
Possuir a visão da integralidade do homem, tem se mostrado de extrema importância para a manutenção da natureza, ou seja, a natureza entendida como depende do homem, da mesma forma que o homem entendido como depende da natureza, sendo ambos interligados e, se observados com uma perspectiva mais ampla e aberta, podemos dizer que a natureza e o homem são um só, unidos, interdependentes, interconectados, sendo partes integrantes de um único grande sistema vivo.
Esta é a visão fundamental observada dentro da MTC, bem como na psicologia, do homem como um ser integrado, influenciando e sendo influenciado pelo grande universo, sendo ele próprio responsável por seu destino, por suas escolhas, pelos caminhos percorridos em busca de si mesmo.
Conhecer a total abrangência da categoria Shen usando-a no fazer psicológico pode levar a uma maior aproximação entre terapeuta e paciente, a melhores resultados terapêuticos e, consequentemente, a um aprimoramento da prática da medicina chinesa, especialmente da acupuntura, nos serviços de saúde.
Acredito que este é um tema que não se esgotará no desenvolvimento da ciência, por carecer de aperfeiçoamento continuo. Fica ai uma sugestão para novos estudos, desta vez teórica e em loco com pesquisa de campo, para o avanço dessa associação que muito irá contribuir com humanidade.
AVELAR, José Augusto de. Uso dos Cinco Shen na Psicoterapia. Psicologado. Edição 01/2015. Disponível em < https://psicologado.com.br/abordagens/psicologia-transpessoal/uso-dos-cinco-shen-na-psicoterapia >. Acesso em 17 Mar 2019.
Fonte:https://psicologado.com.br/abordagens/psicologia-transpessoal/uso-dos-cinco-shen-na-psicoterapia
Fonte:https://psicologado.com.br/abordagens/psicologia-transpessoal/uso-dos-cinco-shen-na-psicoterapia
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