AFINAL,O QUE É O SEXO TÂNTRICO

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Afinal, o que é sexo tântrico?

Talvez você já tenha ouvido a expressão “sexo tântrico” alguma vez na vida. Você sabe realmente o que ela significa ou ficou naquele canto da imaginação de algo misterioso e proibido? Pois Tantra sim, é misterioso, mas não proibido, apesar de seus praticantes serem sempre discretos a respeito do assunto. Mais para não despertar boatos ignorantes a respeito das práticas do que por qualquer outro motivo.
Tenho me dedicado a estudar Yoga tântrico nos últimos seis meses intensamente em uma escola tântrica na Tailândia. Uma amiga, sabendo disso, me mandou uma mensagem querendo saber “tudo” sobre Tantra. Bom, sendo uma tradição de cerca do século V e tendo vertentes hinduístas, budistas e taoístas, devo dizer que sou ainda uma infante no assunto. Estudar Tantra é trabalho para uma vida inteira. Ainda assim compartilho um pedaço do que estou aprendendo aqui.
Yab-Yum, uma das posições usadas em sexo tântrico
Apesar de Tantra não se referir apenas a práticas sexuais (que representam um mínimo percentual, na verdade) é por sexo tântrico que Tantra é mais conhecido. Num mundo de relações humanas desgastadas e superficiais, muitos procuram técnicas que possam oferecer experiências diferentes das que tiveram. Mas longe de ser mais uma tendência sexual, Tantra é um caminho espiritual, de reconexão consigo e conexão com o outro. Minha mentora diz que é impossível praticar sexo tântrico e não amar a outra pessoa. Importante dizer também que o conceito de amor é bastante revisitado e ressignificado em um contexto tântrico.

O que define sexo tântrico?

Para que uma relação sexual seja considerada tântrica é necessário que princípios sejam seguidos: consagração, transfiguração, brahmacharya e sublimação.
Consagração
Antes de mais nada, sexo tântrico é consciente. Em vez de ser levado pelo momento, é uma escolha direta e clara de quem o pratica. Assim, antes do início do ato, toma-se um momento para que cada um se interiorize e faça uma prece — a consagração. Em suas próprias palavras, oferecendo o ato a Deus ou qualquer outra manifestação divina superior (Yoga e Tantra são ritualísticos, mas não religiosos, portanto a escolha de a quem será consagrado o ato é unicamente pessoal). Se ateu, pode-se oferecer o ato ao mundo, ao universo, à natureza, enfim. O que conta aqui é a noção de que estamos todos conectados e que cada ato que praticamos tem um impacto no mundo. Ao consagrá-lo ao universo, ou a Deus, estamos reconhecendo essa conexão.
Transfiguração
É a percepção do divino no outro. Há diferentes maneiras de se praticar transfiguração, e cada um escolhe a que melhor lhe aprouver. As mais comuns parecem um consurso de olhar, em que o casal se olha nos olhos durante vários minutos, olham para o corpo inteiro do parceiro, reconhecendo como a outra pessoa é uma manifestação particular do divino. Deus em cada um de nós, ou o perfeito, o belo.
Fundindo-se no divino
Brahmacharya
É um dos princípios da Yoga, e significa contenção sexual. No caso de homens, não-ejaculação, e no caso de mulheres, sem orgasmos explosivos (clitorianos). Parece não ser divertido mas é exatamente o contrário. Poucos homens aprenderam que orgasmo é diferente de ejaculação, e que eles também podem ter orgasmos de corpo inteiro ou orgasmos múltiplos. E mulheres que se conhecem já entenderam que existem diferentes tipos de orgasmo feminino (cerca de 7) e que orgasmos internos podem ser mais poderosos e satisfatórios que clitorianos (é triste que ainda é grande o número de mulheres que sequer já experimentaram orgasmos, mas isso é assunto para outro texto).
Uma vez que homens não ejaculam, o sexo pode prosseguir por horas, e é aqui que entra a parte interessante. Num geral homens e mulheres demoram quantidades de tempo diferentes para atingir o clímax, e se o homem ejacula muito rápido, a mulher dificilmente tem tempo de sentir prazer. Assim, um homem que pratica brahmacharya (brahmachari) aprendeu a se conhecer o suficiente para não atingir o ponto de não retorno (aquele em ponto em que a excitação é tão intensa que inevitavelmente vai acontecer ejaculação). Da mesma forma, a mulher que aprendeu a se conhecer e explorar diferentes pontos e formas de orgasmo vai ser capaz de evitar o clitoriano e buscar outras experiências.
Essa parte é o aprendizado individual de um tantrika (pessoa que pratica sexo tântrico). Tanto homens quanto mulheres podem demorar semanas, meses ou anos para aprender brahmacharya e claro que o parceiro pode contribuir com isso. Significa que durante o sexo tântrico o parceiro ajuda o outro parando quando necessário. Envolve muita comunicação entre o casal, paciência, companheirismo e intimidade. Durante esses momentos também é importante sublimar a energia.
Sublimação
É o ato de elevar a energia sexual, atingindo assim outros estados de consciência. Dutante o ato e depois dele, usando técnicas de respiração e meditação, ou mesmo asanas (poses de yoga) para ajudar essa energia a se espalhar por outras partes do corpo. Em Tantra entende-se que há inúmeros centros de energia no corpo, chamados Chakras, e aprende-se a controlar e mover essa energia de um chakra para outro usando meditação, pranayama (técnicas de respiração) e asanas. O fim do ato sexual tântrico é meditação.
Os sete principais Chakras, de baixo para cima: Muladhara (root), Svadistana (sexual), Manipura (navel), Anahata (heart), Vishuda (throat), Ajna (Mind) and Sahastrara (crown).
Posições na cama
Kama Sutra não é Tantra, entretanto pode ajudar a ter criatividade e explorar diferentes posições que podem favorecer os parceiros tântricos. Existem também diferentes posições que ativam diferentes chakras, ou mesmo pode-se escolher praticar usando as características de um dos chakras (falo mais sobre isso nesse hangout). Mas não é a posição que faz o ato ser tântrico, mas sim os passos informados anteriormente.
Variações
Nem todos adeptos ao sexo tântrico praticam dessa maneira, muitos por desconhecimento e outros por seguir outras linhas de Tantra (Neo Tantra ou Osho Tantra, por exemplo). Parti do ponto de vista da Agama Yoga, a escola que estudo, que busca nos textos tradicionais e pratica White Tantra: a vertente espiritual do Tantra. Então mais do que apenas prolongar o prazer por práticas, o objetivo do sexo tântrico (como ensinado e praticado aqui) é atingir a iluminação, nirvana, auto-realização. Portanto, sexo tântrico é uma ferramenta, como várias outras, em um caminho espiritual. Eleva-se a energia dos chakras inferiores para os superiores através da sublimação com o objetivo de fazer com que ela chegue ao Sahastrara (crown chakra, no topo da cabeça), e assim se atinga níveis elevados de consciência (Samadhi).
Há ainda Red Tantra (usa as práticas apenas com o objetivo de se obter mais prazer) ou Black Tantra (usa a energia para magia). Como comentei, o que aprendo e pratico é White Tantra, o tantra com objetivos espirituais, e parto desse ponto de vista para a construção do texto.
Tantra: do sexo à consciência
Em resumo, o sexo tântrico é consciente, desperto, constantemente presente. Oobjetivo do sexo tântrico é ter insights, atingir a pura consciência. Elevar a energia dos chackras inferiores para os superiores, buscar o divino, o universal. Reconectar-se, consigo, com o outro, com o universo.
Fonte:https://medium.com/@anapaulacoelho/


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