Kazuaki Tanahashi Sensei: professor, artista e erudito Zen Budista
Um mestre
Zen Dogen caligrafista
Ativista da Paz e mestre caligrafista e artista
renomado, Kazuaki Tanahashi tem feito exposições ao redor do mundo há 50 anos.
No Brasil, além de exposições, Kazuaki Tanahashi
oferecerá palestras e demonstrações ao vivo da pintura do Círculo Zen, símbolo
que tradicionalmente representa a “iluminação”, ou “uma experiência completa de
cada momento”, que abrange o perfeito e o imperfeito.
Nas suas oficinas, são exploradas as técnicas e a
estética básicas, bem como o aspecto Zen da caligrafia oriental.
Nas vésperas da chegada de Kazuaki Tanahashi Sensei ao Brasil, a Bodisatva publicará três textos de sua autoria até o início de junho. Celebrando este encontro tão auspicioso organizado pelo Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), faremos uma contagem regressiva especial: até a data de sua vinda, estaremos publicando um texto por semana do livro Painting Peace: Art in a Time of Global Crisis, no qual Kaz Sensei relata — através da prosa, da poesia, de cartas, dentre outros — histórias de uma vida dedicada à busca pela paz e pela justiça através da arte.
O primeiro texto, não por acaso, trata de sua profunda relação com os escritos do mestre Zen Dogen e da enorme influência que o fundador da escola Soto Zen produziu na sua vida e na sua arte. Com cerca de vinte anos, Kaz Sensei teve seu primeiro contato com os poemas e ensaios do mestre e, alguns anos depois, iniciou uma parceria com Soichi Nakamura para traduzi-los para o japonês moderno. Posteriormente, ao visitar o templo de Shunryu Suzuki nos Estados Unidos, Kaz inicia o processo de tradução de alguns destes textos para o inglês.
Kaz aterrissa em terras brasileiras no dia 1 de junho e permanece até o dia 25. Durante todo este período, ele oferecerá palestras, retiros e oficinas em diversas cidades. Confira a programação completa.
“A iluminação é descobrir o valor infinito de cada momento da sua vida e da vida dos outros seres, e permitir que tal realização permeie todas as nossas ações.”
—Kazuaki Tanahashi
“A iluminação é descobrir o valor infinito de cada momento da sua vida e da vida dos outros seres, e permitir que tal realização permeie todas as nossas ações.”
—Kazuaki Tanahashi
Por que Dogen?
“As palavras de Dogen podem ser um bom lembrete dos milagres de cada instante”
Dogen, um mestre Zen do século XIII, disse: “Milagres são praticados três mil vezes pela manhã e oitocentas vezes ao entardecer.” Em seu tempo e de fato durante boa parte da história da prática monástica budista, a refeição do meio-dia era a principal e muitas vezes a última. As pessoas ficavam sonolentas à tarde quando tinham um milagroso pedacinho de tempo livre.
Um atrativo de Dogen para muitos de nós em um tempo de ciência e tecnologia avançadas é que ele não considerava milagres como fenômenos mágicos ou sobrenaturais que podiam ser invocados por rituais ou preces. De acordo com ele, milagres são tais atividades diárias como buscar água e carregar lenha.
Todo encontro que temos é um milagre. Cada respiração é um milagre. Mas, como nós costumamos focar nas imperfeições, faltas e fracassos, tornamo-nos irritados e infelizes. Desta forma, as palavras de Dogen podem ser um bom lembrete dos milagres de cada instante.
As pessoas perguntam: “Quantos anos você levou para organizar o livro de Dogen?” Eu às vezes digo, “Levou-nos setecentos e cinquenta anos.” Isso é verdade se levarmos em conta que o Budismo praticamente não existia no Ocidente até pouco tempo. No século XVI, um missionário português relatou um estranho tipo de culto demoníaco no Japão. Quando esta era a percepção típica do budismo pelos europeus, não havia necessidade de Dogen no Ocidente.
O Zen só foi formalmente introduzido nos Estados Unidos em 1893, quando Shoyen Shaku deu uma conferência no Parlamento das Religiões do Mundo em Chicago. D. T. Suzuki, um de seus estudantes, escreveu muito sobre o Zen, mas raras vezes mencionou Dogen.
Nos meus 20 anos, quando era um artista iniciante à procura de um guia espiritual, li os poemas e ensaios de Dogen, que me deixaram impressionado. Aqui está a passagem que mais me inspirou: Nascimento (vida) é como andar de barco. Você levanta as velas e voga com o remo. Apesar de você remar, o barco lhe permite navegar e sem o barco você não poderia navegar. Mas você anda no barco e seu andar faz o barco ser o que é. Investigue um momento como esse. Em tal momento, não há nada a não ser o mundo do barco. O céu, a água, e a margem são todos o mundo do barco.
Estive estudando literatura e filosofia europeia, os escritos dos existencialistas em particular. Camus aponta a impermanência da vida ao dizer que todos nós estamos no corredor da morte. Na minha opinião, os existencialistas expressaram desamparo, desespero e tédio porque eles tentaram e, de modo geral, falharam em encontrar uma “saída” para essa situação de abandono depois de declarar que “Deus está morto”.
Quando eu vi a positividade de Dogen, era como se ele estivesse apresentando o próximo passo para um entendimento existencialista. Eu não tinha muita firmeza sobre o que Dogen estava falando e, talvez por causa disso, fui atraído para ele. Em 1960 eu fiz minha primeira exposição de arte em Nagoya, Japão; aconteceu em uma galeria alugada, e foi uma exposição de seis dias, como era comum no Japão. Havia um velho homem, Soichi Nakamura, que veio à minha exposição todos os dias. Nós nos tornamos amigos. Eu descobri que ele era um talentoso erudito e mestre Zen.
Eu disse a Nakamura Roshi: “Dogen é incrível, mas parece que poucas pessoas entendem seus escritos. Seria de grande ajuda a muitos se você pudesse traduzir Dogen para o Japonês moderno.”
Ele disse: “Eu traduziria, se você traduzisse comigo.”
Então eu disse, “Ficaria feliz em trabalhar com você.” Pensei que iria trabalhar com ele por alguns anos, terminar o trabalho e em seguida fazer algo mais interessante.
Traduzir as palavras paradoxais do mestre Dogen do japonês e chinês medieval para o japonês moderno foi extremamente penoso. Às vezes nós trabalhávamos um dia inteiro em apenas uma única linha. Comecei a estudar sânscrito – que é essencial para entender o Budismo Mahayana – com um tutor, além de chinês e de filosofia budista.
Em determinado momento eu fui convidado a expor em Washington, DC. Era janeiro de 1964. Eu tinha trinta anos de idade quando aterrissei em Honolulu[1] em minha primeira visita aos Estados Unidos. Ali eu conheci Robert Aitken, que ainda não era um Roshi. Ele me deu uma lista de lugares Zen para visitar no continente e sugeriu que eu encontrasse o Reverendo Shunryu Suzuki em São Francisco.
Eu visitei seu templo, Sokoji, e tive uma conversa amigável com Suzuki Roshi por cerca de uma hora. Ele deveria estar se perguntando quem ou o que eu era. Finalmente disse: “Você é um vendedor de mercadorias budistas?
Eu disse “Não, não sou. Eu sou um estudante do mestre Dogen”.
Então eu disse a Suzuki Roshi, “Eu sei que você ensina zazen aqui. Que tipo de texto você usa?”
Ele disse “O Arquivo da Falésia Azul”[2]
Eu disse, “Por que não Dogen?”
“Dogen é muito difícil para os estudantes americanos.”
“Você não acha que deveria apresentar o seu melhor quando ensina estudantes estrangeiros? Não importa se eles não entendam. Você não acredita que Dogen é o seu melhor?”
Depois de alguns momentos de silêncio, ele disse “Eu me programei para dar uma palestra aos meus alunos no domingo. Você poderia, por favor, falar sobre Dogen por mim?”
Eu jamais havia dado uma conferência pública em inglês. Peguei uma cópia do seu exemplar de Dogen e escrevi uma palestra. Meu tópico era “tempo” baseado no “Ser Tempo”, um fascículo da maior obra de Dogen, Shobogenzo, ou O Tesouro do Verdadeiro Olho do Dharma.
Após mostrar meu trabalho artístico na América do Norte por um ano, eu voltei para Honolulu e traduzi “Genjo Koan”, outro fascículo de Shobogenzo, com Bob Aitken.
Voltando ao Japão, de repente eu achei o trabalho de traduzir Dogen em japonês moderno muito mais fácil. Traduzi-lo para o inglês mudou a dinâmica. Quando você traduz algo para outra língua, você precisa desconstruir a estrutura da frase original e tentar encontrar a melhor sintaxe possível para fazer com que ela tenha sentido naquele idioma. Algum tipo de colapso ocorreu, o que abriu minha mente.
Então eu disse a Nakamura Roshi: “Poderia ser uma boa ideia você me deixar fazer a tradução sozinho e comentar meu rascunho depois.” Eu ditei minha tradução do japonês moderno em um gravador e pedi a um time de voluntários para transcrevê-la. Nós completamos os noventa e cinco fascículos do Shobogenzo, que foram publicados em quatro volumes no japonês original e moderno, com um volume extra do glossário de Shobogenzo em 1972. Levamos doze anos.
A certa altura, pensei em traduzir mais dos escritos de Dogen para o inglês. Como Suzuki Roshi havia falecido, eu escrevi a Richard Baker Roshi, seu sucessor como abade do Centro Zen de São Francisco. Quando eu o conheci em Kyoto em 1975, expressei meu desejo de colaborar com aqueles que estavam praticando o Zen na tradução de Dogen.
Baker Roshi perguntou-me diretamente: “Você é budista?”
Eu disse: “Bem, eu sou um estudioso budista.”
“Por que você não vem para o Centro Zen trabalhar conosco?” ele disse.
Em 1977, eu me mudei para São Francisco e trabalhei no Centro Zen por sete anos. Lua em uma Gota de Orvalho (Moon in a Dewdrop) foi o resultado da colaboração com seus membros daquele período. O Centro Zen e eu trabalhamos juntos depois que me tornei um artista e escritor freelancer. Nós traduzimos outros dois livros de Dogen: Iluminação Se Revela (Enlightenment Unfolds) e Além do Pensar (Beyond Thinking).
Dogen era extremamente sério e formal, um líder espiritual elevado e um excelente organizador comunitário. Eu sou o oposto. Gosto de ser informal. Gosto de pensar além do limite de qualquer tradição e identifico a mim mesmo como alguém que não se afilia a nenhuma delas. De maneira nenhuma Dogen me consideraria um bom aluno. Mas sou atraído por sua visão de mundo e ensinamentos e desejo apoiar modestamente àqueles que seguem seu caminho.
Dogen disse:
“Pela prática contínua de todos os budas e ancestrais, sua prática é realizada e sua grande estrada se abre. Pela sua prática contínua, a prática contínua de todos os budas é realizada e a grande estrada de todos os budas se abre. Sua prática contínua cria o círculo do caminho.
Recebemos um grande ensinamento e nós o realizamos. Recebemos uma grande herança, seja esta uma herança humana comum ou espiritual, e somos nós que a tornamos vital. Professores são estudantes e estudantes são professores”.
Alguns anos após trazer os ensinamentos Zen da China, Dogen tentou construir um pequeno salão para os monges. Ele disse em sua carta de angariação de fundos: “Nós iremos engajar-nos completamente em cada atividade para cultivar condições férteis para transformar as dez direções.” Esta é uma declaração ultrajante. Ao encarregar-se de cada mínimo detalhe da vida – sentar, andar, cozinhar e limpar – ele queria mudar o mundo.
Uma de suas tarefas foi estabelecer uma comunidade de praticantes ao encorajar seus membros a serem sensíveis aos sentimentos de outras pessoas, serem justos e abertos e não interferirem nas responsabilidades dos demais. O que Dogen estava fazendo era pequeno, mas o efeito de seu pensamento e prática provou ser enorme, e sua influência ainda aumenta.
É irônico e inspirador que estar totalmente engajado em cada atividade, enquanto trabalha com os outros harmoniosamente, possa ser a via mais imediata para produzir transformação em larga escala. Este é um tempo emocionante para aqueles de nós que amamos Dogen. Seu trabalho é amplamente estudado não apenas em centros de Darma e monastérios, mas também em universidades prestigiosas. Muitos outros acadêmicos e praticantes estão engajados em traduzir os escritos de Dogen. Mais de cinquenta livros foram publicados sobre Dogen em inglês. E eu sigo traduzindo mais de seus escritos. Por quê?
Porque eu simplesmente amo Dogen. Ele me ajuda a viver harmoniosamente comigo mesmo no momento e com os outros. Ele é sábio, criativo e atemporal. Além do mais, ele tem um otimismo absoluto. Quando os problemas que nos circulam são enormes e tendemos a ficar cínicos e desamparados, precisamos ser encorajados com positividade – a confiança que cada ação que fazemos tem o poder de transformar a nós mesmos e aos demais.
“As palavras de Dogen podem ser um bom lembrete dos milagres de cada instante”
Ele disse: “Eu traduziria, se você traduzisse comigo.”
Então eu disse, “Ficaria feliz em trabalhar com você.” Pensei que iria trabalhar com ele por alguns anos, terminar o trabalho e em seguida fazer algo mais interessante.
Eu disse “Não, não sou. Eu sou um estudante do mestre Dogen”.
Então eu disse a Suzuki Roshi, “Eu sei que você ensina zazen aqui. Que tipo de texto você usa?”
Ele disse “O Arquivo da Falésia Azul”[2]
Eu disse, “Por que não Dogen?”
“Dogen é muito difícil para os estudantes americanos.”
“Você não acha que deveria apresentar o seu melhor quando ensina estudantes estrangeiros? Não importa se eles não entendam. Você não acredita que Dogen é o seu melhor?”
Eu jamais havia dado uma conferência pública em inglês. Peguei uma cópia do seu exemplar de Dogen e escrevi uma palestra. Meu tópico era “tempo” baseado no “Ser Tempo”, um fascículo da maior obra de Dogen, Shobogenzo, ou O Tesouro do Verdadeiro Olho do Dharma.
Voltando ao Japão, de repente eu achei o trabalho de traduzir Dogen em japonês moderno muito mais fácil. Traduzi-lo para o inglês mudou a dinâmica. Quando você traduz algo para outra língua, você precisa desconstruir a estrutura da frase original e tentar encontrar a melhor sintaxe possível para fazer com que ela tenha sentido naquele idioma. Algum tipo de colapso ocorreu, o que abriu minha mente.
Eu disse: “Bem, eu sou um estudioso budista.”
“Por que você não vem para o Centro Zen trabalhar conosco?” ele disse.
“Pela prática contínua de todos os budas e ancestrais, sua prática é realizada e sua grande estrada se abre. Pela sua prática contínua, a prática contínua de todos os budas é realizada e a grande estrada de todos os budas se abre. Sua prática contínua cria o círculo do caminho.
Recebemos um grande ensinamento e nós o realizamos. Recebemos uma grande herança, seja esta uma herança humana comum ou espiritual, e somos nós que a tornamos vital. Professores são estudantes e estudantes são professores”.
Kazuaki Tanahashi Sensei
[1] Capital do Havaí.
[2] N.T: The Blue Cliff Record, conjunto de 100 koans compilados na China durante a dinastia Song em 1125 e depois expandidos até sua forma atual pelo mestre Zen Yuanwu Kequin (1063 – 1135).
Considere a integridade ao escolher sua carreira
Seu trabalho é inspirador para você e as outras pessoas e te faz genuinamente feliz?
Seu trabalho é inspirador para você e as outras pessoas e te faz genuinamente feliz?
Por favor, considere a integridade como um fator essencial ao escolher sua carreira. Uma definição convencional de integridade é ser honesto e confiável. Mas isso não é o suficiente, pois pessoas reconhecidas como honestas e confiáveis podem atuar para o prejuízo de outras pessoas e do meio-ambiente. Precisamos de uma nova compreensão sobre a integridade a partir de uma perspectiva global. A vida do planeta está em nossas mãos. As vidas de todas as pessoas ao redor do mundo estão em nossas mãos. Precisamos escolher conscientemente uma direção que seja capaz de nutrir o bem-estar de todas as pessoas e do meio-ambiente.
Você deve considerar desenvolver sua própria definição de integridade. Por ora, no entanto, vamos definir integridade como “a integralidade de uma pessoa enquanto parte vital da sociedade humana em um período de tempo ultra-longo”. “Integralidade” sugere a inclusão de todas as suas partes – conhecimento científico, criatividade artística, amor, espiritualidade, ética e trabalho. Sua ocupação deve elevar sua saúde e bem-estar, assim como de sua família, comunidade, país e comunidade global. Você perderia sua integralidade se servisse apenas à sua família ou ao seu país. Se seu trabalho prejudica sua saúde, então há algo extremamente errado com ele. Ele pode ser benéfico em uma perspectiva de curto prazo, tal como décadas, mas pode não ser bom se forem considerados séculos. Se assim for, por favor, reconsidere.
Você pode dizer que isso é muito idealista e que a realidade não é assim tão simples. A maior parte dos empregos no campo da ciência nos EUA parece estar direta ou remotamente relacionada à defesa nacional. Você pode sentir que deve justificar sua educação e encontrar um trabalho que se adeque ao treinamento que recebeu. Ou você pode se sentir fortemente atraído pelos altos salários oferecidos pelas indústrias do tabaco e das armas. Este é o momento em que você precisa reconsiderar.
Sua vida pode ser a do despertar. Despertar é se dar conta do infinito valor de cada momento de sua própria vida assim como da vida dos outros seres, e desse modo continuar a agir de acordo com esse propósito.
E se você tem um trabalho que paga bem e dá muito prestígio, mas a natureza dele se vincula a trazer doença, infelicidade ou desastre à vida das pessoas? Você pode ter de esconder ou negar o que está fazendo. Sua autoestima pode não ser alta, e você pode sentir que desperdiçou toda a sua vida. Um exemplo típico de tal “emprego destrutivo” pode ser encontrado na indústria do tabaco e das armas.
Ao escolher sua carreira, você tem vários fatores a considerar: salário, benefícios, férias, nível de desafio, promoção, prestígio, local de trabalho, comunidade. No entanto, é importante examinar se o trabalho que está considerando é inspirador para você e para os outros, e se você se sentiria genuinamente feliz e orgulhoso dele.
Por exemplo, se você trabalha na indústria do tabaco, quanto mais trabalha e mais bem-sucedido você é, mais as pessoas adoecem e morrem. Sem matar ninguém pessoalmente, você pode ter contribuído consideravelmente para aumentar o número potencial de doentes e mortos por câncer de pulmão. Isso é bom para o bem-estar da nossa sociedade? É bom para a sua psiquê?
Ou digamos que seu trabalho se relaciona com o aumento do poder explosivo de bombas de hidrogênio – para matar milhões de pessoas ao invés de centenas ou milhares em uma única detonação. Você acredita que receberá o respeito incondicional de seus amigos por esse trabalho? Seus filhos(as) e os(as) filhos(as) deles(as) vão se orgulhar da sua trajetória profissional?
Há incontáveis maneiras de justificar empregos nas indústrias do tabaco e das armas: ajudar a economia, aumentar o emprego e as exportações, livre iniciativa, defesa e segurança nacionais, ou proteger a democracia. Algumas pessoas podem acreditar verdadeiramente em missões como essas. Mas se você tivesse escolha, optaria por aceitar um emprego que é nocivo por natureza?
Independente de fumar ou não, você não quer que suas crianças sejam expostas ao fumo. No entanto, você pode se sentir bem em elaborar um cartaz ou outdoor atraente para uma empresa de tabaco. Esse comportamento não é consistente. Você mesmo está comprometido a não matar e, contudo, pode achar inofensivo servir comida ou ser o segurança em uma fábrica de armas, ou um cientista em um centro de pesquisa ligado à defesa nacional. Isso não é consistente. Você pode não apertar o botão que lança um míssil, mas faz parte de uma instituição que desenvolve e produz meios de massacre. Suas mãos não estão limpas, mas ensanguentadas. Quer você se dê conta disto ou não, isso irá embotar sua consciência e danificar sua personalidade.
É verdade que você não tem outra escolha? Você certamente tem. Em uma sociedade livre sempre há escolha. Sua vida pode ser levada com integridade plena. A vida que você leva é a vida a que você se determina viver.
Kazuaki Tanahashi Sensei
OCIOSIDADE CRIATIVA
Mil metas a serem cumpridas e constante falta de tempo? Neste segundo
texto da série, Kaz Sensei explica como a ociosidade pode ser fundamental para
se atingir uma vida mais plena
A ideia geralmente tida sobre a ociosidade é contraproducente. Eu diria, no entanto, que em alguns casos, quanto mais ociosos formos, mais produtivos seremos.
Há tempos em que é bom ser lento e preguiçoso, especialmente quando existe muita pressão no nosso corpo e mente ao ponto de nosso coração sentir-se ameaçado. Na verdade, é imperativo desacelerar quando nosso corpo nos manda sinais de que o nível de stress está crítico.
No Japão, existe um ditado: “Longevidade é parte da arte”. Quanto mais saudáveis formos e vivermos, mais chance temos de criar e servir as pessoas.
Não é estranho sermos tão focados em nossas metas a ponto de não conseguirmos nos livrar do estado de ansiedade até conseguirmos o que queremos? Os passos para alcançar o objetivo permanecem parciais enquanto o objetivo não for alcançado, então uma necessidade de completude domina nossa vida.
No meu livro Brush Mind, aponto que: “Ser preguiçoso é um trabalho árduo, mas alguém tem de fazê-lo. Pessoas do mundo da industrialização constroem indústrias. Pessoas preguiçosas constroem civilizações”.
Eu tomo isso como um lembrete para mim mesmo que, junto com o resto do mundo, precisa desacelerar. Se gostássemos tanto de trabalhar a ponto de esquecermos de parar, nossa saúde ficaria comprometida. Aqueles que são naturalmente preguiçosos não precisam desse lembrete, mas os workaholics deveriam experimentar.
A caligrafia do Leste Asiático é a principal arte que pratico e ensino. A caligrafia ideográfica tem sido muito utilizada pelos chineses, vietnamitas, coreanos e japoneses. Alguns caligrafistas chineses são particularmente conhecidos pelas suas pinceladas meditativas que se assemelham aos movimentos suaves do Tai Chi, arte marcial tradicional chinesa. Você poderá achar útil seguir este tipo de prática artística.
Quando você tentar mover lentamente o pincel pela primeira vez, poderá achar difícil manter o controle do movimento. Você poderá também sentir um certo conflito. Parte de você vai querer desacelerar. Por outro lado, você poderá experimentar um sentimento de urgência, de retornar ao seu modo usual de fazer as coisas rapidamente para terminar o desenho e tirá-lo do caminho.
No entanto, com tempo e prática, você poderá se acostumar ao ritmo mais relaxado, ficando atento a cada variação sutil do movimento do pincel e sua relação com seu corpo e mente. Você pode até começar a amar a prática e curtir cada pincelada. Cada linha, como cada movimento que a originou, carrega uma infinitude e completude de si mesma.
Nenhuma linha que você desenhe necessita ser perfeita. Pelo contrário, você deve continuar desenhando linhas desajeitadas. Com certeza, aos poucos, você vai aprimorar suas linhas, e seria ilusório achar que vai ficar experiente de repente. Assim, mesmo que a linha seja imperfeita ou não pareça bem, o ato de desenhar uma linha é completo. Independente da aparência do produto, nós nos tornamos livres do sofrimento de ter que realizar ou criar algo perfeito.
Se a vida é ter um objetivo, assim que ele é alcançado, outro objetivo aparece. Na maior parte do tempo, nós ficamos ansiosos por cumprir objetivos. No entanto, se começarmos a aproveitar cada passo do caminho, ele se torna um objetivo. Assim, nós podemos melhorar bastante o estado de relaxamento e a profundidade da nossa vida.
Meditação é uma forma excelente de nos ajudar a aproveitar um ritmo mais lento e se ocupar menos. A prática de uma arte meditativa, como ioga, cerimônia do chá, artes marciais, pode nos trazer benefícios similares.
Ociosidade não significa fazer nada e sim fazer menos. Ela também pode significar ser efetivo. Como eu gosto de dizer: “Estou muito preguiçoso para ser inefetivo”.
Quando você tem um projeto grandioso ou quando há uma crise, você pode querer agir imediatamente. Mas, é possível que seja mais sábio escolher não fazer nada por um tempo e contemplar a melhor forma de lidar com a situação. Neste caso, praticar a ‘não-ação’ pode ser a melhor ação a ser tomada. A ‘não-ação’ contém infinitas possibilidades de ação.
O estudo do Aikido, desde minha juventude, por meio do seu fundador, Morihei Ueshiba, tem sido minha fundação para a prática da meditação ativa. Como já mencionei, ele sentava reto no chão de madeira do pequeno dojô e pedia que o empurrássemos com toda força. Ao invés de ser empurrado para o chão, ele relaxava, sorria e absorvia todos os empurrões.
Naquele momento, nos mostrava o poder do relaxamento físico e mental. Recentemente, passados cinquenta anos que tive essas aulas, entendi que ele estava demonstrando o segredo mais profundo das artes marciais: o poder de se manter imóvel.
No Aikido, alguns movimentos são espetaculares – jogando um oponente no ar sem qualquer toque, ou derrubando diversos oponentes com um movimento de virada. Nós, estudantes, estávamos testemunhando, dia após dia, aquelas manobras mágicas. Eu havia negligenciado o significado do mestre permanecer sentado imóvel no chão.
Ueshiba me ensinou o valor do movimento e da imobilidade. Movimento é toda ação que realizamos em nossas vidas. Imobilidade significa um completo aterramento. Não é a ausência de movimento, mas seu alicerce. Movimento e imobilidade – ocupação e ociosidade – são igualmente importantes. E, porque a maioria de nós somos ocupados o tempo todo e ignoramos a ociosidade, em determinados momentos, é muito benéfico cultivar a ociosidade.
Uma vez, convidaram-me para participar de uma conferência sobre paz. Um tempo antes da conferência começar, conheci a pessoa que me convidou e, após tratar dos preparativos, perguntei a ela: “Você está se divertindo?”. Ela disse: “Não, eu tenho tanta coisa para fazer. Não tenho tempo para aproveitar”. Eu apenas a observei.
Mais tarde, ela pensou sobre a nossa conversa e se deu conta de que não era bom o fato de não estar se divertindo com a organização de uma das principais realizações da sua vida. Então, ela e seu marido tiraram uma semana de férias para descansar em uma pequena ilha grega. Fiquei impressionado com a serenidade e graça com que conduziu a conferência.
Quando meus colegas e eu estávamos totalmente engajados no trabalho do Futuro sem Plutônio, eu dizia: “O que há de mais importante no nosso trabalho é quão bem cada um de nós está e o quanto estamos aproveitando nosso trabalho. Se ficarmos doentes, não poderemos trabalhar. Se não gostarmos do que fazemos, devemos fazer algo diferente”. Isto pode parecer um tanto autocentrado, mas, na verdade, é uma forma de tornar menos autocentrado, centrando-se em torno da ociosidade. O poder de fazer nada é incrível. Você pode pensar: ler, ver televisão ou fazer uma prática de meditação é não fazer nada. Na verdade, o fazer nada pode estar além dessas coisas.
Suponha que você está numa cabana nas montanhas e não faça nada a não ser beber água, comer, fazer exercícios, tomar notas. Você poderá ficar com receio de se entediar. Sim, você se entediará com certeza. Mas lembre-se: Tédio é uma ótima companhia para a ociosidade. Todos os pensamentos criativos e ações vieram de momentos de puro tédio.
Alguns de vocês podem ser tão preguiçosos e nem ir a uma cabana nas montanhas. Neste caso, tente praticar a ociosidade no aeroporto ou num trem. É garantido o sucesso, contanto que não perca o avião ou esqueça sua mala na estação de trem.
Fonte:http://bodisatva.com.br/author/kazuaki-tanahashi-sensei/
No Japão, existe um ditado: “Longevidade é parte da arte”. Quanto mais saudáveis formos e vivermos, mais chance temos de criar e servir as pessoas.
“Milagres de cada momento: pintando paz” (Budismo engajado)
De 22 a 24 de junho com Kazuaki Tanahashi Sensei
Durante sua passagem pelo Brasil, o professor, artista e erudito Zen Budista Kazuaki Tanahashi Sensei, estará no CEBB Darmata de 22 a 24 de junho. Sua vinda é uma oportunidade rara de aprofundar o estudo e a prática dos ensinamentos do Mestre Zen Dogen e de uma visão de ação compassiva no mundo.
Nesse retiro, Kazuaki Tanahashi Sensei irá abordar, entre outras questões, temas sobre como alcançar uma transformação social em grande escala, inverter a caminhada da humanidade em direção ao suicídio coletivo, responder de forma não violenta à violência sistemática e ajudar nações a abolirem suas forças militares. Durante o retiro, iremos praticar meditação Zen e explorar alguns dos principais temas abordados por Kaz Sensei ao longo de sua longa carreira como artista e como ativista da paz.
Mais informações no link:
cebb.org.br/milagres
Importante: haverá tradução consecutiva durante o retiro.
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Depoimento:Treinamento com Kaz Tanahashi Sensei
Lembro de desenhar desde bem pequeno, e tive a sorte de começar cedo a estudar com o grande professor Norberto Niehbur. Além do aprimoramento estético e técnico, o desenho demanda um grande silêncio, solitude, atenção e energia continuadas, observação, paciência, repetição, disciplina… Isso tudo permeado pelo convívio de uma década com a presença compassiva e hábil do professor Niebuhr produziu um dos aprendizados mais marcantes na minha vida.
Após um período trabalhando em linhas de produção e como eletricista, me empreguei aos 19 anos como desenhista em uma fábrica de roupas. Seguiu-se uma década de escalada profissional na área de moda e design, tempo em que desenhei submetido à mentalidade da indústria — briefings, prazos, concorrência, foco em atrair e vender do jeito mais eficiente e lucrativo possível. Ao fim desse tempo, havia esquecido qual sentido um dia eu vi nas artes visuais. Pedi a conta e fui procurar outras coisas para fazer.
Ao longo dos anos, aos pouquinhos, a alegria com a prática artística começou a voltar. Desde então, tenho procurado modos de explorar a arte além da cultura de entretenimento e comércio, e com um interesse além do meramente técnico e estético — será possível aplicar a arte como um meio hábil para cultivar a mente, uma energia e uma atitude mais equilibrada na vida, servir como um apoio no processo amplo de florescimento humano, pra valer? Focar essa abordagem me motiva muito.
Por isso, há alguns anos, comecei a acompanhar atentamente o trabalho do Sensei Kazuaki Tanahashi, artista e contemplativo com uma trajetória incrível — erudito e professor do Zen, mestre artista e caligrafista, autor e tradutor de textos budistas do japonês medieval, chinês e sânscrito para o inglês (especialmente o Sutra do Coração e textos do Mestre Dogen); no Japão, foi aluno direto do O-Sensei Morihei Ueshiba, fundador do Aikido; atua desde a década de 60 como ambientalista e pacifista, sendo fundador e diretor da iniciativa A World Without Armies para a desmilitarização das nações.
Em 2015, com o apoio da querida Ven. Tenzin Chogkyi, tentei fazer contato com Kaz Sensei. Preparamos uma carta contando de coração sobre a minha conexão com o Darma, do trajeto com a arte e de como aspirava reavivar e dotar de sentido a prática artística, e expressando a vontade de aprender com ele, se isso fosse de alguma forma possível. A resposta veio em alguns meses. Simples, direto e incrivelmente generoso, disse que se sentiu tocado pela carta e fez dois convites: para participar de um retiro intensivo de uma semana de caligrafia e Zazen, e para passar mais quatro semanas como aprendiz em sua casa, treinando diariamente em seu estúdio.
Imediatamente fui apoiado por dezenas de pessoas maravilhosas que se alegraram com esse movimento, e em dois meses estava na Califórnia para percorrer cinco semanas de um aprendizado bem desafiador. Ao final desse período, Kaz Sensei ofereceu autorização para ensinar e conduzir grupos de caligrafia contemplativa, para produzir pinturas e continuar praticando. E também convidou para voltar nos anos seguintes e seguir aprofundando o treinamento. Em 2017 e 2018 passei novamente o mês de março com ele, e agora me preparo para sua vinda ao Brasil em junho, e minha próxima viagem em 2019.
Apoio para a próxima viagem
“O funcionamento do mundo se dá por méritos. Podemos ver o funcionamento econômico, mas isto é uma pequena parte do todo. Geração de méritos significa o quê? Que estamos fazendo alguma coisa positiva e aquilo está melhorando a vida dos seres em alguma direção. Se fizermos o contrário, pode perdurar por um tempo, mas tem uma hora em que afunda.” —Lama Padma Samten
Há 10 anos o meu trabalho diário é ajudar as pessoas a cultivar o mundo interno e um florescimento humano mais genuíno, no lugar, no CEBB e como artista visual. Cada vez mais procuro que meu trabalho não tenha vínculos com marcas e grandes empresas, que meu movimento seja possível apenas na medida que as pessoas se alegrarem e reconhecerem algum valor e potencial para benefícios reais. Esta é também uma experiência de patronagem no mundo atual: antigamente as famílias abastadas simplesmente sustentavam alguns artistas, meditantes, cientistas ou filósofos pela vida toda — hoje podemos apoiar uns aos outros diretamente com pequenas quantias, sustentar os trabalhos que achamos importantes e exercer liberdade humana em meio à cultura das corporações.
Treinar e se sustentar como um artista independente que não produz entretenimento é muito desafiador. Como artista contemplativo, estou em processo de treinamento como aluno direto do Sensei Kazuaki Tanahashi, que me ofereceu a possibilidade de estudar e trabalhar como seu aprendiz por um mês a cada ano em sua casa e estúdio nos Estados Unidos. Pude ir três vezes e aspiro aprofundar o aprendizado e compartilhá-lo pelo tempo que for possível.
É bem custoso nas minhas condições viabilizar esse treinamento. Além do trabalho cotidiano e da família, há os custos de passagens, vistos, traslados, alimentação, seguro de saúde, taxas diversas, pincéis, livros, tintas, telas, papéis… Felizmente não sou capaz de fazê-lo por conta própria, por isso lhe estendo a tigela com gratidão, caso você deseje apoiar com qualquer valor. Esse apoio servirá para dar seguimento ao treinamento, aos trabalhos que faço e também para aprofundar na prática.
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Favorecido: Fabio Rodrigues
Agência: 0655
Conta: 237766-7
Número do banco: 655
CPF: 006030389-13
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Se você deseja mais informações, apoiar de outra forma ou conversar, meu contato é iodris@gmail.com
Agradecimento
Agradeço com todo o coração ao Sensei Kazuaki Tanahashi pela abertura, confiança e generosidade, ao Lama Padma Samten pelas bênçãos e incentivo, à Ven. Tenzin Chogkyi por auxiliar de forma crucial em cada pequeno passo desde o início.
Agradeço às pessoas que ajudaram diretamente e que tornaram tudo possível de 2016 até aqui: Marcos Bauch, Rafael Longo, Inez Campos, Donna Bassin, Renata Pereira, Júlia Campos, Augusto Zangrandi, Luiz Henrique Martins, Emily Zaroni, Eduardo Amuri, Guilherme Valadares, Christina Cardenas, Gerson Rodrigues, Tarcisio de Arantes Leite, Gustavo Gitti, Gabriel Wan-dick Corbi, Marilene Mamprin, Geovana Colzani, Caroline Bertolino, Laura Bassi, Remi Lopes Antônio, Henrique Menarin, Luiz Ricardo Berezowski, Thyago Kiam, Graciela Coelho do Espírito Santo, Lucas Pedrucci, Gustavo de Santana, Sared Bueri, Rosana Rita Folz, Alfredo Penz, Leonardo Werneck, Celso Santos, Daniel Collares, Leonardo Collares, Cristiano Ramalho, Paulo Carvalho, Murillo Antonini, Miles Babireski, Filippe Ximenes, Marcela Fazio, Polliana Zocche, Theo Sasse, Dalmo Kawauchi, Daniel Scola, Gislene Macêdo, Leandro de Oliveira Martins, Frederico Mattos e Fabiana Rosa.
Que esse movimento possa ser útil, que produza benefícios verdadeiros e que os méritos se espalhem!
Um abraço grande em cada um!
Fábio Rodrigues
Pintura e Caligrafia Contemplativa
Fonte:http://artecontemplativa.com/kaz/
EL MOVIMIENTO DEL ESPÍRITU DEL ZEN NO ESTA EN LA FORMA SINO EN EL VACÍO, DE AHÍ SU FUERZA DE LA NADA.
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