DEUSES ASTROS E DESTINO,ASPECTOS SUPERIORES E INFERIORES - VITOR MANOEL ADRIÃO

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Deuses, Astros e Destino (Aspectos superiores e inferiores) – Por Vitor Manuel Adrião


Para os opositores da Astrologia esta apresenta contradições aparentemente insuperáveis, nisso insuportáveis à lógica do raciocínio humano. Os argumentos apresentados contra essa “pseudociência” têm forte peso dialéctico no racional do Mundo dos Efeitos, difíceis de contrariar para muitos astrologistas, até impossíveis de contrapor aos factos concretos da Astronomia, que não descarece da Física e da Química, ao par da Matemática, para argumentar com solidez contrapondo às crenças da Astrologia. Verdade se diga que o mal de muitos astrologistas está em não possuírem bases científicas sólidas para contra-argumentarem, ficando-se pelo imaginário da crença, nisto pela escravidão à influência fatal dos astros, sem mais raciocínio; se acaso a discussão agravar-se com o evoco da Teosofia afim à Astrosofia, então fatalmente se revelará o limite mental daqueles, algo semelhante a explicar álgebra a um analfabeto.
Falo, obviamente, da astrolatria, a mesma que já no século IV, na sua obra Civitas Dei, Agostinho de Antioquia censurava com palavras incisivas: “Todo o homem livre que consulta os adivinhos e lhes paga para descobrirem o seu destino nos astros, sai escravo de Marte, de Vénus e de outros mais…” Mesmo com isso, no entanto Agostinho, o neo-platónico elevado Doutor da Igreja, foi um exímio estudioso da Astrologia como ciência tradicional, certamente sabendo dar-lhe entendimento superior muito além do comum divinatório, inevitavelmente falível tanto em premissas como em previsões.
Obviamente que Agostinho de Antioquia saberia e aceitaria a exactidão das previsões astrológicas quando fossem asseguradas por um astrólogo nato, um sábio experiente nessa ciência empírica da época. Mas decerto não era a esse que ele se referia nas suas palavras citadas. Previsões astrológicas que resultaram certas conta-as a História Antiga e Moderna com fartura, de que o episódio ocorrido com Domiciano, imperador romano, será o mais ilustrativo:
Roma, meia-noite de 17 para 18 de Setembro do ano 96 d. C. O imperador Domiciano agitava-se no leito coberto de suor, ansioso, não conseguindo dormir. Isso porque de acordo com uma previsão astrológica feita quando ainda era criança, a hora do seu fim estava próxima: às cinco horas da manhã ele estaria morto, vítima de uma punhalada fatal. Domiciano levantou-se e tentou manter a calma. Lembrou-se da vez em que tentou provar que a Astrologia era mentira, quando chamou à sua corte o astrólogo Ascletário e lhe ordenou: “Adivinhe a causa da sua própria morte”. Ascletário consultou os planetas e concluiu que acabaria devorado por cães. Para contrariar a previsão e mostrar que controlava o destino, Domiciano matou-o ali mesmo e enviou o seu corpo para a pira funerária. O que o imperador não esperava é que os cães fossem atraídos pelo cheiro de carne queimada e devorassem os restos mortais de Ascletário, como este previra. Daí a insónia de Domiciano. Quando o Sol raiou, perguntou as horas: eram seis da manhã. Respirou aliviado: tinha sobrevivido à profecia! Animado, recebeu um amigo que trazia uma mensagem. Enquanto a lia, esse amigo apunhalou-o pelas costas e ele morreu. Eram cinco da manhã. Um conspirador havia mentido sobre as horas.
A ciência empírica afirma que a influência das doze constelações do Zodíaco sobre as criaturas humanas é absolutamente impossível por o aro da influência magnética das mesmas estar imensamente distante da Terra, e mesmo os planetas associados às mesmas também estarem demasiado longe para exercerem uma efectiva atracção gravitacional sobre os corpos e temperamentos humanos, além de que a passagem do Sol, da Lua e dos planetas por constelações aleatórias, formadas por estrelas aleatórias, ser aleatoriamente uma divisão inventada pela pequenez humana para justificar e dar sentido à pequeneza fatal da Terra, aos enlaces e desenlaces da vida de um e de todos.
Nisso também a ciência se revela manca, e até parece fazê-lo de propósito por notórios preconceitos intelectuais, “metendo tudo no mesmo saco”, revelando a mentalidade típica de uma sociedade dessacralizada como é a desta Idade Sombria que os hindus chamam Kali-Yuga. As noções da Astronomia moderna foram herdadas dos sábios astrólogos da Babilónia, sobretudo, que dividiram o empíreo em doze casas dando início, ao par dos assírios, fenícios, etc., à ciência dos astros (astro+logia, em grego, donde astrologia, o estudo dos astros”, e sobretudo astro+logos, a “palavra ou entendimento da lei dos astros”) que calcula e deduz dos movimentos e influências dos corpos siderais, a qual chegou até hoje desde a Idade do Bronze (3000 a. C.).
Agora o principal: independentemente das distâncias das constelações a anos-luz da Terra, o tempo e o espaço não são mensuráveis exclusivamente pelas três dimensões de comprimento, largura e altura de qualquer sólido, pois igualmente existem outras dimensões afins à profundidade, à plasticidade, etc., como é o caso da 4.ª dimensão que corresponde ao Mundo Astral do nosso Globo e é afim, como “extensão”, ao Astral Cósmico (Kama-Fohat) do Universo, que é o Plano natural dos Logos Planetários. É daí que provêm as influências siderais e planetárias para a Terra e quanto nela vive, atraídas pelo seu poderoso “imã” que é o Núcleo Electromagnético que a sustenta. O “segredo” das influências astrológicas reside nisso, nas várias dimensões de espaço-tempo além daquela das distâncias físicas e do espaço limite da influência física dos corpos celestes.
As três dimensões de espaço onde é possível qualquer movimento – comprimento, largura e altura – são admitidas desde Euclides na Grécia 300 a.C., o matemático platónico, deixando o pressuposto da possibilidade de haverem outras dimensões além dessas. Isso veio a ser provado já no século XX, em 1905, por Albert Einstein, provocando uma verdadeira revolução nas teorias da Física: demonstrou que o espaço e o tempo não são fixos e imutáveis, pelo contrário, são flexíveis e mutáveis, e que sob certas condições é possível encolher o tamanho de um centímetro ou esticar a duração de um segundo, que a modificação de um está ligada à transformação do outro; ou seja, o tempo é, do ponto de vista físico, indistinguível do espaço. Isso foi ao encontro do que Platão afirmou milénios antes: “O tempo é a parte móvel da eternidade”. Em 1915, Einstein aprofundou essa sua Teoria da Relatividade. Às três dimensões conhecidas acrescentou mais uma: ao estudar os movimentos acelerados, ele percebeu que a gravidade era uma distorção da geometria de quatro dimensões, e procurou unificar toda a Física em um só conjunto de equações. Essa sonhada unificação foi feita entre a relatividade (que explicava a gravidade) e o electromagnetismo (responsável pelos fenómenos eléctricos e magnéticos, relacionados à partícula atómica electrão). Os esforços de Einstein inspiraram outros físicos como Theodor Kaluza e Oskar Klein, que cerca de 1926 reescreveram a relatividade geral para cinco dimensões invés das quatro, de maneira que as equações do electromagnetismo brotaram naturalmente dela.
Na realidade, o Universo não possui três, quatro ou cinco dimensões mas sete, de acordo com a “tese das cordas” segundo a Física e que nada mais são que as espírulas do átomo visto na Química Oculta, conformadas às sete dimensões de espaço-tempo correspondentes aos sete Planos do Universo, que não estão encavalitados uns nos outros e sim interpenetrados, onde a matéria mais densa é penetrada e animada pela mais subtil. Assim se explica o axioma de Lavoisier da “matéria penetrar a matéria”, igualmente assim se explicando a causa da influência invisível dos corpos celestes na Terra.
Outro motivo causa de contradição palmar apontada pelos adversários da Astrologia, é a de um nativo de dado signo diferir totalmente de outro nativo do mesmo signo, quando deveriam possuir iguais temperamentos, interesses, etc. E mesmo que se contraponha com ascendentes, influências intermédias de outros signos e planetas no horóscopo, etc., não explica tudo e o essencial mantém-se: a instabilidade e incerteza do signo. Isto regista-se até nos próprios astrólogos que se forem dois para um mesmo consulente, quase por norma resultam dois horóscopos diferentes. Agrava a situação quando se diz, por exemplo, que Marte é belicoso e colérico, acompanhando Escorpião como signo das insatisfações sexuais, por exemplo. Poderá ser, mas também acontece que muitos nativos desse signo são linfáticos, passivos, nada coléricos e até assexuados. Então, em que se fica?
Fica-se no óbvio da explicação teosófica: na Vaga de Vida Humana não há duas Mónadas iguais em experiência e evolução, nas realizações cumpridas e naquelas a cumprir, tanto quanto as empatias siderais variarem ao infinito na sua correlação com os aspectos superiores e inferiores dos signos e planetas, as suas “individualidades” e “personalidades” afins às respectivas naturezas humanas, onde a personalidade tem mais força e presença na matéria que a individualidade espiritual. Se ao nível sideral a “individualidade” é animada pelo Logos, a “personalidade” é manifestada pelo Planetário. A sua influência sobre as naturezas humanas é caracterizada pelo desenvolvimento das skandas e a transformação das nidanas, como sejam as tendências superiores em estado virtual e os defeitos ou vícios em predomínio corporal. É o Kumara ou Planetário quem age sobre as nidanas obrigando o Homem a redimir-se do seu Karma, enquanto o Ishvara ou Luzeiro inspira as skandas levando à tomada de consciência do Dharma, do Dever Universal que é a característica básica de todo o Adepto Perfeito.
Disso conclui-se que os signos apresentam em traços gerais o perfil psicológico da personalidade dos nativos, mas lhes é impossível definir com rigor e minúcia a personalidade dos mesmos, tão diversificada e numerosa quanto o número de estrelas que há no céu e que independem de signos e horóscopos por mais precisos que possam ser, porque tudo depende dos fios misteriosos do karma com que se teceu e encadeia o destino de cada um.
Também nisso o princípio de Paracelso de que “os astros inclinam mas não obrigam” tem justificação, motivo da astrologia divinatória, ou antes, a astrolatria ser desapreciada tanto por Adeptos Independentes como por Ordens Iniciáticas, e até mesmo religiosas, a qual é naturalmente falível nos seus prognósticos apesar de ser procurada por milhões de crentes, ausentes dos conhecimentos superiores mas presentes nas superstições e temores filhos da ignorância. Realmente, a quantidade difere da qualidade. Quando a qualidade de uma ciência tradicional se vulgariza, ela torna-se popular por via da quantidade, é psíquica nos seus métodos divinatórios mas jamais espiritual, iniciática. Como todas as ciências divinatórias, o chamado “ocultismo popular”, é até obstáculo, “pedra de tropeço e escândalo” como dizia Jesus (I Pedro, 2:8), à evolução verdadeira de qualquer um(a).
Os aspectos superiores e inferiores dos signos e planetas afins eram conhecidos dos sábios astrólogos árabes e judeus. Segundo o Sepher Yetzirah, o “Livro da Criação”, obra prima da Kaballah judaica, os signos e planetas ingerem directamente no temperamento do Homem, nas suas virtudes como nos seus vícios (skandas e nidanas), dependendo essas influências da evolução já conquistada pelo mesmo Homem, o que determina e separa os seus interesses, como sejam os mais refinados dos mais grosseiros. Assim, tem-se:
ÁRIES (NISSAN). Representa verdade ou mentira.
TAURUS (IYAR). Representa obediência ou agressividade.
GEMINI (SIVAN). Representa concentração ou dispersão.
CÂNCER (TAMUZ). Representa imaginação ou alienação.
LEO (AV). Representa disciplina ou indisciplina.
VIRGO (ELUL). Representa sabedoria ou ignorância.
LIBRA (TISHREL). Representa harmonia ou desarmonia.
SCORPIO (CHESHVAN). Representa autoridade ou desmando.
SAGITARIUS (KISLEV). Representa ordem ou desordem.
CAPRIS (TEVET). Representa abnegação ou ambição.
AQUARIUS (SHEVAT). Representa desprendimento ou apego.
PISCIS (ADAR). Representa compreensão ou incompreensão.
Ainda segundo o Sepher Yetzirah:
SOL (SHEMESH) representa vida ou morte, ou fé ou orgulho.
LUA (YAREACH) representa paz ou desgraça, ou esperança ou avareza.
MARTE (MA´ADIM) representa domínio ou servidão, ou força ou cólera.
MERCÚRIO (KOCHAV CHAMA) representa semente ou esterilidade, ou prudência ou preguiça.
JÚPITER (TZEDEK) representa riqueza ou pobreza, ou justiça ou inveja.
VÉNUS (NOGAH) representa amor ou ódio, ou caridade ou luxúria.
SATURNO (SHABTAY) representa ciência ou ignorância, ou temperança ou gula.
PLUTÃO, URANO e NEPTUNO, representando a Tríade Superior, são identificados pelos nomes PLUTO, URON e RAHAV.
Zodíaco hebraico com o Criador (Eloha) ao centro ladeado pelos quatro Anjos do Destino (Elohim)
O Supremo Demiurgo no centro do Zodíaco expressando o Sol Central do Universo, tem a incarná-lo o quinto Anjo do Destino, o Andrógino Celeste representado por Urano, sendo os restantes quatro os que incarnam as Forças do Sol (Leão) oposto completar de Mercúrio (Virgem), e da Lua (Caranguejo) oposto complementar de Marte (Carneiro), conforme o Mestre JHS revelou no seu Livro da Pedra. Refiro-me, obviamente, a Ardha-NarishaManuYamaKarunaAstaroth (AN.M.Y.K.A.).
São essas cinco Potências celestes os “filtros” para a Terra das Energias do Raio Divino manifestadas como Raio Primordial. Sem elas as poderosas energias cósmicas promanadas de Centros Siderais específicos seriam impossíveis a que a Vida subsistisse no nosso Globo, e pelas mesmas os Raios Espirituais promanando do Centro deste Sistema de Evolução Universal como Tatvas Cósmicos, transformam-se em Tatvas Planetários, estes que no conjunto do Plano Físico Cósmico definem a “Personalidade” (Paceka-Yana) do Logos Planetário, tal como aqueles expressam a sua “Individualidade” (Amata-Yana), ou seja, o Luzeiro e o Planetário.
Acerca das tendências positivas e negativas que cada um e todos carregam, relacionadas com o seu passado e o presente, elas acham-se impressas no átomo-semente astral do respectivo corpo. Na Índia, às tendências positivas – vulgarmente virtudes – denominam-se de skandas ou skandhas. A sua fixação e ampliação propícia a manifestação da inspiração divina e do altruísmo, e viabiliza a realização da transformação da criatura humana em ser divino. Elas são gravadas na sensibilidade pela sua prática e vivência imediatas, contando ainda com o auxílio de certas técnicas especiais de meditação sobre as mesmas.
Face aquelas também existem as tendências inferiores, as nidanas ou nidhanas, como também são denominados na Índia os vulgarmente apodados vícios. Resultado do karma negativo de evoluções passadas elas impedem, quantas e quantas vezes, o homem comprometido no progresso espiritual de alcançar regiões mais sublimes de sua vivência interior. São as nidanas quem inibem a sensibilidade humana e uma completa pacificação do corpo emocional.
Para se pacificar o astral torna-se, contudo, necessário o freio da mente, do poder do pensamento, daquilo que Patanjali denominou estado de Dhâranâ. Corresponde à “perfeita concentração do pensamento num determinado ponto com abstracção total dos restantes sentidos”. Trata-se de um dos passos fundamentais de toda a prática de Yoga.
Convém esclarecer melhor o conceito de nidana, assim definido por Ernst Johann Eitel, missionário alemão do século XIX, no seu Dicionário de Sânscrito – Chinês:
“NIDANAS (sânscrito) – As doze causas da existência. Uma cadeia de causas, um encadeamento de causas e efeitos durante todo o transcurso da existência, através de doze elos. Este é o dogma fundamental da doutrina budista, cuja compreensão resolve o enigma da vida, revelando o vazio da existência e preparando a mente para o Nirvana.”
Esses doze elos, expressivos das casas do Zodíaco, são:
1.º) JATI. O nascimento que coloca o ser humano num dos seis GÁTIS, ou condições de nascimento.
2.º) JARÂMARANA. A morte.
3.º) BHAVA. O agente kármico que conduz cada ser a nascer numa determinada conjuntura objectiva.
4.º) UPADANA. O apego à vida.
5.º) TRICHNÃ. O amor.
6.º) VEDANA. A sensação, a percepção.
7.º) SPARZA. Corresponde ao sentido do tacto.
8.º) CHANDAYATANA. Os órgãos da sensação.
9.º) KAMA-RUPA. A personalidade, isto é, uma forma com o seu nome.
10.º) VIJNÂNA. Conhecimento.
11.º) SAMSKÂRA. Acção no plano da ilusão.
12.º) AVIDYA. Ignorância.
As doze nidanas propriamente ditas, no fundo expressando os “aspectos inferiores” dos signos e planetas afins, enumeram-se na ordem seguinte:
1.ª) SAMKHARA. Acção causal ou KARMA.
2.ª) VINANA. Consciência da personalidade.
3.ª) KAMA-RUPA. Nome e forma.
4.ª) SALAYATANA. Os sentidos.
5.ª) PHASSA. Contacto.
6.ª) VEDANA. Sensação.
7.ª) TANHA. Desejo de prazer.
8.ª) UPADANA. Apego.
9.ª) BHAVA. Existência individualizante.
10.ª) JATI. Nascimento.
11.ª) JARA. Decrepitude, morte.
12.ª) UPAYASA. Desespero, lamento, dor.
Grande parte do esforço de todo aquele que almeja trilhar o Caminho da Verdadeira Iniciação consiste em firmar e desenvolver as skandas e transformar as nidanas em skandas.
As skandas estão alegorizadas no Novo Testamento como “o feixe de vimes unidos que ninguém consegue quebrar”, e as nidanas como “os vimes isolados que qualquer um pode quebrar facilmente”… desde que se disponha a isso.
Aumentando as skandas aumenta-se e alimenta-se a Individualidade, o Homem Real, e diminuindo as nidanas diminui-se e desnutre a Personalidade, o Homem Ilusório. Sobre esta diferença ou dicotomia do próprio Homem, pronunciou-se o Mestre Koot Hoomi Lal Sing em uma das suas Cartas a Alfred Percy Sinnett (1840-1921):
“Falo de “Individualidade” e “Personalidade”, de Amata-Yana e Paceka-Yana. Estes dois nomes são a tradução fiel e literal dos termos técnicos páli, sânscrito e mesmo sino-tibetano atribuídos às numerosas entidades personais fundidas numa única individualidade, ao longo das vidas emanando da mesma e imortal Mónada. Deve lembrar-se:
“1.º O Amata-Yana (em sânscrito, Amrita) é traduzido como o “Veículo Imortal” ou a Individualidade. O Ego Espiritual ou Mónada imortal, combinação dos quinto, sexto e sétimo princípios. Enquanto que:
"2.º O Paceka-Yana (em sânscrito, Pratyeka) significa literalmente o “Veículo Personal” ou Alma pessoal, a combinação dos quatro princípios inferiores.”
AMATA-YANA (Individualidade, Tríade Superior): ESPIRITUAL, INTUICIONAL, MENTAL SUPERIOR ou CAUSAL.
PACEKA-YANA (Personalidade, Quaternário Inferior): MENTAL INFERIOR, EMOCIONAL, VITAL, FÍSICO.
Os corpos ou veículos de consciência interpenetram-se por seu grau de subtilidade e diferenciam-se por seu grau de densidade, correspondendo à vibração dos diversos estados ou Planos que lhes são fins em energia, dentro de um estado limite ou “círculo não se passa” imposto pelo karma pessoal e colectivo.
No Livro dos Dhyanis, de natureza estritamente esotérica, nas suas Estâncias o Dhyani-Kumara Mikael (Michael) diz que “existem, na realidade, sete Hierarquias Primordiais e sete Hierarquias Secundárias”. As Primordiais são as Forças auto-envolventes da Força Una e Sem Causa, constituindo o que ele chama de Raio Divino. As Secundárias compõem o que ele denomina Raio Primordial, fornecendo os veículos necessários à manifestação das Hierarquias do Raio Divino.
Desde já fique assinalado que as Hierarquias dos Raios Divino e Primordial não podem existir separadamente, por expressarem os pólos espiritual (Purusha) e material (Prakriti) da Manifestação Universal (Manvantara). De maneira que as Hierarquias do Raio Divino não são mais do que a parte interna das Hierarquias do Raio Primordial.
Raio Divino de Purusha é composto de:
1. Sete Logos Solares ou Logoi
Revestidos e projectando o Adi Cósmico – ZAITBALASHIM
2. Sete Raios do Pramantha
Revestidos e projectando o Anupadaka Cósmico – BAALEDIR
3. Sete Forças, Energias ou Shaktis
Revestidos e projectando o Akasha Cósmico – AKBALALIM
4. Sete Dhyan-Choans Superiores ou Logos Planetários
Revestidos e projectando o Vayu Cósmico – ITABALALAI
5. Sete Construtores Maiores ou Dhyan-Choans Inferiores
Revestidos e projectando o Tejas Cósmico – ASBALZAMUR
6. Sete Espíritos diante do Trono
Revestidos e projectando o Apas Cósmico – AMBALMARE
7. Sete Anjos da Presença ou da Face
Revestidos e projectando o Pritivi Cósmico – ORBALTARA
Todas essas representam no conjunto, como disse o Dhyani Mikael, as sete Forças auto-envolventes da Força Una Sem Causa, que hipostaticamente é tríplice.
As Hierarquias do Raio Primordial de Prakriti, veículos das anteriores, compreendem três Hierarquias Arrúpicas ou “Informais”, e quatro Hierarquias Rúpicas ou “Formais”. Nas escrituras sagradas, as Arrúpicas são conhecidas pelos nomes de:
1. Leões de Fogo
Revestidos e projectando o Adi-Tatva – ATÓMICO
2. Olhos e Ouvidos Alerta
Revestidos e projectando o Anupadaka-Tatva – SUBATÓMICO
3. Virgens da Vida
Revestidos e projectando o Akasha-Tatva – ÉTER
Essas três Hierarquias Arrúpicas não vem ser concebidas como legiões de Seres separados ou individualizados. Formam, conjuntamente, a Tríplice Flama, e têm a direcção activa e a duração de uma Cadeia Planetária, agindo através das quatro Hierarquias Rúpicas. Estas constituem, propriamente falando, as Hierarquias Criadoras dos Mundos e seres que têm nome e forma. São elas:
4. Assuras
Revestidos e projectando o Vayu-Tatva – AR
5. Agnisvattas
Revestidos e projectando o Tejas-Tatva – FOGO
6. Barishads
Revestidos e projectando o Apas-Tatva – ÁGUA
7. Jivas
Revestidos e projectando o Pritivi-Tatva – TERRA
Observe-se agora, mais de perto, os elementos constitutivos do Raio Divino projectado de Si mesmo como 8.º MAHA-DHYANI-TATVA no imo e pico da Cadeia Cósmica que é este 4.º Sistema de Evolução Universal formado de sete Cadeias Planetárias.
Os Sete Logos Solares assistem ao Poder Criador do Absoluto na cumeeira do Universo. São as “projecções de Swabhâvat”, segundo os Vedas. Deles o 4.º Logoi é o que está em manifestação absorvendo os Mundos que constituem o seu Corpo, dos quais a Terra é um. Os Sete Raios que projectam vêm a ser os particulares estados de consciência dos mesmos Logos Solares, definindo, determinando, gerando o Pramantha ou Ciclo de Manifestação Universal. Isso origina-se por cada um desses Raios emanar uma Energia específica – Sete Energias – que é respectiva Shakti, a “contraparte”.  As Sete Shaktis são as seguintes:
1.ª) ADI-SHAKTI – A Força Primordial relacionada com o 1.º Logoi Cósmico e o 1.º Logos Planetário do 1.º Raio e que expressa o Poder da Vontade.
2.ª) PARA-SHAKTI – A Força, Energia e Radiação Suprema na Substância; é a Energia específica do Logos do 2.º Raio de Amor-Sabedoria.
3.ª) JNANA-SHAKTI – A Força da Mente, o Aspecto sintético que resume os quatro Raios subsidiários, é a Energia do Logos do 3.º Raio da Inteligência Activa ou Actividade Inteligente.
4.ª) MANTRIKA-SHAKTI – A Força latente no Som e na Palavra, a Energia do Logos do 4.º Raio da Harmonia Universal, vulgarmente chamado Arte da Harmonia ou Harmonia Artística, o que se coaduna ao sentido oculto de “Elias Artista” na Kaballah, que é o mesmo Logos – Logoi.
5.ª) ICHCHA-SHAKTI – O Poder ou Força do Desejo ao produzir a Manifestação; é a Energia do Logos do 5.º Raio da Inteligência Concreta ou Conhecimento Científico.
6.ª) KRIYA-SHAKTI – A Força que materializa o Ideal, a Energia do Logos do 6.º Raio da Devoção ou Idealismo.
7.ª) KUNDALINI-SHAKTI – A Força que ajusta as relações internas às externas, que adapta, uma à outra, a forma e a essência no Plano Físico; é a Energia do Logos do 7.º Raio ou da Magia Cerimonial.
É das três primeiras Hierarquias do Raio Divino que surgem as Energias conscientes que vão dar vida aos respectivos Mundos. Nas quatro Hierarquias restantes não se encontram particularidades funcionais relacionadas com a sua constituição setenária, mas apenas, para cada uma delas, uma especial função cósmica. Assim, os Sete Dhyan-Choans Superiores são os Logos Planetários, os “Sete Imortais”, os “Filhos de Aditi”, enfim, os Sete Autogerados que influem particularmente, cada um deles, numa Cadeia Planetária, dando-lhe a sua especial tónica de Vida. Com isto, são as Inteligências encarregadas do Plano Arquetipal a ser executado, por isso mesmo, as Inteligências que orientam as Energias específicas dos Sete Raios no trabalho de plasmar os Mundos de acordo com esse Plano. Os Sete Construtores Maiores auxiliam os Dhyan-Choans Superiores a realizar essa tarefa cósmica. Os Sete Anjos diante do Trono são os Vigilantes que, do mais alto dos Mundos, procuram observar como a Lei de Evolução se processa, a fim de, se necessário, modificar directrizes e introduzir correcções adequadas. Os Sete Anjos da Face são os Mensageiros divinos que, do imo de cada um dos Logos Solares e afins Logos Planetários, levam aos Mundos da Matéria as instruções destinadas aos Seres que dirigem esses Mundos.
Tem-se assim, na cumeeira do Sistema de Evolução Universal, o Logos Solar deste Universo que vem a diferenciar-se na manifestação em 7+7 tónicas específicas, que os antigos egípcios representavam como os “14 pedaços de Osíris (Purusha) recolhidos por Ísis (Prakriti)”. Assim como a vibração física, que parte do Sol para difundir-se pelo espaço como luz, pode decompor-se em sete cores diferentes, assim também o Poder Criador que do Logos Único promana faz dele sete Potestades distintas, as quais constituem a verdadeira razão da composição setenária de tudo quanto existe no Universo. Os Sete Logoi são o Princípio sintético, que é dizer, são a síntese de todos os Princípios expressos pelas sete Hierarquias do Raio Divino, que empós se desdobram nas sete Hierarquias do Raio Primordial “espelho” daquele.
Convém ressaltar que o Sistema de Evolução não é o Sistema Solar. Este é composto de sete Sistemas de Evolução, tal qual um Logos Solar é formado dos esforços de sete Logos Planetários, e um Logos Planetário constitui-se das experiências de sete Planetários de Ronda. O nosso Sistema Solar encontra-se na sua 2.º Manifestação e o nosso Sistema de Evolução – composto de 7 Cadeias Planetárias – está na 4.ª Manifestação na respectiva 4.ª Cadeia Planetária (com 7 Globos e respectivas Rondas), e nesta na 4.ª Ronda do 4.ª Globo, que é a Terra, em plena 5.ª Raça-Mãe com realce para a 5.ª Sub-Raça das sete que a compõem.
Segundo as escrituras teosóficas, o Sistema Solar está disposto conforme o esquema seguinte:
Finalmente, procurarei dar uma visão sintética do que significa o Raio Divino em relação com o Raio Primordial a que está ligado de maneira necessária e indissolúvel. A Tradição Iniciática das Idades diz que o Logos Oculto, ao manifestar-se, desdobra-se nos dois pólos da Manifestação chamados de Espírito e Matéria. O Raio Divino é, justamente, a expressão espiritual do Universo que se manifesta, a Consciência que surge no acto da Manifestação, a que se dá o nome tradicional de Purusha. O Raio Primordial é constituído pelo véu da Matéria Cósmica (Mulaprakriti) que, formando o Logos Criador, serve de veículo à manifestação de Purusha. Da inter-relação dos dois pólos surgem os Sete Autogerados, os Sete Logos Planetários, procurando-se dar uma ideia geral no esquema abaixo onde se simboliza o Logos Oculto do Universo, hipostaticamente tríplice, o Logos Dual do Sistema (Purusha-Prakriti, Zain-Zione, Pai-Mãe, Raio Divino e Raio Primordial) e os Sete Logos Planetários que formam, colectivamente, o Logos Criador.
Cada um dos Logos Planetários é um Homem Celeste, é um Ser Cósmico com consciência e veículo de manifestação que lhe são próprios, aquela da natureza do Raio Divino, esta da natureza do Raio Primordial. É assim que um Homem Celeste (Adam-Kadmon), considerado internamente, é uma síntese dos sete Princípios de Vida, Energia e Consciência. O primeiro Homem Celeste, por exemplo, representa um particular estado de consciência (Vontade) que projecta uma energia específica (Adi-Shakti), a qual, orientada pela sua Inteligência Dhyan-Choânica, com o auxílio das hostes de Construtores activos (formando colectivamente o primeiro Construtor Maior), das hostes de Vigilantes (o primeiro Anjo diante do Trono) e das hostes de Mensageiros divinos (o primeiro Anjo da Face), vai trabalhar a Matéria para a consecução do plano evolutivo que lhe cabe pôr em prática.
O mesmo procedimento dá-se com os restantes Logos Planetários nas suas correspondências com os sete níveis de Purusha e os sete níveis de Prakriti, no todo constituindo o Logos Criador que caminha de Globo em Globo, de Cadeia em Cadeia até à Suprema Realização Universal, que é dizer, a realização do Esquema de Evolução em que tudo e todos estamos, assim mesmo indo o Logos Planetário tornar-se Logos Solar, na escalada das estrelas.
Tudo isso para explicar porque os “aspectos inferiores” de todo o signo e planeta afins à comum personalidade mortal não existem no Homem Realizado, desafim aos mesmos, surdo e mudo aos ecos mundanos, porque também ele conscientemente seguindo um roteiro o mais grácil na escalada das estrelas.
OBRAS CONSULTADAS
Henrique José de Souza, Livro da Pedra, 1951.
Henrique José de Souza, Livro das Cadeias – A e B, 1953-54.
Helena P. Blavatsky, Glossário Teosófico. Editora Ground Ltda., São Paulo, 1995.
António Castaño Ferreira, Aulas de Cosmogénese e Antropogénese. Sociedade Teosófica Brasileira, 1952.
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lusophia | August 3, 2017 at 14:49 | URL: http://wp.me/pgF7y-1tK

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