O QUE MADRE TEREZA DE CALCUTÁ NÃO TINHA DE SANTA ? - "MADRE TEREZA PODERIA SER PRESIDENTE DE EMPRESA"
Madre Teresa apresenta documentos de uma nova casa a uma moradora de Bombai, na Índia, em 1994 (Foto: Savita Kirloskar)
O que Madre Teresa de Calcutá não tinha de santa?
Sua biografia não é tão limpa como se pensa
A freira de família albanesa Agnes Gonxha (1910-1997), conhecida como Madre Teresa de Calcutá, que atendia doentes terminais em Calcutá, na Índia, ganhou o Nobel da Paz em 1979 e foi canonizada pelo Vaticano no dia 4 setembro de 2016. Mas sua biografia não é tão limpa como se pensa. Alguns dos seus trechos podem incomodar seus admiradores. São eles (as fontes estão nos links):
Negligência com doentes terminais. Dentro da instituição Missionárias da Caridade, as pessoas ficavam deitadas em colchões no chão o tempo todo, sem acesso a antibióticos e analgésicos. Médicos não eram autorizados a examinar os pacientes para fazer um diagnóstico. Os doentes não podiam ser levados a um hospital para tratamento adequado. Seringas eram usadas em vários doentes e lavadas na torneira.
Sadismo. O atendimento ruim não era uma consequência da falta de dinheiro. A organização de Madre Teresa acumulou centenas de milhões de dólares e abriu unidades em mais de 100 países. A questão é que ela nutria uma fascinação pelo sofrimento dos mais humildes. “Eu acho muito bonito para o pobre aceitar o seu destino, dividir isso com a paixão de Cristo. Eu acho que o mundo tem sido muito ajudado pelo sofrimento das pessoas pobres”, disse ela em uma coletiva de imprensa. Em outro momento, ela diz para um paciente terminal: “você está sofrendo como Cristo na cruz, Então Jesus deve estar te beijando”.
Amizades tenebrosas. Madre Teresa visitou a esposa de Jean Claude Duvalier, o Baby Doc, ditador do Haiti. Sobre o encontro, ela disse que nunca tinha visto pobres tão familiares com o seu chefe de Estado. “Foi uma linda lição para mim”, disse. Estima-se que Baby Doc e seu pai, Papa Doc, tenham desviado 100 milhões de dólares em obras sociais no Haiti.
Fonte:https://veja.abril.com.br/blog/duvidas-universais/o-que-madre-teresa-de-calcuta-nao-tinha-de-santa/
“Madre Teresa poderia ser presidente de empresa”
Em "Madre Teresa CEO: Princípios Inesperados de Liderança Prática", a canadense Ruma Bose conta como a missionária construiu um império da filantropia
Pertencente a uma abastada família indiana, a canadense Ruma Bose, 37 anos, sempre teve fixação por Madre Teresa de Calcutá. Quando criança, as histórias que gostava de ouvir não eram as de contos de fadas. Ruma preferia que sua mãe lhe contasse os feitos da freira albanesa que, com sua extensa rede de filantropia, havia conseguido mudar a realidade de milhares de pessoas (assista à entrevista de Bose ao site de VEJA).
Ao completar 19 anos, Ruma decidiu passar um tempo na Índia trabalhando como voluntária para as Missionárias da Caridade de Calcutá, organização fundada por Madre Teresa. Não esperava que, além de lições de vida, também aprendesse a gerir uma empresa. “Madre Teresa tinha pulso firme, era metódica, organizada, uma líder nata. Poderia ser presidente de qualquer companhia do mundo”, conta a autora.
A viagem aconteceu em 1992, mas só agora, 18 anos depois, Ruma decidiu expô-la ao mundo. O mercado editorial americano recebeu seu livro “Madre Teresa CEO: Princípios Inesperados de Liderança Prática“* (tradução livre), que traz lições da beata aos empresários. “Eu sentia que tinha a missão de mostrar para as pessoas a história de uma das organizações de maior sucesso do mundo. Todos só conheciam o lado social de Madre Teresa. Precisavam conhecer o lado empresária”, diz Ruma. (Clique nas palavras-chave e conheça os princípios de liderança)
Números que impressionam – Quando se refere à organização filantrópica da missionária, Ruma não exagera. São mais de 600 missões em 100 países do mundo, que empregam mais de um milhão de pessoas, além da montanha de recursos financeiros arrecadados nos 62 anos de existência do projeto. “Madre Teresa era uma máquina de conseguir fundos. Era uma ótima relações públicas”, afirma.
Apesar dos números chamativos, Ruma afirma que a missionária – beatificada em 2003 pelo Papa João Paulo II – não tinha apreço pelos holofotes, mas sabia usar seu carisma para atrair doadores. Segundo a autora, Madre Teresa tinha um pensamento objetivo e rígido; também no momento de aceitar doações. No entanto, ela se negava a aceitar dinheiro quando o doador queria publicidade em troca. “Quando estava lá, vi a organização recusar uma soma milionária de uma multinacional. Os empresários queriam poder divulgar ao mundo que estavam ajudando Madre Teresa. Ela se negou”, relembra.
Para Ruma, o que diferencia a gestão de Madre Teresa de qualquer outra organização é a humildade. O fato de liderar uma rede de religiosas e centenas de voluntários em todo o planeta não fazia da missionária uma figura inacessível e ausente. “Ela atendia com atenção absolutamente todas as pessoas que queriam falar com ela, era querida por todos e conseguiu transformar seu projeto em algo gigantesco e perene, mesmo após sua morte. Poucos líderes conseguiram semelhante feito”, afirma a autora.
Uma visão contrária
Em 2003, o ensaísta britânico Christopher Hitchens desafiou o consenso em torno de Madre Teresa ao dizer que ela era “uma fanática, uma fundamentalista e uma fraude”.
O trecho mais contundente do artigo, publicado pela revista eletrônica Slate, é o seguinte:
“Madre Teresa não era uma amiga dos pobres. Ela era amiga da pobreza. Disse que o sofrimento era um dom divino. Passou a vida combatendo a única cura conhecida para a pobreza, que é dar às mulheres o controle de suas próprias vidas, e emancipá-las da reprodução ao estilo compulsório dos rebanhos. Ela também era amiga dos piores entre os ricos, tendo aceitado dinheiro sujo da atróz familia Duvalier, do Haiti (cujo governo ela elogiou) e de Charles Keating, da Lincoln Savings and Loan. Para onde foi esse dinheiro, e todas as outras doações que ela recebeu? Seu hospital primitivo em Calcutá estava tão depauperado no momento de sua morte quanto sempre estivera – ela mesma preferiu clínicas californianas quando ficou doente – e sua ordem religiosa sempre se recusou a tornar pública qualquer auditoria. Mas temos sua própria afirmação de que ela abriu 500 conventos em mais de cem países, todos com o nome de sua ordem. Desculpe-me, mas isso é modéstia e humildade?”
*O livro “Madre Teresa CEO: Princípios Inesperados de Liderança Prática” ainda não tem previsão de lançamento em português. Nos Estados Unidos, seu lançamento está previsto para maio de 2011. Ruma Bose participou, como palestrante, do Fórum Global de Sustentabilidade do Festival SWU, em Itu (SP)
Fonte:https://veja.abril.com.br/economia/madre-teresa-poderia-ser-presidente-de-empresa/
Quem foi Madre Teresa de Calcutá
Beata foi professora e deu abrigo a doentes recusados até em hospitais.
Críticos questionam milagres e ligam religiosa a 'cultura de sofrimento'.
Conhecida em vida como "a santa das sarjetas" e canonizada em setembro de 2016, Madre Teresa de Calcutá nasceu em 26 de agosto de 1910 em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia – que na época pertencia à Albânia –, com o nome de batismo Gonxhe Agnes Bojaxhiu.
Ela entrou em 1928 para a ordem religiosa Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, que tem sede na Irlanda, e passou a usar o nome Teresa em homenagem a Santa Teresa de Lisieux.
Enviada a Calcutá, na Índia, foi professora durante muitos anos em uma escola para meninas de classe alta, antes de decidir servir a Deus através dos pobres. No início de 1948, se mudou para os bairros pobres de Calcutá, onde suas ex-alunas se tornaram, a seu lado, as primeiras Missionárias da Caridade.
Em 1952, ao observar uma mulher agonizante, abandonada na rua e com os pés atacados por ratos, ela sentiu uma profunda comoção e decidiu assumir uma nova tarefa: ajudar os mais pobres entre os pobres. Depois de procurar com insistência as autoridades da cidade, conseguiu a concessão de um antigo edifício para dar abrigo às pessoas que sofriam de tuberculose, desinteria e tétano, as quais nem os hospitais queriam atender.
Dezenas de milhares de necessitados passaram pelo lugar. Muitos encontraram uma morte digna, com respeito às suas próprias religiões, e outros se recuperaram graças aos cuidados das freiras. Pelo seu trabalho, ela foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 1979.
Milagres
A igreja abriu caminho no ano passado para a canonização da beata após declarar como milagre a recuperação do brasileiro Marcilio Haddad Andrino, que tinha múltiplos pontos de inflamação no cérebro.
A igreja abriu caminho no ano passado para a canonização da beata após declarar como milagre a recuperação do brasileiro Marcilio Haddad Andrino, que tinha múltiplos pontos de inflamação no cérebro.
Quando Andrino sofreu em 2008 os abscessos cerebrais, dos quais médicos disseram que ele não iria se recuperar, sua família rezou para Madre Teresa. Ele conta que seu estado de saúde piorou ao ponto de ter sofrido para conseguir andar ao altar durante seu casamento, em setembro de 2008. Em dezembro foi levado inconsciente para hospital.
O brasileiro estava com uma cirurgia cerebral marcada, mas acordou sem dores de cabeça pouco antes da operação e o médico afirmou que uma intervenção médica não seria mais necessária (veja no vídeo abaixo a história de Andrino em reportagem do Fantástico).
Em 2002, o Vaticano já havia reconhecido um primeiro milagre atribuído à intervenção da freira: a cura de uma mulher de 30 anos, Monika Besra, que sofria de um tumor abdominal. Ela se viu livre da doença depois que as irmãs da congregação a presentearam com uma "medalha milagrosa" da Virgem, que antes havia sido usada pela beata aos 87 anos.
Madre Teresa foi, então, beatificada por João Paulo II em 19 de outubro de 2003, em Roma, durante cerimônia que teve a presença de 300 mil fiéis.
Críticas
Mas nem todo mundo comemorou a transformação da beata em santa. Críticos questionam a comprovação dos milagres admitidos pela igreja e consideram que sua canonização é símbolo de mais um "triunfo da fé religiosa sobre a razão e a ciência".
Mas nem todo mundo comemorou a transformação da beata em santa. Críticos questionam a comprovação dos milagres admitidos pela igreja e consideram que sua canonização é símbolo de mais um "triunfo da fé religiosa sobre a razão e a ciência".
O autor britânico Christopher Hitchens, que morreu em 2011, era um dos principais. Ele descreveu Madre Teresa como "uma fundamentalista religiosa, uma agente política, uma pregadora primitiva e uma cúmplice dos poderes seculares mundanos".
Em um livro famoso lançado em 1995, "A posição missionária: Madre Teresa em teoria e prática, Hitchens critica o que diz ser a "cultura de sofrimento" da freira e afirma que ela criou um imaginário de "buraco do inferno" da cidade que a acolheu, além de ter se tornado "amiga de ditadores". O autor também foi responsável por um documentário chamado "O anjo do inferno", em que explora os argumentos.
Em 2003, o físico de Calcutá Aroup Chatterjee publicou uma nova crítica, depois de ter feito pelo menos 100 entrevistas com pessoas envolvidas com a congregação criada por Madre Teresa. Ele descreveu o que disse ser uma "espantosa falta de higiene" nos centros de saúde administrados pelas Missionárias de Caridade e descreveu os locais em que o grupo cuidava de doentes como "confusos e mal organizados".
Legado
Madre Teresa de Calcutá morreu em 1997, aos 97 anos. Seu enterro em Calcutá, em 5 de setembro de 1997, foi um acontecimento nacional na Índia e milhões de pobres acompanharam seu corpo pelas ruas da cidade.
Madre Teresa de Calcutá morreu em 1997, aos 97 anos. Seu enterro em Calcutá, em 5 de setembro de 1997, foi um acontecimento nacional na Índia e milhões de pobres acompanharam seu corpo pelas ruas da cidade.
Ao canonizá-la, o papa Francisco afirmou que a figura da madre será a santa de "todos os voluntariados" e pediu que ela fosse considerada o "modelo de santidade".
"Sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais permanece até hoje como testemunho eloquente da proximidade de Deus aos mais pobres entre os pobres."
O pontífice lembrou ainda que a beata fez "sentir sua voz aos poderosos da terra para que reconhecessem suas culpas diante dos crimes da pobreza criado por eles mesmos". O Papa conheceu Teresa pessoalmente, por ocasião de um sínodo de bispos em 1994, em Roma.
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